Brasil estreia nesta quinta-feira com representantes no tênis de mesa, natação, hipismo, goalball, basquete em cadeira de rodas e judô
Com a presença de inúmeros portadores de deficiência, uma encenação protagonizada pela personagem Miranda teve como tema principal o descobrimento de um novo mundo, sem limitações e em prol da igualdade entre as pessoas. No ato final, a canção “Eu sou o que sou” deu o tom do espírito paralímpico. No ponto alto da noite, Margaret Maughan, primeira britânica medalhista de ouro nos Jogos, em Roma-1960, acendeu a pira paralímpica.
Os Jogos Paralímpicos de Londres acontecem até o próximo dia 9 de setembro, nas mesmas instalações das Olimpíadas. Ao todo, cerca de 4.200 atletas competirão em 20 modalidades. Com 182 representantes, o Brasil chega como uma das grandes forças e almeja o sétimo lugar no quadro de medalhas. Nesta quinta-feira, primeiro dia de provas, o país terá representantes na natação, tênis de mesa, hipismo, goalball, basquete em cadeira de rodas e judô. O SporTV 3 transmite tudo ao vivo.
Volta ao passado e um conselho: ‘Seja curioso’
Uma viagem no tempo marcou o início da cerimônia de abertura. Nada mais justo. Afinal, na volta para seu berço, as Paralimpíadas tinham a obrigação de pedir a “benção” ao responsável pela criação do esporte para portadores de deficiência: Dr. Ludwig Guttmann. Sendo assim, o evento começou com olhos nos telões, onde uma das vítimas dos conflitos da Segunda Guerra Mundial revelou em depoimento detalhes do convívio com o médico que usou o modalidades esportivas para reabilitação de lesionados e criou os Jogos de Stoke Mandeville, em 1948.
Novas perspectivas eram dadas aos portadores de deficiência, um “novo mundo” surgiu. Mundo representado pelo “Big Bang” encenado no centro do palco. Foi quando uma frase de incentivo a novas descobertas, a busca por novas perspectivas, tomou conta do sistema de som: “Olhe para além das estrelas, não para baixo dos seus pés. Tente dar sentido ao que você vê e questione o que faz o universo existir. Seja curioso”. Palavras de um dos portadores de deficiência mais bem sucedidos da história, o cientista Stephen Hawking, que tem o corpo paralisado quase em sua totalidade por conta de esclerose lateral amiotrófica (ELA), e surpreendeu ao marcar presença no centro do palco lua, mesmo aos 70 anos.
Stephen Hawking dá conselho: 'seja curioso'
(Foto: Agência Reuters)
(Foto: Agência Reuters)
Enquanto Miranda seguia com sua cadeira em direção a um novo mundo, representado por um glóbulo ocular de um deficiente visual, um livro gigante da declaração dos direitos humanos seguia na mesma direção. No centro do palco, um coral anunciava valores que pregam a igualdade entre todas as pessoas na sociedade moderna. Ao descobrir uma nova vida, sem barreiras ou limitações físicas, a personagem saiu de cena, e os holofotes se voltaram para tribuna de honra do local.
Rainha discreta e festa brasileira
Rainha prestigia a abertura (Foto: Getty Images)
Reverências prestadas à realeza, os holofotes se viraram para os atletas. No telão, um emocionante clipe exibiu imagens de todas as 13 edições dos Jogos, desde Stoke Mandeville 1948 até Pequim 2008, para em seguida ter início o desfile das delegações. Depois de superar tantos problemas ao longo das últimas décadas, o Afeganistão surgiu de forma emblemática como primeira das 166 nações na pista do Estádio Olímpico.
Daniel Dias, porta-bandeira brasileiro (Foto: Getty)
Enquanto os outros países desfilavam, a festa continuava e os brasileiros não paravam. Fosse incentivando os outros competidores ou fazendo coreografias com voluntários a regra parecia ser única: se divertir.
Maior estrela dos Jogos, Oscar Pistorius também causou frisson ao carregar a bandeira da África do Sul. O auge, entretanto, obviamente, foi a entrada do Team GB, como é chamada a equipe da Grã-Bretanha.
