Após trabalhos de sucesso no futebol masculino, treinador elogia ambiente sem estresse e já vislumbra medalha de ouro olímpica: "Maior feito da minha carreira"
O convite era direto: trocar a carreira consolidada no futebol masculino pelo desafio de liderar a seleção brasileira feminina rumo ao maior objetivo da história. O que seria dúvida para alguns virou certeza na cabeça de Oswaldo Alvarez. Na hora, o técnico topou a missão. Deixou a Ponte Preta, passou a observar futuras jogadoras, organizou convocações em cima da hora e moldou o grupo em duas semanas para a Copa América. Agora, como campeão continental, admite: está apaixonado pelo ambiente, pelo tempo que tem para trabalhar, pela ousadia do projeto, por fazer algo que ninguém fez. Só que, para ser campeão daqui dois anos, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ele sabe que precisa de Neymar ao seu lado. Que, na categoria, atende pelo nome de Marta.
Vadão exibe medalha de campeão da
Copa América durante entrevista,
em Campinas: satisfação (Foto:
Murilo Borges)
O treinador tentou tê-la ao seu lado durante a Copa América, mas não conseguiu a liberação do Rosengard, da Suécia. Sem a referência da equipe há anos, Vadão fez o papel de olheiro ao redor do Brasil, atrás de jogadoras capazes de superar a ausência da craque. Fez mais que isso. Conseguiu resgatar o futebol de Cristiane, sem apoio de CBF ou clube para manter a forma física, e montou um time avassalador em todos os aspectos. Não à toa, a Seleção acabou o torneio com o melhor ataque (22 gols em sete jogos) e a defesa menos vazada (três vezes).
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– Falei para as jogadoras que não podíamos supervalorizar a ausência da Marta. Nós queríamos tê-la, mas não foi possível. Aliás, não só dela, mas também da Debinha e da Rosana, que jogam na Noruega. Para nós, a Marta tem o mesmo peso do Neymar para o time masculino – compara Vadão, com a experiência de quem, no futebol masculino, ajudou Rivaldo a ganhar destaque nacional, com a camisa do Mogi Mirim, e revelou o jovem Kaká no São Paulo.
O convite deu um friozinho na barriga, mas foi ele que me levou. Foi um oxigênio novo para a carreira"
Vadão
– Nunca xinguei atleta, mas palavrão é normal no futebol. Cheguei até meio receoso, não queria parecer grosseiro. Mas elas falam mais palavrão que eu (risos) – brinca o experiente treinador, que também adaptou a rotina de treinos. Com ele, a Seleção dá muita atenção à bola parada e marca sob pressão, para evitar que os adversários joguem em cima. Adiantar a linha defensiva força o rival ao chute de longe, que no futebol feminino, costuma ser improdutivo.
Medalha de ouro da Copa América, ganha
pelo Brasil de maneira quase invicta:
só uma derrota (Foto: Murilo Borges)
A tática é diferente, mas a rotina de trabalho é a mesma. Vadão transferiu o comportamento "paizão" nos times masculinos para as meninas. Até agora, tem funcionado. Os próximos passos serão mais difíceis. A temporada 2015 reserva Pan-Americano e Mundial, ambos no Canadá, e Torneio de Algarve, em Portugal. Tudo serve de preparação para o prêmio maior, os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano seguinte. É lá que o técnico quer chegar, para coroar a nova fase e retribuir o que o futebol feminino fez a sua vida.
– Toda vez que você se compromete com um desafio acima do que já fez bate um friozinho na barriga. Mas foi justamente ele que me empurrou. Foi um oxigênio novo na minha vida, na minha carreira. Eu respirei bem de novo, a minha carreira mudou. Me emocionei demais com o convite. Se ganharmos, será sem dúvida o maior feito da minha carreira – sonha Vadão.
Comandante pode ser o primeiro a
conquistar a medalha de ouro
pela seleção brasileira de
futebol (Foto: Murilo Borges)
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