Gastadores Chelsea e Manchester City
ficam à espreita e veem PSG, Milan, Anzhi e Galatasaray investirem em
nomes midiáticos durante o inverno
Por Victor Canedo
Rio de Janeiro
Sim, a Europa está em crise. Sobretudo econômica, refletindo em países
que são ou foram em algum momento das últimas décadas o centro do
futebol. Mas a janela de transferências de inverno, encerrada quase em
sua totalidade na última quinta-feira (a Rússia ficará aberta até o dia
24), mostrou que ainda há espaço para transações midiáticas. Milhões, é
claro, estão envolvidos, mas a aposta é na recuperação do investimento
num curto espaço de tempo - seja tecnicamente ou através de outras
vertentes exploradas. Fato é que nomes como David Beckham, Didier Drogba, Wesley Sneijder e Mario Balotelli encontraram novas casas e já trouxeram consequências de animar o torcedor.
David Beckham, Drogba, Balotelli e Sneijder agitaram o mercado de inverno (Foto: Editoria de Arte)
Se os costumeiros gastadores Chelsea e Manchester City se mantiveram à
espreita neste mercado (os Blues investiram apenas na contratação de
Demba Ba, do Newcastle), o Paris Saint-Germain
aguardou o último dia para revelar o seu mistério. O namoro antigo com o
David Beckham foi desvendado nas primeiras horas do dia 31, e o astro
inglês foi apresentado com pompa em entrevista coletiva na sede do clube
francês. Desde então, trouxe algumas contestações por afirmar que os
seus salários seriam doados a uma instituição de caridade, enquanto o
dirigente Leonardo negou que sua contratação tenha sido para vender
camisas (especificamente do número 32, adotado pelo meio-campista).
As cinco maiores contratações da janela |
Willian (Shakhtar para Anzhi) |
€ 35 milhões |
Mario Balotelli (Manchester City para Milan) |
€ 20 milhões |
Taison (Metalist para Shakhtar) |
€ 15 milhões |
Alexandre Pato (Milan para Corinthians) |
€ 15 milhões |
Daniel Sturridge (Chelsea para Liverpool) |
€ 15 milhões
|
- O benefício técnico do Beckham é inquestionável, é um excelente
jogador mesmo aos 37 anos. Juninho, Zé Roberto e Seedorf mostraram que
seus talentos não sofreram nenhuma corrosão, mas é lógico que o sonho do
PSG é crescer como marca. No momento da apresentação do Beckham, o PSG
se tornou uma marca global. O retorno de imagem que o inglês dará,
aliado ao talento dele, é uma excelente contratação - disse Fernando
Martinho, editor do Futebol Business.
Especialista em gestão de futebol e marketing, Martinho acredita que
Beckham poderia se enquadrar no mesmo caso de Seedorf ao assinar com
algum clube brasileiro - as maiores especulações o ligaram ao Botafogo,
justamente o clube do meia holandês.
- Quando se especulou a vinda dele pro Botafogo, torci muito para que
se concretizasse. Seria um ganho enorme pro futebol brasileiro. Trata-se
de um jogador-franquia. Se vende sozinho praticamente. Do ponto de
vista financeiro a contratação do Beckham não afetará em nada, pois seus
salários terão fins de caridade. Mas até o parlamento europeu já se
manifestou quando o PSG contratou o Pastore. Em plena crise tanto
dinheiro sendo pago por um jogador. A indústria do futebol caminha em
paralelo. Os grandes clubes europeus, mesmo aqueles que não são
financiados por algum sheik ou magnata, encontraram caminhos para
aumentar suas receitas.
Especialista em marketing gostaria de ver David Beckham no futebol brasileiro (Foto: Reuters)
Turquia no mapa do futebol
O Galatasaray adotou perfil semelhante em suas maiores contratações.
Teve de investir mais, é bem verdade, mas trouxe jogadores mais jovens
que o astro inglês - e prontos para tentarem fazer a diferença nas
oitavas de final da Liga dos Campeões, contra o Schalke 04, como manda o
histórico de Sneijder (campeão em 2010 pelo Inter de Milão) e Drogba
(campeão em 2012 pelo Chelsea). Consultor de marketing e gestor
esportivo, Amir Somoggi acredita que o centroavante marfinense poderia
ser outro a desembarcar em algum dos aeroportos brasileiros.
O Drogba era 'o cara' para vir para o futebol brasileiro agora"
Amir Somoggi, gestor esportivo
- O Drogba era "o cara" para vir para o futebol brasileiro agora.
Imagine. O Pato é uma contratação de risco, mas o Drogba, meu Deus...
Por R$ 1 milhão por mês ele viria. Estão pagando isso para técnico. Se
me oferecerem essa possibilidade eu trocaria na hora. Pode ver que os
times campeões precisam de um técnico que seja o coadjuvante da
história. Ele percebeu que havia algo importante. Tem o dinheiro que vai
para o jogador e tem o aspecto onde você está indo. Drogba estava na
categoria do Eto'o se perguntando: "Será que valia a pena?". Precisam
gerir bem a carreira, mas o Galatasaray deu essa oportunidade com a
Champions.
