Após ficar fora das Olimpíadas do Rio, Juliana traça Circuito Brasileiro e Mundial como metas para 2016 (Foto: Carol Fontes)
Oito
vezes campeã do Circuito Mundial, medalhista de bronze nas Olimpíadas
de Londres (2012) e com dois títulos pan-americanos (2007 e 2011) no
currículo,
Juliana
Felisberta já escreveu o seu nome na história como uma das maiores
jogadoras de vôlei de praia de todos os tempos. Acostumada com vitórias,
a santista sentiu o sabor amargo de ficar fora dos Jogos do Rio, em
2016, após um ano marcado por altos e baixos. Ela viu escapar a chance
de se classificar para as Olimpíadas, ao lado da parceira Maria Elisa, e
precisou lidar com a perda do pai em plena corrida olímpica. Seu José
faleceu três anos depois do diagnóstico de Mal de Alzheimer - doença
neurodegenerativa causada pela morte das células cerebrais. Juliana, no
entanto, garante que a morte não influenciou na briga por uma das duas
vagas - preenchidas por Larissa/Talita e Ágatha/Bárbara Seixas. Reserva
nos Jogos, ela terá agora o Circuito Brasileiro e o Mundial como os seus
maiores objetivos.
Veja como está a corrida olímpica no vôlei de praia!
-
A gente teve um momento muito bom na Noruega (campeã no Major Series de
Stavanger). Pintaram oportunidades, mas, infelizmente, não conseguimos
agarrá-las. Se tivéssemos êxito, as coisas
poderiam ser diferentes. O fato é que a gente está fora.
Não conseguimos nos
reerguer de alguns baques. Teve um momento que fiquei triste, demora
para cair a ficha e realizar que você não tem mais condições. Aceitar
leva
tempo, leva uma maturação. Os times que vão para 2016 foram
melhores neste ano. É admitir isso, colocar a mochila nas
costas e trabalhar mais. A vida continua.
Tem ainda o ano que
vem. Estou realinhando as ideias.
Passei um momento em que dei uma chutada de balde, saí um pouco das
minhas metas, mas já estou me preparando para 2016. Apesar de
ser reserva, quero fazer um ano melhor e sentir a sensação de disputar
títulos. Tudo começa na
preparação. Quero me manter bem o ano inteiro, formar uma
parceria forte,
fazer um bom Brasileiro e chegar bem para o Circuito Mundial - revelou
Juliana.
Ao lado da ex-parceira Larissa, Juliana
conquistou a medalha de bronze nas
Olimpíadas de Londres 2012 (Foto: Reuters)
Como uma águia, que reina soberana até passar por um momento de reclusão
e doloroso processo de renovação no alto de uma montanha, a atleta se
recolheu para se renovar e alçar novos voos. Viveu o luto, se conformou
com o fato de não ir aos Jogos de 2016 e usou as derrotas como aprendizado.
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Eu falo que sou uma águia. A águia tem uma história interessante.
Primeiro, ela é soberana e faz tudo. Aí chega um momento da vida em que
que ela alcançou tudo, os
voos mais incríveis, para depois vir o momento que ela
não consegue mais voar. A unha fica torta, e
ela vai para a montanha. Tenta voar o mais alto que ela pode e fica
reclusa. Pega o bico e começa a bater na unha. Vai tirando unha por
unha em um processo é superdoloroso, que leva tempo. Depois de tirar
todas as unhas, leva tempo para cicatrizar até ela voltar a ter a
sobrevida. A águia sempre consegue voar para
onde quiser.
Os ventos podem estar fracos ou fortes, mas ela vai. Estou
agora no momento da montanha. Passei por um momento bem triste e, por
isso, fiquei reclusa. Com oportunidades bombando, quis ficar no meu
canto para me preservar. Às vezes, nesse nosso mundo, tem que ser super
herói. Não podemos nem nos dar o luxo de
sofrer, mas, somos seres humanos. Embora a gente consiga sair e suportar
inúmeras coisas, tem horas que a gente sente. Mas isso tudo passou.
Agora, é bola para frente - acrescentou.
Campeãs em Stavanger, Noruega, Juliana e
Maria Elisa não se classificaram para 2016
(Foto: Denis Ferreira Netto/CBV)
Após
nove anos disputando o Circuito Mundial, seja ao lado de Maria Elisa ou
da sua antiga parceira, Larissa, este foi o primeiro que Juliana não se
sagrou campeã. Os incômodos com as lesões no joelho e nas costas, que a
prejudicaram em algumas etapas, foram vistas como algo natural da vida
de quem tem uma rotina árdua no alto rendimento. O que tirou o chão da
octacampeã mundial foram os problemas de saúde do pai, que se agravaram
nas oito semanas que antecederam a sua morte. Mas, apesar dos
contratempos, a carreira sempre esteve em primeiro lugar. No mesmo dia
do enterro, às 8h, ela embarcou para uma etapa no Japão, às 23h.
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Foi a primeira vez na minha
vida em pleno estar bem que eu pensei em não jogar
mais. Nem quando eu me machuquei em 2008 (às vésperas das Olimpíadas de
Pequim, abdicando da competição), nunca havia pensado nisso. Foi a
primeira vez que passou pela minha cabeça. Pensei em ficar do lado do
meu pai, mas os meus irmãos e a minha família falaram para eu não fazer
isso,
porque ele tinha muito orgulho de mim e eu poderia deixá-lo ainda mais
doente se ficasse no Brasil. Eu fraquejei em muitos momentos, coisa que
dificilmente acontecia, mas, é bola para frente. O mundo é cheio de
oportunidades, e os campeonatos estão em aberto - declarou.
