O fantasma de quatro anos atrás estava lá de novo para assombrar a
seleção feminina de vôlei. O adversário na final desta quinta-feira, em
Guadalajara, era a mesma Cuba do Pan do Rio, quando o Brasil viu
evaporar meia dúzia de match points e amargou uma derrota dolorosa no
Maracanãzinho. Era hora da revanche, e ela não foi nem de perto
tranquila como o confronto da primeira fase. Em cinco sets como no Rio,
as meninas comandadas por Zé Roberto Guimarães resolveram mudar o
roteiro no tie-break. Com cinco pontos de vantagem no set desempate,
cravaram os 3 a 2 (25/15, 21/25, 25/21, 21/25 e 15/10). De uma só
tacada, foi-se o fantasma cubano e veio a medalha de ouro que faltava
para esta geração.
Após um jogo sofrido, as jogadoras brasileiras fazem a festa no pódio em Guadalajara (Foto: AFP)
A conquista não vinha desde 1999, em Winnipeg. E começou com um susto
de verdade – a lesão de Jaque na estreia, ao bater cabeça com Fabi.
Coube justamente à líbero pendurar duas medalhas no pescoço durante a
cerimônia de premiação. Vestindo a camisa da ponteira e com uma bandeira
brasileira nas costas, Fabi comandou a festa no pódio.
Vingança contra as rivais? Não para Zé Roberto, que prefere ver o título como um marco.
Fabi e Paula Pequeno festejam (Foto: AFP)
- Ganhar o Pan é muito importante para o nosso país e para esta
geração. Foi um jogo difícil, Cuba mostrou que vai crescer muito até os
Jogos de 2012. Não é vingança, mas era uma responsabilidade que a gente
tinha desde que chegou aqui. Desde que pisamos na Vila, falávamos que
tínhamos que tentar. Até aprendi um verbo em espanhol “intentar” –
afirmou o treinador.
Para Zé, a vitória no Pan é um sabor novo. Quando ainda era um
promissor levantador, em 1975, ele sequer teve a chance de “intentar”,
cortado pouco antes da competição. Agora, já com currículo de bicampeão
olímpico, festeja a conquista com suas meninas.
Em quatro anos, o time cubano se desmantelou. Ainda assim, era um
fantasma que parecia assustar antes mesmo do início do jogo. A torcida
era forte, e ganhou reforço na equipe masculina de vôlei. Os mexicanos,
esses sim se juntavam aos brasileiros no ginásio. A cada manifestação,
porém, eram abafados pelos gritos de “Cuba, Cuba”.
A pressão que vinha das arquibancadas diminuiu nos primeiros pontos. No
primeiro tempo-técnico, a vantagem brasileira já era de 8 a 3. E
aumentou para dez um pouco antes do segundo, com Sheilla pela diagonal.
Palacio deu uma pancada e encarou as brasileiras. Queria sim, esquentar o
jogo. Mas precisaria de muito mais do que isso para evitar a derrota no
set. Silie ainda salvou um set point, mas Mari fechou em 25 a 15.
Cleger comanda, e Cuba esboça reação
Carcaces e Cleger, numa sequência de ataques, abriram 4 a 1, e a
torcida, morna depois da derrota na parcial anterior, voltou a gritar.
Mari errou um ataque e viu Cuba ampliar para 8 a 3. Na volta do
tempo-técnico, a ponteira chamou a bola e acertou o braço. Na sequência,
subiu em um bloqueio junto com Thaísa. E Dani Lins diminuiu para dois
pontos a diferença. As cubanas não afrouxaram e, num bloqueio duplo
sobre Mari, abriram cinco pontos e comemoraram. Muito. Um toque de rede
do time brasileiro fez a diferença subir para seis antes da segunda
parada. A esta altura, a torcida arriscava até uma “ola”.
Palacio voou pelo corredor e, ao marcar o 18º ponto, balançou os braços
pedindo apoio. Silie também parecia querer ânimos exaltados. Paula
Pequeno, ao bloquear Cleger, se controlou para não comemorar na frente
da adversária. O Brasil conseguiu cortar quatro pontos e encostar em 21 a
20, mas um ataque de Carcaces e dois erros de recepção de Fabi deram o
set point às cubanas. Fabiana ainda salvou um pontinho. Cleger fechou em
25 a 21.
Com a camisa de Jaqueline, a líbero Fabi faz graça para a câmera de Dani Lins (Foto: AFP)
Paula comete erros, e Garay ganha chance
Paula Pequeno acertou uma e errou três bolas nos primeiros oito pontos
do set. E coube a Thaisa, com dois pontos seguidos – e um de bandeja, em
erro de posicionamento cubano -, deixar em vantagem na parada-técnica: 8
a 5. Carcaces, com uma medalhada no saque, empatou o jogo. E Cuba
passou à frente em um erro de posicionamento das brasileiras.
Zé Roberto trocou Paula por Fernanda Garay, estreante no Pan, e Mari
comandou a virada. Palacio caiu sobre as placas ao tentar salvar uma
bola. Não conseguiu. O jogo parecia de volta aos eixos. No segundo
tempo-técnico, uma folga de cinco pontos.
Zé Roberto sofreu durante o jogo, mas festejou no
fim com o título (Foto: Luiz Pires/VIPCOMM)
Cleger soltava o braço, Palacio comemorava cada bola que, por erro
brasileiro, dava ponto a Cuba. E, numa bola para fora de Mari, ali
estavam as cubanas de novo na cola - 19 a 18. E foi de Fernanda o ponto,
pelo meio, que fez o Brasil voltar a respirar: 21 a 18. Silie sacou na
rede, e deu o set pont em 24 a 20. Thaísa fez o mesmo, mas Palacio
resolveu imitá-la.
Brasil sofre apagão e Cuba força o tie-break
O quarto set foi tenso desde o início, com as duas equipes se
alternando na frente do placar. Sheilla atacou no corredor para deixar o
Brasil na frente no primeiro tempo técnico (8/6), mas Cuba respondeu
rápido. Nervosas, as brasileiras reclamavam com a arbitragem e cometiam
erros. Enquanto isso, as adversárias aproveitamvam para abrir cinco
pontos de distância (14/9).
Paula se emociona após a partida (Foto: AFP)
A seleção brasileira sentiu o golpe e viu as cubanas dominarem o jogo e
abrir nove pontos (22/13) depois de bom saque de Carcases. Apenas
quando cuba chegou ao set point foi que o Brasil acordou. Foram seis
pontos para diminuir a diferença para três, mas não foi o suficiente.
Cleger soltou a pancada para fazer 25/21 e forçar o tie-break.
Enfim, o ouro!
A tensão no último set era inevitável, mas a qualidade brasileira
começou a fazer diferença. Dani Lins acertou uma grande bola de segunda,
e Sheilla explorou o bloqueio cubano para abrir dois pontos de vantagem
(8/6). A distância aumentou para três com o toque de rede cubano
(10/7), que fez com que o técnico pedisse tempo.
Para o Brasil, bastava virar os pontos, mas as jogadoras fizeram mais.
Fabiana abriu o caminho, Paula Pequeno acertou uma diagonal no fundo da
quadra, e Tandara soltou a pancada no corredor para deixar a líbero
cubana no chão. Fechar em15/10 e fez a seleção explodir em alegria.
Após o último ponto, festa do Brasil em Guadalajara: doze anos depois, campeãs do Pan de novo (Foto: AFP)
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