Lili e Larissa são casadas desde 2013
(Foto: Arquivo Pessoal)
Campeã
mundial
em 2011 e bronze nas Olimpíadas de 2012, Larissa França é considerada
uma das maiores jogadoras do vôlei de praia na atualidade. Parceira de
Talita
desde o ano passado, ela vive uma de suas melhores fases. Mas quem
acompanha
sua carreira de perto sabe que isso tudo só veio com muita superação. A
veterana se aposentou no fim de 2012 para tentar ser mãe. Ela e sua
esposa, a
jogadora Lili Maestrini, fizeram um tratamento em busca do sonho.
Casaram-se "em segredo" em Cancún em 2010, cinco meses após início do
namoro e depois, de maneira oficial, em uma cerimônia em Fortaleza em 2013.
Naquele mesmo ano, veio a mais dura derrota das duas até então: perderam o bebê que Larissa esperava,
com oito semanas. Em 2014, em nova tentativa, mais um baque com outra perda.
Acima do peso, triste e cansada pelos tratamentos desgastantes, Larissa precisou se
agarrar à sua "parte boa", como ela chama Lili, parceira de Rebecca nas quadras. A companheira deu
todo seu apoio e, meses depois, quando ela decidiu voltar, não hesitou em
incentivá-la. Poucos acreditavam que o retorno acontecesse de forma tão rápida.
Mais improvável ainda era que a volta fosse tão vitoriosa. Talita acreditou no
projeto. Desde o ano passado, alcançaram juntas a maior sequência de vitórias
consecutivas da modalidade no país: 61. Conquistaram quatro etapas do Circuito
Mundial, sete do Brasileiro, o desafio Melhores do Mundo e garantiram o título
do Circuito Brasileiro na temporada de forma antecipada neste fim de semana.
A missão agora é 2016 (veja os critérios
para classificação). Depois, a medalha de ouro. No futuro, Lili e
Larissa prometem retomar a tentativa de iniciar uma “grande família”. Feliz e
com o sorriso no rosto ao lado de Lili, a “nova Larissa” quer quatro
filhos.
- Sou uma
nova mulher. Amadureci muito. Depois da parada, das tentativas de
engravidar,
de ter perdido as duas vezes, temos um novo modo de enxergar a vida.
Passamos
por um momento muito ruim, mas não me arrependo de nada. A
Lili sempre foi minha parte boa. Amo minha profissão, sempre fui feliz e
bem-sucedida, mas ela deixa tudo leve. Hoje vejo que posso ter isso nos
dois, com ela e com minha profissão – disse a “Mulher Mágica”, como é
chamada
Larissa.
Felizes e apaixonadas, Larissa e Lili
curtem o casamento (Foto: Editoria de Arte)
- Somamos muito uma para a outra. Isso é amor, cumplicidade, parceria,
casamento. Estamos sempre tentando ajudar uma à outra para nos tornarmos
pessoas melhores – completou Lili.
Em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com em
Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, as duas falaram sobre
o início do relacionamento, o preconceito, o retorno ao vôlei de praia, a perda
dos bebês, a homossexualidade no esporte, entre outros assuntos.
Confira
os principais trechos da entrevista abaixo:
Em 2013, o namoro
das duas jogadoras ganhou repercussão na mídia. Quando Larissa e Lili se
casaram em uma cerimônia na praia do Porto das Dunas, na capital do Ceará, o
assunto tomou conta do noticiário. Mas as duas já estão juntas desde a metade
de 2010.
- Acho
graça. As pessoas falam: "assumiram relacionamento em 2013". Mas
nunca teve esse negócio. Foi um post no Facebook que pegaram e virou notícia.
Desde 2010, se você for olhar nossos perfis, já tem foto. Nunca escondemos nada
de ninguém e nem tivemos essa pretensão. Sempre acreditamos no nosso amor,
sempre nos respeitamos, estamos juntas e felizes há cinco anos, com muita
alegria e cumplicidade - contou Lili.
Lili e Larissa jogam buquê na cerimônia de
casamento (Foto: Reprodução/Facebook)
Larissa
relembra que elas tiraram férias juntas em dezembro de 2010 e “se casaram” em
segredo em Cancún. Atualmente, o casal mora em Fortaleza. As duas estão sempre
juntas durante as etapas do Circuito Brasileiro de vôlei de praia.
- Trocamos
alianças. Falei: "Vamos casar aqui?". Ela: "Como assim?".
Foi só a gente. Às vezes, as pessoas perguntam: “Como é para vocês?". Nunca
tive problema com minha opção sexual, só não tinha encontrado ainda uma pessoa
que me sentisse à vontade para abrir mesmo para todo mundo. Quando encontrei a
Lili, pensei: "Ela vale a pena” – falou.
Perda dos
bebês e nova tentativa no futuro
Larissa
tentou engravidar pela primeira vez em 2013. O exame deu positivo, mas ela
perdeu o bebê. Depois, tentou mais uma vez no ano seguinte. Mais uma perda. O casal
segue em frente e já sonha com uma nova tentativa no futuro.
- Fiz o tratamento junto com ela,
eram meus óvulos. Íamos ter um filho nosso de verdade. Ela teria
a “barrigona”, mas eu estava muito envolvida. Foi um baque, mas demos as mãos e
seguimos em frente. Continuamos com o sonho, e ela até fala que quer ter quatro
filhos. Vamos ver depois dos dois primeiros se ela ainda vai querer ter quatro
(risos). Se a primeira "barrigada" dela der dois, vamos acabar tendo
quatro mesmo porque depois vai ser minha vez (de ficar grávida) - disse Lili.
