Confundido por antigo técnico da Argentina em sua primeira entrevista na seleção, atacante é responsável por desbancar Klose. Na infância, chegou a ser tenista
- Não acho que ele me conhecia na época, mas agora conhece – brincou Müller.
Foi de Müller o primeiro gol da goleada por 4 a 0 que levou a Alemanha às semifinais daquele Mundial - e, claro, por consequência enviou a Argentina para casa mais uma vez nas quartas de final. Ali, Müller já era um sujeito mais confiante, ainda usava meiões na altura da canela - uma marca registrada -, e a perna era fina o suficiente para chamar a atenção, mas ao menos não conhecê-lo só o caso de quem hibernou nas semanas anteriores. Algo impensável para esta terça-feira, dia seguinte ao primeiro hat-trick da Copa no Brasil.
Na
Copa de 2010, Thomas Muller foi a
revelação e faturou a chuteira de
ouro
de artilheiro. Empatado com Villa,
Forlán e Sneijder, ganhou no
primeiro critério de desempate:
número de passes para outros
marcarem.
(Foto: Getty Images)
Messi e CR7 para trás
Os três gols marcados em Portugal credenciam Müller a ser um dos mais temidos do torneio, longe do perfil de surpresa. Não há a grife de um Lionel Messi, Neymar, Balotelli, Drobga ou Van Persie, cinco que também estão entre os candidatos a craque do torneio. Mas hoje é ele quem lidera a corrida pela Chuteira de Ouro, prêmio que recebeu em 2010 depois dos cinco gols anotados - ainda foi eleito pela Fifa o melhor jovem.
Muller levanta mais uma Copa da Alemanha pelo Bayern: Barça e Manchester o querem (Foto: AP)
São oito em Copas do Mundo (em sete jogos, com média de 1,14), o dobro de Messi e Cristiano Ronaldo juntos, por exemplo. Os feitos se estendem ao sétimo hat-trick alemão na competição e à artilharia do país dividida com Rudi Völler. Gerd Müller e Klose lideram, com 14 gols, um a menos que Ronaldo Fenômeno. No total, o camisa 13 soma 20 gols em 50 jogos pela seleção. Está a 17 de alcançar Oliver Bierhoff, atacante nos anos 90 e atual manager da seleção.
- Ele é um atacante muito forte, com muita vontade, e dá tudo de si nos 90 minutos, inclusive nos dias ruins. É o que faz dele muito forte. E também é muito jovem. Espero que os seus companheiros passem bem a bola para ele, pois a fase é boa. Ele tenta durante os 90 minutos estar no jogo. Se ele não está num bom dia tenta fazer alguma coisa com seus companheiros. É difícil para os oponentes tentarem ler o seu jogo, descobrirem o que vai fazer. A atuação mostra que será um dos artilheiros desta Copa. Ele está indo muito bem. É faminto, sempre está onde as coisas estão acontecendo, não desiste nunca, busca soluções e pode fazer esse papel de falso 9 muito bem – destacou Bierhoff.
“Se é Müller, é bom”
Müller precisou de um jogo para desfazer as dúvidas acumuladas por semanas. A Alemanha, tão tradicional com atacantes como Gerd Müller (a quem já foi comparado pelo próprio), Rudi Völler e Jürgen Klinsmann, começou pela primeira vez uma partida de Copa sem aquela referência. Não fez a menor falta. Müller correu, se movimentou, disparou em diagonais e, principalmente, esteve no lugar certo na hora certa. Não precisou ser centroavante. Os alemães costumam dizer que “se é Müller, é bom”.
- Ele sente o cheiro da situação quando ninguém espera para estar lá. É um fenômeno – elogiou o zagueiro Mertesacker.
- Para o oponente é difícil interpretar o que ele vai fazer. É imprevisível. A única coisa sobre a qual temos certeza é a vontade dele de fazer gols. É um jogador com instinto de provocar situações perigosas para os oponentes – opinou o técnico Joachim Löw.
Thomas Muller na Eurocopa em 2012
numa ação do patrocinador: momento
de descontração (Foto: Getty Images)
A discussão passa por Miroslav Klose. Há uma curiosidade nesta história: foi substituindo o atacante que Müller fez a sua estreia no time profissional do Bayern, em 15 de agosto de 2008. De imediato, ele se tornou peça fundamental no time de Louis van Gaal, garantiu-se como titular sem ter completado 20 anos sequer e só não é incontestável no elenco de Pep Guardiola por conta da presença de outras estrelas como Ribéry, Robben, Götze, Mandzukic, entre outros. Ainda assim, encerrou a temporada com 26 gols e 15 assistências, participando de 51 das 56 partidas dos bávaros (40 como titular). Qualquer insatisfação ou especulação sobre o seu futuro - Barcelona e Manchester United mostraram-se interessados - foi jogada para o espaço com a recente renovação de contrato até 2019 e o aumento salarial.
Contra Portugal, felicidade plena com
os três gols na goleada por 4 a 0:
jogador começa bem a Copa (Foto: AP)
- O clube me convenceu de que eu estou no lugar certo, e tenho o sentimento de que sou um importante componente nos planos do Bayern.
De certa forma, o mesmo aconteceu na seleção alemã. Klose não foi utilizado nem no segundo tempo, quando a Alemanha já tinha resolvido o jogo. Ultrapassar o recorde de Ronaldo passou a ser secundário diante do poderio ofensivo de Müller. E pensar que ele foi um jogador a estourar “tarde”, sem ter participado da equipe que conquistou a Eurocopa Sub-21 em 2009, onde apareceram Manuel Neuer, Jérôme Boateng, Sami Khedira e Mesut Özil.
Raquete pela chuteira
Müller de fato poderia nem estar jogando futebol. Não é alto, não é forte. É esguio, o que o assemelha a um jogador de tênis. “Se não posso contar com os atributos físicos, tenho de usar a cabeça e fazer os movimentos necessários”, reconheceu após o jogo. E não é que teria chances de dar certo?
Thomas Muller com a esposa, Lisa:
craque trocou a raquete de tênis
pela chuteira (Foto: Getty Images)
- Eu sempre queria ganhar tudo o que fosse imaginável, desde criança. Não importa onde ou o que eu competia, mas tinha de ser campeão. Com 12 anos eu ganhei um torneio de tênis contra adultos. Foi o máximo – contou ao jornal "Süddeutsche Zeitung".
Bierhoff não economizou nas palavras para descrevê-lo:
- É um cara especial. Sempre tem um comentário irreverente, é muito feliz e ambicioso. Ele realmente quer vencer, e essa é a nossa filosofia. Mas também queremos relaxar um pouco, nem sempre levar as coisas tão a sério. Podemos nos apoiar nele totalmente.
Atualmente, Müller se dedica ao tênis apenas nos momentos livres. A modelo e esposa Lisa, com quem se casou em 2009, costuma ser uma adversária implacável. Quando criança, também buscou realizações em outros esportes, como natação (não considera divertido) e polo aquático. “Se uma bola está em jogo é diferente”, brincou.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2014/06/ex-gandula-de-maradona-muller-dobra-gols-da-dupla-messi-e-cr7.html