Quando uma criança chora, às vezes nem se sabe o motivo. Pode ser sono,
fome, dor, mas logo vem o acalanto. É irresistível ninar um chorão. Que
privilegiados esses jogadores. Foram ninados por mais de 60 mil pessoas
na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia. Com esse "abraço" da Arena
Castelão, a Seleção deixou a tensão para trás e vibrou no tom dos
zagueiros Thiago Silva e David Luiz, autores dos gols brasileiros. Só
restaram lágrimas para Neymar. Por causa de uma joelhada nas costas de
Zuniga, aos 41 minutos do segundo tempo, saiu de campo na maca, foi
levado para o hospital São Carlos e ficou sabendo que não joga mais a
Copa, por ter quebrado a terceira vértebra lombar.
No Castelão, a torcida embalou a Seleção. No massacre do primeiro tempo
em que o rival não viu a cor da bola, e no dramático segundo, que teve
gol colombiano anulado e o cartão amarelo que tirou Thiago Silva da
semifinal contra a Alemanha, terça-feira, no Mineirão. Uma molecagem
cara em meio à sua brilhante atuação.
Thiago Silva aponta par ao escudo e comemora
o primeiro gol: "Isso aqui é Brasil"
(Foto: Reuters)
A partida mostrou “crianças” cheias de autoestima depois da sofrida
experiência contra o Chile e dos cuidados especiais de Felipão,
Parreira, da psicóloga Regina Brandão. As lágrimas, tão julgadas e
criticadas, conquistaram o torcedor, além da vibração, expressada com
seu maior vigor por David Luiz, autor do segundo gol, em cobrança de
falta, e eleito o melhor em campo.
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Não é exagero: o público também jogou bem. Mudou até a canção de ninar.
Os jogadores deixaram de ser embalados pelo cansativo “com muito
orgulho, com muito amor”, e ganharam canções mais animadas, que falam
até dos mil gols de Pelé e avisam: “Brasil vai ser campeão”. Já era
hora.
Contra a poderosa e tradicional Alemanha, em Belo Horizonte, na
terça-feira que vem, às 17h (de Brasília), a Seleção vai para o
penúltimo capítulo desse livro que começou a ser escrito há 64 anos, no
Maracanazo uruguaio, e ainda espera pelo final feliz. Mesmo sem o seu
capitão e o camisa 10.
David Luiz abre o berreiro e comemora o
segundo gol do Brasil (Foto: Getty Images)
Monstro!
Esqueçam-se daquele Thiago Silva abalado e sentado sobre a bola. O
apelido de monstro foi pouco para explicar seu primeiro tempo. Antes de a
bola rolar, com os punhos cerrados, ele ligou seus amiguinhos na mais
alta voltagem. No escanteio cobrado por Neymar, aproveitou falha de
marcação e abriu o placar. Festejou como um menino eufórico. “Isso aqui é
Brasil”, gritou pelo gramado enquanto corria com os dedos apontados ao
papai do céu: “Obrigado por tudo”.
Thiago Silva completa de joelho para o fundo da
rede observado por Ospina (Foto: Reuters)
Nem quando a turma de vermelho se agigantou, o capitão sucumbiu. Eram
quatro colombianos contra dois brasileiros, mas Thiago cortou o passe de
Cuadrado para Téo Gutierrez. Quase outro gol.
Num passe de primeira que clareou todo o lance, James Rodríguez mostrou
do que era capaz se ficasse livre. Não ficou. Com direito a faltas mais
duras, Fernandinho tomou conta do craque. O volante teve ótima atuação
na etapa inicial, conduzido pelos gritos ensurdecedores da galera. Não
fossem as boas defesas do goleiro Ospina e a falta de capricho nas
finalizações de Hulk, que vestiu a roupa do super-herói e cresceu, a
vitória seria mais tranquila.
Fernandinho cuida de James Rodriguez, com
Thiago Silva na cobertura
(Foto: Agência Reuters)
Observação importante: não basta ser acalentada, a criança tem de
aprender a lição. O Brasil teve cobrança de lateral no campo de defesa, e
Marcelo quicou a bola no chão como se fosse para um lance livre de
basquete. Arremessou para longe. O gol do Chile deixou marcas. Que bom.
Drama!
Era natural que a Colômbia pressionasse no segundo tempo. Os meninos,
que até então haviam apresentado o melhor futebol da Copa, tinham muito
mais a mostrar. Compactos, tiraram o sossego do Brasil e se fez o drama.
Primeiro no cartão amarelo para Thiago Silva, que atrapalhou a
reposição de Ospina e mandou para o gol. Felipão levou as mãos ao rosto e
pronunciou uma palavra que crianças não devem repetir. A seleção vai
sem o capitão contra a Alemanha.
David Luiz vibra muito com o segundo gol do
Brasil sobre a Colômbia (Foto: Reuters)
O gol anulado de Yepes, após marcação de impedimento, também assustou. E
lá estava a torcida a proteger seus filhos dos perigos. Não há quem
assimile mais a paixão do país do que David Luiz. Talvez isso o tenha
inspirado a acertar o ângulo em cobrança de falta. Um golaço! Último
titular a fazer gols pela Seleção, marcou pela segunda vez seguida. E
riram quando Pelé falou que a Seleção tinha uma defesa melhor do que o
ataque..
.
James Rodriguez leva a bola diante Thiago
Silva:adeus do artilheiro até aqui
(Foto: Agência Reuters)
Maicon errou no meio de campo, e Julio César fez pênalti em Bacca.
James marcou seu sexto gol na Copa do Mundo. Não fará outros. A Colômbia
pressionou, assustou, arrancou lágrimas e mais lágrimas de seus
orgulhosos torcedores, mas voltará para casa. Coberta de aplausos,
certamente.
Mas, antes do fim, alguém da Seleção voltou a derramar lágrimas. Neymar
sofreu uma joelhada nas costas de Zuniga, aos 41 minutos, saiu de maca
aos prantos e levado direto ao hospital. Pouco mais de uma hora depois
da partida, ficou sabendo que não joga mais a Copa, por causa da fratura
na terceira vértebra lombar.
No Castelão, a torcida embalou a Seleção. No massacre do primeiro tempo
em que o rival não viu a cor da bola, e no dramático segundo, que teve
gol colombiano anulado e o cartão amarelo que tirou Thiago Silva da
semifinal contra a Alemanha, terça-feira, no Mineirão. Uma molecagem
cara em meio à sua brilhante atuação.
Thiago Silva aponta par ao escudo e comemora
o primeiro gol: "Isso aqui é Brasil" (Foto: Reuters)
A partida mostrou “crianças”