Eu comento esportes: Bernardinho vê Sul-Americano como teste e destaca liderança de Serginho

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Bernardinho vê Sul-Americano como teste e destaca liderança de Serginho

Treinador lamenta problemas, elogia grupo que conquistou o título em Maceió e vê inúmeras seleções em condições de brigar pela medalha de ouro nos Jogos do Rio

Por Marcello Pires

Rio de Janeiro

Cinco jogos, cinco vitórias e um único set perdido. Embora a campanha quase perfeita não deixe nenhuma dúvida sobre a superioridade do Brasil no Sul-Americano masculino de vôlei, a caminhada da seleção até a conquista de seu 30º título da competição, após uma tranquila vitória diante da Argentina por 3 a 0, domingo, em Maceió, foi repleta de percalços e obstáculos. Os problemas foram tantos que até a invasão dos mosquitos ao ginásio do Sesi ao longo dos cinco dias de disputa passou despercebido. Além de alguns jogadores não terem sido liberados por seus clubes, o técnico Bernardinho ainda teve que administrar quatro ausências de última hora: os ponteiros Maurício Borges, Lipe e Murilo, além do central Otávio, todos machucados.

Serginho, Brasil x Argentina, Sul-Americano de vôlei (Foto: Alexandre Arruda/CBV)

Liderança de Serginho foi um dos pontos altos

da campanha do Brasil no Sul-Americano

(Foto: Alexandre Arruda/CBV)

- Chegamos sem treinamento, sem alguns jogadores que não foram liberados e outros machucados. Mas entendemos também que era importante que alguns disputassem o Campeonato Paulista por seus clubes, e queria agradecer a colaboração ao presidente do Cruzeiro por ter liberado dois jogadores.

Apesar dos problemas conseguimos em uma semana de trabalho aqui ajustar a equipe e jogar de forma consistente a partir daquele susto contra o Chile, quando entramos devagar e meio desconcentrado. Depois fizemos três partidas corretas e eficientes. Conseguimos terminar a temporada de forma correta e cumprimos nosso papel, já vencer o Sul-Americano era nossa obrigação independente dos problemas. Fizemos o que tínhamos que fazer. Isso é o mais importante – analisou Bernardinho.

Brasil bate a Argentina na final e é campeão sul-americano pela 30ª vez De volta à seleção, Serginho quer ajudar equipe a ser mais agressiva Seleção desembarca em Maceió sem Murilo e faz 1º treino no ginásio do Sesi

Dentre as perdas, a ausência do capitão Murilo certamente foi a que mais incomodou o treinador. Não só em relação à parte técnica, mas pela liderança do ponteiro. Mais experiente do atual grupo ao lado do líbero Serginho, o melhor jogador do Mundial de 2010 sentiu a panturrilha no último treino antes do embarque para a capital alagoano e ficou em São Paulo. Como não havia mais tempo de substituí-lo, a seleção se viu obrigada a disputar a competição com apenas três ponteiros de origem. Talvez essa tenha sido uma das razões para o acanhado interesse do torcedor de Maceió pelo menos até as semifinais de sábado.

Foi um teste e uma avaliação para o ano que vem, que será curto, só com a Liga Mundial e as Olimpíadas. Certamente essa competição serviu para isso. Até mesmo para ver quem é que está disposto a fazer qualquer sacrifício e abrir mão de tudo para estar aqui. Independentemente de qual seja a competição, se é a Liga Mundial, Campeonato do Mundo ou um simples Sul-Americano, isso para mim é muito importante. Pessoas que realmente se entregam e querem defender a seleção. Isso é fundamental num momento como o ano que vem"

Bernardinho

Mas juntar os cacos e seguir adiante também tem sido uma das especialidades de Bernardinho desde que assumiu a seleção masculina em 2001. O problema é que o material humano à disposição do treinador atualmente não é tão rico como antes. Quem sabe justamente por isso o quase sempre desprestigiado Campeonato Sul-Americano tenha ganhado tanta importância no planejamento da comissão técnica. Principalmente depois que as Federações Internacional e Sul-Americana de Vôlei impediram que a seleção disputasse a Copa do Mundo do Japão, no mês passado.

- Foi um teste e uma avaliação para o ano que vem, que será curto, só com a Liga Mundial e as Olimpíadas do Rio. Certamente essa competição serviu para isso. Até mesmo para ver quem é que está disposto a fazer qualquer sacrifício e abrir mão de tudo para estar aqui. Independentemente de qual seja a competição, se é a Liga Mundial, Campeonato do Mundo ou um simples Sul-Americano, isso para mim é muito importante. Pessoas que realmente se entregam e querem defender a seleção. Isso é fundamental num momento tão importante como será o ano que vem – explicou o comandante.

bernardinho destaca exemplo de serginho

Bernardinho, seleção brasileira masculina de vôlei (Foto: Alexandre Arruda/CBV)

Bernardinho apontou o Sul-Americano como um importante teste (Foto: Alexandre Arruda/CBV)

Se a ausência de Murilo foi bastante lamenta, a liderança de Serginho mais do que comemorada. De volta à seleção brasileira desde maio, após três anos de ausência, o líbero foi escolhido o melhor jogador da competição e mostrou que apesar de estar prestes a completar 40 anos continua jogando em alto nível. Mais do que seu desempenho individual, Bernardinho elogiou a dedicação e o exemplo que o campeão olímpico e bi mundial passam para os mais jovens.

- Ele é um líder, mais o mais importante é que ele lidera pelo exemplo que dá e pela paixão que tem pelo vôlei. Jogou esse Sul-Americano contra jogadores que certamente o viram ainda adolescentes pela televisão com um entusiasmo de um jovem e com a mesma seriedade e alegria que sempre demonstrou ao vestir a camisa do Brasil. Além da eficiência dele como jogador, para nós isso é muito importante. Essa questão do entusiasmo, da paixão e da vontade. O prêmio que ele ganhou como melhor jogador não é uma homenagem só pelo que ele fez aqui, mas a uma carreira inteira de exemplos e dedicação. Sinceramente espero que ele possa concluir essa trajetória no ano que vem da maneira mais digna possível nas Olimpíadas no Rio – destacou o técnico tricampeão mundial.

técnico vê briga pelo ouro no rio embolada

Questionado se o fato de chegar aos Jogos do Rio de Janeiro sem o mesmo selo de favorito à medalha de ouro como nas últimas três edições dos Jogos Olímpicos diminui a pressão sobre o Brasil e pode acabar sendo positivo, Bernardinho desconversa e afirma que nada vai tirar a responsabilidade dos donos da casa.

- Favorito ou não, o Brasil terá uma responsabilidade muito grande de chegar e jogar em casa diante do grande público que acredita na seleção. As pessoas que estão por dentro e conhecem mais voleibol sabem que existem um enorme grupo de seleções em condições de ganhar o ouro, e nós vamos brigar por essa medalha também. Só espero que possamos chegar inteiros e em boas condições físicas para brigar pelo título.