Em entrevista exclusiva ao
GLOBOESPORTE.COM, o Gladiador fala de sua nova rotina, elogia torcida e
crê que time pode ir longe em 2012
Por Lucas Rizzatti
Porto Alegre
Saem as chuteiras, o uniforme tricolor e o grito da torcida. Em seus
lugares, entram a espaçosa bota removível, abrigos esportivos,
indicações de médicos, fisioterapeutas e os cuidados da mãe e da avó. A
nova rotina de Kleber não soa tão emocionante como antes da lesão do dia
25 de março, há dois domingos, quando fraturou o tornozelo, passou por
cirurgia e ouviu a notícia de que ficaria longe dos campos por cerca de
120 dias. Mesmo assim, é encarada pelo Gladiador como uma batalha
valendo três pontos, com chance de taça no armário. Refeito do baque,
está focado agora em recuperar a condição de jogo "o mais breve
possível".
Kleber Gladiador usa bota e muletas para se locomover (Foto: Bruno Junqueira | TRATO.TXT)
Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, Kleber detalha o seu dia a
dia, o zelo em seguir à risca as orientações da equipe do diretor
médico Marcio Bolzoni e a importância do carinho da família e dos
torcedores no processo de recuperação. Também revela o seu passatempo
preferido em frente à televisão, uma das grandes companheiras dos tempos
de reclusão na sua casa, na zona norte de Porto Alegre. Mesmo fora,
aproveitou para mandar energias positivas ao grupo, que tem pela frente a
Copa do Brasil sem seu principal jogador.
- Acho que o Grêmio vai longe - projeta, cheio de otimismo.
GLOBOESPORTE.COM: Passou-se pouco mais de uma semana do
incidente. Como está a sua vida e a sua cabeça desde aquele domingo? Na
chegada ao hospital, você estava bem abatido. Já está mais animado?
Kleber Gladiador: Minha cabeça está boa. Eu sei bem o
que quero, que é voltar logo e ajudar o time, isso ajuda a manter a
tranquilidade em um momento como esse. Lógico que fiquei chateado com
tudo o que aconteceu, pela fase que vivia, a ascensão do time na
temporada, a identificação com o torcedor. Mas agora é manter o foco na
recuperação para voltar o mais breve possível.
É a lesão mais grave de sua carreira? No campo, parecia não ser grave e acabou crescendo a questão...
Eu tive lesões nos joelhos e quebrei o nariz duas vezes, mas não tem
como apontar qual foi a mais grave. Vida de jogador não é mole e temos
que conviver com essas situações. Sobre não parecer grave na hora, a dor
que eu senti não tem como explicar. Tanto que tentei levantar para
cobrarmos a falta, mas não teve jeito. Nem sair caminhando do lado de
fora do campo eu consegui. Fui no carro maca até o vestiário.
A dor que eu senti não tem como explicar. Mas já tive lesões nos
joelhos e quebrei o nariz duas vezes. Vida de jogador não é mole
e temos que conviver com isso"
Kleber Gladiador
Você estava em um grande momento no Grêmio. Fazendo gols e se consolidando como a referência do time. Teme perder o embalo?
É complicado dizer se essa é melhor fase, porque tudo interfere no seu
rendimento. Desde o grupo de jogadores, até o ambiente do clube que você
está defendendo. Tudo muda de uma época para outra. Fica difícil
comparar. Eu estou muito feliz aqui no Grêmio, contente com a evolução
que apresentei desde o primeiro jogo. Vinha me esforçando bastante e vai
ser assim quando eu voltar. Vou correr em dobro para recuperar o tempo
perdido e para retribuir o carinho que venho recebendo do torcedor.
Você perdoou Léo Carioca (veja o lance ao lado), mas a direção
criticou a violência do campeonato. Você acha que há violência no
Gauchão, em comparação com os demais que você disputou?
Tem uma relação que sempre vai ser igual no futebol, em qualquer
campeonato: atacante e zagueiro sempre vão disputar o mesmo espaço.
Convivo com chegadas fortes dos adversários desde os primeiros anos no
futebol, aprendi a usar o corpo ao longo da carreira e a me proteger dos
choques, mas nem sempre é possível. Alguns jogos do Gauchão foram
ríspidos, outros nem tanto. Cabe à arbitragem estar atenta e punir os
excessos.
Sua rotina mudou drasticamente. O que você faz agora no repouso? Costuma ver TV, filmes, ler...
Vejo futebol o tempo todo! Essa semana (passada) foi de jogos grandes
pela Liga dos Campeões da Europa e pela Liga Europa. Fiquei de olho
nessas partidas. Eu costumo ver os telejornais, também gosto de filmes
de ação. Vou vendo o que está dando na TV.
Kleber supera baque inicial e mira recuperação o mais rápido possível (Foto: Bruno Junqueira | TRATO.TXT)
Você chega a ficar sem a bota algumas vezes? Você consegue caminhar sem grandes dificuldades?
