Muricy Ramalho garante não ter acertado com
o Santos (Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo)
O técnico Muricy Ramalho pediu demissão do Fluminense alegando que o clube tinha deficiência em sua estrutura. Nesta terça-feira, porém, o treinador revelou um outro lado da sua insatisfação dentro do Tricolor. Em entrevista ao programa Arena SporTV, ele disse que as mudanças no futebol, como as demissões do vice de futebol Alcides Antunes e do assessor de imprensa Alexandre Bittencourt, não foram decisões corretas da diretoria do clube.
- Esse presidente (Peter Siemsen) que chegou agora é um cara correto, ele tem as verdades políticas dele, me explicou, mas que não concordo, pois tirou as pessoas com quem fui campeão. Falei para ele: 'Mexeu com as pessoas que me ajudaram a ganhar'. (...) Respeito a parte política do clube, mas não posso concordar, pois cria um clima esquisito - explicou Muricy.
O treinador também fez um balanço de sua passagem pelo clube, garantiu não ter recebido proposta da seleção mexicana e que não está acertado com o Santos e destacou a força que o patrocinador do Flu tem devido à falta de estrutura do clube. Confira trechos da entrevista:
Passado, presente e futuro
"Morei em um lugar realmente maravilhoso (Rio de Janeiro) e passei um ano lá incrível. Não sei o que vai acontecer em minha carreira. Falam muito nisso, coisas que não são corretas. Quando a gente toma alguma atitude que não é normal no meio, ficam muitas dúvidas. Não estou mais no México, não estou no Santos. São coisas (boatos) que a gente tem que se acostumar. Estão mudando as coisas. Mas é difícil, pois a gente vive em um país onde dinheiro é tudo. Quando um técnico toma uma atitude como eu tomei, é difícil de entender".
Quando um técnico toma uma atitude como eu tomei, é difícil de entender"
Muricy Ramalho
Tempo para descansar
"Tenho que deixar bem claro que eu preciso me preparar para ir para outro lugar. Não dá para sair de um ir para outro. Preciso estar bem, porque vou me dedicar ao máximo, vou para ganhar. E, se não estiver bem, não vou ganhar".
Paixão e razão no futebol
"No futebol, tem coisas que concordo, que é a paixão, a razão, mas o que se discute é tudo em cima da paixão. Quem comanda tem que ter um pouco de razão também. Cheguei ao Fluminense, começou o campeonato, comecei a melhorar e em seguida fui convidado para a Seleção. Não sou um baita treinador, mas sou um bom treinador. É difícil você ver um profissional tomar carinho por um clube, eu tomei carinho pelo o Fluminense. Como a palavra para mim é importante, aconteceu aquilo tudo e permaneci. Era um campeonato que não era provável que a gente ia ganhar, a verdade é essa. Tivemos jogadores machucados, mas fechamos o grupo, fechamos com dirigentes, foi legal. Mas você começa a analisar os concorrentes, o Cruzeiro, Corinthians. Machucavam os nossos, machucavam os deles, mas os nossos demoravam a curar, os deles, não. Eu não sou máquina, cara, não é assim. As pessoas têm que saber que o técnico não é máquina. Meu trabalho já não estava dando mais. Eu seria errado, falei com o Celso Barros. O cara ficar me pagando e eu dando migué... Estava morando em um lugar ótimo, mas não estava feliz, não estava mais conseguindo trabalhar, melhorar dentro de campo. Parece até que o técnico não deixa nada para o clube".
Quebra de contrato com o Flu
"Eu não quebrei contrato. Para mim, quebrar contrato é você trocar o Fluminense por outro clube. Não fiz isso. A gente não consegue melhorar o atleta. E outra, estava prejudicando meu time, pois não estava conseguindo trabalhar como eu queria".
Cada técnico tem a sua filosofia de trabalho. Eu gosto de trabalhar no campo e acho que tenho capacidade de melhorar o atleta, pois minha escola foi essa. Você não faz um jogador, mas você o melhora"
Autor
Divergências com a diretoria
"Em todo lugar que chego eu converso primeiro com quem manda. Mesmo porque, o Celso Barros é um parceiro. Meu ambiente lá é ótimo. Os jogadores não deixaram eu sair. Eles não se conformaram, mas já estava decidido. A gente trabalha à vontade lá. A gente não teve nenhuma crise. O ambiente ótimo, com o patrocinador, o Horcades, que era o presidente. E esse presidente que chegou agora é um cara correto, ele tem as verdades políticas dele, me explicou, mas que não concordo, pois tirou as pessoas com quem fui campeão. Falei para ele: 'Mexeu com as pessoas que me ajudaram a ganhar'. Falei, no fim do ano, que não sou de trazer ninguém, mas deixa o Alexandre que é o assessor de imprensa. Eu conseguia juntar as pessoas. E essas pessoas que estão do meu lado são muito importantes não só para mim, mas para o clube, ajudam a ganhar. Ajudam a manter o ambiente do clube bom, bonito. Valorizamos essas pessoas. Quando cheguei ao clube, não mexi em ninguém, pois esses caras fizeram a diferença, ajudaram o clube. Respeito a parte política do clube, mas não posso concordar, pois cria um clima esquisito. Futebol não é aos domingos, não. É jogador que tem problema com mulher, filho... Então, como se faz? Você cria um ambiente. Falei com o presidente, respeito as prioridades dele (Siemsen), compromissos, mas isso mexe com o time".
Problemas estruturais
"Você não ganha um campeonato como nós ganhamos ano passado de novo. Não repete. Fui para o Fluminense com dois objetivos: o Celso Barros veio me buscar há dois anos. Falei com ele, você investe muito nos jogadores, mas na estrutura, não. Ele me falou que a obrigação não era dele, estrutura é coisa do clube. Então, respondi que o clube deveria melhorar".
Importância do patrocinador para o Flu
"Se o Celso Barros não estivesse no Fluminense, ia ser complicado para o clube. O que o cara faz no Fluminense é brincadeira. Se não é a Unimed, o Fluminense ia estar em uma situação complicadíssima. Ele não é um investidor. Ele tem uma verba, ao invés de investir em publicidade, investe no Fluminense. Ele é patrocinador, nem vai lá (no clube)".
Relação com o Tricolor
"Eu preciso tirar o Fluminense de dentro de mim. Sabe, porque o Fluminense não saiu de mim, tem pessoas com quem você se envolve demais. Pelo ambiente nosso que era lá. Então, é muito duro para mim. Minha característica é ser intenso demais. Fico estressado sim, doente sim. Pode ser que daqui a 20 dias eu esteja bem, mas acho difícil. Acho que 30 dias é o mínimo para qualquer treinador".
Muricy treinador
"Cada técnico tem a sua filosofia de trabalho. Eu gosto de trabalhar no campo e acho que tenho capacidade de melhorar o atleta, pois minha escola foi essa. Você não faz um jogador, mas você o melhora. Como o Conca, por exemplo, ele não ia muito para a área, passei a fazer ele jogar mais próximo da área. O Mariano foi para a Seleção Brasileira, para mim é uma satisfação. Comigo, no São Paulo, dez jogadores foram para a Seleção".
Convite para a Seleção
"Já foi feito aquilo (recusar o convite da Seleção Brasileira). Nem penso mais. A decisão foi tomada naquele momento. Acabou. Eu acho que, para quem é correto, as portas não fecham nunca. Mas, se fechar, vou fazer o quê? Não me arrependi. No fim do ano ganhei um campeonato. Naquele momento achei o correto".
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2011/03/muricy-reconhece-clima-esquisito-com-mudancas-realizadas-pela-diretoria.html