Técnico do River desde 2014, Gallardo é um dos principais ídolos da torcida (Foto: Reuters)
Quando assumiu o River Plate, em 6 de junho de 2014, Marcelo
Gallardo foi recebido com desconfiança pela torcida. Afinal, tinha pouca
experiência como treinador e substituía um ídolo como Ramón Díaz. Pouco mais de
um ano depois, o ex-jogador é unanimidade pelos lados do Monumental de Núñez:
de crianças até idosos, passando por jornalistas e dirigentes, o Muñeco, como é
conhecido, tornou-se o artífice da nova fase dos Millonarios.
Neste período em que comanda o River, Gallardo fez a equipe
voltar a brigar pelo título argentino – terminou em segundo lugar no Torneio de
Transição de 2014 – e conquistou duas taças internacionais: a Copa e a Recopa
Sul-Americanas. Melhor ainda: eliminou o Boca duas vezes, uma delas na campanha
que levou os Millonarios à decisão da Libertadores.
- No primeiro momento em que assumi, sabia os desafios que tinha
pela frente. Sabia que tinha que me preparar para isso, para encará-los da
melhor maneira possível, mas esperançoso de que as coisas que eu proporia
fossem bem incorporadas pelo grupo de jogadores que eu ia dirigir, que ia
transmitir de uma maneira que pudéssemos ser competitivos. E as coisas foram
acontecendo – relatou, simples, o treinador.
Gallardo fez tudo isso apenas quatro anos depois de o River
ser rebaixado para a segunda divisão. Curiosamente, o elenco não mudou muito
desde aquela época. Para o jornalista Gustavo Yarroch, que cobre os Millonarios
há 12 anos para o jornal “Clarín”, este foi justamente o maior feito do Muñeco:
conseguir um desempenho superior com o mesmo plantel.
- Para mim, a chegada de Gallardo foi determinante. Com ele
no banco, a equipe se tornou confiável, ganhadora, com muito temperamento. Sabe
ir bem no âmbito internacional. Tem personalidade e joga da mesma maneira em
todos os lugares. Por isso, chegou aonde chegou – explicou.
Torcedor do River aborda Gallardo para tirar
uma foto com ele (Foto: Reprodução / Twitter)
Antes de assumir o River, Gallardo teve uma experiência no
Nacional, do Uruguai. Comandou o time entre 2011 e 2012 e conquistou o
Campeonato Uruguaio uma vez. Como jogador, foi um meia clássico revelado pelo
próprio River, onde ganhou a Libertadores em 1996. Passou ainda por Monaco,
Paris Saint-Germain, DC United e Nacional. Também vestiu a camisa da seleção
argentina.
Gallardo na época em que defendeu o River dentro de campo: campeão em 1996 (Foto: Getty Images)
A experiência em 1996, porém, não é levada em conta pelo
próprio Gallardo. Em entrevista coletiva antes da final contra o Tigres, ele
surpreendeu: revelou a equipe titular com dois dias de antecedência. Tranquilo,
disse que a situação é diferente à de 19 anos atrás. Só o sentimento é igual.
- As lembranças ficam. Nem todos têm a possibilidade de
estar em algo tão importante. (Hoje) é uma coisa totalmente diferente, com
outra cabeça. Mas é o mesmo sentimento: defender este clube. Outra vez posso
viver este momento. Numa situação distinta, mas o sentimento é o mesmo.
"PELA MÃO DO MUÑECO, VAMOS AO JAPÃO"
Entre os torcedores, Gallardo é adorado. Na segunda-feira,
enquanto os jornalistas aguardavam na rua pelo início da entrevista coletiva,
alguns meninos com a camisa do River se aproximaram. Queriam saber se podiam
entrar. Um deles, perguntado sobre o treinador, abriu um típico sorriso sincero
de criança.
- Gallardo me encanta – disse o garoto, com os olhos
brilhando.
Gallardo faz sucesso entre torcedores do River
Plate (Foto: Reuters)
Entre os mais velhos, a adoração é a mesma. Santiago El Tano
Pasman, torcedor famoso do River, admitiu que ficou desconfiado quando o
treinador foi contratado. Hoje, não consegue imaginar a equipe sem Gallardo.
- Hoje, Gallardo é fundamental para este momento do River.
Ele melhorou o rendimento de jogadores que não estavam na consideração de
ninguém, ou que eram promessas e hoje são realidades, como Kranevitter, Mora,
Sánchez – elogiou.
Treinador não poderá comandar o River do campo na final contra o Tigres, nesta quarta (Foto: AP)
O respeito é tanto que Gallardo é imune, inclusive, a alguns
dogmas históricos do River. Num clássico contra o Boca Juniors, decidiu usar
uma dupla de volantes, algo pouco usual nos Millonarios. Deu certo.
- Ele percebeu que teria que jogar desta maneira e não teve
medo. Fez isso, e saiu tudo bem. A partir de então, o River passou a jogar
assim, coisa que para a história do River não era tão comum. Antes, quando Manuel
Pellegrini (atual treinador do Manchester City) fazia isso, a torcida cantava: “Avisem
ao Engenheiro (apelido de Pellegrini) que isto aqui não é San Lorenzo (antiga
equipe do chileno)” – contou Gustavo Yarroch.
O cântico dos torcedores do River para Gallardo é diferente.
A música que fez sucesso na reta final da Libertadores (assista aqui) lembra as vitórias sobre
Cruzeiro e Guaraní, do Paraguai, provoca o rival Boca Juniors e vaticina no
fim:
- Sim, senhor, pela mão do Muñeco, vamos ao Japão – cantam,
em referência à classificação antecipada para o Mundial de Clubes.
SUSPENSO E COM FUTURO INDEFINIDO
O destino, porém, é curioso: no jogo mais importante de sua
curta passagem pelo River, Gallardo não poderá estar em campo. Ele foi expulso
na partida de ida e terá de cumprir suspensão. Desafiador, afirmou que ninguém
irá impedi-lo de ir ao vestiário. Resta saber como sua equipe, que mudou tanto
sob seu comando, irá se comportar sem o comandante ali perto.
Resta saber, também, por quanto tempo Gallardo ficará no
River. O presidente, Rodolfo D’Onofrio, já deixou claro que, enquanto for
mandatário, o Muñeco ficará. Mas, dado o mercado para treinador argentinos na
Europa, isso não é tão garantido.
- Não resolvemos isso, mas há vontade de ambas as partes
para continuar. Estamos muito focados nesta final, veremos depois o que
acontece. Estou confortável aqui, me sinto feliz, mas não sou de pensar a largo
prazo. Futebol é futebol, o resultado manda. Meus desafios estão no curto e no
médio prazos – desconversou o Muñeco.
Gallardo no jogo de ida da final da Libertadores:
futuro incerto pela chance de assédio europeu
(Foto: Agência Reuters)
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