Iniesta e Xavi: parceria histórica (Foto: AFP)
Xavi
chegou para Vicente del Bosque, técnico da Espanha, em 30 de junho de
2012, e disse que estava decidido a não jogar mais pela seleção de seu
país. Era a véspera da final da Eurocopa. Os dois estavam no gramado do
estádio da decisão, em Kiev, na Ucrânia. O bigodão do treinador logo se
moveu, em uma reação de surpresa:
- Você está em depressão????
Não estava. Xavi estava cansado. Cansado de receber críticas, de ouvir
comentários de que não era o mesmo, de que não estava jogando bem.
Cansado de lidar com dores. E cansado do sistema de jogo, mais preso do
que o do Barcelona. Del Bosque precisou bancar o psicólogo. E usou um
argumento fatal.
- Que é isso, homem? Você vai jogar o Mundial no Brasil! Como não vai jogar lá?
O diálogo foi relatado pelo próprio Xavi, em entrevista ao jornal "El
País". Naturalmente, o meia acabou convencido. Foi cerebral, como de
costume, no dia seguinte, quando a Espanha goleou a Itália por 4 a 0 e
ganhou nova Eurocopa. E agora está no Brasil: ainda não para a Copa do
Mundo, mas para a Copa das Confederações. E para aquele que deve ser o
penúltimo grande ato de uma parceria histórica. Como pensar em Xavi sem
pensar em Iniesta?
A explosão de um está ligada à ascensão de outro. É assim no Barcelona e
na Espanha. São inseparáveis. Os títulos da equipe catalã e da formação
europeia estão atrelados à presença da dupla. Eles formam uma linha
evolutiva desde meados da década passada. Ambos participaram, como
reservas, da frustrada campanha espanhola na Copa do Mundo da Alemanha,
com eliminação para a França nas oitavas de final. Mas logo começaram a
reagir. E a crescer.
Na final da Liga dos Campeões 2005/2006, antes mesmo do Mundial, nenhum
deles começou o jogo contra o Arsenal. Iniesta, porém, foi a campo no
segundo tempo, e o Barça venceu por 2 a 1.
Em dezembro, no Mundial, o
gigante catalão foi derrotado pelo Inter. Iniesta já foi titular naquela
partida. Xavi foi a campo no segundo tempo. Gol de Adriano Gabiru deu o
título aos brasileiros.
Ascensão do Barça passou pelo talento de Xavi e
Iniesta (Foto: agência Reuters)
Nas temporadas seguintes, eles se firmaram como referências tanto do
Barcelona como da Espanha. Ganharam juntos da Alemanha na final da
Eurocopa de 2008. Ganharam juntos do Manchester United na final da Liga
dos Campeões de 2008/2009. Foram juntos a novo Mundial de Clubes, desta
vez com vitória sobre o Estudiantes - Xavi foi titular, e Iniesta,
lesionado, ficou fora.
O início da nova década trouxe a consagração definitiva para a dupla.
Em 2010, eles comandaram a Espanha em seu primeiro título mundial,
sempre como titulares. Pelo Barça, foram novamente campeões europeus
sobre o Manchester United. E outra vez campeões do mundo, desta vez com
goleada de 4 a 0 sobre o Santos.
A sequência foi mantida em 2012, com mais uma conquista de Eurocopa, no
dia posterior ao diálogo em que Xavi comunicou a Del Bosque seu desejo
de deixar a seleção espanhola. E agora cá estão eles, no Brasil, para
enfrentar o país pentacampeão pela primeira vez.
O jeito é tentar anulá-los. O volante Luiz Gustavo tem essa
experiência. Já os enfrentou pelo Bayern de Munique, e a equipe alemã se
deu bem - é a atual campeã da Liga. Dá sinais de não temê-los.
- É difícil falar o que eu vou encontrar. Vou me preparar bem. Já tive a
chance de jogar contra os dois. Sei a dificuldade e sei que posso fazer
de forma a ajudar a nossa equipe. São dois bons jogadores, que têm o
respeito do mundo todo. Todo cuidado é pouco. O Xavi distribuiu mais o
jogo, e o Iniesta faz mais jogadas individuais. São dois jogadores com
os quais precisamos ter cuidado - comentou o volante.
Xavi foi convencido por Vicente del Bosque a não abandonar a seleção (Foto: AFP)
Xavi tem mais de 100 jogos pela Espanha. É um símbolo, junto com
Iniesta, da geração mais vencedora que o país já teve. E quase pendurou a
camisa vermelha sem ter jogado contra o Brasil. Quase. No domingo, ele
terá a chance - e talvez novamente na Copa de 2014, quando dará seu
adeus definitiva à Roja.
Agora tenho a oportunidade de jogar contra o Brasil no Maracanã. São
123 jogos, e nunca enfrentei o Brasil! Sempre tenho algo que me motive"
Xavi
- Agora tenho a oportunidade de jogar contra o Brasil no Maracanã. São
123 jogos, e nunca enfrentei o Brasil! Sempre tenho algo que me motive -
disse o atleta ao "El País".
Iniesta jogou 314 minutos nesta Copa das Confederações, em quatro
partidas. Xavi, em três jogos, participou de 287 minutos. Eles têm
números parecidos. Cada um deu sete chutes a gol. Iniesta deu 317 passes
e acertou 87% deles; Xavi deu 298, com 88% de perícia. O primeiro
arriscou 18 lançamentos; o segundo, 19. São quase gêmeos.
Parecidos e inseparáveis, Xavi e Iniesta estarão em campo contra o Brasil às 19h deste domingo, na grande final do Maracanã. A TV Globo, o SporTV e o GLOBOESPORTE.COM transmitirão ao vivo.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/espanha/noticia/2013/06/perto-da-separacao-xavi-e-iniesta-pegam-brasil-pela-primeira-vez.html