As Olimpíadas não
tinham o nome de ninguém, estava tudo em aberto. Mas existem coisas suas, os
títulos e a sua família. Eu passei por um momento ruim quando o meu
pai estava com problemas de saúde. Quando eu saí para viajar, pensei que nunca
mais iria ver o meu pai, a pessoa que eu mais amava no mundo, que eu mais amo
até hoje. Toda a vez que o meu telefone tocava, eu pensava que era algo
relacionado a ele. Foram oito semanas de muita tensão. Quando eu
cheguei no Brasil, só deu tempo de enterrá-lo, que era uma vontade que
eu tinha também. Não queria que ele fosse embora sem enterrá-lo. Quatro dias depois, era o meu aniversário.
Foi o pior aniversário da minha vida, longe da família e com um resultado ruim, que
contava para as Olimpíadas"
Juliana
Nos momentos difíceis, ela se agarrou à família como um porto seguro para se reerguer.
- Tem certas coisas que a gente tem, outras que não. As Olimpíadas não
tinham o nome de ninguém, estava tudo em aberto. Mas existem coisas suas, os
títulos e a sua família. Eu passei por um momento ruim quando o meu
pai estava com problemas de saúde. Quando eu saí para viajar, pensei que nunca
mais iria ver o meu pai, a pessoa que eu mais amava no mundo, que eu mais amo
até hoje. Toda a vez que o meu telefone tocava, eu pensava que era algo
relacionado a ele. Foram oito semanas de muita tensão. Quando eu
cheguei no Brasil, só deu tempo de enterrá-lo, que era uma vontade que
eu tinha também. Não queria que ele fosse embora sem enterrá-lo. A minha
vontade foi feita, e ele foi descansar. Quatro dias depois, era o meu aniversário.
Foi o pior aniversário da minha vida, longe da minha família e com um resultado ruim, que
contava para as Olimpíadas. As Olimpíadas vão acontecer, mas o meu pai é
uma perda irreparável, que ninguém substitui. As pessoas que me conhecem sabem
o quanto eu era ligada ao meu pai - disse Juliana, que passou a
infância e adolescência em Natal.
Aos
32 anos em uma das modalidades que apresenta uma maior longevidade no
esporte, Juliana espera que o corpo determine o momento de parar.
Prefere não pensar nos Jogos de Tóquio 2020 e foca no presente.
+ Criada em Natal, Juliana resgata raízes e mostra altar com relíquias da carreira+ Etapa de Bauru conta com duplas olímpicas e novas parcerias+ Atletas se unem contra as mudanças no calendário do Circuito Brasileiro
Acostumada a vencer, Juliana superou ano de altos e baixos e foca em 2016 (Foto: FIVB)
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Tóquio 2020 é muito longe. Eu não quero nem pensar nisso. Tóquio para
mim é muito mais complicado do que o Rio. Torço para que ninguém se
machuque, Deus me livre, mas aconteceu comigo já. No vôlei de praia, não
tem substituição. Acho que 2016 está até mais próximo. Uma coisa que
quero voltar a ter no ano que vem é o sangue no olho. Acho que faltou
isso em
algum momento.
Não sou a melhor jogadora, nunca fui, mas
eu tenho desejo de jogar e de desfrutar do esporte que
poucas pessoas têm. Sempre dou muito mais do que eu posso. Quero sentir a
adrenalina máxima. Se for para sair exausta de todos os jogos, eu vou
sair. Não vou poupar energia - contou a atleta, que tem usado o tempo
livre para estudar os mais variados assuntos, de publicidade a finanças.
Recentemente,
Juliana passou a integrar o Programa de Carreira do Atleta (PCA),
iniciativa criada há quatro anos
pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), área de educação do Comitê
Olímpico do Brasil (COB), para
auxiliar atletas que estejam em transição de carreira. A quarta turma
do projeto conta com 13 nomes do esporte nacional, incluindo quatro
campeões olímpicos: Fofão
, Ricardinho e André Heller (vôlei); e Ricardo (vôlei de praia), também em atividade.
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O curso é legal para te dar um direcionamento. Tem gente que acha que
tem aptidão para ser treinadora. Eu gosto muito de jornalismo, de me
comunicar, e tem uma área muito bacana que eu também gosto que é
publicidade. Tenho umas ideias rápidas e loucas, que sempre funcionam.
Meus amigos que têm agência dizem que eu tenho esse tato natural. Sou
hiperativa demais. Depois de me aposentar, penso administrar as minhas
coisas, ter uma vida bacana e viver outras coisas que eu não vivi. O
vôlei me ajudou a ter a maturidade que outras faculdades não me dariam.
Eu penso em fazer administração no futuro, mas não sei se esta vai ser a
minha vocação. Tenho gostado muito de estudar. Nunca é tarde para
começar. A vida vai ensinando a gente, e existe tempo para tudo - contou
a multicampeã.
O próximo compromisso de Juliana nas areias
será a etapa do Circuito Brasileiro em Bauru (SP), de quinta-feira a
domingo. Ao lado de Maria Elisa, a santista, dona de cinco títulos em
etapas nacionais em São Paulo, tentará bater a marca da campeã olímpica
Sandra Pires, com o mesmo número de conquistas. A disputa terá a
presença dos classificados para 2016 (Ágatha/Bárbara, Larissa/Talita,
Alison/Bruno Schmidt, Evandro/Pedro Solberg) e novas formações. Oscar
passará a jogar com Allison Francioni, enquanto
Thiago reeditará a equipe com Pedro Cunha, em uma troca de parceiros. O
circuito ainda passará este ano por
Curitiba (PR), de 3 a 6 de dezembro.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei-de-praia/noticia/2015/11/inconstante-juliana-supera-perda-do-pai-e-do-rio-2016-aceitar-leva-tempo.html