Foram seis anos de
mandato. Dois títulos estaduais. Uma vaga na Libertadores. Ele contratou
Seedorf. Revelou Dória, Gabriel e Vitinho. Tornou o Engenhão um estádio
lucrativo. Como é possível que, ao deixar a cadeira de presidente do Botafogo,
o dentista Maurício Assumpção saia tão rejeitado? Que ele sequer tenha
tido coragem de, na reta final de seu mandato, assistir aos jogos do time no
estádio? Que esteja sendo considerado o pior presidente da história por alguns
torcedores?
CAPÍTULO I
Dossiê Botafogo
CAPÍTULO II
No ar: 16/12
CAPÍTULO III
No ar: 17/12
CAPÍTULO IV
No ar: 18/12
A
resposta está
numa série de erros cometidos já em seu primeiro mandato – que se
agravaram no segundo e explodiram em 2014. Mesmo pagando mais de R$ 100
milhões em dívidas de presidentes anteriores, Assumpção se perdeu. A
tentativa de conquistar um título nacional e cumprir as promessas de
campanha – contratar um jogador de "fechar aeroporto" e construir CTs
para a base e para o profissional – fez com que o Botafogo gastasse
muito mais do que arrecadava. Assumpção deixou de pagar encargos
salariais e recolher impostos. Perdeu a confiança da Receita Federal e
do Tribunal Regional do Trabalho. Por fim, terminou sua gestão de forma
clandestina, sem confiança nem de seus departamentos jurídico e
financeiro.
A contratação de Seedorf, em julho de 2012, foi um
marco em todos os sentidos. A torcida adorou, a mídia elogiou, mas nos
bastidores ela sinalizava uma aposta. Como um clube que não pagava
encargos e driblava dívidas podia fazer a maior contratação do futebol
brasileiro? Assumpção apostava no Proforte, que não veio. Vieram as
penhoras e o estrangulamento do clube agravado pelo descontrole
financeiro na gestão do futebol.
O GloboEsporte.com
ouviu jogadores, dirigentes, empresários, treinadores e profissionais que
passaram pelo clube nos últimos anos para entender a destruição alvinegra. E
explicar como o clube que começou 2014 na Taça Libertadores chegou a
dezembro rebaixado, com oito meses de salários atrasados e uma dívida que
ultrapassa R$ 700 milhões.
1 – A primeira
gestão
O clube que
Maurício Assumpção recebeu em 2009 vivia sérios problemas. O elenco
profissional tinha quatro jogadores sob contrato. A base, apesar do esforço de
alguns profissionais, não tinha apoio algum. Ele assumiu como candidato único,
mas rapidamente brigou com seus dois principais pilares políticos: o Movimento
Carlito Rocha e o grupo que viria a se tornar o "Mais Botafogo".
Os
primeiros se sentiram traídos na eleição, quando Maurício trocou a
vice-presidência jurídica. O "Mais Botafogo" abandonou a gestão ainda no
início, numa renúncia coletiva de vice-presidentes. A gestão se baseou
num tripé de profissionais: Sérgio Landau (diretor executivo), Renato
Blaute (diretor financeiro) e Anderson Barros (gerente de futebol
profissional).
Os dois últimos responderiam aos
vice-presidentes Cláudio Good (financeiro) e André Silva (futebol). Good
saiu ainda em 2009, e o vice-geral Antonio Carlos Mantuano acumulou o
cargo até que, em 2010, Marcelo Murad assumisse. Em 2011, Blaute brigou
com Landau, e Murad deixou de ser vice financeiro para assumir como
diretor. Mantuano ficaria como vice geral até a eleição de 2012, quando
brigaria com Maurício e passaria a ser oposição.
Mauricio Assumpção comemora eleição à
presidência do Botafogo em 2008
(Foto: André Durão)
2 – Divisão entre
base e profissional
As divisões de base seriam a joia
da coroa da gestão Assumpção. Ao contrário de Bebeto de Freitas, que
não ia a Marechal Hermes, o novo presidente frequentava jogos, dava
palpites e até preleções. Sempre apoiado em seus dois homens de
confiança: Bernardo Arantes e Sidnei Loureiro.
