Plano de negócios
prevê cobrança de R$ 20 por hora de estacionamento em dias de eventos e
R$ 127 mil de custo operacional por jogo
Por Marcelo Baltar e Vicente Seda
Rio de Janeiro
O plano de negócios do Complexo Maracanã S.A., anexo 7 do contrato de
parceria público privada número 27/2013, especifica todas as estimativas
de fluxo de caixa, investimentos, preços aplicados e contratação de
serviços na operação do estádio. O plano prevê 75 jogos ou eventos e
dois concertos por ano e estimativa total de investimento em R$ 721
milhões (o mínimo exigido pelo contrato de concessão é de R$ 594
milhões). De acordo com as tabelas de fluxo de caixa, a concessionária
começa a obter lucro na operação do estádio apenas a partir do segundo
ano de contrato, com prejuízo de R$ 43 milhões nos primeiros 12 meses. A
partir daí, o lucro operacional não para de crescer e, a partir de 2026
até o fim da parceria, oscila entre R$ 90 milhões e R$ 95 milhões ao
ano (veja reprodução do gráfico). A estimativa de custo operacional por
dia de jogo em tabela no documento é de R$ 127 mil.
Contrato de concessão do Maracanã é válido pelos próximos 35 anos
(Foto: André Durão)
A cronologia do plano de negócios prevê investimentos até o quarto ano
de parceria. Os valores incluem as obras incidentais e, se o contrato de
concessão for mantido pelo governo do Estado, é provável que haja uma
adaptação dos números vigentes hoje. Para o primeiro ano, estão
previstos investimentos de R$ 36 milhões, com R$ 216 milhões no segundo
ano, R$ 432 milhões no terceiro e R$ 36 milhões no quarto ano de
concessão.
No organograma de estrutura de receitas, o plano de negócios só prevê
receita para a concessionária nos setores premium do estádio. A ideia
inicial da empresa, que esbarrou, por exemplo, nos interesses do
Flamengo, era deixar a comercialização dos setores populares, atrás dos
gols, para os clubes, operando a parte mais nobre do Maracanã. A fórmula
agradou ao Fluminense, que priorizou o fato de não ter qualquer custo
ou risco de prejuízo para jogar no estádio. O clube assinou por 35 anos.
A negociação com o Flamengo, porém, se arrastou por alguns meses até
ser firmada uma parceria de dois anos, que o próprio presidente do
clube, Eduardo Bandeira de Mello, disse não ser definitiva – tanto que
prevê possibilidade de rescisão unilateral sem ônus para qualquer uma
das partes, em qualquer período do contrato.
Tabela no contrato determina custos da operação no Maracanã: R$ 127.187 por jogo (Foto: Reprodução)
Entre as receitas de serviços, a concessionária prevê patrocínios,
locação de áreas comerciais, alimentos e bebidas, estacionamento, tours e
museu, manutenção de assentos perpétuos, revenda de assentos prêmium e
bilhetagem com eventos e concertos. O documento detalha ainda a
quantidade de assentos para cada tipo de ingresso e traz estimativas de
preço para cada um deles. A previsão de custo dos bilhetes varia entre
R$ 50 e R$ 500 reais. Conforme descrito no plano de execução em outro
anexo do contrato de concessão, o público alvo para os setores premium
são executivos, dirigentes e indivíduos de alto poder aquisitivo. As
estimativas de preço para o Maracanãzinho variam entre R$ 105 e R$ 200.
Por e-mail, a assessoria da concessionária respondeu, ao ser
questionada se as projeções de preço de ingressos poderiam ser
alteradas, que há variadas faixas de preço e que o intuito é garantir o
acesso de todos.
- O projeto prevê variadas opções de preços, dos assentos de cadeiras
dos setores norte e sul aos setores dos camarotes, onde são oferecidos
serviços extras aos torcedores que estão dispostos a pagar mais por um
diferencial. O intuito é garantir o acesso de todos ao estádio. Também
são atendidos todos os direitos dos torcedores como as meias-entradas,
promoções do sócio torcedor e gratuidades.
Contrato determina número de eventos por ano no Complexo do Maracanã
(Foto: Reprodução)
O plano de negócios segue descrevendo as receitas esperadas pela
concessionária, determina uma taxa de 30% sobre os serviços de
alimentação e bebidas a serem explorados por terceiros e também o uso de
espaços do estádio para conferências e banquetes.
O ponto que se tornou complicado no plano inicial da concessionária
está no item 3.1.7.6 do anexo do contrato de concessão. A empresa teria
85% de 2.450 vagas disponíveis com a construção de edifício-garagem em
função da demolição do estádio de atletismo e do parque aquático no
complexo. Mas o governo do Estado desistiu de demolir os equipamentos e
ainda não decidiu se manterá ou não a concessão. Uma nova proposta para
continuar o contrato foi entregue pela concessionária na última
sexta-feira. A primeira foi rejeitada.
