São 19h10m em Nova York, e Feliciano López aparece no telão durante sua
entrevista pré-jogo. Pouco depois, é a vez de Andy Murray, e enquanto o
britânico fala, os primeiros aplausos são ouvidos na plateia. Quando os
dois entram em quadra, a bandana e as munhequeiras de López o deixam
parecido com Rafael Nadal. Não fosse o telão, na outra extremidade do
estádio, seria difícil reconhecê-lo. Murray é minúsculo, e seus traços
são irreconhecíveis. Assim é a visão da fileira Z, a última do Estádio
Arthur Ashe, o maior do planeta feito para o tênis, com 23.767 assentos.
Será que a pior vista é também o pior lugar do mundo para ver uma
partida?
Vista da fileira Z, a última do Estádio Arthur Ashe (Foto: Alexandre Cossenza)
Para tirar a dúvida, o GLOBOESPORTE.COM passou uma noite no topo do
Arthur Ashe e conversou com espectadores que foram ao complexo de
Flushing Meadows no domingo. O resultado é unânime: não são os ingressos
dos sonhos de nenhum fã da modalidade, mas ninguém sai do US Open
insatisfeito com o que viu (ou não viu) lá do alto.
Quando Murray e López começam o aquecimento, é possível enxergar a bola
perfeitamente. O contraste da amarelinha com o piso ajuda. O áudio, por
outro lado, pode ser um problema. O saque é fácil de ouvir, mas o som
dos golpes mais fracos não chega tão nítido. Saber ao certo se algumas
bolas quicaram dentro ou fora da quadra é impossível, mas o mesmo vale
para 90% dos outros assentos. Com a potência do tênis atual, só mesmo os
árbitros, colocados estrategicamente na quadra, têm capacidade para
fazê-lo.
Foi ótimo. Não é uma vista ruim. Você não está colado na quadra, mas
consegue ver o que está acontecendo, não perde nada. Além disso, não tem
ninguém atrás de mim."
James Delena, espectador
Sentar no terceiro nível do estádio tem um grande inconveniente. Chegar
até lá requer subir 52 lances de escada (dois para cada letra do
alfabeto). Para compensar, uma vantagem: o lugar é tão alto que a
movimentação de pessoas não atrapalha os atletas. Assim, não é preciso
esperar a troca de lados para entrar ou sair. Ninguém passa aperto para
ir ao banheiro. E o Ashe tem muitos deles - todos quase sempre em boas
condições de uso.
Os organizadores tratam uma visita a Flushing Meadows como uma
"experiência", e ela fica ainda melhor para quem tem um smartphone ou um
tablet. O aplicativo do torneio dá informações de toda espécie sobre o
evento. É possível conferir a chave ou o placar dos jogos nas outras
quadras. Se a conexão for 4G (bastante popular nos EUA), dá para ver
nitidamente um dos outros jogos sendo disputados ao mesmo tempo em
outras quadras. Neste domingo, na Grandstand, Sam Stosur e Maria
Kirilenko disputaram um emocionante tie-break no segundo set. Um clique
no aplicativo colocava as belas tenistas na frente do dono do aparelho.
Murray domina López, e a partida não fica parelha em momento algum.
Mesmo assim, o telão mantém os espectadores entretidos durante os
intervalos. Ainda há a opção de ouvir a rádio do torneio. Uma bandeira
de cartão de crédito distribui fones de ouvido para que seus clientes
tenham acesso aos comentários dos locutores.
Várias pessoas deixam a quadra quando o escocês vence o segundo set.
Vão às compras nas lojas oficiais do torneio ou no estande da marca que
vende produtos iguais aos usados por Roger Federer, Rafael Nadal, Maria
Sharapova e Serena Williams. Outros param em uma das várias lanchonetes
no anel externo do Ashe. Pit-stops nos banheiros também são opções
populares. Muitos correram para a Grandstand para ver o fim de Stosur x
Kirilenko. O mais importante é que para todas essas opções, o ingresso
da fila Z vale tanto quanto o ingresso de quem está sentado na beira da
quadra.
Atrás de James e Stephanie, apenas o muro e o poste de iluminação do estádio (Foto: Alexandre Cossenza)
- Foi ótimo. Não é uma vista ruim. Você não está colado na quadra, mas
consegue ver o que está acontecendo, não perde nada. Além disso, não tem
ninguém atrás de mim. Às vezes, é só uma questão de vir para os jogos.
Aqui, por algum motivo, os jogos são transmitidos em um canal só de
tênis. Então eu não poderia ver de casa porque não tenho esse canal.
Aqui, já estou vendo. Esta vista é melhor do que não ver nada - disse
James Delena, que foi acompanhado da namorada, Stephanie, e pagou US$ 55
(R$ 90) por cada bilhete.
Delena ainda festejou o fato de ter encontrado a ex-tenista Mary Joe
Fernandez no complexo e comprou camisetas para lembrar de lembrança da
visita. "Sempre que se vai a um evento desses, é preciso comprar algo",
ressaltou.
Murray já derrotou López, e Vera Zvonareva vai passando com facilidade
por Sabine Lisicki no segundo jogo da noite. O DJ mantém o público
animado. Ainda são 23h em Nova York, mas Thriller, de Michael Jackson,
no sistema de som, lembra:
it's close to midnight ("é perto de meia-noite). Várias pessoas imitam a coreografia famosa.
Mais uma quebra de saque e a partida acaba. É hora de descer as
escadas. Além dos 52 lances até o anel externo, mais uma centena até o
térreo. As escadas rolantes da subida não são usadas para descer. Há,
porém, elevadores para os idosos. Na saída, ainda há lojas abertas, o
metrô está funcionando e os ônibus param no portão sul do complexo.
Chegar em casa é seguro e o trânsito de Nova York, pelo menos nesta
hora, vai colaborar.
FONTE>
http://sportv.globo.com/site/eventos/US-Open/noticia/2011/09/fileira-z-pior-vista-do-mundo-vale-experiencia-divertida-no-us-open.html