Bernardo, que antes trabalhava com o agente FIFA Pedro Cabral,
ficou responsável por contratos e contatos. Sidnei chegou como coordenador
técnico, ganhando R$ 28 mil. Acima dele havia o diretor Marcelo Calumby,
o gerente Humberto Redes e seu auxiliar, Coronel Ronaldo. Em três meses, Redes
e Ronaldo foram ejetados.
– Nós chegamos com
muito gás, e eles não estavam no mesmo pique – disse Sidnei Loureiro, anos
depois.
Ainda em 2009, Calumby resolveu ir embora quando
contestou uma viagem da base para a Holanda, bancada por empresários em
troca de percentual de jogadores. A viagem havia sido autorizada por
Maurício. Calumby percebeu que não mandava nada e saiu, deixando a base
sem diretor.
Coordenador técnico, Sidnei Loureiro conversa
com Mauricio Assumpção (Foto:
GloboEsporte.com)
3 – Prospecção
Bernardo Arantes
começou a fazer trabalhos de prospecção de contratos de base em litígio. Com
isso, trouxe Daniel (do Cruzeiro) e Dankler (do Vitória). Graças às parcerias,
o Botafogo pegou vários bons jogadores. Gabriel veio do Paulínia-SP, e Vitinho, do Audax. Em virtude dos contatos de
Anderson, Jádson e Gilberto chegaram via MFD quando o CFZ foi desativado. E Caio estava no Volta Redonda.
O lado ruim: o
percentual do clube em boa parte dos jogadores da base era em média de 50%.
Dória, revelado no clube, tinha 40% de seus direitos vinculados ao Niterói
Futebol Clube, de seu empresário Jolden Vergette. Caio, por conta de dívidas
com seu empresário Reinaldo Pitta, tinha apenas 8% dos direitos vinculados ao
clube.
Com investimento,
a base do Botafogo melhorou tecnicamente. O time foi campeão de juniores em
2011 usando vários jogadores que tinham ficado da gestão anterior, como
Cidinho, Renan Lemos e Lucas Zen. E ganhou novamente o título em 2014.
Oriundo do Volta Redonda, Caio
era apenas 8% do Botafogo
(Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
4 – Campanhas
irregulares
Em 2009, o Botafogo construiu um time às
pressas, trazendo Maicosuel, Reinaldo e Victor Simões para uma estrutura
ainda precária. A gestão Assumpção encontrou um elenco destroçado, com
apenas quatro jogadores com contrato profissional. Com um time muito
limitado sob comando de Ney Franco, o Botafogo ganhou a Taça Guanabara
e foi à final do estadual. Perdeu para o Flamengo nos pênaltis, depois
que Maicosuel e Reinaldo se lesionaram no primeiro jogo da decisão. No
Brasileirão, brigou no sufoco para se salvar do rebaixamento na última
rodada, e duas contratações tiveram papel fundamental: o goleiro
Jefferson e o atacante Jobson.
Veio 2010, e o
clube trouxe dois atacantes estrangeiros: o argentino Herrera e o uruguaio Loco
Abreu. Loco estreou contra o Vasco, no Engenhão, onde o Alvinegro acabou
goleado por 6 a 0. O ex-presidente Carlos Augusto Montenegro e o ex-vice de
futebol Ricardo Rotemberg (que tinha contratado Zárate e Castillo) abriram fogo
contra Anderson Barros e Maurício Assumpção pela primeira vez, reclamando que Dodô era ídolo alvinegro e tinha feito três gols pelo Vasco. E detonando o camisa 13.
– O Loco Abreu ganha o dobro que o Dodô. O time não teve vergonha. Estamos entregues – bateu Montenegro.
Dois
meses depois, o Botafogo ganhou a Taça Guanabara em cima do mesmo
Vasco, com um gol
de Loco. E depois faturou o estadual em cima do Flamengo com a célebre
cavadinha do camisa 13. O uruguaio virou um ídolo muito acima de Dodô,
que deixou o Vasco para jogar em times de menor prestígio.
