Secretário-geral da Fifa cogita mudança em estratégia de comunicação, cobra mais voos e instalações temporárias e não quer shows em estádios
Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, não esconde a empolgação com
Neymar, com a paixão dos brasileiros pelo futebol e com o sucesso
operacional da Copa das Confederações. Mas também não foge de assuntos
mais espinhosos. Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM na manhã
deste sábado, no Rio de Janeiro, o homem que está à frente da
organização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil enxerga problemas nos
aeroportos e prevê a necessidade de instalações temporárias para que não
haja complicação de deslocamento para os turistas. Sobre os protestos
populares, não esconde a surpresa, mas afirma que houve compreensão dos
parceiros comerciais e que os incidentes foram contornados. Em recado
direto aos turistas que planejam ver o Mundial, o francês fez um pedido:
- Esqueça o que aconteceu, essas fotos que você viu, porque isso não é o Brasil, é parte de uma democracia haver manifestações. Venha para o Brasil no próximo ano. Será o lugar para estar, porque a Copa do Mundo será o evento mais maravilhoso se você ama futebol.
Para Valcke, a Copa é "em parte um pretexto" para as manifestações. Ele
explica que nos próximos dias haverá reuniões para discutir não apenas
os problemas operacionais que surgiram, mas também a estratégia de
comunicação a ser adotada para 2014. Diz que o governo "tem de explicar
onde é investido o dinheiro público". Ao justificar alguns dos problemas
operacionais, reforçou que a causa de boa parte deles foi o atraso na
entrega de estádios, frisando o prazo de 23 de dezembro para as seis
arenas restantes para o Mundial e 24 de março de 2014 para finalização
de eventuais instalações temporárias.
Respondendo sobre os gramados, afirmou que a Fifa está trabalhando com uma empresa irlandesa para garantir a qualidade dos campos na Copa do Mundo. Dentro do planejamento, está a proibição de outros eventos que não sejam futebol nas arenas que serão usadas na competição a partir do início de 2014 e ainda o fechamento completo dos estádios semanas antes do início do torneio.
Confira a íntegra da entrevista de Jérôme Valcke ao GLOBOESPORTE.COM:
Quão surpresa ficou a Fifa com os protestos no Brasil? Como esses protestos afetaram a Copa das Confederações e seus patrocinadores já que as manifestações foram exibidas por todo o mundo e relacionadas ao evento?
Eu penso que a surpresa não foi apenas para a Fifa. Quero dizer, foi para o Brasil, o tamanho das demonstrações. As pessoas estavam esperando manifestações, que sempre podem acontecer quando você organiza um grande evento que terá grande atenção da mídia, mas de novo a escala dessas demonstrações foram uma surpresa para todos. Ficamos tão surpresos quanto o governo e todos os outros brasileiros. Isso afetou, não diretamente, a organização. Houve mais segurança no entorno dos estádios, segurança arranjada pelo governo e as cidades-sede, então acho que esse foi o principal efeito das demonstrações populares no que diz respeito à organização da competição em si.
Eu tive de dizer algumas coisas a todas as pessoas que estavam
envolvidas, com parceiros comerciais e outros, porque eles todos
entenderam o que estava acontecendo. Eles todos reconheceram que era um
direito do país de demonstrar e expressar suas preocupações, e sair às
ruas para fazer isso. Então nenhum dos parceiros comerciais, nenhuma das
delegações, nenhum dos oficiais chegou e disse: "Isso é uma coisa que
eu não entendo. É loucura, não é normal e estou deixando o país porque
estou com medo disso". Então, obrigado pela compreensão de todos os
envolvidos na organização da Copa das Confederações.
O senhor considera que houve algum tipo de erro na estratégia de comunicação da Fifa e do governo brasileiro que possa ter contribuído para os protestos? Haverá mudanças nessa abordagem para a Copa do Mundo?
