Vinícius Paixão admite xingamento, mas não ofensas de cunho racista contra Fabrício (Foto: Reprodução)
No
alvo de polêmica sobre uma suposta injúria racial contra Fabrício, o
torcedor do Inter Vinícius Paixão partiu em defesa própria. Em contato
com o GloboEsporte.com, o colorado, que mora em São Leopoldo, na Região
Metropolitana de Porto Alegre, negou que tivesse chamado o
lateral-esquerdo de "macaco", após o jogador ter feito gestos obscenos
contra a torcida que o vaiava na vitória por 1 a 0 sobre o Ypiranga,
pelo Gauchão, na quarta-feira.
A polêmica começa quando Fabrício se encaminha para deixar o gramado e
fica de frente com torcedores postados no anel inferior do Beira-Rio. A
câmera da transmissão da televisão flagra colorados vociferando contra o
lateral, mas a imagem é inconclusiva sobre o teor dos xingamentos e tem
gerado polêmica nas redes sociais. O Inter conversou com Vinícius e não espera ser denunciado pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RS).
-
Eu sou tão negro quanto o Fabrício. Meu pai é negro, minha mãe, meus
dois irmãos, a minha esposa. Seria um ato impensável meu. Isso seria uma
ofensa a mim, e a minha família toda - disse Vinícius. - O meu rosto
rodou o Brasil inteiro. Foi extremamente negativo. Fiquei extremamente
chateado, fiquei sem comer, sem dormir. Eu não falei isso. Fica claro
que a minha fala é "vai tomar no c**,* car***.
Confira mais trechos da entrevista:
Como você pode descrever o episódio?Sou
sócio do inter desde 2005, vou a jogos desde 1993, sou bastante
colorado, fanático. desta vez. O jogo não tinha a importância tão
grande, mas eu estava lá. Fui ao jogo com a minha esposa. Houve aquela
situação com o jogador Fabrício, todos ficaram bravos, eu xinguei ele de
vários palavrões. Encerrei essa lista de xingamentos com vai tomar no
c***, car***. O final do meu xingamento é o início do vídeo que rodou
pela internet. Quando falo isso, já me viro. Isso foi no segundo tempo.
Durante o jogo mesmo no whatsapp, todo mundo brincando comigo, falando
"te vi na TV agora, você xingando o Fabrício", mas um tom de zoação.
Agora, vou ficar famoso, brinquei, porque tinha certeza de que não havia
passado o meu limite como torcedor.
Caso
alguém tivesse falado a palavra "macaco" e eu tivesse ouvido, eu mesmo
iria falar com a pessoa e chamar algum repórter e denunciar. Não passei
do meu limite.
Vinícius Paixão, torcedor do Inter
Quando começou a notar a repercussão negativa?Na
quinta, fui entrar no meu Facebook porque, na quarta, havia postado a
minha imagem no jogo exatamente num tom de brincadeira sobre os
xingamentos ao Fabrício. Para minha surpresa, minha página estava cheia
de solicitação de amizade e notificações. Como eu sou mais reservado,
estranhei. Depois, vi o vídeo, em baixa qualidade, num site ligado a
torcedores do Grêmio, vi que era grenalização. Cara, não é real, que
sacanagem é essa? Fiquei extremamente assustado. Eu não falei isso. Fica
claro que a minha fala é vai tomar no c***, car***.
E a partir daí?O
meu rosto rodou o Brasil inteiro. Ficou uma marca extremamente
negativa. Fiquei extremamente chateado, fiquei sem comer, sem dormir.
Quando aconteceu isso, para mim ficou claro que algumas pessoas
gremistas estão tentando achar um outro racista, para forçar a barra.
São casos completamente diferentes (em relação ao de Patrícia Moreira
contra Aranha, no ano passado). Fica esse temor. Apesar de que, no caso
dela, ela falou, eu não falei. Eu sou tão negro quanto o Fabrício. Meu
pai é negro, minha mãe, meu dois irmãos, a minha esposa. Seria um ato
impensável meu. Isso seria uma ofensa a mim, e a minha família toda.
saiba mais
Qual será o seu procedimento a partir de agora?Eu
estou à total disposição para esclarecimentos, seja para veículos de
imprensa ou TJD. Sou leigo nisso, nunca entrei numa delegacia. A verdade
é que xinguei o jogador. Eu não invadi o campo, não joguei nada no
campo, estava no meu espaço, xingando o jogador do meu clube, como todos
estavam.
Você ouviu outras pessoas falarem "macaco"?Não ouvi. Próximo a gente, havia outras pessoas negras. Alguém provavelmente se ofenderia e teria um bate-boca.
O
que você achou das declarações do presidente da Federação Gaúcha de
Futebol, Francisco Novelletto, de que seria "compreensível" um torcedor
exagerar com insultos racistas dada a reação de Fabrício?Discordo
dele. Mesmo de cabeça-quente, no calor do jogo, a gente não pode
cometer insulto racial. Caso alguém tivesse falado, eu iria falar com a
pessoa e chamar algum repórter e denunciar. Não passei do meu limite.
Fabrício perdeu a cabeça contra o Ypiranga
(Foto: Reprodução/RBS TV)
Mais sobre o caso
Caso a denúncia seja confirmada, o clube será julgado por infração
prevista no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça
Desportiva). Ou seja, "por praticar ato discriminatório, desdenhoso ou
ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça,
sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".
Dessa mesma maneira, o Grêmio acabou eliminado da Copa do Brasil no ano
passado, após torcedores ofenderem o goleiro Aranha, do Santos, em jogo
na Arena.
Suspenso pela direção até segunda-feira, Fabrício
está em São Paulo com sua família. Seu futuro no Inter ainda é uma
incógnita. Na esfera jurídica, o lateral deverá ser denunciado no
TJD-RS, e há risco de pegar até 12 jogos de suspensão.
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FONTE:
http://glo.bo/1BYSQN4