Ao lado de Zagallo, Loco Abreu é apresentado
no Botafogo, em General Severiano
(Foto: Alexandre Durão)
5 – Marketing a mil
Fora
de campo, o Botafogo desenvolvia várias ações de marketing. O diretor
Marcelo Guimarães lançava camisas alusivas a craques do passado, fazia
homenagens e eventos que chamavam a atenção de outro clubes. Não era uma
gestão voltada para arrecadar, mas sim para divulgar a marca do clube.
Guimarães contratou o irmão de Maurício Assumpção, Marcelo, para ser
repórter da "Botafogo Experience" e do programa Incêndio, que o clube
publicava em seu canal no You Tube. No Facebook, os dois trocavam
elogios.
Marcelo Guimarães ao lado do
ex-zagueiro Gonçalves. Elogios
do irmão de Mauricio
Assumpção (Foto: Facebook)
6 – A queda de André
Em
2010, o Botafogo de Joel Santana ia bem no Brasileiro até perder quatro
jogadores por lesão (Fábio Ferreira, Marcelo Mattos, Maicosuel e
Herrera). Acabou vendo a vaga na Libertadores virar fumaça na última
rodada, com uma derrota para o Grêmio no Olímpico. No ano seguinte, o
time treinado por Caio Junior sofreu um apagão quando ameaçava entrar na
briga pelo título.
As performances reacenderam a fogueira sob
o departamento de futebol. Os conselheiros culpavam a "falta de
cobrança" do time. Assumpção resolveu limar seu vice de futebol, André
Silva, conhecido pela gentileza com que tratava jogadores e
funcionários. Anderson Barros ficou sozinho no futebol, no papel de
gerente, diretor e arrecadador de recursos. No fim do ano, ele contratou
Oswaldo de Oliveira para ser o treinador em 2012.
André Silva, vice de futebol demitido após mais
um insucesso do time (Foto: Alexandre Cassiano
/ Agência O Globo)
7 – Seedorf chega,
Loco sai
O Botafogo perdeu
a decisão do estadual para o Fluminense e começou instável o Brasileirão.
Herrera saiu na janela do meio do ano e não teve reposição. Lucas, lateral-direito
promissor, foi expulso na final do Carioca e na partida de volta contra o
Vitória pela Copa do Brasil, contribuindo para as duas derrotas. As críticas
cresceram fora de campo – Oswaldo havia barrado Loco Abreu –, e os salários
atrasavam.
Em julho, chegou
Seedorf, que causou um cataclisma no grupo. O holandês não admitia certas
práticas e opinava em tudo, da logística até a nutrição dos atletas. Quis mudar
até o hino do clube. Viu os cartazes de atletas antigos no Engenhão e falou.
– Tem que botar os
atletas do presente. Cadê o Jefferson, por exemplo?
Seedorf, a "contratação de fechar o aeroporto"
de Mauricio Assumpção (Foto: Fernando
Soutello / Agif)
8 – Anderson
Barros na berlinda
O time sentiu as
mudanças. O elenco se dividiu com a presença imperial de Seedorf. Oswaldo soube
aos poucos contornar as tensões, mas em campo era necessário reconstruir. O
treinador ainda tentava encaixar Fellype Gabriel e o uruguaio Lodeiro em seu esquema, e
tinha indicado Rafael Marques, que vira jogar no Japão, para o ataque.
O nome do atacante
foi aprovado pelo Comitê de Futebol, mas a operação era muito cara – cerca de
R$ 290 mil mensais – e pôs Anderson Barros na berlinda de vez. Com o time fora
da briga pela Libertadores, as críticas explodiram. Os homens próximos de
Assumpção diziam que faltava cobrança no profissional.
– Eles batiam
nisso, mas não era verdade. Havia cobrança e um ambiente positivo, só que ninguém que era de fora via
– diz um ex-funcionário do clube.
Muito próximo de Assumpção,
Sidnei Loureiro batia com firmeza. Dizia que na base tudo funcionava e
atacava também nas escolhas de reforços. Rafael Marques era o principal
alvo. O gerente da base comentava nos bastidores que o atacante era "a
pior contratação do Botafogo em todos os tempos." A tese encontrava eco
na imprensa, na torcida – que vaiava Rafael – e nos cardeais. Assim como
fizera criticando a contratação de Loco Abreu, Montenegro abriu fogo
contra o gerente.
