Modalidade investe alto em estrutura de treinamento, acumula títulos mundiais e, com a atenção voltada para a base, torna-se exemplo para outros esportes
Ouro em Londres 2012, Sarah Menezes é uma das estrelas do judô brasileiro (Foto: Thierry Gozzer)
Dentro e fora do tatame, o judô se tornou um dos carros-chefes do esporte brasileiro em competições internacionais na última década, e já desponta como esperança de medalhas nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. A partir desta segunda feira, a cidade também se torna palco para o Campeonato Mundial de Judô, que será disputado no ginásio do Maracanãzinho até o próximo domingo.
Com uma ampla lista de patrocinadores e um orçamento anual de R$ 30 milhões, a CBJ conseguiu ampliar sua estrutura física, reforçar o quadro de funcionários e membros da comissão técnica, e também aumentar a assiduidade de atletas brasileiros em eventos internacionais. No ano passado, os judocas da seleção principal fizeram 52 viagens, contra apenas quatro em 2001. Os brasileiros marcaram presença em 17 torneios (quatro internacionais), contra seis no início da década passada. A oportunidade de competir com mais frequência também se refletiu na quantidade de títulos e vitórias.
O Brasil conquistou nove medalhas olímpicas entre Atenas 2004 e Londres 2012 - uma de ouro e oito de bronze. Em três ciclos olímpicos, o país quase repetiu a quantidade de pódios acumulados de Munique 1972 a Sydney 2000 - no período de 28 anos, o judô brasileiro somou 10 medalhas: dois ouros, três pratas e cinco bronzes. Nos Mundiais adultos, a evolução é ainda mais expressiva: são 18 medalhas (quatro ouros, cinco pratas e nove bronzes) vencidas entre 2003 e 2011, contra 10 (duas pratas e oito bronzes) no intervalo de 1971 a 1999.
Fonte: CBJ
- O principal foco permanece nos Jogos Olímpicos, e todo o trabalho que realizamos a cada ciclo tem como objetivo a conquista de medalhas. Mas este é um processo circular: as medalhas trazem resultados, que atraem patrocinadores. Se estes recursos forem bem aplicados, conseguimos melhorar nossa estrutura, e então desenvolver atletas mais competitivos, que consequentemente terão mais chances de chegar ao pódio olímpico. É tudo questão de planejar no longo prazo, sem se esquecer do momento atual - explicou o presidente da CBJ.
- O judô se encaixa num grupo de modalidades que consideramos “vitais” para alcançarmos nossas metas. Ações de suporte para atletas e treinadores, como pagamento de viagens, intercâmbios, contratação e capacitação de treinadores, suporte na área de Ciências do Esporte, entre outras, estão sendo colocadas em prática no dia a dia para desenvolver ainda mais a modalidade. É um dos nossos carros-chefes para 2016. Os resultados demonstram isso - destacou o diretor executivo de Esportes do COB, Marcus Vinicius Freire.
Os expressivos resultados obtidos pelos judocas brasileiros na última década, especialmente na campanha recordista dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, com um ouro e três bronzes, são decorrentes de uma “reforma política” que fez da CBJ um modelo de referência para outras confederações desportivas do Brasil. A maioria das entidades que administram o esporte brasileiro ainda enfrenta dificuldade para consolidar uma base forte e investir em estrutura de treinamento.
Fonte: CBJ
A estratégia de Paulo Wanderley Teixeira, que preside a CBJ desde 2001, é desenvolver os talentos que despontam como promessas, mas sem colocar a preparação dos atletas que já conquistaram notoriedade em segundo plano. Os judocas brasileiros que disputam campeonatos profissionais de âmbito internacional conseguem trazer resultados mais imediatos, que atraem a iniciativa privada. As grandes empresas se interessam principalmente pelos lutadores consagrados, mas a CBJ destina os recursos de editais e leis de incentivo estatais para a base, como forma de compensar essa disparidade.
