Filipe Almeida utiliza sobrenome do bisavô, que tem a mesma grafia da gíria, mas é pronunciado "Toá", e reclama de ser confundido com um fã do atacante do Barcelona
Neymar faz o gesto característico na apresentação ao Barcelona (Foto: EFE)
Um antebraço erguido em frente ao tronco encostando o
punho cerrado ao outro antebraço, que descansa horizontalmente sobre o
primeiro. A representação não fica restrita à linguagem corporal. Ela está
sempre acompanhada por uma expressão: “É Tóis!”. É assim que Neymar e seu
amigos, os "parças" na linguagem dos boleiros, se relacionam. A gíria ganhou o
Brasil e é utilizada por muitos fãs do jogador do Barcelona. Está sempre
associada à alegria e à descontração. Mas tem acarretado um pouco de dor de
cabeça e desconforto a uma pessoa em especial.
Filipe
Gonzaga de Almeida, baiano, estudante de Direito,
22 anos, não tem grande proximidade com o futebol. Torce pelo Palmeiras,
mas
não acompanha o esporte de perto há um bom tempo. A “corrupção no
futebol”
fez com que perdesse o prazer de acompanhar os jogos. Acredita que a
sociedade precisa se
preocupar com muitas outras questões que estão além das quatro linhas.
Ficou decepcionado
quando, durante a Copa do Mundo, os brasileiros se chocaram mais com a
lesão
que tirou Neymar do Mundial do que com a queda de um viaduto em
Belo Horizonte, que matou duas pessoas. Em sua opinião, dificilmente um
jogador
pode ser considerado ídolo. Apesar de tudo isso, Filipe Almeida está
agora diretamente ligado a um dos maiores ídolos do futebol atual:
Neymar.
Os sobrenomes de batismo são Gonzaga de Almeida. Só que
Filipe faz parte de uma família de origem francesa. Ao longo dos anos, o laço
com a Europa foi sendo perdido, ao menos na nomenclatura. O baiano, entretanto,
faz questão de honrar as raízes e, desde pequeno, utiliza o sobrenome do bisavô,
José Tois. É aí que se inicia a confusão.
Filipe Tois não gosta da comparação com gíria utilizada por Neymar (Foto: Arquivo Pessoal)
- Os problemas começaram quando ele [Neymar] surgiu com essa gíria.
Apesar de não ter "Tois" como meu nome de batismo, sempre utilizei o sobrenome como
oficial. Como o Lula e a Xuxa. Mas em meu caso é um nome de família e não um
apelido, como o deles. Entre 2010 e 2011, as pessoas começaram a ver de forma
diferente. Interpretaram que eu sou um fã de Neymar, o que não sou. Não tenho
nada contra ele, mas não sou um fã. Nem admirador dele eu sou – ressalta Filipe.
A grafia do sobrenome e da gíria utilizada por Neymar é a
mesma. O que não acontece com a pronúncia. De origem francesa, o sobrenome deve
ser pronunciado como “toá”. A forma de falar incorreta, inclusive, é mais um dos
desconfortos do estudante de Direito. Até alguns dias atrás, ele se incomodava
em situações causadas apenas por amigos. O caso, no entanto, ganhou grandes
proporções.
No dia 8 de julho, quando o Brasil enfrentou a Alemanha
no Mineirão, Filipe resolveu desabafar na internet. Em sua conta no Twitter, o
baiano se mostrou chateado com as mensagens que chegavam em apoio a
Neymar e relacionavam seu sobrenome ao jogador.
- Não sei o que o Neymar está passando, mas sei o que eu
passo todo dia por esse desgraçado ter inventado uma gíria imbecil com o meu
sobrenome – escreveu.
No Twitter, Filipe diz que sofre
bullying por causa da gíria de
Neymar (Foto: Reprodução)
A simples postagem transformou Filipe em uma celebridade virtual.
As publicações dele não costumavam ser repercutidas. Neste caso, o post ganhou o
mundo. Foram mais de nove mil compartilhamentos e quase seis mil curtidas até a noite desta quinta-feira. Querendo
ou não, a insatisfação pela gíria criada por Neymar fez com que o baiano
ganhasse fama.
- Depois
que escrevi o desabafo, tinha mais de 30 retweets. Achei estranho,
porque, normalmente, só tenho um ou dois. Ganhei muito seguidor depois
disso - revela o estudante baiano.
tiro sai pela culatra
A intenção de Filipe ao fazer o desabafo era de que as pessoas parassem de associá-lo ao atacante. Não queria mais ser visto como um fã de Neymar. Além disso, gostaria que todos passassem a pronunciar corretamente o sobrenome. O “tóis” seria deixado com os parças. O “toá” deveria ser a regra.
Mas não foi assim que aconteceu. Naquela lógica de que
apelido bom é aquele de que o dono não gosta, Filipe passou a conviver diariamente
com a gíria criada por Neymar. A cada cumprimento dos amigos, a mesma
conclusão:
- É Tóis!
A repercussão não parou por aí. Por causa das críticas
que faz, Filipe recebeu uma ameaça curiosa. Após postar a foto de uma
personagem da série Game of Thrones em uma rede social, foi vítima de um spoiler - quando alguém
faz uma revelação de fatos importantes ou, até mesmo, do desfecho de séries,
livros, desenhos ou filmes. A “estraga prazer”, que já havia lido o livro que
originou a série, ainda deixou um recado.
- Se falar mal de Neymar de novo, eu vou falar mais spoilers
– avisou uma seguidora em todas as postagens feitas, até então, por Filipe.
Com ou sem a confusão causada pela gíria propagada por
Neymar, o estudante baiano não pretende se separar do sobrenome. Pelo
contrário. O desejo de ter o Tois oficialmente é tão grande que ele pretende
entrar com uma ação de retificação de registro. Até ter a palavra em sua
carteira de identidade, Filipe terá muito tempo para se acostumar às
brincadeiras e, quem sabe, também entrar na onda e comemorar com um bem
conhecido:
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