Com ator Sean Connery na plateia, britânico protagoniza jogo cinematográfico, escapa de enrascada e anula reação do sérvio para festejar título do US Open
Quando a bolinha amarela já pulava de um lado para o outro por quatro
horas seguidas, o escocês Sean Connery deve ter cogitado descer as
arquibancadas e reencarnar o agente 007. Na quadra central do US Open,
seu compatriota Andy Murray
estava em apuros. Após abrir 2 sets a 0, viu de perto a possibilidade
de enfim colocar as mãos numa taça de Grand Slam. Do outro lado da rede,
um valente Novak Djokovic cismou de ser o vilão da vez e foi buscar o
empate. Lá estavam os fantasmas de novo, pegando carona no vento forte
de Nova York para soprar no ouvido do britânico que seria a quinta
derrota em cinco finais. Não desta vez. O tenista de 25 anos foi buscar
superpoderes sabe-se lá onde para levantar a cabeça, vencer o quinto set
e fechar em 3 a 2 (7/6, 7/5, 2/6, 3/6, 6/2). Após 4h54m de batalha,
soltou o grito que esteve aprisionado na garganta durante toda a
carreira. O nome do campeão é Murray. Andy Murray.
Para o número 3 do mundo, posição que roubou de Rafael Nadal quando passou da semi, o triunfo é cinematográfico. Significa o fim de um tabu de 75 anos sem um britânico vencendo Grand Slams. E foram 286 chances desde que Fred Perry embolsou o US Open de 1936. Na 287ª, o escocês de 1,91m nascido em Dunblane finalmente redimiu os compatriotas.
Dá para dizer que o herói secreto desta segunda-feira não é exatamente
James Bond. A mesma arquibancada que tinha Sean Connery sentado tinha
também Ivan Lendl, o ex-número 1 do mundo
que passou a treinar Murray neste ano. Como num roteiro de cinema, a história se repete. O tcheco precisou de cinco finais de Grand Slam para finalmente vencer a primeira, em Roland Garros 1984, um ano após Connery abandonar de vez o papel do agente secreto no cinema. Agora, seu pupilo segue caminho idêntico. Lendl até ensaiou um raro sorriso para festejar a vitória, enquanto Andy mancava na quadra, sentindo nas pernas o peso da maratona e dividindo a expressão do rosto entre emocionado e incrédulo.
Segundo colocado no ranking, Djokovic viu cair por terra sua sequência de 27 vitórias em quadra dura. A tentativa de conquistar o quarto Slam consecutivo neste piso parecia caminhar bem desde o início do torneio, com campanha irretocável e um tênis consistente que o transformou em favorito nas casas de apostas. Só tinha perdido um set, para David Ferrer, na forte ventania de sábado. Em sua terceira final seguida em Nova York, no entanto, não conseguiu o bicampeonato.
Com o vento soprando a 24km/h, o saque virou loteria no início do jogo. Djokovic abriu o jogo sacando e não emplacou unzinho sequer, cedendo a quebra de zero. No game seguinte, Murray devolveu a gentileza. Viu o rival abrir 40 a 0, ainda salvou dois break points, mas também tombou. Com tudo igual em 1/1, o escocês teve três chances de quebrar de novo, mas desta vez Djoko se aprumou a tempo. E o público viu, enfim, o saque voltar a servir para alguma coisa no Estádio Arthur Ashe. As rajadas fortes reduziram o ritmo do jogo, e os tenistas pensavam duas vezes antes de soltar o braço. Murray se entendeu com o vento durante três games, com direito a uma quebra no meio, e abriu 4/2. Mas o número 2 do mundo imitou o adversário, devolveu pouco depois e tomou a frente: 5/4. A partir dali, cada um defendeu seu saque com bravura, e veio o tie-break.
Djokovic abriu 2 a 0, viu o rival empatar e voltou a ficar na frente
com 3 a 2. Aí veio um dos pontos mais disputados da partida, uma
maratona de paciência com 30 bolas trocadas e o sérvio fazendo 4 a 2.
Murray ainda virou para 6 a 5 e teve o set point na mão. Era apenas o
primeiro de uma lista de meia dúzia. Em duas oportunidades, o britânico
esteve muito perto de fechar o set, mas errou feio na rede, mandou lob
para fora e deixou o concorrente respirar. No sexto set point, enfim
cravou a estaca para fechar a parcial em 7/6(12). E a plateia já tinha
visto ir embora uma hora e 27 minutos.