Penso que a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo são em parte um pretexto. Se você olhar o ranking das reivindicações das ruas, a Copa do Mundo não está realmente entre as primeiras. Você está falando da luta contra a corrupção, de maior investimento em programas de saúde, em programas de educação e em transporte público. Então, esses são os pontos principais que estão saindo das ruas e das manifestações. A Copa do Mundo é mais... Você acredita que faz sentido ter um evento desse porte enquanto há muitas coisas a se fazer no país? E acho que o governo, através do Aldo Rebelo, explicou muito bem onde a Copa do Mundo fica em meio a esses programas de investimento do governo para desenvolver o país. O Brasil é um país rico, em fase de desenvolvimento, e a Copa do Mundo é um desses eventos, a Olimpíada será outro, como também a visita do Papa e outros eventos que serão organizados nos próximos dez anos. Se você está falando de comunicação, com certeza há uma necessidade de talvez explicar, explicar, e explicar, de novo e de novo e de novo, o que significa para um país a Copa do Mundo, qual o benefício de organizar um evento tão importante, que a Copa do Mundo não está usando dinheiro público. Isso eu acho que tem de estar claro.
A Copa do Mundo em si, os 64 jogos, a organização da Fifa não está usando nenhum dinheiro público. E 90% do dinheiro público, a ser investido de 2007 a 2014, é para infra-estrutura, melhorias para o país, e isso ficará após a Copa do Mundo, após a Fifa deixar o país. Então há uma mistura de coisas ao estabelecer uma base para os protestos, mas acho que sim, o governo deveria explicar para o Brasil, mais e mais, o que o governo está fazendo para o Brasil. Não somos nós que temos de dizer ao governo ou aos brasileiros o que fazer, mas concordamos que nos próximos dias teremos uma reunião sobre comunicação apenas para ter certeza de que há mensagens a serem transmitidas pelas diferentes entidades. Podemos falar de legado, o que está sendo organizado no país, o valor que deixaremos depois da Copa do Mundo, como esse dinheiro deveria ser usado, mas o governo tem de explicar também onde é investido o dinheiro público.
Houve alguns problemas no início da competição com o Uruguai em Recife e com a Itália, no Rio. Também houve questões menores com alguns serviços oferecidos e a retirada de ingressos. De uma maneira geral, quais são os ajustes considerados prioridade para a Fifa para a Copa do Mundo diante do que se observou na Copa das Confederações?
Eu concordo que a Copa das Confederações é um grande evento esportivo. Mas é de fato uma necessidade que nós temos para testar todas essas questões. O que vimos nos seis estádios é que um determinado número de coisas não funcionou. Coisas que não eram importantes para os fãs. Quando o controle de acesso eletrônico não está funcionando, não é um grande problema para os fãs, porque verificamos o ingresso e rasgamos um pedaço. Mas para nós é um problema, porque não temos o mesmo nível de controle e flexibilidade no sistema. Então todas essas coisas que não funcionaram é o que falaremos nos dias 2 e 3 de julho e de novo, a razão principal para que algumas coisas não funcionassem na Copa das Confederações é porque recebemos os estádios um pouco tarde. É por isso que estamos pressionando ao dizer: 23 de dezembro para os estádios, 24 de março para as instalações temporárias.
E a partir daí, também, não devemos ter outros eventos do estádio que não sejam futebol. Temos de proteger o campo. Quando você joga futebol, está ok, porque sabemos como usar o campo e recuperá-lo quando se joga futebol. Mas quando há um show, dez mil pessoas em um gramado coberto com uma sacolá plástica, a grama simplesmente morre e vai levar meses, ou pelo menos semanas, para ter um bom campo novamente. A coisa boa é que a Copa das Confederações deu muitos ensinamentos, não para a Fifa, porque sabemos como é organizar uma Copa do Mundo, mas o governo e o Comitê Organizador Local entenderam todos esses problemas que você potencialmente terá de enfrentar em um novo estádio.
Houve diversas reclamações de torcedores que compraram
ingressos de categoria um e ficaram longe dos gramados, ou muito perto
de outros torcedores com categorias mais baratas de ingressos. A Fifa
pode mudar os critérios para atribuir os assentos de cada categoria?
