Após apitar
apenas uma partida no Brasileirão e não participar de testes físicos e
teóricos, Guilherme Ceretta é afastado e dispara contra Comissão de
Arbitragem
Por Emilio Botta
Sorocaba, SP
Guilherme Ceretta de Lima não apitará mais pela CBF (Foto: Divulgação)
Eleito
o melhor árbitro da última edição do Campeonato Paulista, Guilherme
Ceretta de Lima parece ter perdido a esperança de ter reconhecimento
nacional e internacional. Um dos aspirantes indicados no país ao quadro
da Fifa, o árbitro anunciou que não apitará mais pela Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) enquanto a Comissão Nacional de Arbitragem
(Conaf) for comandada por Sérgio Corrêa.
– Desde que os critérios começaram a não ser coerentes, não demonstrarem
segurança para poder participar deste grupo, prefiro ficar apenas na
FPF [Federação Paulista de Futebol]. Na Federação temos o suporte grande
do coronel Marinho, que tem muita credibilidade, controle, critério e,
além de tudo, é um ser humano que não mistura o pessoal com o
profissional.
O estopim para Guilherme Ceretta desistir do
quadro nacional de árbitros veio após deixar de participar da escala do
Campeonato Brasileiro. Na atual edição, apitou apenas um jogo: a
vitória do Flamengo sobre o Coritiba,
válido pela sétima rodada. A não expulsão do atacante Wellington
Paulista, que ofendeu o auxiliar Marcelo Van Gasse, resultou em um
afastamento temporário
(confira o lance no vídeo, clicando no LINK da FONTE no final da Postagem abaixo).
Depois disso, acabou não participando de outros sorteios e se
ausentando dos testes físicos e teóricos, critérios para seguir dentro
da escala. Para Ceretta, a punição imposta pela CBF foi exagerada, e
isso fez com que ele tomasse a atitude de não seguir mais apitando
pela entidade.
Pela
CBF, enquanto a gente tiver esse tipo de pessoas no comando, em que os
critérios não sejam bem definidos, que fica colocando em dúvida todo
esse processo, eu prefiro ficar fora dele. Continuo apitando em São
Paulo, sendo comandado por pessoas que têm caráter."
Guilherme Ceretta de Lima.
–
O erro faz parte. Da mesma forma que um jogador perde um pênalti e não
fica fora de partidas subsequentes. O puxão de orelha nos ajuda e a
gente aprende muito com os nossos erros, individualmente mesmo. Não
precisa ninguém falar nada porque sabemos quando vamos mal. A punição é
mais pessoal do que profissional. Desde 2014, minhas escalas diminuíram e
chegou ao ponto de eu decidir ficar fora. Eu vinha em uma sequência
legal, fiz um Paulista de bom para ótimo, cheguei a receber o prêmio de
melhor árbitro, fiz a final do campeonato e por alguns critérios, na
minha opinião considerados abaixo do ideal, preferi não dar continuidade
no processo de testes e provas perante à CBF. Quando a gente tem um
grupo trabalhando de alguma forma errada ou sendo influenciado, o
comando acaba sendo um pouco confuso – disse o árbitro.
Sem
integrar mais o quadro nacional, a única chance de Ceretta voltar a
apitar pela CBF é no caso da Federação Paulista de Futebol (FPF), por
onde apita atualmente, indicá-lo na próxima temporada. Se isso não
acontecer, o árbitro não poderá apitar partidas de competições nacionais
em 2016. Aos 31 anos, Ceretta tinha grande chance de integrar o quadro
de árbitros da Fifa no próximo ano. O último jogo apitado por ele foi no
dia 12 de julho, no duelo entre Portuguesa Santista e Taboão da Serra,
válido pela quarta e última divisão do futebol profissional de São
Paulo.
Guilherme Ceretta de Lima deve seguir
apitando apenas no estado de São Paulo
(Foto: Marcos Ribolli)
Confira abaixo outros trechos da entrevista com o árbitro Guilherme Ceretta de Lima:
Como avalia o nível da arbitragem brasileira neste ano?
–
Na maioria está sendo boa. Existe algumas revelações interessantes.
Acho que o problema é quando você abre muito o leque, a qualidade acaba
diminuindo. Com esse critério de fazer política com todos os estados
para agradar, acaba dando brecha para que a qualidade diminua além do
normal e a gente acabe tendo alguns erros que, para um campeonato com a
qualidade que temos, não poderia estar acontecendo. A culpa não é só de
uma pessoa, é um processo dentro da arbitragem que atrapalha um pouco a
qualidade e, principalmente, a sequência de um trabalho.
