Quase
ninguém sabia da existência de Pähl antes de Thomas Müller aparecer. As
palavras são dos próprios moradores do simplório e minúsculo vilarejo
localizado a 50km de Munique, com apenas 2.500 habitantes em 32km² de
extensão. E foi neste lugar que a principal estrela da Alemanha na Copa
do Mundo foi criada, junto a poucos privilegiados que puderam acompanhar
sua ascensão, com belas apresentações no único campo de futebol da
cidade, desde o primeiro chute na bola.
– Ele colocou Pähl no
mapa. Agora sempre recebemos torcedores, curiosos e jornalistas
querendo conhecer o lugar onde ele cresceu. E a criação dele reflete
muito na pessoa original que é hoje – explica Betina Schtawfenberg, mãe
de dois grandes amigos de Müller, um deles que estudou na mesma classe
do craque e jogava com ele quando pequeno no TSV Pähl, único clube da
cidade.
O Castelo Alto: lugar preferido de Müller em
Pähl (Foto: Cassio Barco)
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Betina
é dona do "Castelo Alto", local preferido do jogador quando está na
cidade. A bela construção sempre foi sede das festas de crianças da
turma de Müller. Ali, jogando cartas com os amigos, ou na casa dos pais,
que ainda residem na vila, é onde o craque passa a maior parte de seu
tempo em Pähl. As visitas acontecem com frequência. Entre os jogos pelo
Bayern de Munique e pela seleção alemã, o filho pródigo arruma tempo
para voltar para casa ao menos uma ou duas vezes por mês.
Ao
passar um tempo na cidade, dá para entender por que Pähl é o "lar, doce
lar" de Müller. Em um dia convivendo com os locais, é possível sentir-se
como se tivesse viajado para trás no tempo. Não de uma forma ruim. O
vilarejo não tem nada de atrasado em relação a tecnologia e
modernidades. Mas a viagem ao local nos leva de volta para quando tudo
era mais simples e tranquilo.
Pälh preserva o aspecto de vilarejo, mesmo em
fachadas de prédios públicos, como a Prefeitura
(Foto: Cassio Barco)
É
o ipo de lugar onde as pessoas deixam as portas de suas garagens
abertas o dia inteiro, assim como as janelas dos carros estacionados nas
ruas. Quando a reportagem do GloboEsporte.com resolveu aparecer de
surpresa na prefeitura e bater na porta, foi recebida pelo próprio
prefeito. Werner Grünbauer parou o que estava fazendo para bater um papo
sobre o "filho da cidade", com quem tem relação muito próxima.
– O
conheço desde sempre. Seu pai, Gerrad, também é político e faz parte do
conselho de Pähl. Aqui, estamos todos orgulhosos pelo que Thomas se
tornou, como jogador e ser humano–- contou o prefeito, lutando com as
palavras para falar em inglês.
Pälh fica a pouco mais de 50km de Munique.
Lenha e criação de gado são as principais
atividades (Foto: Cassio Barco)
Aliás,
ao contrário das maiores cidades alemãs, poucas pessoas falam a língua.
É uma comunidade fechada, onde ninguém gosta muito de ser filmado ou
fotografado, mas formada por pessoas gentis, sempre agradáveis e
hospitaleiras. Famoso e milionário aos 24 anos, Müller segue o exemplo:
segundo os amigos de Pähl, é uma pessoa que não diferencia ninguém pela
idade ou classe social.
Uma das que enxergam o craque assim é
Rosemary Scholz, dona da única padaria da cidade. Na vitrine de seu
estabelecimento, em vez de exibir as melhores ofertas, ela montou um
"minimuseu" do jogador, com presentes trazidos por ele próprio e por sua
família. O preferido é uma chuteira utilizada pelo atacante num jogo
pelo Bayern de Munique.
Visão de Pähl com a igreja ao fundo
(Foto: Cassio Barco)
Ele
vinha aqui tomar seu café da manhã desde novinho, era uma criança muito
inteligente. Hoje, assisto a todos os jogos que está em campo. É como
se ele fosse o filho de todos da cidade
Rosemary Scholz, comerciante em Pähl
– Ele
vinha aqui tomar seu café da manhã desde novinho. Sempre foi uma
criança muito inteligente. Hoje, assisto a todos os jogos quando ele
está em campo. É como se fosse o filho de todos da cidade. Nos juntamos
para torcer pelo Thomas porque ele merece tudo o que tem conquistado –
exaltou a comerciante, referindo-se aos 12 títulos que o atleta tem na
carreira, a artilharia da Copa de 2010 e os quatro gols marcados até
aqui no Brasil (três contra Portugal, um contra os Estados Unidos).
No
centro esportivo do TSV Pähl, único clube da vila, foi fácil encontrar
mais amigos de Müller. Eles nem se abalaram quando chegamos sem aviso,
no meio do almoço. Pelo contrário. Fizeram questão de que sentássemos
todos juntos. O dono do clube de tênis sai e volta rapidamente com um
pretzel, um copo de cerveja bávara e coloca na mesa. "Vamos falar de
Thomas". Os moradores da cidade se empolgam quando o assunto é o craque
alemão.
Moradores tem vida simples nos arredores de
Munique (Foto: Cassio Barco)
–
Acho que o Thomas vai passar o Klose em gols em Copas. Ainda tem os
jogos dessa e pelo menos mais dois torneios, e ele é muito jovem.
Acreditamos que poderá voltar a marcar gols contra a França e nos ajudar
a conquistar a Copa no Brasil. Desculpe! – brinca o aposentado Dieter
Wirsich, parceiro de tênis do jogador, lembrando do recorde de 15 gols
de Miroslav Klose em Mundiais, ao lado de Ronaldo Fenômeno.
Na
próxima vez que Müller vestir a camisa 13 da Alemanha, na próxima
sexta-feira, contra os franceses, no Maracanã, pelas quartas de final da
Copa, todos estes amigos estarão reunidos mais uma vez para torcer pelo
filho prodígio de Pähl, o homem que os colocou no mapa.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/alemanha/noticia/2014/07/vila-que-revelou-thomas-muller-torce-por-titulo-e-artilharia-de-seu-prodigio.html