Não há possibilidade. Isso sempre acontecerá. Primeiro, é sobre os estádios. Em Brasília você tem a sensação de estar muito perto do campo. Recife é parecido. Já no Maracanã, parece que você está mais longe. Então está mais ligado ao estádio do que ao seu assento. Como a estrutura do estádio foi feita. Você sempre terá assentos de categoria um que estão na fronteira com o setor de categoria dois e assim por diante. Se você está no meio da categoria um, estará longe das demais, mas quando está do lado, estará perto da categoria dois. É assim que funciona, dividimos o estádio em diferentes categorias. Tem muita relação com a demanda. Se temos de repente uma demanda enorme de categoria quatro em vez de categoria três, com certeza aumentaremos o número de categoria quatro. Nosso objetivo é que os estádios estejam cheios, mas a categoria um é fixa, pois realmente são os melhores assentos se você analisar a estrutura do estádio. Não quer dizer que você não terá sol no rosto, não levará chuva, aí depende do teto, da estrutura do estádio.
Mas a categoria um é onde você tem a melhor visão, querendo dizer que você está no meio do estádio. Categoria um quer dizer a melhor visão do campo.
Houve reclamação sobre alguns dos gramados da Copa das Confederações. O que a Fifa fará para prevenir problemas com gramados na Copa do Mundo?
Estamos trabalhando em conjunto com o COL e com os administradores dos estádios. O que faremos é determinar um período de tempo no qual os gramados não poderão ser usados. Estamos trabalhando com uma empresa especializada na grama, uma companhia irlandesa, para assegurar que o estádio e o campo serão usados por um período, protegidos em outro período, se chover demais, ter certeza que o campo não será usado para não ser destruído, então é um processo longo mas posso dizer que a Copa do Mundo terá gramados maravilhosos. Brasília era um gramado novo, que precisava de mais tempo para crescer. Por isso foi bom ter apenas um jogo lá, não destruímos muito o gramado. Haverá um período então que não faremos nada no gramado, algumas semanas, deverá ser o mesmo padrão não da Fifa, mas de todos os estádios, porque os times precisam jogar no mesmo nível de campo.
Qual a dimensão da preocupação da Fifa com atrasos na entrega de estádios para a Copa do Mundo?
Pela primeira vez eu vou dizer isso: eu acho que todas as outras seis cidades, quando viram o que aconteceu na Copa das Confederações, sonharam em ser uma cidade da Copa do Mundo. Não acredito que qualquer uma das outras seis cidades vá deixar de fazer o que tiver de fazer para ser uma sede da Copa do Mundo. A Copa das Confederações abriu a porta para toda essa paixão, esse entusiasmo, esse interesse, que as outras cidades vão dizes: "Não, não, não, temos de estar prontos".
Alguns jornalistas na Espanha acusaram a mídia brasileira de criar histórias para desestabilizar a seleção espanhola. A Fifa sabe o que aconteceu em Fortaleza e Recife com os jogadores da Espanha? A polícia entrou em contato com a Fifa sobre os incidentes?
Há uma investigação em curso, é um assunto para a Polícia Federal. Enquanto estiverem investigando, não vamos intervir. Não vejo sentido em criar ruído entre a Fifa, a seleção espanhola e o Brasil. A Espanha se classificou, é a melhor final que se pode imaginar, os pentacampeões mundiais contra os atuais campeões mundiais, então é a melhor final que se poderia oferecer na Copa das Confederações e todo o resto são histórias que estão com a polícia, há uma investigação, e devemos aguardar o que eles vão dizer.
Como o senhor avalia a infra-estrutura brasileira diante do que foi observado na Copa das Confederações?
Funcionou para a Copa das Confederações, mas obviamente a Copa do Mundo é diferente porque esperamos que muito mais pessoas venham ao Brasil. Então se tivermos a sensação de que precisaremos acrescentar algumas instalações temporárias, devemos fazer. Sei que é um pouco prematuro dizer, mas acho que deveríamos ter mais voos entre o Rio de Janeiro e as cidades que receberão jogos. Deveríamos ter um sistema aéreo mais flexível durante a Copa do Mundo porque se você comparar o Brasil à Alemanha, a maior parte do transporte era por trem ou por carro. Você pode dirigir de Berlim a Munique sem qualquer problema. No Brasil, creio que não há outro meio de transporte entre as cidades sede além dos aviões. Por isso creio que precisaremos de mais aeronaves para facilitar o movimento das pessoas.