Acusando não receber salários no Shanghai Shenhua, da China, Drogba não
custou tanto ao Galatasaray como Sneijder. Para contratar o meia
holandês de 28 anos, o Galatasaray desembolsou € 7,5 milhões (R$ 20,3
milhões), fora luvas e bônus. A recepção na Turquia foi digna do grande
jogador que mostrou ser há algumas temporadas e permitiu nova comparação
com o futebol brasileiro.
- Assim como Drogba, Sneijder tem um impacto técnico e de imagem
fortíssimo. E as cifras não comprometem em nada o clube. O Galatasaray
fatura praticamente a mesma coisa que o Corinthians. Se ele custou € 7,5
milhões ao clube e o Alexandre Pato o dobro pelo Corinthians, é motivo para repensarmos algo - opinou Martinho.
Wesley Sneijder causou tumulto em sua chegada a Istambul: Turquia no mapa do futebol (Foto: EFE)
A intenção do Milan
com Mario Balotelli não foi lá muito diferente. Sem Zlatan Ibrahimovic e
Thiago Silva, vendidos ao Paris Saint-Germain em julho, o clube passou
seis meses sem um grande ídolo. O primeiro nome buscado foi o do
brasileiro Kaká, mas os altos impostos em vencimentos na Itália
dificultaram a conclusão do negócio por parte do Rossonero. Surgiu,
então, a oportunidade de trazer o atacante do Manchester City, sem
espaço no atual campeão inglês. Sua estreia com vitória, dois gols e
polêmica sugere que o camisa 45 chegou para abalar.
- Vai dar visibilidade ao Milan, mesmo que às vezes não muito positiva.
Mas a torcida gosta disso, a imprensa e, lógico, os patrocinadores amam
- resumiu Fernando Martinho.
Willian, o mais caro da janela
Willian já estreou pelo Anzhi em amistoso contrao Dínamo de Kiev (Foto: Reprodução / Twitter)
Nenhuma das transferências supracitadas, no entanto, surpreendeu tanto quanto a de um brasileiro. Willian, destaque no Shakhtar Donetsk
já há alguns anos e especulado fortemente em clubes da Inglaterra como
Chelsea e Tottenham, foi anunciado pelo Anzhi por € 35 milhões (cerca de
R$ 93,5 milhões), no que seria a maior transação de toda a janela.
Talvez desconhecido pelos brasileiros por não receber uma chance na
Seleção, o ex-jogador do Corinthians mostrou que os magnatas do futebol
não hesitarão mesmo diante de uma fiscalização mais rigorosa da Uefa
quanto ao Fair Play Financeiro.
- O caso do Willian é bem emblemático. É um jogador que todos os clubes
gostariam de repatriar, mas não têm capital para pagar. No momento que
surgem os russos com essa vontade, são poucos os que podem se igualar.
Willian por € 35 milhões realmente é muito dinheiro. Ele é um milionário
hoje. E nenhum brasileiro comum, que não seja corintiano, sabe o quanto
ele é bom. Dinheiro não é tudo. Como exemplo: você prefere ganhar um
salário altíssimo no Rubin Kazan ou um menor no Milan? Esses caras estão
comprando com dinheiro. Literalmente. E é um perigo grande porque o
torcedor adora - contou Amir Somoggi.
Willian é hoje um milionário. E nenhum brasileiro comum sabe o quanto ele é bom de bola"
Amir Somoggi
Não é exatamente o caso do Queens Park Rangers.
Com o elenco praticamente reformulado em um ano, a equipe do goleiro
brasileiro Julio César ocupa a lanterna do Campeonato Inglês com apenas
17 pontos em 25 rodadas. Apesar de ensaiar uma recuperação sob o comando
de Harry Redknapp, muitas contratações foram feitas sem critérios e
ajudaram a supervalorizar o mercado dentro da própria Premier League,
como analisa Martinho.
- O QPR usou a mesma estratégia na janela de inverno passado. Contratou
um time inteiro praticamente e conseguiu se salvar do rebaixamento.
Esse ano no entanto a situação está mais complicada. O dono do clube, o
magnata malaio Tony Fernandes, atua como muitos dirigentes brasileiros
que estamos acostumados, seguindo a paixão e não a razão.
Crise à parte, resta conferir os próximos capítulos para descobrir quem acertou em cheio.
- A forte movimentação geral realmente chamou a atenção, não apenas no
QPR. São diversos diagnósticos que acarretaram nesse surto:
oportunidade, necessidade, poder econômico e muito erro de planejamento.
A chance de corrigir algum erro e salvar o ano era agora - encerrou
Martinho.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2013/02/com-beckham-drogba-e-balotelli-clubes-ignoram-crise-em-mercado.html