– Rafael Marques tem o mesmo número de gols de um zagueiro: zero. O Anderson Barros é remunerado para errar desse jeito?
Rafael Marques, em sua apresentação. Atacante
foi motivo de discórdias (Foto: Marcos Tristão
/ Agência o Globo)
9 - O custo
Seedorf
A fritura de
Anderson foi um pouco ofuscada pela chegada de Clarence Seedorf, a "contratação de fechar aeroporto" com a qual
Assumpção sempre sonhou. O holandês desembarcou no Galeão diante de uma torcida extasiada.
Nos bastidores, porém, havia preocupação. O
Botafogo tinha um Comitê de Futebol que discutia as contratações.
Dele participavam o gestor do futebol, Anderson Barros; o diretor-executivo do
clube, Sérgio Landau; o vice-presidente financeiro, Marcelo Murad; o vice de
futebol, André Silva; o vice-geral, Paulo Mendes; e ocasionalmente outros
dirigentes. O presidente Maurício Assumpção não era membro "para não
influenciar o trabalho do comitê".
Desde 2010,
Assumpção sonhava com o craque. Os números, porém, não batiam. Em junho de
2012, uma reunião do comitê bateu o martelo: o clube não teria como pagar a Operação
Seedorf. Numa votação houve unanimidade: todos os membros foram contra a contratação. No dia seguinte,
Landau solicitou novo encontro e levou a mensagem de que "o presidente
entendia a contratação como importantíssima para resgatar a autoestima da
torcida". Assumpção pedia que o comitê reconsiderasse a decisão e afirmava
também que "ele, Maurício, seria responsável por levantar recursos para
pagamento dos altos salários do holandês".
– Então para que
servia o comitê? Maurício decidiu sozinho – disse um dirigente que fez parte
das reuniões.
Seedorf chegou em
julho de 2012 e ficou no Botafogo até janeiro de 2014. No total, foram 17 meses
ao custo de R$ 18 milhões – mais de R$ 1 milhão por mês. O clube teve ganhos de
imagem e de receita, como o aumento do sócio-torcedor de oito mil para 18 mil pessoas
(depois caiu novamente), mas a despesa foi bem maior que a entrada de recursos. Já na chegada
houve custo por conta da recepção com direito a helicóptero e hospedagem no
Hotel Fasano. E o Botafogo não conseguiu tirar proveito financeiro de Seedorf.
O clube sequer fechou um contrato para explorar sua imagem e alguns negócios trazidos pelo holandês não prosperaram.
Seedorf e Mauricio Assumpção: chegada do
craque holandês foi luxuosa (Foto:
Fernando Soutello / Agif)
10 – A pedra
fundamental
As melhorias na
base viraram o cartão de visitas de Maurício Assumpção. Com parcerias e
investimentos em pessoal, o time melhorou sua performance e a captação
de atletas. A
estrutura, porém, continuava muito ruim. O sonhado Centro de Treinamento
era
uma promessa de campanha de Maurício. Em agosto de 2012, o presidente
resolveu lançá-lo e promoveu um evento no Engenhão ao lado de toda sua
diretoria para lançar a pedra fundamental do CT, com direito a uma bela
maquete.
Um mês depois, em setembro de
2012, Sidnei Loureiro esteve na UFRJ, onde deu palestra sobre a "revolução na base
alvinegra". Com uma apresentação em Power Point, falou do futuro brilhante, das
revelações e apresentou o plano do futuro CT de Marechal Hermes com diversos diagramas. Havia um problema,
no entanto: a maquete e os diagramas não cabiam no terreno do clube. O projeto
na maquete previa 55 mil metros quadrados e avançava sobre um terreno do
Exército. Em reportagem de Vicente Seda, o GloboEsporte.com mostrou que o
terreno do clube era consideravelmente menor: 19,5 mil metros quadrados.