Estamos a um ano da Copa do Mundo e não deve haver muitas transformações. O senhor acha que o Brasil, portanto, está preparado para receber 32 seleções diante desse problema de deslocamento a que o senhor se referiu?
Creio que sim. Em primeiro lugar, para as seleções estará sempre certo, porque eles terão uma posição facilitada. Onze meses são suficientes para colocar instalações temporárias. Não estou dizendo que você pode refazer um aeroporto em 11 meses, definitivamente não. Mas você pode adicionar algumas coisas para garantir um modelo operacional mais flexível, mais fácil para todas as pessoas que vierem para o Brasil.
O que o senhor pode dizer sobre a competição em si e qual foi, até agora, o melhor jogador na sua opinião?
O melhor dessas competições, para mim, é o apoio dos brasileiro. Quero dizer, tivemos todos os estádios cheios. Houve um recorde de venda de ingressos. Sempre haverá o México, com o estádio Azteca que cabe 100 mil pessoas, então é diferente, mas o apoio aqui foi único. E definitivamente muito maior do que tivemos em 2009 na África do Sul. A segundo coisa é o sucesso da seleção brasileira. Não somos os únicos criticados. A Seleção foi muito criticada antes do torneio. Quando jogaram contra a Inglaterra, receberam críticas, depois com a França foi melhor, porque venceram por 3 a 0, e quando o torneio começou, em alguns minutos o Neymar marcou um gol em Brasília e foi tipo: "Uau, começamos a competição e os brasileiros estão jogando bem". Esse time está jogando bem, tenho de parabenizar o (Luiz Felipe) Scolari porque ele tem o seu time para a Copa do Mundo. Essa é a minha sensação. Não sou jogador de futebol, mas como um torcedor tenho a sensação de que ele encontrou a equipe.
Outra coisa incrível também é o Neymar. Ele jogou muito bem, não tão bem o último jogo, mas é um jogador maravilhoso, é um jogador brasileiro. Sabe esses jogadores que, quando você ama futebol, você sabe que eles dançam com a bola. Não estão apenas chutando, estão brincando com a bola e é tão bom de ver. Outros times estão jogando muito bem, como a Itália. Então em termos de critérios esportivos é uma grande Copa das Confederações, talvez a melhor até hoje. Com a paixão dos torcedores, o entusiasmo dos brasileiros, o ótimo clima, o Brasil sendo a "Meca" do futebol, os 31 times que se juntarão ao Brasil na Copa, mais todas as pessoas que virão de todo o mundo... Esqueça o que aconteceu, essas fotos que você viu, porque isso não é o Brasil, é parte de uma democracia haver manifestações. Venha para o Brasil no próximo ano. Será o lugar para estar, porque a Copa do Mundo será o evento mais maravilhoso se você ama futebol.
- Esqueça o que aconteceu, essas fotos que você viu, porque isso não é o Brasil, é parte de uma democracia haver manifestações. Venha para o Brasil no próximo ano. Será o lugar para estar, porque a Copa do Mundo será o evento mais maravilhoso se você ama futebol.
Valcke pede mais voos durante a Copa do Mundo entre as 12 cidades-sedes (Foto: Vicente Seda)
Respondendo sobre os gramados, afirmou que a Fifa está trabalhando com uma empresa irlandesa para garantir a qualidade dos campos na Copa do Mundo. Dentro do planejamento, está a proibição de outros eventos que não sejam futebol nas arenas que serão usadas na competição a partir do início de 2014 e ainda o fechamento completo dos estádios semanas antes do início do torneio.
Confira a íntegra da entrevista de Jérôme Valcke ao GLOBOESPORTE.COM:
Quão surpresa ficou a Fifa com os protestos no Brasil? Como esses protestos afetaram a Copa das Confederações e seus patrocinadores já que as manifestações foram exibidas por todo o mundo e relacionadas ao evento?
