Mari Paraíba teve a companhia dos pais Isnaldo e Célia, em Cartagena (Foto: Fabio Leme)
Recém-chegada à seleção brasileira,
Mari Paraíba
é uma das mais festejadas do grupo de jogadoras. Querida internamente
pelas companheiras, ela conquista a confiança de Zé Roberto a cada dia.
Das caras novas que estrearam nesta temporada, foi a que mais ganhou
espaço. E toda essa mudança, em 2015, foi coroada com sua primeira
medalha de ouro com a equipe adulta, na vitória sobre o Peru,
por 3 sets a 0, na decisão do Sul-Americano.
- Qualquer campeonato, independente se é Sul-Americano ou Mundial, é valioso
para qualquer jogadora. Estar fazendo parte deste grupo, no primeiro ano na
seleção, me faz muito feliz - disse a camisa 9.
E o momento não alegra somente a menina de Campina Grande, que carrega
no nome artístico sua origem. Seu atual condição também emociona àqueles
que acompanharam o começo de sua trajetória.
Na cidade de
Cartagena para ver a filha conquistar o título mais importante de sua
carreira, os pais da bela paraibana são aqueles babões de carteirinha.
Onde a eterna garotinha está, Isnaldo e Célia vão atrás. Longe de Mari
desde a mudança dela para São Paulo há 15 anos, o casal de aposentados
aproveita o tempo mais livre na agenda para matar a saudade da caçula.
-
Minha filha saiu de casa aos 14 anos, desde esse período, onde ela
joga, a gente acompanha. Foi assim no Osasco e nos outros clubes. Tinha
espaço na agenda, a gente ia. Não só com ela, mas como Daniel, nosso
outro filho que jogava. A Mariana na seleção é um momento único. Teve o
Pan e agora o Sul-Americano. Como eu e velhinha (esposa) estamos
aposentados, fazemos isso. É uma alegria, momento único e temos que
aproveitar - declarou o empolgado e emocionado Isnaldo.
Célia e Isnaldo acompanharam todo o Sul-
Americano de vôlei em Cartagena,
acompanhando a filha Mari
(Foto: Fabio Leme)
Mais
cética do casal, a mãe Célia admite que não esperava vir a Cartagena. A
convocação de Mari para as disputas do Grand Prix e Pan-Americano a
pegaram de surpresa, especialmente depois de ver a filha trocar a quadra
pela praia em meados de 2012.
- Mariana sempre foi uma
atleta muito dedicada, titular nas equipes em que jogou e esperava a
seleção antes de ela desistir de jogar voleibol para pensar em outras
coisas. E, agora, foi uma surpresa para nós pegar a seleção, foi uma
ótima surpresa - disse a mãe.
"Em outras coisas" é uma
referência não só a mudança para as areias, mas também ao convite aceito
pela ponteira para posar nua para uma revista masculina. Após as fotos e
sem time na Superliga, Mari Paraíba foi ser companheira de Fernanda
Berti e depois de Natasha Valente no vôlei de praia até o final de 2013.
-
Eu tinha na cabeça que ela já era famosa, tinha alcançado o que
queria e não precisaria daquilo. Mas, graças a Deus, ela reverteu o
quadro, está aparecendo pela atleta que ela é, e não por beleza. Ela ter
posado não interferiu em nada no trabalho dela. Se ela não
tivesse trabalhado bastante, nunca teria chegado à seleção brasileira. A
praia, sim, ajudou, a parte técnica e física dela melhorou. Aqui
(quadra) jogam seis,
na praia, duas. Aquilo foi muito bom para a cabeça dela. Era só ela e a
outra. Graças a Deus, ela viu que a praia dela era a quadra (risos) -
brincou Célia.
Célia foi professora de Mari no início de carreira
em Campina Grande. Isnaldo era engenheiro
(Foto: Fabio Leme)
Isnaldo
deixou claro que as decisões da filha nunca foram criticadas dentro de
sua casa. Mesmo dando a entender que não era a favor de ver Mari
estampada sem roupa nas bancas de jornais, avalizou sua vontade, após
alguns conselhos.
- Desde a sua concepção, a gente tem que
criar o filho para o mundo. Eu dizia para ela: "É isso que você quer? Se
é isso, o mundo é assim". A gente sempre orientou. No caso da Playboy,
eu disse: "Se você achar que deve ir....". Eu sempre concordei, minha
esposa que ficou meio assim (cara de reprovação). Você vai receber isso e
aquilo de nomes, mas é a sua vida. Graças a Deus, ela é muito cabeça.
Às vezes, a ficha nem cai que ela está na seleção - declarou Isnaldo.
O discurso da medalhista de ouro sul-americana vai de
encontro de tudo o que papai e mamãe disseram - a ponteira os chama
assim até hoje. Se as fotos valeram uma boa grana, a passagem pelo vôlei de praia rendeu qualidade.
-
A praia foi um importante passo na minha carreira, foi onde eu pude
melhorar meus fundamentos. Não me arrependo nem um pouco de ter ido, mas acho
que minha praia sempre foi a quadra (repete a mãe). Me encontro mais, me vejo jogando mais
quadra, até porque é um esporte coletivo, gosto mais. Não foi uma decisão tão
difícil, já tinha na minha cabeça querer voltar. Estou aqui, trabalhando duro,
para me manter - declarou Mari.
Mari Paraíba foi a maior pontuadora da
partida contra a Argentina, com 14
acertos (Foto: Fabio Leme)
Na
primeira oportunidade que teve de encontrar com o técnico José Roberto
Guimarães, Isnaldo não se conteve e foi agradecer o tricampeão olímpico
pela oportunidade dada ao seu xodó.
- Mariana foi muito
determinada. Essas mudanças não são fáceis, todas são dolorosas, mas ela
sempre foi focada no que queira fazer. O mundo roda, e olha ela aí hoje
na seleção. Cheguei até a fazer um agradecimento ao Zé Roberto, e ele
me disse: "Não, ela está aqui por capacidade".
Na final, o pai
foi o personagem na arquibancada, perto do banco brasileiro. A cada
saque das peruanas, gritava para errar. Nos pontos do Brasil, levantava e
vibrava. Na reserva boa parter do duelo decisivo, Mari acompanhava tudo
e sorria com Monique.
- (Risos) Não sei te dizer quem está mais feliz. Meus pais são muito fanáticos, me
acompanham desde criancinha, independente se é no colégio ou na seleção, são
muito corujas. Tenho muito sorte pelos pais que eu tenho - elogiou a atleta, com seu sotaque da Paraíba.
A
inédita medalha de ouro já faz Mari sonhar com voos maiores. Sabedora
que uma vaga nas Olimpíadas é algo pouco provável neste momento, ela não
abre mão de sonhar.
-
A gente tem que ir mentalizando isso, ainda mais as Olimpíadas, sonho de
qualquer atleta. Sei que é muito difícil (estar nos Jogos), mas nada é
impossível. Cheguei na seleção com 28 anos e não esperava, mas fui trabalhando.
Hoje, estou aqui por algum motivo. Tudo acontece no seu tempo certo. Se for para
eu estar lá, foi estar muito agradecida - afirmou a ponteira, que disputa posição com Jaqueline, Fernanda Garay, Natália e Gabi.
Terceira
jogadora da esquerda para direita na
fila central, Mari exibe orgulhosa
sua primeira
medalha de ouro com Brasil (Foto: Fabio Leme)
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