- É algo de que gosto e me acalma - garante.
E é justamente paz de espírito que Jobson busca em
2012. Aos 23 anos, o atacante sabe que não vai ter uma segunda chance no
Botafogo - já está para uma terceira ou até quarta... Mais uma vez, ele
fala em mudanças. Promete que vai ser uma pessoa diferente. Longe dos
exageros. Distante das polêmicas. Para isso, vem fazendo um tratamento
pago pelo clube carioca. Mas para permanecer no elenco, Jobson precisa
ficar na linha. E ele sabe disso...
GLOBOESPORTE.COM: O Oswaldo já falou sobre a
sua importância no time para a próxima temporada e disse que a sua
recuperação só depende de você. Também pensa dessa forma?
JOBSON: Primeiramente, só tenho a
agradecer, com toda a humildade do mundo, por receber essa ajuda.
Querendo ou não, é bom para mim, e fico muito feliz em saber que o
professor (Oswaldo de Oliveira) já conta comigo. Agradeço muito ao
Botafogo, ao presidente, ao Anderson (Barros, gerente), que estão me
ajudando muito. Não tenho nada a reclamar e também estou querendo. Todos
estão de férias, e eu fiquei aqui, cuidando de mim para ser homem de
verdade, aprender a ter compromisso com o meu trabalho, meus
companheiros e o clube. Em 2012, quero mudanças para mim, pois estou
cansado. Chega disso. Estou aqui para me recuperar.
Você fala em aprender a ter compromisso com o
grupo. Então, acha que falhou de alguma forma aqui, no Atlético-MG e no
Bahia com seus companheiros de clube?
Com certeza. Queira ou não, todo mundo vem treinar.
No meu caso, aqui, em 2010, ia bem dentro de campo, decidia, mas fora
tinha que lidar com os torcedores e dar uma resposta de comprometimento
com o grupo. Tenho consciência dos erros que cometi. Estou aqui para
aprender com o que já errei. Agora, já conheço bem o Botafogo e 2012 vai
ser um ano de mudanças, com mais comprometimento.
Chegou-se a falar em internação para o seu tratamento. Como isso está sendo conduzido?
Internação, não. Acho que a psicologia está sendo
boa. O cara que está cuidando de mim é humano. Gosto muito dele. Nesse
pouco tempo conversando com ele, melhorou muito minha autoestima. Ele
fala a realidade, coisas que têm a ver. Se todas as pessoas que me
julgaram procurassem entender como eu penso, teriam me ajudado, e eu
poderia ser diferente. Todos erram. Claro que eu já errei muito, mas
estou com outro pensamento, muito feliz, voltando para casa, recebendo
uma ajuda que nunca recebi antes. O futebol me deu essa oportunidade e,
graças a Deus, não preciso me internar. Só preciso de carinho, como
estou recebendo aqui.
Quando você foi pego no antidoping, sabia que
a substância poderia ser detectada no exame? Alguém já havia conversado
com você sobre isso?
Não quero mais falar sobre isso. Aconteceu em 2009 e
estamos indo agora para 2012. O que me importa são as mudanças que estão
acontecendo na minha vida.
Suas saídas de Atlético-MG e Bahia foram conturbadas. O que aconteceu de fato?
No Atlético-MG, todo mundo comentava que eu ganhava
duas vezes mais do que aqui no Botafogo, mas o problema é que eu não
estava feliz. Queria voltar para buscar minha felicidade. Pedi para sair
e voltar pra cá, mas não deu certo. Fui para o Bahia, comecei bem, mas a
minha cabeça ficava ansiosa com o meu julgamento. Tive uns problemas de
pagamento com a diretoria e quis fazer justiça com as próprias mãos, no
sentido de tomar uma atitude. Então, não ia treinar, comecei a fazer
coisas erradas e sei que prejudiquei a mim mesmo. Tenho consciência
disso. Quero mostrar isso ao torcedor, agradecer quem está apoiando.
Procurei um tratamento para me curar, e o Botafogo me forneceu. Estou
feliz, teve esse elogio do Oswaldo. Só tenho que fazer minha parte fora
de campo.
Existe a preocupação com uma recaída. Continua tendo problemas com drogas? Acha que é dependente?
Não me considero dependente. Se fosse, se eu usasse
drogas como em 2009, já teria sido banido, pois fiz muitos exames
(antidoping). Acho que está bem claro que não sou dependente.
Desde aquele episódio em 2009, garante que nunca mais usou drogas?
Com certeza.