Eu penso que a surpresa não foi apenas para a Fifa. Quero dizer, foi para o Brasil, o tamanho das demonstrações. As pessoas estavam esperando manifestações, que sempre podem acontecer quando você organiza um grande evento que terá grande atenção da mídia, mas de novo a escala dessas demonstrações foram uma surpresa para todos. Ficamos tão surpresos quanto o governo e todos os outros brasileiros. Isso afetou, não diretamente, a organização. Houve mais segurança no entorno dos estádios, segurança arranjada pelo governo e as cidades-sede, então acho que esse foi o principal efeito das demonstrações populares no que diz respeito à organização da competição em si.
Protesto antes de jogo entre Espanha e Itália em
Fortaleza, pela semifinal (Foto: Reuters)
Fortaleza, pela semifinal (Foto: Reuters)
O senhor considera que houve algum tipo de erro na estratégia de comunicação da Fifa e do governo brasileiro que possa ter contribuído para os protestos? Haverá mudanças nessa abordagem para a Copa do Mundo?
Penso que a Copa das Confederações ou a Copa do Mundo são em parte um pretexto. Se você olhar o ranking das reivindicações das ruas, a Copa do Mundo não está realmente entre as primeiras. Você está falando da luta contra a corrupção, de maior investimento em programas de saúde, em programas de educação e em transporte público. Então, esses são os pontos principais que estão saindo das ruas e das manifestações. A Copa do Mundo é mais... Você acredita que faz sentido ter um evento desse porte enquanto há muitas coisas a se fazer no país? E acho que o governo, através do Aldo Rebelo, explicou muito bem onde a Copa do Mundo fica em meio a esses programas de investimento do governo para desenvolver o país. O Brasil é um país rico, em fase de desenvolvimento, e a Copa do Mundo é um desses eventos, a Olimpíada será outro, como também a visita do Papa e outros eventos que serão organizados nos próximos dez anos. Se você está falando de comunicação, com certeza há uma necessidade de talvez explicar, explicar, e explicar, de novo e de novo e de novo, o que significa para um país a Copa do Mundo, qual o benefício de organizar um evento tão importante, que a Copa do Mundo não está usando dinheiro público. Isso eu acho que tem de estar claro.
A Copa do Mundo em si, os 64 jogos, a organização da Fifa não está usando nenhum dinheiro público. E 90% do dinheiro público, a ser investido de 2007 a 2014, é para infra-estrutura, melhorias para o país, e isso ficará após a Copa do Mundo, após a Fifa deixar o país. Então há uma mistura de coisas ao estabelecer uma base para os protestos, mas acho que sim, o governo deveria explicar para o Brasil, mais e mais, o que o governo está fazendo para o Brasil. Não somos nós que temos de dizer ao governo ou aos brasileiros o que fazer, mas concordamos que nos próximos dias teremos uma reunião sobre comunicação apenas para ter certeza de que há mensagens a serem transmitidas pelas diferentes entidades. Podemos falar de legado, o que está sendo organizado no país, o valor que deixaremos depois da Copa do Mundo, como esse dinheiro deveria ser usado, mas o governo tem de explicar também onde é investido o dinheiro público.
Houve alguns problemas no início da competição com o Uruguai em Recife e com a Itália, no Rio. Também houve questões menores com alguns serviços oferecidos e a retirada de ingressos. De uma maneira geral, quais são os ajustes considerados prioridade para a Fifa para a Copa do Mundo diante do que se observou na Copa das Confederações?
Eu concordo que a Copa das Confederações é um grande evento esportivo. Mas é de fato uma necessidade que nós temos para testar todas essas questões. O que vimos nos seis estádios é que um determinado número de coisas não funcionou. Coisas que não eram importantes para os fãs. Quando o controle de acesso eletrônico não está funcionando, não é um grande problema para os fãs, porque verificamos o ingresso e rasgamos um pedaço. Mas para nós é um problema, porque não temos o mesmo nível de controle e flexibilidade no sistema. Então todas essas coisas que não funcionaram é o que falaremos nos dias 2 e 3 de julho e de novo, a razão principal para que algumas coisas não funcionassem na Copa das Confederações é porque recebemos os estádios um pouco tarde. É por isso que estamos pressionando ao dizer: 23 de dezembro para os estádios, 24 de março para as instalações temporárias.
