Agora no QPR, lateral brinca sobre belo
gol do irmão no jogo do último sábado: 'Nunca faz um desses, tinha que
ser logo contra o meu time?'
Por Felipe Rocha
Direto de Londres, especial para o GLOBOESPORTE.COM
Minutos após o fim da partida, Rafael e Fábio
se despedem dos companheiros de clube, esquecem o dia como adversários
e, novamente juntos, deixam o estádio no mesmo carro. No caminho até a
casa de Fábio, porém, Rafael não consegue evitar uma provocação ou outra
ao irmão. Natural para quem acabara de fazer um lindo gol na vitória
por 2 a 0 de sua equipe, o Manchester United, contra o time do irmão
gêmeo, o Queens Park Rangers.
Fábio não entrou em campo. Como está emprestado pelos Diabos Vermelhos
ao cube de Londres, o contrato não permite que enfrente a ex-equipe. Das
tribunas do estádio Loftus Road, viu Rafael abrir o placar em belo
chute de direita de fora da área. Entre a alegria de ver o golaço do
irmão e a tristeza de ver seu time sofrer um gol, Fábio admite que a
primeira sensação prevaleceu. Aqui entre nós.
- Na hora foi difícil, cara. Você fica feliz em ver teu irmão fazer um
golaço daqueles e naturalmente quer vibrar. Mas eu não podia porque
estava do lado do presidente do QPR, da torcida. Foi difícil. Falei com
ele depois: ‘Nunca faz um gol desses, tinha que ser logo contra o meu
time (risos)?’ Mas fiquei feliz por ele – confessou o defensor do QPR,
em sua casa na Zona Oeste de Londres.
Fábio, com a camisa do QPR, e Rafael, com a do United: gêmeos agora são rivais (Foto: Felipe Rocha)
A situação de ver o irmão como rival é novidade para os gêmeos. Desde
os primeiros chutes em Petrópolis (RJ), onde nasceram, passando pelas
categorias de base do Fluminense, até chegar ao futebol inglês, onde
estão desde os 17 anos de idade, eles jamais haviam vivido essa
experiência. Pelo menos, não como agora.
- Olha, jogar contra o meu irmão só em peladas mesmo. Na verdade, a
mudança do Fábio pra Londres foi a primeira grande separação em nossas
vidas. A gente nunca tinha ficado um ano longe. Mas estamos lidando bem
com isso, a gente se visita bastante – diz Rafael, que passaria a noite
do jogo na casa do irmão.
Enquanto Rafael fala, Fábio balança a cabeça como quem concorda com o
que ouve. E completa o pensamento do irmão dizendo que o período tem
sido positivo também para o amadurecimento deles em campo.
Rafael comemora o belo gol marcado sábado. Irmão ficou fora por contrato (Foto: Reuters)
- Cresci muito nesse tempo, cara. Acho que nós dois amadurecemos mais
ainda. E dá pra ver isso em campo. Ele está voando e eu estou jogando
com mais frequência aqui no QPR. Então a mudança está fazendo bem pra
nós dois – disse.
A sintonia entre Fábio e Rafael é proporcional à diferença de pontos
que separa seus clubes na tabela de classificação da Premier League.
Enquanto o Manchester United caminha a passos largos rumo ao título da
competição, com 12 pontos de vantagem para o vice-líder e atual campeão
Manchester City, o Queens Park Rangers não é somente o lanterna, como
está 7 pontos atrás do primeiro clube fora da zona do rebaixamento.
- Na hora do jogo, esquecemos tudo isso, esquecemos que do outro lado
está o time do irmão. A gente é profissional e tem que jogar pra vencer.
Até porque, o Manchester está brigando pra ser campeão e queremos
ganhar todos os jogos. Estou feliz que a gente ganhou hoje e ficou um
pouco mais perto do título – afirmou Rafael.
Para o Queens Park Rangers, que também tem o goleiro brasileiro Júlio
César, a matemática é tão ingrata que Fábio prefere simplificar as
contas na hora de responder o que precisar ser feito para escapar da
degola.
- Está tão difícil, cara, que pra gente é melhor pensar em ganhar o
próximo jogo. Precisamos de muitos pontos, mas vamos pensando de 3 em 3,
senão fica mais complicado ainda – declarou Fábio.
Na sala, uma imensa TV ligada num canal no qual só se vê os gols do fim
de semana, certamente passaria inúmeras vezes os melhores momentos
entre QPR e Man Utd. Jogo em que os gêmeos estavam de lados opostos e,
pouco depois, curtiriam as imagens dividindo o mesmo sofá.
Rafael aproveitou ida a Londres para matar a saudade do irmão, que mora na cidade (Foto: Felipe Rocha)
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