Acreditar,
não jogar a toalha, brigar, lutar, cobrar... O técnico Vagner Mancini,
do Botafogo, escolhia a cada momento expressões diferentes para reforçar
a confiança numa missão que ele mesmo classificou como mais que
difícil, quase impossível. A derrota por 1 a 0 para o Fluminense - a 19ª
na competição - testa a capacidade do treinador e do grupo de superar
as adversidades e a limitação do elenco. Para a próxima partida, contra o
Figueirense, em São Januário, Mancini disse que não deve contar com
Jobson e Carlos Alberto, ambos lesionados.
Carlos Alberto,
aliás, foi um tópico à parte da entrevista coletiva. O treinador evitou
criticá-lo, mas admitiu que o lance do primeiro tempo - o jogador perdeu
um gol na cara de Diego Cavalieri porque hesitou na finalização - fez
diferença na partida.
- Ele ainda
está distante do atleta que sabemos que pode ser. É um atleta que
podia ter nos dado a vitória, em um lance que ele demorou para
finalizar - disse o treinador.
Se foi crítico na avaliação de
Carlos Alberto, Mancini eximiu a defesa do Botafogo de culpa pelo gol
sofrido de cabeça. Ele lembrou a insistência tricolor nas bolas aéreas e
afirmou que o gol do Fluminense se tornou quase inevitável com a
entrada na área do volante Edson.
Com 33 pontos, o time
Alvinegro ainda pode ser ultrapassado pelo Bahia, que enfrenta o
Corinthians neste domingo na Fonte Nova, em Salvador. O Alvinegro está a
três pontos do primeiro time fora da zona de rebaixamento, a
Chapecoense.
- Explicar o jogo é sempre mais difícil quando você perde. Nós sabíamos que o
volume de jogo do Fluminense seria de posse de bola e bolas abertas nos
extremos. A zaga vinha bem postada, nosso time bem arrumado em campo. A
nossa estratégia só não foi melhor porque não conseguimos fazer o gol.
Tivemos alguns bons momentos que poderiam ter sido determinantes dentro
do jogo. Tenho que isentar o sistema defensivo no lance do gol. Um
segundo volante que entrou de trás. Os dois zagueiros estavam fincados
no Fred. Esse homem que chegou de trás foi o diferencial do jogo e
acabou fazendo o gol.
O Botafogo tem uma "semana catarinense"
que será decisiva. Primeiro, em São Januário, o time de Vagner Mancini
joga contra o Figueirense, na quarta. Domingo, em jogo dramático,
enfrenta a Chapecoense, na Arena Condá.
Confira a íntegra da entrevista coletiva de Vagner Mancini.
Lado emocional
Isso não é novidade para
nós. Nós estamos cuidando do lado emocional desde que começou o
campeonato. Vi o Botafogo hoje mais forte emocionalmente do que contra o
Atlético. Hoje acho que o Botafogo fez um bom jogo diante das
expectativas de todos. O Botafogo saiu para o jogo um pouco
desorganizado no ataque. Agora é você falar a realidade, mostrar que
tudo ficou mais difícil, mas que ainda há esperança e nós vamos brigar
até o último instante.
Por que o torcedor botafoguense ainda pode acreditar nesse grupo?Porque
eu tenho visto diariamente o que os atletas fazem. Vi o vestiário agora
na saída, eles têm brios. Foi talvez o melhor vestiário que eu vi após os jogos. Todos
colocaram sua opinião. São sinais que me fazem ser firme e seguir
acreditando. Estamos vivendo intensamente essa situação, que é
extremamente desconfortável. Sabemos que vai ser necessária uma
recuperação, com vitórias. Estamos tentando fazer o difícil, até o
impossível. Vamos brigar até o fim. Temos exemplos de equipes que já
viveram coisas piores, mas que buscaram vitórias necessárias. Não vamos
deixar cair de maneira alguma o ânimo. Os atletas estão sofrendo.
Dependemos de nossa força interior para continuar lutando.
Vagner
Mancini acredita na recuperação do
Botafogo a quatro rodadas do fim do
Brasileiro: "Eu tenho visto diariamente
o que os atletas fazem. Vi o
vestiário
agora na saída, eles têm brios", disse
o treinador alvinegro.
(Foto: Vitor
Silva / SSpress)
Substituições
Hoje
eu não fiz substituições, apenas tive que reparar uma equipe que entrou
com alguns atletas em situações desfavoráveis. Tive que tirar o
Andreazzi, que sentiu um problema na coxa. O Jobson, a mesma coisa. E o
Sidney também. Isso dificultou a marcação. Acabamos perdendo um pouco o
contra-ataque nessa volta do Murilo, que tinha que ajudar na marcação. A
entrada do Gegê era para dar uma movimentação mais dinâmica no campo. E
a do Bruno, tardia, para que tivéssemos mais um homem de área.
