Junto com marido e filho em Saquarema, ponteira supera momento difícil da carreira. Zé Roberto defende presença das crianças: “Só não digo que vou ser babá"
Na primeira cena, em abril de 2014, a família reunida era a
mesma. Jaqueline, ao lado de Murilo, segurava no colo o bebê Arthur, com apenas
quatro meses. No rosto do casal, sentado em casa, a tristeza chamava a atenção.
As lágrimas escorriam dos olhos da ponteira bicampeã olímpica. Era difícil
conviver com o fato de estar sem clube após a gravidez. Na segunda cena, em
maio de 2015, a família reunida é a mesma, mas o semblante é outro. Jaqueline,
Arthur e Murilo não se desgrudam nem mesmo em Saquarema, na casa da seleção
brasileira. Só se vê sorrisos e brincadeiras. Após ajudar a levar o Minas às
semifinais da última Superliga, Jaqueline será a novidade do Sesi-SP para a
próxima temporada, no mesmo clube de Murilo. A volta por cima foi dada, assim
como a resposta a quem virou as costas para ela. Palavras da própria jogadora.
Murilo, o filho Arthur, e Jaqueilne, no CT em
Saquarema (Foto: José Geraldo Azevedo)
- Está tudo muito mais tranquilo, vou ficar em São Paulo com
o meu marido. No ano passado estava numa situação bem delicada na minha
carreira, triste por tudo o que aconteceu. A gente nem imaginava (os dois
assinarem com o Sesi-SP). Estávamos vendo coisas fora (do país), eu e o Murilo
recebemos muitas propostas, felizmente a gente é muito valorizado lá fora, e aqui
no Brasil está meio difícil a situação para o voleibol. Mas quando recebi a
proposta não pensei duas vezes. Estar junto com meu marido, com meu filho... No
ano passado foi um pouco difícil, mais para o Murilo que tinha que se deslocar
para Belo Horizonte para ver o filho dele. Mas nada foi por acaso. A melhor
coisa que aconteceu foi dar a volta por cima após muitos clubes virarem as
costas para mim. Hoje estou aqui super feliz, tudo o que quero é estar bem com
minha família bem para representar muito bem meu clube e o Brasil.
Ao se apresentar na última segunda-feira ao técnico José
Roberto Guimarães, Jaqueline levou o “novo integrante” da seleção. Arthur,
agora com quase um ano e meio, já corre pelo Centro de Desenvolvimento do
Voleibol e faz a alegria não só dos pais. Até o chefe da mãe se derrete por ele,
e ainda reforça a importância de a família estar reunida.
Jaqueline durante treino em
Saquarema(Foto: Alexandre
Arruda/CBV)
- Arthur é um companheirão. Quase todas as semanas ele vem
junto, são raríssimas as vezes que não vem, e está sempre participando,
correndo. Já está completamente diferente do neném que conhecemos. É sempre bom,
isso integra cada vez mais as jogadoras com a Jaque, com o filho, é um ambiente
bacana que faz parte de toda a preparação. É assim com todas as jogadoras que
são mães - ressaltou, citando ainda outras jogadoras que levaram seus filhos
para a concentração, como a levantadora Fabiola e ponteira Paula Pequeno. “Tem
filho, pode trazer. Não digo que vou ser babá, mas que tem bastante gente para
cuidar, isso tem”, brincou Zé Roberto.
- É importante porque elas se sentem mais tranquilas, mais
seguras, sabem que o filho está por perto, que elas podem ver, tocar e sentir.
O fato de estarem mais próximas é primordial para todo mundo. De maneira
nenhuma isso vai criar problema na preparação da seleção, pelo contrário,
agrega. É sempre bem-vindo.
Mas ao mesmo tempo que cuida da família, Jaqueline não se
descuida daquilo que lhe é primordial na profissão: o corpo. Além da estabilidade
no clube, a ponteira ressaltou que a última temporada foi sem lesões, o que a
deixa preparada para dar o seu melhor ao Brasil.
- (Estou) super bem, não tive nada a temporada inteira, estou
super alegre, feliz, e vou agora treinar e fazer o meu melhor - disse a
jogadora de 31 anos.
Jaqueline, apesar de ter sido eliminada com o Minas na
semifinal da Superliga, ganhou a mesma folga de jogadoras que estiveram na
decisão. O tempo a mais em casa tem justificativa e defesa do técnico Zé Roberto.
Família está junta nos treinos da seleção
brasileira (Foto: José Geraldo Azevedo)
- Ela tem dois atributos que justificam essa possibilidade
de ficar um tempo a mais de folga: é uma jogadora que tem grande experiência,
já treinou muito e está na seleção desde 2005. E é mãe. A gente tem que pensar
nisso. Mas ela está bem, o importante é que está magrinha, se cuidando, e sabemos
o potencial que ela tem para ajudar a seleção.
A seleção feminina tempo duas competições em julho, o Grand
Prix e os Jogos Pan-Americanos de Toronto. Jaqueline não esconde sua
preferência, mas deixa a escolha a quem cabe. Ela está focada mesmo é em chegar
no melhor nível nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano que vem.
- Queria muito ir para o Pan-Americano, mas o Zé é quem
decide e está aqui para fazer esse trabalho, saber quem é que tem que ir para
tal lugar ou não. O que ele escolher está bom, porque vim para cá para
aproveitar. O meu foco maior é estar pronta para as Olimpíadas - concluiu.
Jaqueline, Arthur e Murilo descansam após
os treinos em Saquarema (Foto:
Reprodução/Twitter)
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