Diz o texto: “Nos dias de evento no Estádio (77 ao ano), considerou-se a
utilização de 75% da totalidade das vagas por 8hrs, enquanto nos dias
de evento na Arena (91 no ano), considerou-se a utilização de 75% de 1,5
mil vagas, a um preço de R$ 20/hora. Nos dias em que não há evento,
considerou-se a utilização de 50% das vagas por 16 horas, a um preço de
R$ 4/hora (sic)”.
O plano prevê ainda a cobrança de R$ 500 por ano para cada assento
perpétuo, para sua manutenção. No item que trata da bilhetagem, está
descrito que a remuneração da concessionária com este tipo de receita
será através de “taxas de serviço, taxas de conveniência e das taxas de
entrega referentes a vendas dos ingressos. A receita do ingresso
propriamente dito será receita do promotor do evento”. É prevista
cobrança de taxa de conveniência de 15% em todos os eventos no complexo,
sendo que jogos de futebol no Maracanã tem previsão também de receita
com uma taxa de administração de 10%. O valor da entrega de bilhetes em
todos os casos foi estimado em R$ 10. A taxa de conveniência é cobrada
pela empresa que atua como canal de venda de um evento, segundo o texto
do plano de negócios.
Os preços por assentos em dias de jogos do Maracanã, segundo o contrato
(Foto: Reprodução)
O documento aborda ainda tributos, depreciação de bens, e em seguida
discorre sobre os custos operacionais. Os custos de administração somam
R$ 4,1 milhões. Os custos de operações, não relacionados a realização de
eventos no complexo, são estimados dessa forma: R$ 6,4 milhões com
folha de pagamento, R$ 101 mil com viagens e hospedagens, R$ 6 mil com
transporte, R$ 46 mil com telefonia, R$ 833 mil com suprimentos, R$ 2,4
milhões com serviços de terceiros, R$ 3 milhões com energia elétrica e
R$ 2 milhões de gastos com água. Na tabela com todos os custos previstos
para um dia de jogo, o total estimado pela concessionária é de R$ 127
mil, sendo R$ 27,8 mil com segurança, R$ 16,9 mil com orientadores de
público e recepcionistas, além de R$ 19,6 mil com limpeza.
O plano econômico-financeiro, também incluído no plano de negócios,
afirma que a receita bruta no primeiro ano de operação é estimada em R$
80 milhões, atingindo um pico de R$ 337 milhões no ano nove do contrato
de concessão, “ano em que se estima que todos os produtos tenham
atingido sua maturidade de vendas”. A margem líquida no primeiro ano de
operação é negativa, -64% (está previsto prejuízo de R$ 43,8 milhões nos
primeiros 12 meses de concessão) e atinge um pico de 21,7% em 2027.
O contrato de parceria público privada número 27/2013 foi assinado no
dia 4 de junho pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral, o secretário de Esporte e Lazer, André Lazaroni, o presidente do
Complexo Maracanã Entretenimento S.A, João Borba, e seu vice, Bruno
Barbosa Wegmann da Silva. O GLOBOESPORTE.COM obteve a íntegra do
documento, com mais de 700 páginas, através de pedido feito pela
reportagem através da lei de acesso à informação. A cópia do contrato
foi liberada em cerca de 20 dias.
ENTENDA A CONCESSÃO DO MARACANÃ |
O Complexo Maracanã S.A. é a empresa que venceu a licitação para
concessão por 35 anos da estrutura, que inclui, além do estádio, o
Maracanãzinho, o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque
aquático Julio de Lamare. A seguintes empresas participam da sociedade
da concessionária: Odebrecht Participações e Investimentos S.A. (empresa
líder, com 90%), IMX Venues e Arena S.A (de propriedade de Eike
Batista, com 5%) e AEG Administração de Estádios do Brasil LTDA (também
com 5%).
O resultado da licitação foi anunciado no dia 9 de maio deste ano.
O grupo apresentou toda a documentação necessária para o processo de
licitação e foi aprovado por unanimidade pela Comissão Especial de
Licitação, superando o "Consórcio Complexo Esportivo e Cultural do Rio
de Janeiro" - composto por Construtora OAS S.A., Stadion Amsterdam N.V. e
Lagardère Unlimited. O concorrente teria cinco dias para recorrer do
resultado da licitação, mas abriu mão da medida.
Porém, em junho, o cenário político em todo o Brasil ferveu.
Manifestações tomaram proporções surpreendentes, atingiram também a
realização da Copa das Confederações com protestos próximos a arenas e,
no Rio de Janeiro, fez despencar a popularidade do governador Sérgio
Cabral. Diante do clamor popular pela manutenção do Célio de Barros e do
Julio de Lamare, o governador voltou atrás, após já assinada e
homologada a concessão, e anunciou que manterá as estruturas.
Desde então, governo e concessionária negociam a manutenção do
contrato por 35 anos. A primeira proposta da empresa em função das
alterações – a área geraria receita com a construção de edifício-garagem
– foi rejeitada pelo governo no fim de setembro. A empresa emitiu nota
oficial afirmando que considera o contrato válido e informou que
entregou nova proposta nesta sexta-feira.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2013/10/maracana-estimativa-de-lucro-de-concessionaria-atinge-r-95-mi-ao-ano.html |