Projeto do CT para as categorias de base em
General Severiano (Foto: Divulgação)
Perguntado
sobre por que mostrara um projeto maior do que o terreno, Loureiro
disse que seriam campos menores apenas para treino e que esperava a
cessão do resto do terreno pelo Exército. Assumpção, por sua vez,
prometeu no lançamento que o CT estaria pronto até o fim de 2013. O
clube resolveu demolir mesmo sem ter um projeto aprovado ou com recursos
viabilizados. O presidente acreditava que, uma vez demolido,
convenceria investidores a pagar a construção. Mas sua credibilidade já
estava em queda. Resultado: o Botafogo derrubou o pouco que tinha e nada
construiu. Hoje, Marechal Hermes encontra-se com obras inacabadas e sem
uso.
Vestiário em Marechal Hermes: obras começaram,
mas foram interrompidas (Foto: GloboEsporte.com)
11 – A última
cartada
As pancadas de Carlos
Augusto Montenegro surtiram efeito. O desgaste de Anderson Barros com a torcida
era grande. Os torcedores reclamavam que o time ficava no quase, e o gerente de
futebol era apontado como o responsável pelos constantes fracassos do time em
competições nacionais. Não havia mais
André Silva como escudo, e Sidnei Loureiro tinha a confiança plena do
presidente. A cama estava feita para a mudança. Em setembro de 2012, Anderson
encontrou no Engenhão faixas de uma torcida organizada pedindo a sua saída e a de Oswaldo.
– Ele sabia que
aquilo não era por acaso, que alguém tinha deixado isso chegar ali – disse um
assessor.
Anderson tinha conhecimento de que
sua situação não era fácil, só que ele ainda contava com alguma simpatia
de Assumpção. O presidente sabia que o gerente de futebol não apenas
tinha estruturado o
departamento, mas que também buscava recursos para pagar salários
criando cestas de
atletas ou até conseguindo empréstimos com seus contatos no mercado. Mas
mesmo isso era
alvo das críticas internas, com toda sorte de suspeitas sendo
levantadas para alvejá-lo. Os fracassos
consecutivos na Copa do Brasil não ajudavam. Com o Brasileiro de 2012
indo para
o espaço, entre agosto e setembro Anderson engendrou uma última cartada.
Convidou Loureiro para ser seu auxiliar no profissional. E avisou a
Assumpção.
– Presidente, ele
ainda não está pronto. Precisa ser preparado.
Sidnei, porém,
tinha pressa. Não queria ser apenas mais um. Chegou no profissional sem meias
palavras e fazendo exigências.
– Ele chegou
tocando o terror na comissão técnica – disse um ex-funcionário do clube.
Anderson Barros entre o diretor executivo Sérgio
Landau (esq) e o vice de futebol Chico Fonseca
(Foto: Globoesporte.com)
Anderson tentou
administrar, mas ficou revoltado ao descobrir que Sidnei tinha levado ao
presidente, sem passar por ele, uma apresentação feita pelo preparador de
goleiros da base, Christiano Fonseca, que dizia que "Jefferson não sabia sair
do gol". Era uma crítica clara ao trabalho do preparador Flavio Tenius.
– O Flavio Tenius
tem duas Libertadores. Quem é Christiano Fonseca pra falar alguma coisa? –
perguntou um membro da comissão.
Sidnei ficou sem
clima no profissional. Voltou para a base alegando que iria tocar o projeto dos
mil gols de Túlio, mas na verdade já começava a planejar como o futebol ficaria
em 2013.
– Os dois erraram.
Sidnei chegou querendo mandar, o Anderson não soube compor, e o Maurício se
omitiu em vez de aparar as arestas – diz um ex-membro da comissão técnica.
Em novembro, Chico
Fonseca – empossado como novo vice-presidente de futebol – avisou a Anderson
que ele não ficaria em 2013.
12 – Túlio 1.000
Ainda em 2012, o
Botafogo criou um projeto de marketing para tentar faturar com os 1.000 gols
de Túlio. Relevando a contabilidade criativa do atacante, o clube tentou marcar
uma série de amistosos para que o veterano jogador fizesse sete gols e
chegasse ao almejado sonho. A ideia era que o milésimo pudesse ocorrer num jogo
do profissional inclusive – algo que Oswaldo de Oliveira não cogitava de modo
algum.