Especialmente hoje foram reparos. Não como eu gostaria de fazer, com
mexidas para que a equipe tivesse um pouco mais de força na parte
ofensiva, mas sim porque alguns jogadores sentiram lesões.
O que aconteceu no vestiário?
Nós
não vamos jogar a toalha, até pelo o que eu vi hoje em campo, a entrega
dos jogadores. A cada dia o time é diferente. O que eu vi no vestiário
foi o olhar de todos. As cobranças, as indagações. Quando você vê que
todos eles estão tentando achar uma solução. Vamos reativar a esperança
de todos para o jogo com o Figueirense.
Carlos Alberto correspondeu expectativas?
A
saída do Andreazzi acabou dando uma quebrada no sistema de marcação.
Ele, Mattos e Gabriel têm marcação muito forte. Alterou um pouco a forma
de jogar. Não em função disso tomamos o gol, o gol foi um lance do lado
esquerdo. Depois, com calma, vou analisar. Acho que o Carlos Alberto
oscilou. No primeiro tempo, acabou desperdiçando algumas jogadas. Depois
quis que ele jogasse mais na frente, mas tive a lesão do Jobson. O
Carlos Alberto sabe fazer o pivô. Ele seria uma substituição certa, mas
teve que jogar os 90 minutos por causa dos outros problemas. Ele ainda
está distante do atleta que sabemos que pode ser. É um atleta que
podia ter nos dado a vitória, em um lance que ele demorou para
finalizar.
Gol perdido por Carlos Alberto
O
lance poderia ter mudado o jogo. Se tivéssemos saído na frente, o
Fluminense teria mais dificuldades. Naquele lance específico, quando a
bola foi metida, ele girou, achou que tinha um tempo demasiado, mas na
realidade não tinha. Ele me disse que esperou a queda do Cavalieri.
Naquele momento, sair na frente seria muito importante. Teve o lance do
Andreazzi também, do Jobson, do Murilo. Teve um momento que o Gabriel
deu um passe para o Murilo também, mas o passe saiu um pouco atrás.
Queríamos deixar o jogo à nossa maneira, e não à maneira do Fluminense,
como foi após o gol.
Volta do Marcelo Mattos
Ele
foi um xerife em campo. É o tipo do jogador que determina aquilo que
vai acontecer à frente da zaga. É um atleta de muita imposição física,
não entra perdendo em nenhuma jogada. Ele passa muita energia não só no
setor de meio de campo, mas em todas as áreas. Todos perceberam a
mudança com a volta dele. Se tivéssemos aberto o placar, ele irradiaria
uma energia para o Gabriel e para o Andreazzi e partiríamos no
contra-ataque. Se ele tivesse jogando antes, a situação do Botafogo
seria diferente.
Novo quebra-cabeça para o jogo com o Figueirense
Acho
difícil que o Carlos Alberto e o Jobson joguem. Em função das lesões,
dos problemas. Eu ainda não pude repetir uma equipe da maneira como eu
esperava. Não sei qual time vai jogar contra o Figueirense. Mas pelo que
eu vi no vestiário hoje, acho que o Figueirense vai ter muita
dificuldade em São Januário. Escutei os atletas e acredito neles.
O que dizer para o torcedor?
Difícil
que eu tenha que falar alguma coisa. O torcedor do Botafogo tem que ir
ao estádio porque quer ver o Botafogo fora da zona de rebaixamento. Eu
não tenho mais cara de chamar o torcedor para ir ao estádio. O time tem
que fazer isso dentro de campo. Não é hora de eu chamar os torcedores.
Este é um momento realmente de saber que é essencial uma vitória sobre o
Figueirense.
Pensar nos adversários
Eu
sou ser humano também. Acho que todo mundo está torcendo contra algumas
equipes. Eu faço parte desse time. Vou ver os jogos amanhã e vou torcer
para A, B ou C. Mas nós temos que ganhar. É um jogo primordial contra o
Figueirense. Hoje perdemos a partida e temos que torcer para algumas
outras equipes. É muito difícil eu ter que falar sobre isso, mas
infelizmente a nossa situação é essa. Eu poderia estar falando de uma
forma hipócrita, que estou olhando só o Botafogo, mas estou, sim, olhando a
cada rodada e torcendo para os resultados que interessem a nós. Uma
injeção de ânimo a mais.
* Estagiária, sob supervisão de Raphael Zarko.
FONTE:
http://glo.bo/1Bz9mIi