Pensa em puxar um movimento de árbitros no Brasil, buscando a profissionalização? Conversou com outros árbitros?
–
Eu não penso nisso. Acho que poucas pessoas terão força para que isso
possa acontecer. As coisas são interligadas entre uma entidade e outra
que nos defende, e vejo isso como uma tentativa frustrada. Ninguém que
esteja dentro do meio e pense em fazer algo neste sentido, teria força
suficiente para acabar com esse tipo de critério ou forma como ele é
inserido no futebol. Não passa pela minha cabeça criar qualquer coisa,
prefiro pensar individualmente e acho que se as pessoas não tivessem que
correr tanto atrás desse sonho, ficaria mais fácil.
Pensa em abandonar a arbitragem?
–
Pensei, mas são coisas que a gente gosta de fazer. São quase 15 anos de
arbitragem e isso faz com que a gente tenha prazer. Pela CBF, enquanto a
gente tiver esse tipo de pessoas no comando, em que os critérios não
sejam bem definidos, que fica colocando em dúvida todo esse processo, eu
prefiro ficar fora dele. Na Federação Paulista temos um comandante que
tem um critério, inteligente, muito bem resolvido e que todo mundo
respeita. Continuo apitando em São Paulo, sendo comandado por pessoas
que têm caráter.
Sérgio Corrêa, presidente da Conaf (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Sobre
a desistência de Ceretta em participar da escala de árbitros do
Brasileirão, o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa da Silva, afirma que a
opção foi única e exclusivamente do árbitro. A não participação nos
testes de rotina para seguir apitando foram determinantes para a
exclusão do seu nome dos sorteios no restante do Campeonato Brasileiro.
–
O Ceretta foi promovido por nós como aspirante à Fifa, foi considerado o
melhor árbitro do Paulistão e vinha sendo utilizado. Ele acabou fazendo
dois jogos muito abaixo das suas atuações no estadual, em ABC x
Paysandu na Copa do Brasil, e Coritiba x Flamengo pelo Brasileirão, que
acabaram deixando ele de fora de algumas escalas. Mas o que ocasionou
sua saída do sorteio foi a ausência nos testes físicos e teóricos
promovidos por nós em julho. Não posso usar um árbitro que não passou
por procedimentos que todos os outros passaram, isso seria falta de
critério – disse o comandante da escala da comissão de arbitragem.
Sérgio
Corrêa ainda cita os exemplos de Héber Roberto Lopes e até mesmo de
Wilson Luiz Seneme, que acabou ficando fora de uma Copa do Mundo por não
conseguir passar nos testes impostos pela entidade. Ainda segundo o
presidente da Conaf, regularmente Ceretta pedia dispensa da escala.
–
Ele sempre pedia dispensa da escala e, por não ser profissional, nós
nunca exigimos ou cobramos algo dele. Tínhamos a esperança de tê-lo como
árbitro da Fifa, pois tem idade e muita qualidade, mas isso não basta.
Árbitro não é igual um jogador quando é craque, que não precisa treinar.
O nosso caso é diferente, é necessário estar sempre estudando e se
aprimorando. Ele não pode transferir a responsabilidade para nós, é uma
opção dele – explicou Sérgio Corrêa.
Presidente da comissão
de arbitragem do estado de São Paulo, o coronel Marinho, elogiado por
Ceretta, diz que a decisão de deixar o quadro da CBF é uma decisão
pessoal do árbitro e que deve ser respeitada.
– Eu agradeço as
palavras do Guilherme Ceretta, um grande árbitro. Trata-se de uma
decisão pessoal do árbitro, que devemos respeitar – avalia Marinho.
Na
decisão do Campeonato Paulista deste ano, Ceretta acabou se envolvendo
em confusão após expulsar o atacante Dudu e o meia Geuvânio, após os
dois jogadores se desentenderem na entrada da área. Depois de receber o
cartão vermelho, em lance com o santista, o atacante do Palmeiras deu um
empurrão no juiz antes de seguir para o vestiário.
Denunciado
por agredir o juiz durante o clássico na Vila Belmiro, o jogador foi
condenado a 180 dias de suspensão. Após recurso, o atleta teve a pena
reduzida para apenas seis jogos, o que
causou revolta no árbitro.
Ceretta acabou sendo empurrado por
Dudu após expulsá-lo na final do
Paulistão deste ano (Foto: Daniel
Teixeira/Estadão Conteúdo)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/sp/sorocaba/futebol/noticia/2015/10/melhor-arbitro-do-paulistao-abandona-quadro-da-cbf-e-critica-sergio-correa.html