Em entrevista que não contou com a
presença do jogador, diretor mostra alívio com desfecho do caso: 'É bom
para ele e para o Flamengo'
Por Janir Júnior e Richard Souza
Rio de Janeiro
Zinho em entrevista para falar de Adriano
(Foto: Janir Junior / Globoesporte.com)
Adriano chegou ao Flamengo para iniciar a terceira passagem pelo clube
em 22 de agosto. Fora de forma, visivelmente acima do peso e ainda em
recuperação da segunda cirurgia no tendão de Aquiles do pé esquerdo,
adotou um discurso otimista em sua apresentação na sala de imprensa do
Ninho do Urubu. Esperava voltar a ser o Imperador e previa a reestreia
com a camisa 10 rubro-negra em um mês. Nada feito. Setenta e cinco dias
depois, ele termina a sua terceira passagem pelo clube ainda como ídolo,
mas pela porta dos fundos. Em má forma, sai sem ter sequer ficado no
banco de reservas em uma partida oficial. O jogador nem compareceu ao
Ninho do Urubu nesta terça-feira. Coube ao diretor de futebol Zinho
explicar a saída do atacante.
- Ele já divulgou que é uma decisão dele, partiu dele se desvincular,
então realmente acho que fica inviável a permanência para este ano. É
bom para ele e para o Flamengo. Encerra isso, o Flamengo está com a
consciência limpa de que fez de tudo pelo Adriano - disse o diretor.
Ao ser perguntado se deixaria as portas abertas para um retorno do
atacante ao Flamengo em 2013, Zinho deixou claro que o clube não conta
com Adriano. O dirigente promete se empenhar na recuperação do atacante,
mas apenas no lado pessoal.
- Eu não vou desistir do Adriano, mas de recuperar o ser humano, é uma
missão minha, particular. Sem os holofotes, sem essa vida que ele leva
que não condiz com a de um atleta profissional, talvez eu possa ter
sucesso para recuperar esse ser humano. Mas, profissionalmente, chegou
no limite. O Adriano realmente não tem o meu apoio como profissional. O
ser humano tem escolhas. Ele está escolhendo errado. A parte
profissional não progride porque ele erra em outras coisas: as
companhias, o encontro com Deus. Hoje é muito difícil (a volta de
Adriano em 2013).
Na minha opinião, ele precisa se cuidar pessoalmente para que não tome
essas atitudes que a gente viu, como aquele vídeo na casa de shows,
algo que não é de um atleta profissional"
Zinho
O diretor de futebol do Flamengo reafirmou que enxerga a necessidade de
acompanhamento psicológico para o atacante. No dia 1º de outubro, ele
havia condicionado a permanência de Adriano no clube à ida ao
consultório de um profissional, o que não aconteceu.
- Eu acho que precisa de um acompanhamento, isso não foi cumprido, em
momento algum ele fez isso. Ele falou que faria o tratamento, foram
dados número e endereço. O empresário dele disse que foi marcada uma
consulta, mas em cima da hora ele não foi. Na minha opinião, ele precisa
se cuidar pessoalmente para que não tome essas atitudes que a gente
viu, como aquele vídeo na casa de shows, algo que não é de um atleta
profissional.
Zinho admitiu que ficou incomodado com a ausência do atacante, cuja
presença era esperada na entrevista coletiva desta terça, no Ninho do
Urubu. O diretor espera que Adriano ainda apareça no centro de
treinamento do clube ao longo desta semana para se despedir dos
companheiros e explicar os motivos de sua saída.
- O clube é a casa dele, ele é ídolo, acho importante ele vir aqui,
bater um papo com os amigos. As portas estão abertas para ele nos
visitar, e acho legal ele fazer um comunicado para vocês (jornalistas),
se despedindo do torcedor. Ele está jogando fora um grande momento da
vida dele, o que dá mais alegria a ele. O Flamengo vai sobreviver a
todos nós. O Zico parou de jogar e o Flamengo seguiu. O Flamengo seria a
grande oportunidade para o Adriano se recuperar, então eu fico triste
com isso. Um clube como o Flamengo motiva qualquer ser humano.
Infelizmente, o Adriano não conseguiu ter essa motivação para se
recuperar completamente.
Consenso na época da contratação
O dirigente aproveitou para explicar o processo da contratação de
Adriano, em agosto. Ele reconheceu que desde o início temeu recaídas do
atacante, por causa do histórico de indisciplinas dele em sua carreira.
- Não foi uma decisão só minha (a contratação). Houve diferentes
estágios. Quem o operou foi nosso médico. O próprio atleta queria ter
vínculo com o clube para ter uma motivação. Mediante o consenso da
diretoria, chegou-se a esse estágio de fazer um contrato. Nós fizemos um
contrato para proteger o Flamengo caso o Adriano voltasse a cometer
indisciplinas.
O contrato de produtividade, que terminaria em 22 de dezembro, foi
rescindido, algo que o Flamengo já poderia ter feito antes. Conforme
previsto no acordo, três advertências por indisciplina dariam ao clube o
direito de demitir o atacante. Adriano ultrapassou o limite, foi
multado, teve o contrato de imagem suspenso, mas contou com a paciência
do diretor de futebol Zinho, que insistiu na tentativa de recuperação.
Não conseguiu. As sucessivas faltas demoliram a confiança e a
persistência do dirigente em ver Adriano novamente em campo, como um
atleta de alto nível. Com o caso no limite e a falta de compromisso do
jogador, foi preciso recuar.
O golpe que fez Zinho deixar de acreditar no renascimento do Imperador
aconteceu no fim do mês passado, quando Adriano não apareceu na
atividade marcada para as 9h30m de sábado, na Gávea, e comunicou sua
ausência através de SMS, com algumas mensagens desconexas. O clube
definiu a escolha de um psicólogo, chegou a marcar consulta, mas o
atacante não apareceu. A paciência do diretor chegou ao fim, e o
problema foi debatido com a presidente Patricia Amorim. Diante de novo
sumiço na semana passada, o clube decidiu, na última sexta-feira,
desligar Adriano do clube. A nota oficial divulgada pela assessoria do
jogador na segunda-feira precipitou o anúncio do que estava decidido
pela diretoria.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2012/11/zinho-confirma-saida-de-adriano-do-fla-fica-inviavel-permanencia.html