Os britânicos desfilaram ao som da música "Heroes", do inglês David Bowie. Já com todos os atletas no centro do estádio, a soprano cega Denise Leigh subiu ao palco e cantou a canção "Spirit in Motion" (Espírito em Movimento).
Grã-Bretanha exalta orgulho por ser a ‘casa’ paralímpica
Com os atletas a postos, o presidente do Locog, comitê organizador dos Jogos, Sebastian Coe, e o Sir Phillip Craven, presidente do IPC, assumiram os microfones. No discurso, o orgulho britânico de ter iniciado o movimento paralímpico se fez evidente. Em suas primeiras palavras, Coe disse:
- Bem-vindos à casa dos Jogos Paralímpicos.
Pistorius leva a bandeira sul-africana (Foto: Getty)
- Vocês são agentes da mudança na sociedade e também o modelo que poderá inspirar o mundo todo. Vocês escreverão o próximo capítulo da história do movimento paralímpico. Vocês não têm apenas capacidade de ganhar medalhas, mas também de mudar o mundo.
Em seguida, ele agradeceu a presença de Jacques Rogge, presidente do COI, na tribuna, rechaçando qualquer rivalidade entre os comitês que gerem o esporte no mundo, e passou a palavra para que a Rainha Elizabeth II declarasse aberta as Paralimpíadas. Foi o sinal para que fogos tomassem conta do céu de Stratford.
A responsável por fazer o juramento dos atletas foi a nadadora britânica Liz Johnson, ouro nos 100m peito em Pequim e prata em Atenas-2004. Até que Miranda, interpretada pela jovem Nicole Miles Wildin, voltou a cena para desbravar seu novo mundo. Enquanto um padre, interpretado pelo ator inglês Ian McKellen, que participou de X-Men e Senhor dos Anéis, mostrava para personagem a importância de conhecimento do mundo através da leitura, atletas sobrevoavam o estádio com próteses e cadeiras de rodas.
Toda a apresentação foi marcada pela participação de artistas portadores de deficiência e a cada declaração prevista no roteiro tinha tradução para surdos no telão. Em um dos pontos altos da noite, o dançarino David Toole, que não tem as pernas, fez uma performance ao som da cantora inglesa Birdy e voou ao encontro de Miranda no centro do palco.
Cada mudança de cenário era introduzida por uma frase de Stephen Hawking. E o próximo passo no fantástico mundo de Miranda foi se deparar com o mundo da ciência. Neste momento, maçãs distribuídas para 62 mil pessoas foram mordidas simultaneamente em celebração ao momento em que Isaac Newton começou a formular a Lei da Gravidade. De acordo com o script, porém, o melhor ainda estava por vir para a personagem.
Antes, porém, Hawking voltou ao palco enquanto dançarinos e atores portadores de deficiência exibiam mensagem de apoio aos direitos humanos. No ato final, com uma escultura gigante da escultura Alison Lapper, que não tem os braços, grávida , Miranda quebra um anel de vidro simbólico e dá início ao sua nova vida.
Neste momento, uma mensagem especial de Stephen Hawking sobre o movimento paralímpico é exibida. Nela, o cientista diz que os paralímpicos podem mudar a percepção do mundo e que todos são diferentes, mas compartilham de um mesmo espírito para, por fim, desejar boa sorte a todos.
No ato final, coube a ex-atleta, Margaret Maughan, acender a chama paralímpica. Aos 84 anos, ela foi a primeira medalhista de ouro britânica nos Jogos, em 1960, com vitórias no arco e flecha e nos 50m nado peito. Vítima de um acidente de carro em 1959, ela ficou paraplégica e se tratou no hospital de reabilitação de Stoke Mandeville, justamente onde Ludwig Guttmann deu início ao movimento paralímpico. Passado e presente juntos na edição que promete mudar o futuro das Paralimpíadas. A festa começou!
Estádio olímpico se colore para os Jogos Paralímpicos de Londres (Foto: Getty Images)
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