Com o ritmo mais adaptado ao vento, Murray despejou um tornado para cima de Djokovic no início da segunda parcial, abrindo 4/0 sem tomar conhecimento de quem estava do outro lado da rede. Se o placar de erros não forçados tinha sido de 19 a 19 no primeiro set, no segundo Djoko abusou com 11 nos quatro games iniciais, diante de apenas um do rival. Quando parecia morto, acordou. Devolveu a quebra em seguida e salvou um break point, cortando a vantagem para 4/2. Manteve a cabeça de pé e consegui derrubar de novo o serviço do rival no nono game. Com uma ajudinha do vento, que jogou a bola de Murray para fora, o sérvio cortou para 5/4 uma diferença que era de 4/0.
O placar do set se igualou em 5/5 com um lob sensacional do vice-líder do ranking, que parecia enfiado numa enrascada, mas voltou para o jogo. Só não conseguiu completar a reação. Murray confirmou seu saque e derrubou o do adversário de novo. Após 2h26m de partida, fechou o segundo set em 7/5 e precisava de apenas mais um para quebrar o tabu pessoal.
Djokovic tinha no retrospecto da carreira três viradas em Grand Slams perdendo de 2 a 0. E mostrou que estava disposto a perseguir a quarta. Com um controle mental impressionante para quem estava com a corda no pescoço, deu início à reação. A quebra no terceiro game e a confirmação logo em seguida abriram 3/1 para o sérvio, que passou a controlar o ritmo. Murray ainda cortou para 3/2, mas o número 2 do mundo arrancou outra quebra para fazer 5/2. Sacando para o set, encontrou resistência, mas manteve a cabeça no lugar e fechou o set em 6/2.
O quarto set já começou com uma quebra de Novak, que cresceu no jogo, ignorou o vento e foi em busca do empate. Com 3/2 de vantagem, ele chegou a cair sentado no fim de um lindo rali, com 30 trocas de bola. Mas riu por último e abriu 4/3. Os ralis se multiplicaram, a torcida entrou definitivamente no jogo, e os saques foram sendo confirmados até o nono game, quando Djokovic fechou a tampa para fazer 6/3. Tudo igual na decisão do US Open, àquela altura com mais de quatro horas.
Quando os fantasmas já ameaçavam rondar a cabeça de Murray, o escocês resolveu espantá-los com a raquete. Tenso na arquibancada, Sean Connery sabia a receita para escapar de situações difíceis. Seu compatriota também. Com duas quebras nos três primeiros games, o escocês abriu 4/0. O "vilão" ainda ameaçou de novo, como em qualquer bom filme de ação. Djoko devolveu uma quebra e cortou para 3/2, mas perdeu outro serviço e viu o rival abrir 5/2. Parou, pediu massagem e voltou. Para ver o desfecho triunfal. Agora, sim, o roteiro está completo. Murray, Andy Murray, é campeão de um Grand Slam.
Para o número 3 do mundo, posição que roubou de Rafael Nadal quando passou da semi, o triunfo é cinematográfico. Significa o fim de um tabu de 75 anos sem um britânico vencendo Grand Slams. E foram 286 chances desde que Fred Perry embolsou o US Open de 1936. Na 287ª, o escocês de 1,91m nascido em Dunblane finalmente redimiu os compatriotas.
Andy Murray vibra: no vento de Nova York, ele conquista seu primeiro Grand Slam (Foto: Getty Images)
que passou a treinar Murray neste ano. Como num roteiro de cinema, a história se repete. O tcheco precisou de cinco finais de Grand Slam para finalmente vencer a primeira, em Roland Garros 1984, um ano após Connery abandonar de vez o papel do agente secreto no cinema. Agora, seu pupilo segue caminho idêntico. Lendl até ensaiou um raro sorriso para festejar a vitória, enquanto Andy mancava na quadra, sentindo nas pernas o peso da maratona e dividindo a expressão do rosto entre emocionado e incrédulo.