Só tiro a bota para tomar banho. Tenho bem claro que devo cumprir todas
as orientações dos médicos, mesmo que nem sempre sejam das mais
confortáveis. Não coloco o pé no chão para nada, muito menos para
caminhar. Estou sempre de muletas. Minha família me ajuda bastante. No
começo, precisava mais, mas agora já estou mais adaptado.
Só tiro a bota para tomar banho. Não coloco o pé no chão para nada,
muito menos para caminhar. Tenho bem claro que devo cumprir todas as
orientações dos médicos"
Kleber Gladiador
Agora, está começando uma parte importante da recuperação, a fisioterapia. Qual a sua expectativa para o tratamento?
Eu estou muito otimista em relação ao tratamento. A operação foi um
sucesso e tenho certeza de que a fisioterapia também vai ser. Os
fisioterapeutas e a estrutura do Grêmio são excelentes.
Mesmo com a sua lesão, o Grêmio lançou na segunda vários
produtos alusivos à sua marca (camisa especial, boneco, linhas de roupas
de passeio...) Você pretende aproveitar esse tempo fora de campo para
ajudar o marketing tricolor mais ainda?
Vou ajudar o clube em tudo que estiver ao meu alcance, dentro ou fora de campo.
Você também pretende continuar indo ao estádio, torcer ao vivo pelo grupo?
Sim. Já fui contra o Avenida, na quinta (4 a 0). Fui agradecer aos
jogadores e à comissão técnica pelo apoio que me deram desde o dia da
lesão. Também fui para dar força, dizer que eu estou junto em forma de
energia positiva. Nosso grupo é maravilhoso, um dos melhores que vi na
carreira.
Kleber no Grêmio
9 gols em 16 jogos
Média de 0,56 gols por jogo
Artilheiro do clube em 2012
Duas assistências para gols
Falando de jogo, onde você acha que o grupo pode chegar? Tem chances de vencer a Copa do Brasil?
Acho que o Grêmio vai longe. Tem um grupo qualificado e uma comissão
vitoriosa. A Copa do Brasil é um objetivo, um desejo de todos. Não vai
ser fácil, porque além dos grandes clubes, times de menor expressão
seguidamente surpreendem.
Aliás, se você se recuperar em 120 dias, conseguiria jogar uma
eventual final de Copa do Brasil, pelo que diz o calendário. Você vai
usar isso como uma forma de motivação no processo de recuperação?
Vou usar o que for possível em termos de motivação para voltar logo.
Desde o carinho dos torcedores, o apoio da família e dos companheiros, o
calendário de jogos. Quero voltar o quanto antes.
Kleber vê Grêmio forte na Copa do Brasil
(Foto: Bruno Junqueira/TRARO.TXT)
Na sua avaliação, quem você acha que tem o perfil mais adequado para fazer a sua função no time?
Essa pergunta eu deixo para o Vanderlei responder, não vou me arriscar
nessa área (risos). Os atacantes do Grêmio são bons, nosso grupo está
bem servido. Quem entrar vai representar bem. Confio em todos.
Chega a impressionar essa identificação com a torcida em tão pouco tempo. A que isso se deve, na sua opinião?
Acho que é um conjunto de fatores, como meu desempenho, minha maneira
de atuar, o modo como gostei de Porto Alegre. Eu sou muito intenso
dentro de campo, não desisto das jogadas, não tiro o pé em dividida.
Além disso, os gols estavam saindo, vinha participando bem das jogadas,
tentando definir ou abrir espaço para meus companheiros. E eu também
gostei muito da torcida do Grêmio. Isso é fundamental. Houve uma troca,
um reconhecimento mútuo. A torcida do Grêmio tem uma força incrível, faz
a diferença. Eu acho isso muito importante para um clube de futebol.
Eu sou muito intenso dentro de campo, não desisto das jogadas, não
tiro o pé em dividida. Houve uma troca, um reconhecimento mútuo. A
torcida do Grêmio tem uma força incrível, faz a diferença"
Kleber Gladiador
A torcida, pelo jeito, está sendo fundamental para você se recuperar, não? É uma grande mobilização...
Sem dúvida. Estou muito feliz com as manifestações de carinho. Elas vêm
de pessoas de todas as idades. Tenho visto comentários em sites, em
blogs. É uma coisa que mexe, saber que você é importante para uma
torcida tão fanática. Espero poder retribuir esse carinho. O torcedor
pode ter certeza que eu não vou esquecer disso quando voltar.
E tem, digamos, o "lado bom" de ter a mãe e a avó por perto, como é a rotina com elas?
Sempre é bom ter a família por perto, pessoas que amo e em quem confio.
Mas é melhor quando elas estão comigo para comemorar gols e vitórias
(risos). A rotina é tranquila, estão sempre conversando, "enchem" a
casa.
O tempo de Grêmio é curto, mas qual momento você já guarda com carinho e espera repetir no retorno?
Eu lembro com satisfação do segundo Gre-Nal que disputamos neste ano. Consegui fazer o gol da vitória (assista ao lado), que
completou uma atuação coletiva excelente do nosso time. Fomos quase
perfeitos naquela noite e era um momento em que precisávamos de
afirmação. Fizemos um grande jogo e consegui ajudar. Foi legal.