Ex-atleta utiliza experiência ao longo dos anos em que defendeu seleção. Entre lesões e títulos, ela relembra trajetória da seleção feminina de judô
Priscila Marques, fisioterapeuta, comanda o início
do treino em Teresina (Foto: Emanuele Madeira)
do treino em Teresina (Foto: Emanuele Madeira)
Passando por seis cirurgias ao longo da carreira, Priscila usa suas lesões como uma maneira de oferecer suporte às suas ex-companheiras de seleção.
Sai a atleta e entra a fisioterapeuta
Desde os 11 anos, Priscila Marques se dedica ao judô. Por 12 anos, ela defendeu a seleção principal e colecionou inúmeras conquistas. Movida pela vontade de continuar vivendo perto da seleção de judô, ela topou uma transição e aliou as formações em Educação Física e Fisioterapia com a experiência como atleta para ajudar o grupo que foi vice campeão Mundial de judô.
- No começo foi engraçado.Eu fiquei com medo de elas confundirem alguma coisa, porque é diferente você estar do lado delas e, de repente, você mudar para o lado da comissão. Talvez por eu ser bem mais velha, a diferença é de dez anos ou 12 anos, foi uma coisa natural. Me dou bem com todas as meninas, e elas aceitaram bem também. Para mim, é importante já que continuou o sonho, que é ajuda-las, de certa forma, a chegar onde não consegui: uma medalha olímpica, uma medalha em mundial. Isso me faz sentir realizada. Não estou dentro do tatame, mas estar com o grupo e poder ajudar me faz feliz – relembra Priscila.
Carreira
Priscila busca converter o preço da experiência em lucro. Com lesões em momentos importantes, ela usa os percalços para transmitir para as atletas a confiança necessária para desenvolver seu trabalho na seleção. Junto com Roberta Mattar na seleção principal, ela desenvolve um trabalho de prevenção para diminuir o número de lesões nas atletas.
- Eu vivenciei muito isso aqui, passei por seis cirurgias ortopédicas, tive lesão de ombro, joelho, tornozelo. A gente sabe o mecanismo de lesão, sabe o que é sentir dor. O legal de trabalhar com elas é passar uma segurança para as meninas. Como eu já passei por algumas situações, sei como fazer – diz.
Um momento marcante da sua carreira também está associado às lesões. Antes das disputas do Pan-Americano do Rio-2007, Priscila passou por uma artroscopia no joelho esquerdo e, para acelerar sua recuperação, forçou o joelho direito. A conquista da medalha de bronze marcou um momento de superação da atleta, um dos mais inesquecível na sua carreira.
- Inesquecível para mim foi a medalha do Pan do Rio. Eu tive uma contusão e praticamente nem treinei e valia ponto para olimpíada. Realmente só quem vivenciou sabe o que eu passei. Então, foi um bronze com um gostinho de ouro – disse.
Batendo na trave no mundial na Inglaterra, ela também elege o momento que seria melhor esquecer, mas que não sai da sua cabeça. Um mal estar acabou lhe tirando a medalha de bronze.
- Ganhando a luta, faltando 13 segundos, sabe quando, para você, o juiz deu o matte [comando de para a luta] e você olha para o placar ganhando a luta e não perde mais. Veio a sensação, não sei, de medo, de felicidade, os sentimento todos e naquela competição tinha mudado a regra. Quem tivesse qualquer problema em relação a vômito seria desclassificado. Um mês antes, um atleta europeu passou mal e deixaram que ele continuar e ele teve um mal súbito. Fiquei frustrada, quis largar o judô. Aquele sonho de primeira medalha em mundial, ganhando, foi muito difícil – completa.
Priscila Marques usa experiência para passar confiança
(Foto: Emanuele Madeira/GLOBOESPORTE.COM)
A temporada 2013 se tornou a mais vitoriosa da seleção feminina de judô. Mas antes dos bons resultados, a ex-peso pesado relembra as dificuldades enfrentadas para que o desempenho de hoje possa ser comemorado. Com o planejamento inicial sendo feito para a seleção masculina, por conta da grande diferença de nível entre as seleções, o judô feminino experimentou uma evolução a partir de uma programação específica montada por Rosicleia Campos.
- Enquanto os meninos iam para a Europa, a gente ia para a Pan-América porque não conseguíamos vencer de Cuba e dos outros países. Então, não tinha como querer conquistar o mundo se não ganhávamos dos vizinhos. No início, achamos que esse não era o caminho, algumas atletas queria pegar no quimono das europeias e, de repente, a gente viu que o trabalho foi um sucesso – conta.
Melhores do Mundo
No campeonato Mundial disputado no Rio de Janeiro, no mês de setembro, a seleção feminina entrou no top cinco das melhores seleções. Hoje, a seleção feminina está atrás somente da seleção japonesa. As conquistas são comemoradas e hoje Priscila Marques deixa transparecer o clima vivido nesse novo momento.
- É um orgulho participar desse grupo vice-campeão do mundo. Lá atrás, a gente roeu muito o osso, e hoje elas estão fazendo por merecer. Elas sabem que o trabalho não começou hoje ou ontem, mas vem de muito tempo e aquelas pioneiras, tanto eu quanto as outras, abriram as portas para elas. Aquelas pessoas que tentam agregar são recebidas de braços abertos, porque no judô a gente precisa um do outro. Esse companheirismo fez o judô feminino crescer muito – comemora Priscila Marques.
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