E a partir daí, também, não devemos ter outros eventos do estádio que não sejam futebol. Temos de proteger o campo. Quando você joga futebol, está ok, porque sabemos como usar o campo e recuperá-lo quando se joga futebol. Mas quando há um show, dez mil pessoas em um gramado coberto com uma sacolá plástica, a grama simplesmente morre e vai levar meses, ou pelo menos semanas, para ter um bom campo novamente. A coisa boa é que a Copa das Confederações deu muitos ensinamentos, não para a Fifa, porque sabemos como é organizar uma Copa do Mundo, mas o governo e o Comitê Organizador Local entenderam todos esses problemas que você potencialmente terá de enfrentar em um novo estádio.
Valcke terá reuniões na próxima semana com Fifa e COL sobre organização da Copa (Foto: Vicente Seda)
Não há possibilidade. Isso sempre acontecerá. Primeiro, é sobre os estádios. Em Brasília você tem a sensação de estar muito perto do campo. Recife é parecido. Já no Maracanã, parece que você está mais longe. Então está mais ligado ao estádio do que ao seu assento. Como a estrutura do estádio foi feita. Você sempre terá assentos de categoria um que estão na fronteira com o setor de categoria dois e assim por diante. Se você está no meio da categoria um, estará longe das demais, mas quando está do lado, estará perto da categoria dois. É assim que funciona, dividimos o estádio em diferentes categorias. Tem muita relação com a demanda. Se temos de repente uma demanda enorme de categoria quatro em vez de categoria três, com certeza aumentaremos o número de categoria quatro. Nosso objetivo é que os estádios estejam cheios, mas a categoria um é fixa, pois realmente são os melhores assentos se você analisar a estrutura do estádio. Não quer dizer que você não terá sol no rosto, não levará chuva, aí depende do teto, da estrutura do estádio.
Mas a categoria um é onde você tem a melhor visão, querendo dizer que você está no meio do estádio. Categoria um quer dizer a melhor visão do campo.
Houve reclamação sobre alguns dos gramados da Copa das Confederações. O que a Fifa fará para prevenir problemas com gramados na Copa do Mundo?
Estamos trabalhando em conjunto com o COL e com os administradores dos estádios. O que faremos é determinar um período de tempo no qual os gramados não poderão ser usados. Estamos trabalhando com uma empresa especializada na grama, uma companhia irlandesa, para assegurar que o estádio e o campo serão usados por um período, protegidos em outro período, se chover demais, ter certeza que o campo não será usado para não ser destruído, então é um processo longo mas posso dizer que a Copa do Mundo terá gramados maravilhosos. Brasília era um gramado novo, que precisava de mais tempo para crescer. Por isso foi bom ter apenas um jogo lá, não destruímos muito o gramado. Haverá um período então que não faremos nada no gramado, algumas semanas, deverá ser o mesmo padrão não da Fifa, mas de todos os estádios, porque os times precisam jogar no mesmo nível de campo.
Qual a dimensão da preocupação da Fifa com atrasos na entrega de estádios para a Copa do Mundo?
Pela primeira vez eu vou dizer isso: eu acho que todas as outras seis cidades, quando viram o que aconteceu na Copa das Confederações, sonharam em ser uma cidade da Copa do Mundo. Não acredito que qualquer uma das outras seis cidades vá deixar de fazer o que tiver de fazer para ser uma sede da Copa do Mundo. A Copa das Confederações abriu a porta para toda essa paixão, esse entusiasmo, esse interesse, que as outras cidades vão dizes: "Não, não, não, temos de estar prontos".
Alguns jornalistas na Espanha acusaram a mídia brasileira de criar histórias para desestabilizar a seleção espanhola. A Fifa sabe o que aconteceu em Fortaleza e Recife com os jogadores da Espanha? A polícia entrou em contato com a Fifa sobre os incidentes?
