Responsável por trazer Zé Teodoro para o Arruda, ex-zagueiro relembra carreira e diz que viveu no Botafogo o melhor e o pior momento no futebol
Sandro, o braço direito de Zé Teodoro
(Foto: Bruno Marinho / GloboEsporte.com)
(Foto: Bruno Marinho / GloboEsporte.com)
- Zé diz que só veio por causa de mim, pois confia muito na minha palavra. Foi uma negociação tranquila, mas ele queria luvas, só que nem de goleiro tinha na época. Eu disse: “Zé, não tem dinheiro não. Vem e depois a gente recebe”. Ele veio com um salário muito baixo para ajudar o Santa Cruz, com um salário de jogador. Acho que foi o menor salário que ele pegou na vida dele como treinador. Veio sem dinheiro na mão, com o clube só com cinco jogadores, mas veio fazer um trabalho que deu certo – ressalta Sandro Barbosa.
Ele conheceu Zé Teodoro em 2005, quando este o treinou no Sport. Além do Rubro-negro, onde iniciou a carreira, Sandro Barbosa defendeu outros grandes times do futebol brasileiro, como o Santos, por quatro anos, e Botafogo, por outros seis. Até no futebol português, o zagueiro jogou, quando vestiu a camisa do Belenenses, mas acabou não se adaptando com o estilo de futebol praticado do outro lado do Oceano Atlântico e fez o caminho de volta apenas seis meses depois. Após mais uma passagem pelo Sport, jogou ainda pelo Guarani, pelo Vitória e pelo Treze até ir para o Santa Cruz, clube onde acabou pendurando as chuteiras em 2009 e para o qual torce desde criança.
- É o meu time de coração. Sempre torci desde pequeno por conta do meu irmão, que me levava para o Arruda em todos os jogos. Foi quando eu me apaixonei pelo Santa Cruz, amei mesmo esse clube. Foi o único time que eu vesti a camisa e me arrepiei – revela Sandro Barbosa, que, em outubro do ano passado, assumiu o cargo de gerente de futebol do Tricolor.
Em uma entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, ele explicou por que defendeu, desde o início, o nome de Zé Teodoro como a melhor opção para comandar o Santa Cruz e falou sobre as expectativas do clube para a próxima temporada, além de relembrar fatos marcantes da sua carreira dentro das quatro linhas.
Sandro, auxiliar-técnico do Santa, revela paixão pelo clube coral. (Foto: Bruno Marinho / GloboEsporte.com)
SANDRO: Quando Antônio Luiz Neto (presidente do Santa Cruz) me convidou para trabalhar no clube, eu falei para ele que, se fosse para trabalhar com a verdade, eu estaria no meio, mas, se fosse para trabalhar com a mentira, eu estaria fora. Quando chamei Zé Teodoro, que foi uma ideia minha, o clube não tinha dinheiro. Surgiram vários nomes de treinadores numa reunião, mas eu não concordei, pois eu queria um treinador que viesse do interior de São Paulo. Eu tinha trabalhado com Zé no Sport em 2005 e sabia o perfil dele. E o Santa Cruz não poderia ter um treinador muito calmo, muito tranquilo, precisava de um ganhador de perfil agitado e que não deixasse imprensa, torcida, diretor ou presidente escalar time. Eu mostrei a Zé Teodoro que ele vinha para um clube que ia honrar os compromissos com ele, que ia dar, dentro das suas possibilidades, uma estrutura para ele trabalhar e que ele ia ter carta branca para contratar jogadores e escalar. Ele aceitou, veio e fez um trabalho honesto. É a maneira dele trabalhar. Ele é um cara do bem, deu certo e não é doido de ir embora. Com certeza, ele fica para a próxima temporada.
GLOBOESPORTE.COM: Por falar em temporada, você imaginava que a deste ano seria uma das mais vitoriosas da história do Santa Cruz?
Não imaginávamos que íamos ser campeão pernambucano, que íamos revelar cinco jogadores da base como revelamos Natan, Memo, Renatinho, Éverton Sena e Gilberto (atacante vendido ao Internacional), que a gente ia encarar de frente o São Paulo na Copa do Brasil. Mas da Série D, eu sabia que a gente iria sair, mas essas outras conquistas não esperava.
Santa comemora acesso à Série C
(Foto: Futura Press)
(Foto: Futura Press)
Serviu para mostrar que o clube e os jogadores eram grandes. Mesmo com as condições mínimas de dinheiro, tivemos condições técnicas, táticas e administrativas para bater o Sport e o Náutico, que são os times ricos da cidade. Então, chegamos na Série D com a obrigação de subir. Na competição, o Santa Cruz só perdeu dois jogos (contra o Guarani, por 2 a 1, na 1ª fase) e foi por um gol de bola parada aos 48 minutos do segundo tempo (E a primeira decisão contra o Tupi por 1 a 0 em Juiz de Fora). E, dentro de casa, só tomamos um gol (na vitória por 2 a 1 sobre o Alecrim-RN, também na 1ª fase). Isso é sinal de grandeza. E a gente sabia que era grande, por isso que a gente subiu porque, na hora que tínhamos que tomar as rédeas, a gente tomou. Passamos sufoco porque éramos o time a ser batido. Os jogadores sabiam que eram bons, que o time era bom, que o clube era grande e perceberam que tinham obrigação de subir. Nós subimos por obrigação mesmo.