Segundo colocado no ranking, Djokovic viu cair por terra sua sequência de 27 vitórias em quadra dura. A tentativa de conquistar o quarto Slam consecutivo neste piso parecia caminhar bem desde o início do torneio, com campanha irretocável e um tênis consistente que o transformou em favorito nas casas de apostas. Só tinha perdido um set, para David Ferrer, na forte ventania de sábado. Em sua terceira final seguida em Nova York, no entanto, não conseguiu o bicampeonato.
Com o vento soprando a 24km/h, o saque virou loteria no início do jogo. Djokovic abriu o jogo sacando e não emplacou unzinho sequer, cedendo a quebra de zero. No game seguinte, Murray devolveu a gentileza. Viu o rival abrir 40 a 0, ainda salvou dois break points, mas também tombou. Com tudo igual em 1/1, o escocês teve três chances de quebrar de novo, mas desta vez Djoko se aprumou a tempo. E o público viu, enfim, o saque voltar a servir para alguma coisa no Estádio Arthur Ashe. As rajadas fortes reduziram o ritmo do jogo, e os tenistas pensavam duas vezes antes de soltar o braço. Murray se entendeu com o vento durante três games, com direito a uma quebra no meio, e abriu 4/2. Mas o número 2 do mundo imitou o adversário, devolveu pouco depois e tomou a frente: 5/4. A partir dali, cada um defendeu seu saque com bravura, e veio o tie-break.
Djokovic tomba e não consegue o bicampeonato
no torneio em Nova York (Foto: Getty Images)
no torneio em Nova York (Foto: Getty Images)
Com o ritmo mais adaptado ao vento, Murray despejou um tornado para cima de Djokovic no início da segunda parcial, abrindo 4/0 sem tomar conhecimento de quem estava do outro lado da rede. Se o placar de erros não forçados tinha sido de 19 a 19 no primeiro set, no segundo Djoko abusou com 11 nos quatro games iniciais, diante de apenas um do rival. Quando parecia morto, acordou. Devolveu a quebra em seguida e salvou um break point, cortando a vantagem para 4/2. Manteve a cabeça de pé e consegui derrubar de novo o serviço do rival no nono game. Com uma ajudinha do vento, que jogou a bola de Murray para fora, o sérvio cortou para 5/4 uma diferença que era de 4/0.
O placar do set se igualou em 5/5 com um lob sensacional do vice-líder do ranking, que parecia enfiado numa enrascada, mas voltou para o jogo. Só não conseguiu completar a reação. Murray confirmou seu saque e derrubou o do adversário de novo. Após 2h26m de partida, fechou o segundo set em 7/5 e precisava de apenas mais um para quebrar o tabu pessoal.
Djokovic tinha no retrospecto da carreira três viradas em Grand Slams perdendo de 2 a 0. E mostrou que estava disposto a perseguir a quarta. Com um controle mental impressionante para quem estava com a corda no pescoço, deu início à reação. A quebra no terceiro game e a confirmação logo em seguida abriram 3/1 para o sérvio, que passou a controlar o ritmo. Murray ainda cortou para 3/2, mas o número 2 do mundo arrancou outra quebra para fazer 5/2. Sacando para o set, encontrou resistência, mas manteve a cabeça no lugar e fechou o set em 6/2.
O quarto set já começou com uma quebra de Novak, que cresceu no jogo, ignorou o vento e foi em busca do empate. Com 3/2 de vantagem, ele chegou a cair sentado no fim de um lindo rali, com 30 trocas de bola. Mas riu por último e abriu 4/3. Os ralis se multiplicaram, a torcida entrou definitivamente no jogo, e os saques foram sendo confirmados até o nono game, quando Djokovic fechou a tampa para fazer 6/3. Tudo igual na decisão do US Open, àquela altura com mais de quatro horas.
Quando os fantasmas já ameaçavam rondar a cabeça de Murray, o escocês resolveu espantá-los com a raquete. Tenso na arquibancada, Sean Connery sabia a receita para escapar de situações difíceis. Seu compatriota também. Com duas quebras nos três primeiros games, o escocês abriu 4/0. O "vilão" ainda ameaçou de novo, como em qualquer bom filme de ação. Djoko devolveu uma quebra e cortou para 3/2, mas perdeu outro serviço e viu o rival abrir 5/2. Parou, pediu massagem e voltou. Para ver o desfecho triunfal. Agora, sim, o roteiro está completo. Murray, Andy Murray, é campeão de um Grand Slam.
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