O projeto
fracassou de forma retumbante, em meio à discórdia entre o então vice de
marketing Marcelo Guimarães e o presidente Maurício Assumpção. Resultado: Túlio
foi fazer o milésimo por outro clube e entrou na Justiça contra o clube
alegando vínculo empregatício e pedindo reparação por danos morais. Já ganhou
em primeira instância.
Tulio Maravilha na apresentação do seu projeto
dos 1.00 gols (Foto: André Durão)
13 – Fim da era AB
A briga com Sidnei
Loureiro tinha selado o destino de Anderson Barros. Ele deixou o Botafogo em
dezembro de 2012, acertando antes as vendas de Elkeson e Maicosuel.
Não se
despediu nem recebeu nenhuma palavra do presidente Maurício Assumpção.
Criticado pelas
campanhas de 2011 e 2012 e pela contratação de Rafael Marques, Barros
pagou a conta de campanhas que geravam expectativas, mas não conquistas
nacionais. E de erros como John Lennon, Jean Coral e Vinícius
Colombiano.
A torcida esquecia, porém, de seus acertos:
Jefferson, Jobson, Loco Abreu, Antonio Carlos, Herrera,
Elkeson, Maicosuel, Andrezinho, Lucas, Marcelo Mattos, Renato, Fellype
Gabriel, Lodeiro, entre
outros. Não via que ele havia estruturado o departamento de futebol
profissional e tinha a confiança dos atletas e de agentes do mercado.
Com o 12º orçamento entre os clubes da Série A e atolado em dívidas, o
Botafogo tinha montado bons times. E feito bons negócios, como as vendas
de Cortês para o São Paulo (R$ 6
milhões – foi comprado um ano antes por R$ 1 milhão), Elkeson (6,5
milhões de euros para a China), Renato Cajá (1 milhão de euros também
para a China) e
Márcio Azevedo (2,5 milhões de euros para a Rússia).
Depois
de sua saída, o clube vendeu
apenas jogadores feitos em casa: as revelações Jádson, Vitinho e Dória. A
última contratação de Anderson Barros antes de deixar o clube foi o
zagueiro André Bahia.
Anderson Barros conversa Seedorf. Holandês
foi contrário à saída do dirigente
(Foto: Globoesporte.com)
14 – A bronca de
Chico
Em novembro de 2012, Chico Fonseca, futuro vice de futebol, informou a Anderson Barros sua saída no fim do ano. Uma comissão
de atletas, Seedorf à frente, tentou conversar com Maurício Assumpção pedindo a
permanência de Barros. Chico Fonseca
ficou irritado. Sem experiência com jogadores profissionais, ele
resolveu ir para cima. Em dezembro de 2012, após um treino, ele reuniu
os atletas na sala de imprensa do Engenhão, na frente de toda a comissão
técnica. E falou grosso. Disse que Anderson estava indo embora, que era
só um funcionário e que eles, jogadores, também eram funcionários e
deviam cumprir ordens. Começou manso, mas acabou subindo o tom. Foi
interrompido por Seedorf.
– Abaixa a voz.
Não estou gostando do seu tom. Se você falou, também vai ouvir.
Uma pequena
discussão se seguiu. Irritado, Chico simplesmente abandonou a reunião. Temendo
um impacto negativo no grupo, ele telefonou para Anderson Barros, que já tinha
deixado o estádio.
– Fiz merda. Dá
para você corrigir?
Chico Fonseca junto a Bolívar. Dirigente perdeu
comando logo na chegada (Foto: Thales Soares
/ Globoesporte.com)
Anderson voltou ao
estádio, reuniu os atletas e contemporizou.
E Seedorf ganhou pontos com os outros jogadores.
– Chico nasceu
morto como vice de futebol. Passou a ser odiado ali, logo depois de assumir –
disse um membro da comissão técnica que presenciou a discussão.
A partir daquele
momento, Chico passou a não engolir as ações de Seedorf. Qualquer decisão capaz
de desestabilizar o holandês ganhava força com o dirigente, que não aceitava o
ar de superioridade com que o jogador desfilava pelo Engenhão e por General Severiano.
AMANHÃ: DOSSIÊ BOTAFOGO II - 2013, O ANO DA ILUSÃO.
FONTE:
http://glo.bo/1GIMq6F