Lili, a esposa e os pais de Larissa em viagem
(Foto: Arquivo Pessoal)
Ainda não há previsão para a nova tentativa, segundo Larissa. Ela lembra que o
fato de ser atleta e saber lidar diariamente com “derrotas e vitórias” ajudou a
superar o momento.
- Não sei se continuo jogando em 2017, 2018... Vamos ver. A
Talita (parceira na quadra) também quer muito ser mãe e não somos mais tão
novinhas, né? (risos). Tive de usar um pouco da Larissa atleta para me
recuperar, me levantar rápido, como nas partidas. Não queria me ver derrotada, nunca
fui assim, mas foi horrível, pesado. Hoje vivemos um novo momento. Somos brasileiras e
não desistimos. Vamos ter quatro filhos. Quero ver bastante “menino”
correndo em casa.
Larissa na torcida por Lili na aposentadoria para engravidar (Foto: Tulio Moreira)
Após
as duas perdas, Larissa conta que, apesar da pressão, não sentia
vontade de retornar ao vôlei de praia em um primeiro momento. Demorou
algum tempo para que ela resolvesse que iria iniciar um novo ciclo
olímpico. Mas, quando tomou a decisão, ficou 100% rapidamente. A
jogadora de 32 anos lembra que, quando ia assistir aos jogos de Lili,
era bombardeada com os pedidos para voltar.
- Quando
parei falavam: "Você tem um patrocínio milionário, é a
melhor do mundo e vai parar de jogar?". Isso não é tudo, eu dizia. É
muita
abdicação, pressão. Cansa se manter tantos anos no topo. Em 2014, todo
mundo: "Você está doida? Não vai
voltar?". Isso não vinha dentro de mim. As pessoas me instigavam. Em
abril, no Superpraia, estava explodindo com
78kg (seu peso ideal é 68kg), mas quando voltei para casa, vendo uma
etapa do Mundial, despertou o leão e eu disse: "Não, não vou ficar nesse
sofá".
Ela ligou para Talita e disse que voltaria em três meses para disputar a
etapa do Circuito Mundial na Holanda, em junho de 2014. A colega
perguntou se ela estava louca. A reação de Reis Castro, treinador
escolhido para o projeto, foi a mesma. A ideia dele era retornar em
agosto. Sem sucumbir às dificuldades, Larissa emagreceu e conseguiu
jogar o torneio no país europeu. Lili, como tem sido desde o início do
relacionamento, deu apoio incondicional.
HOMOSSEXUALIDADE NO ESPORTE E PRECONCEITO
Em
fevereiro, a ex-ginasta Lais Souza revelou ser homossexual e ter uma namorada.
Para Larissa, ela se libertou. A capixaba diz que, como atletas, ela, sua
esposa Lili, Lais e outras esportistas homossexuais não devem “se omitir”. Sua companheira tem o mesmo discurso.
- Acima de
tudo precisamos dar exemplo de verdade, lealdade, amor, respeito. Não estou
falando de banalizar ou vulgarizar, mas as pessoas que se amam de verdade têm
de se libertar e falar para o mundo mesmo: "Eu te amo" – opinou.
- O atleta de alto nível que está na mídia sempre vai ser um exemplo, seja ele
heterossexual ou homossexual. Às vezes as pessoas colocam lá no meu Facebook:
"Poxa, que legal, consegui falar para minha família depois de ver vocês,
estou me sentindo muito melhor". As pessoas às vezes passam a vida
mentindo, se sentindo mal, enquanto podem ser muito mais felizes sem mentir,
tendo o relacionamento que quiserem ter – completou Lili.
Lili e Larissa com os buquês vermelho e
amarelo em 2013 na cerimônia de
casamento (Foto: Reprodução/
Facebook)
Lili
lembra
que, no início do relacionamento, elas até sofreram rejeição, mas
isso passou, principalmente depois da cerimônia de casamento. Em sua
opinião, a
“imagem das duas vestidas de noiva” marcou. A atleta de Vitória, no
Espírito
Santo, diz que as duas recebem muitas mensagens de apoio. Larissa, por
sua
vez, acredita que é preciso agir com naturalidade. Ela lembra que, no
início, ficou
receosa pelo que os fãs crianças pensariam na época, mas mudou
de opinião. No Circuito Brasileiro, por exemplo, estão sempre juntas e
não se furtam de dar as mãos, trocar abraços, beijos e carinhos.
- Hoje eu
trato a Lili da mesma forma na frente de qualquer pessoa. Em uma conversa que
tive com meu pai, que sempre questionou, disse: "Pai, não
vejo pecadinho, pecadão... Será possível que é tão grave assim? E um marido que
chega bêbado em casa e bate na esposa? E um filho drogado que rouba em casa? E
um pai que acaricia uma criança de 10 anos de idade? Isso é problema". A
gente simplesmente se ama e quer viver um sentimento positivo, e acho que isso
deveria ser visto com bons olhos pelas pessoas.
atuar como rivais ou como parceiras
Larissa é parceira de Talita na quadra. Lili joga com Rebecca. Mas, vez
ou outra, elas precisam se enfrentar em quadra. A primeira se diz
desconfortável com o fato. No Circuito Brasileiro, por exemplo, se
encontraram como rivais em diversas ocasiões.
-
Parece ímã. A gente joga contra quase toda etapa (risos). Como
profissionais, precisamos ganhar. Não é o ideal, não é legal ou
agradável, mas foi o que escolhemos e, quando nos conhecemos, já
sabíamos (que aconteceria). Fora de quadra, tento sempre ajudar. Dentro,
é separar e encarar bem.
Em quadra, Larissa e Talita são parceiras. Lili
joga com Rebecca (Foto: Paulo Frank / CBV)
Atuar como dupla está fora dos planos por enquanto, e Lili explica o motivo.
- Não tem como misturar as coisas. Acho que daria muita
briga.
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