Há uma investigação em curso, é um assunto para a Polícia Federal. Enquanto estiverem investigando, não vamos intervir. Não vejo sentido em criar ruído entre a Fifa, a seleção espanhola e o Brasil. A Espanha se classificou, é a melhor final que se pode imaginar, os pentacampeões mundiais contra os atuais campeões mundiais, então é a melhor final que se poderia oferecer na Copa das Confederações e todo o resto são histórias que estão com a polícia, há uma investigação, e devemos aguardar o que eles vão dizer.
Como o senhor avalia a infra-estrutura brasileira diante do que foi observado na Copa das Confederações?
Funcionou para a Copa das Confederações, mas obviamente a Copa do Mundo é diferente porque esperamos que muito mais pessoas venham ao Brasil. Então se tivermos a sensação de que precisaremos acrescentar algumas instalações temporárias, devemos fazer. Sei que é um pouco prematuro dizer, mas acho que deveríamos ter mais voos entre o Rio de Janeiro e as cidades que receberão jogos. Deveríamos ter um sistema aéreo mais flexível durante a Copa do Mundo porque se você comparar o Brasil à Alemanha, a maior parte do transporte era por trem ou por carro. Você pode dirigir de Berlim a Munique sem qualquer problema. No Brasil, creio que não há outro meio de transporte entre as cidades sede além dos aviões. Por isso creio que precisaremos de mais aeronaves para facilitar o movimento das pessoas.
Estamos a um ano da Copa do Mundo e não deve haver muitas transformações. O senhor acha que o Brasil, portanto, está preparado para receber 32 seleções diante desse problema de deslocamento a que o senhor se referiu?
Creio que sim. Em primeiro lugar, para as seleções estará sempre certo, porque eles terão uma posição facilitada. Onze meses são suficientes para colocar instalações temporárias. Não estou dizendo que você pode refazer um aeroporto em 11 meses, definitivamente não. Mas você pode adicionar algumas coisas para garantir um modelo operacional mais flexível, mais fácil para todas as pessoas que vierem para o Brasil.
O que o senhor pode dizer sobre a competição em si e qual foi, até agora, o melhor jogador na sua opinião?
O melhor dessas competições, para mim, é o apoio dos brasileiro. Quero dizer, tivemos todos os estádios cheios. Houve um recorde de venda de ingressos. Sempre haverá o México, com o estádio Azteca que cabe 100 mil pessoas, então é diferente, mas o apoio aqui foi único. E definitivamente muito maior do que tivemos em 2009 na África do Sul. A segundo coisa é o sucesso da seleção brasileira. Não somos os únicos criticados. A Seleção foi muito criticada antes do torneio. Quando jogaram contra a Inglaterra, receberam críticas, depois com a França foi melhor, porque venceram por 3 a 0, e quando o torneio começou, em alguns minutos o Neymar marcou um gol em Brasília e foi tipo: "Uau, começamos a competição e os brasileiros estão jogando bem". Esse time está jogando bem, tenho de parabenizar o (Luiz Felipe) Scolari porque ele tem o seu time para a Copa do Mundo. Essa é a minha sensação. Não sou jogador de futebol, mas como um torcedor tenho a sensação de que ele encontrou a equipe.
Outra coisa incrível também é o Neymar. Ele jogou muito bem, não tão bem o último jogo, mas é um jogador maravilhoso, é um jogador brasileiro. Sabe esses jogadores que, quando você ama futebol, você sabe que eles dançam com a bola. Não estão apenas chutando, estão brincando com a bola e é tão bom de ver. Outros times estão jogando muito bem, como a Itália. Então em termos de critérios esportivos é uma grande Copa das Confederações, talvez a melhor até hoje. Com a paixão dos torcedores, o entusiasmo dos brasileiros, o ótimo clima, o Brasil sendo a "Meca" do futebol, os 31 times que se juntarão ao Brasil na Copa, mais todas as pessoas que virão de todo o mundo... Esqueça o que aconteceu, essas fotos que você viu, porque isso não é o Brasil, é parte de uma democracia haver manifestações. Venha para o Brasil no próximo ano. Será o lugar para estar, porque a Copa do Mundo será o evento mais maravilhoso se você ama futebol.
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