Também se fala muito dos seus problemas com o álcool. Eles existem realmente?
O álcool é normal. Qualquer um sai do serviço e bebe.
Comigo é diferente. Eu exagerava. Agora, quero mudanças na minha vida e
vou eliminar muitas coisas para que elas aconteçam.
Inclusive o álcool?
Isso mesmo.
Entre todos os erros que cometeu, qual não repetiria?
Principalmente, os atrasos e coisas do tipo. Você
precisa ter comprometimento, pois não está sozinho lá dentro. Tem seus
companheiros, os grupos, com pessoas de caráter. A partir do momento em
que você falta ao treino, ou chega atrasado, por mais que a desculpa
seja verdade, de certa maneira, prejudica o grupo. O que falta em mim é
essa consciência, e vou trabalhar muito para melhorar. Se a sombra que
me carrega dentro de campo, carregar fora dele, eu serei um jogador
diferente.
Nesse tempo em que ficou parado, quem foi seu grande conselheiro?
É sempre a mãe (Maria de Lourdes), né? Quando eu
parava para pensar, sozinho, na minha casa, no meu quarto, transmitia
essa tristeza para a minha família. Ela já me esperava, sofria muito e
chorava. Fazendo essas coisas, não era apenas eu que sofria arrependido,
mas toda a minha família e as pessoas que gostam de mim.
O que ela falou para você?
Minha mãe é evangélica e fala sempre em Deus, de
frequentar a igreja. Sempre que ela fala comigo, chora. Eu disse para
ficar tranquila. Agora acabou essa história de doping. Antes, tinha que
ir ao CAS ainda e aquilo atrapalhava a minha cabeça. Naquele jogo contra
o Fluminense, fui bem e já comecei a chorar. Tinha que enfrentar de
novo aqueles alemães (refere-se aos juízes no tribunal na Suíça).
Quando estava no julgamento, temeu pelo fim da carreira?
Até que não. Saí de lá confiante pelo jeito como os
caras saíram. Sabia que queriam me dar uma punição de oito, seis meses,
mas grande não seria, pois os advogados estavam otimistas.
O Maurício Assumpção é seu fã e fez um
esforço enorme quando você voltou da suspensão por doping, chegando a se
emocionar numa entrevista, falando do irmão, que morreu de overdose.
Sente-se em dívida com ele?
Estou, sim. Ele já pode esperar a alegria que vou dar
a ele dentro de campo em 2012. Fora de campo, estou trabalhando, me
tratando muito para ter calma, paciência e, torno a repetir,
comprometimento com todo mundo. Estou num clube de tradição e que me dá
mais essa chance. Respeito muito o Maurício, que tem um carinho especial
por mim. Então, se estou em dívida, vou fazer o possível para quitar.
Está em dívida com o Maurício, a sua mãe e mais quem?
Com geral (risos).
Como fez para manter a forma física nesse tempo em que ficou parado? Dá para voltar rapidamente?
Foram quatro meses sem treinar. Joguei umas
peladinhas na minha cidade, corri na praia, mas não é o mesmo que
treinar. Vou ficar por conta da pré-temporada mesmo.
Muitos dizem que, não fossem seus problemas,
você poderia ter feito parte dessa renovação da Seleção Brasileira. Acha
que desperdiçou a chance de pelo menos fazer parte do grupo?
Desperdicei, sim. Então, assim é que a gente vai
aprendendo. Para jogar na Seleção, o futebol mudou muito. Não é mais
aquele jogador polêmico que deve ser convocado. Tem que trabalhar muito
fora de campo a imagem e fazer as coisas certinhas.
Qual é o seu grande sonho?
Primeiro, tenho que voltar a jogar e sentir que estou
bem. Depois disso, é ser artilheiro, jogar na Seleção Brasileira, na
Europa. Tenho muitas coisas a realizar e não está tarde. Só depende de
mim.
O que pode dizer para que o torcedor tenha certeza de que pode confiar em você nessa volta ao futebol?
Em 2012, "tamo junto". Vou mostrar isso procurando
não errar mais, com mudanças para voltar a ser o mesmo cara dentro de
campo e dar muitas alegrias, arrebentar de novo e jogar muito.
Essa é a sua última chance?
Encaro como a última porque é a última que vou agarrar, pois meu pensamento é de mudança.
Fonte: Globoesporte.comFONTE:
http://www.fogaonet.com/noticia.asp?n=23172&t=entrevista+jobson+revela+problemas+com+alcool+e+promete+mudar