Fonte: CBJ
Para o ex-judoca João Derly, bicampeão mundial da categoria meio-leve, o investimento na base foi fundamental para perpetuar a boa fase do judô brasileiro. O gaúcho, que se tornou o primeiro brasileiro a conquistar um ouro no Mundial da categoria principal, no Cairo, em 2005, repetindo o feito dois anos depois, no Rio de Janeiro, ressaltou a importância de fomentar o esporte a partir de uma base sólida.
- Estamos num processo de evolução, principalmente na parte de investimento. Isso é uma conquista. Antes, tínhamos grandes dificuldades. Tínhamos que viajar fazendo pacote e procurar outras formas de pagar as viagens. Hoje você vê equipes de base viajando pela Confederação. Temos que ter um cuidado especial com a base - destacou o ex-judoca.
A notoriedade obtida pelos judocas brasileiros nos tatames internacionais desencadeou o surgimento de novos ídolos do esporte, que experimentaram uma popularidade semelhante à de Aurélio Miguel e Rogério Sampaio, donos de medalhas de ouro em Seul 1988 e Barcelona 1992, respectivamente. João Derly, Tiago Camilo, Mayra Aguiar, Leandro Guilheiro e Leandro Cunha, entre tantos outros lutadores de renome nacional e internacional, reacenderam o interesse pela arte marcial, que andava em baixa após os resultados irregulares que dominaram o cenário esportivo do final dos anos 1990.
Fonte: CBJ
A próxima meta é garantir um ouro feminino no Mundial do Rio - único título que permanece inédito para o judô brasileiro.
- O Mundial desse ano vai ser um parâmetro para que possamos avaliar o nosso trabalho rumo a 2016. Os resultados vão nos dizer onde estamos acertando, e também os aspectos que precisamos mudar. A grande ambição é conquistar um ouro no feminino, para derrubar o último título que a gente ainda não tem. Nosso retrospecto recente nos dá uma perspectiva muito positiva. O Japão ainda é a grande estrela do judô mundial, mas estamos em busca de resultados excepcionas para cravar nossa marca entre as maiores potências - avaliou Paulo Wanderley Teixeira.
Paulo Wanderley preside a Confederação Brasileira de Judô desde 2001 (Rodrigo Faber/Globoesporte.com)
Fonte: CBJ
Para João Derly, o atual cenário do judô brasileiro também aponta para a “descentralização” do esporte, a partir da criação de mecanismos que permitem seu desenvolvimento em todas as regiões do país. Apesar disso, o bicampeão mundial alerta para a necessidade de destinar mais investimentos na preparação dos atletas. O Centro de Excelência e Treinamento Pan-Americano de Judô, que deve ser inaugurado até 2014 em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador (BA), é o primeiro passo em direção a esse objetivo.
- Outra coisa importante foi a nacionalização do judô. A Sarah, que é do Piauí, é campeã olímpica. A CBJ descentralizou o judô nacional. Isso é uma grande vitória. Temos atletas surgindo em várias partes do país. Já temos uma condição melhor, mas ainda temos que evoluir. Não podemos nos contentar. Precisamos canalizar melhor o orçamento da equipe, ter o centro de treinamento, que já está saindo. Um local fixo. Estamos caminhando para isso - opinou o ex-judoca.
Além de conquistar o primeiro ouro feminino, a delegação brasileira tentará subir ao pódio do Mundial do Rio pelo menos seis vezes, para superar o resultado obtido na edição de 2011, disputada em Paris, quando ficou com duas pratas e três bronzes. O país estará representado por 18 judocas, incluindo os medalhistas olímpicos Felipe Kitadai, Rafael Silva, Ketleyn Quadros, Sarah Menezes e Mayra Aguiar. Veja a programação completa.
No Mundial do Rio, Mayra Aguiar é esperança de ouro na categoria meio-pesado (Thiago Lavinas/SporTV.com)
http://globoesporte.globo.com/judo/noticia/2013/08/caso-de-sucesso-judo-brasileiro-se-consolida-como-referencia-para-2016.html
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