GLOBOESPORTE.COM: O apoio dos torcedores tricolores foi fundamental para esta ascensão do Santa Cruz no futebol estadual e nacional?
Com certeza. Até porque o dinheiro foi a nossa principal dificuldade. Mas o Santa Cruz tem um grande patrocinador: a sua torcida. Que time dá renda de R$ 1,5 milhão na Série D? Quem tirou nossa dificuldade maior foi o nosso torcedor. Ele nos ajudou e, se não fosse ele, o clube estava morto. A torcida empurra, cobra, é chata, mas o que motiva os jogadores é ver o estádio lotado com 70 mil torcedores.
Sandro agora quer o Santa na Série B em 2013
(Foto: Bruno Marinho / GloboEsporte.com)
(Foto: Bruno Marinho / GloboEsporte.com)
Vamos querer o mesmo sucesso, mas sabemos que é muito difícil conquistarmos tudo o que conquistamos novamente. Vamos trabalhar na mesma linha, com o mesmo raciocínio e a mesma maneira, para podermos obter o principal objetivo, que é voltar para a Série B.
GLOBOESPORTE.COM: Você foi revelado no Sport, onde conquistou títulos, marcou vários gols de falta e chamou a atenção de outras grandes equipes do futebol brasileiro pela qualidade e potência do chute. Como você define a importância do Rubro-negro na sua carreira?
Na verdade, eu comecei no América. Estava no infantil, mas me mandaram ir embora porque disseram que iam acabar com a base. Fui para o Botafogo, o Treze e o Auto Esporte (equipes da Paraíba), mas não deixaram nem eu treinar. Com 15 anos, eu fui para o Arruda, mas não me deixaram passar nem pelo portão, pois disseram que não tinha treino para meninos. Então o Sport foi o clube que me abriu as portas. Foi o começo de tudo. Fui para o Sport com 15 anos e passei pelo infantil, juvenil e juniores. Quando fiz 18 anos, fui para o profissional e, com 19, já era capitão do Sport, onde passei sete anos.
GLOBOESPORTE.COM: Em seguida, você foi para o Santos, onde passou quatro temporadas, e depois seguiu para o Botafogo, clube que defendeu de 1999 a 2004. O que você destaca dessas suas passagens pelo futebol paulista e carioca?
Os quatro anos no Santos foram muito bons. Fui campeão do Rio-São Paulo Conmebol e trabalhei com grandes treinadores, como Leão, Luxemburgo e Candinho, que são pessoas com que aprendi muito. Depois fui para o Botafogo, emprestado por 10 meses. Mas o clube comprou meu passe e passei seis anos lá. Tive uma paixão pela torcida, que nunca me vaiou em seis anos. Fiz vários gols, caí com o time, subi com ele. Tive uma frustração que foi não ser campeão da Copa do Brasil, quando perdemos o título para o Juventude ao empatar por 0 a 0 na final no Maracanã em 1999. Mas o Botafogo foi o lugar onde eu mais me senti bem de jogar.
GLOBOESPORTE.COM: Ainda com relação ao Botafogo, além de capitão, você era muito querido, e não apenas pela torcida, mas também pelos próprios jogadores. Tanto que você foi um dos poucos do grupo que não foi crucificado pela queda para a Série B em 2002. No ano seguinte, você ajudou a equipe a retornar à Primeira Divisão. Pode-se dizer que foi vestindo a camisa do clube carioca que você viveu as suas maiores emoções como jogador de futebol?
Com certeza. No Botafogo, vivi o melhor e o pior momento da minha carreira. O melhor foi quando eu subi com o Botafogo de volta para a Série A e o pior momento foi quando caí com o Botafogo para a Série B. Você cair em um time grande é muito difícil.
GLOBOESPORTE.COM: Do Rio de Janeiro, você foi para Portugal para defender o Belenenses, mas ficou apenas seis meses na Europa. O que motivou o seu retorno para o Brasil em tão pouco tempo?
Eu não consegui me adaptar. No futebol português, o treino deles é jogo. Então, para se adaptar, é difícil. Eles queriam que eu treinasse como se fosse jogo, mas eu não conseguia. No Brasil, é diferente: a gente treina para jogar, nos deixam treinar para jogar bem e não nos matam no treinamento para chegarmos mortos no jogo. Tinha um contrato de um ano, mas pedi para ir embora antes.
GLOBOESPORTE.COM: Uma vez novamente no Brasil, você ainda defendeu as cores do Sport - mais uma vez, do Guarani, do Vitória até encerrar a carreira no Santa Cruz. Em todos eles, vivenciou conquistas e decepções. Você se arrepende de algo na sua carreira?
É verdade, passei por altos e baixos na minha carreira. Quando voltei para o Sport, fiquei um ano. Mas foi uma passagem horrorosa, pois não ganhei nada. Não ganhamos o Pernambucano no ano do centenário e não classificamos para a Série A em 2005. Depois, fui para o Guarani, onde passei seis meses, mas saí porque não pagavam ninguém. Foi quando o Vitória me convidou, fui e fiquei dois anos. Joguei a Série C, subi para a Série B e depois para a A e fui campeão baiano. No final, vim parar no Santa Cruz. Mas não me arrependo de nada não. Comecei no futebol com 15 anos e parei com 36. Fui vitorioso, joguei em grandes clubes e não lamento nada da minha carreira.
Sandro foi o responsável por converser Zé Teodoro a trabalhar no Arruda. (Foto: Bruno Marinho)
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