Com 244 partidas disputadas e 3.408
pontos anotados com a camisa 4, o ala do Flamengo se despede da seleção
com o sentimento do dever cumprido
Por Marcello Pires
Rio de Janeiro
Faz tempo que o amor à camisa perdeu a queda de braço para os milhões
de euros e dólares que enterraram o romantismo de outrora e
transformaram o esporte em um mero negócio. Na carona dos contratos
milionários, vieram as transferências para mercados até então
desconhecidos, o fim da identificação dos craques com seus clubes
formadores e o desprezo pela seleção brasileira. Mas toda regra tem sua
exceção. Se para muitos defender o país virou uma obrigação
desinteressante e pouco lucrativa, para outros suar a amarelinha sempre
foi motivo de orgulho e, principalmente, um dever cívico. Aos 37 anos,
Marcelo Magalhães Machado é um desses bons exemplos. De protagonista no
Mundial de 2002 a coadjuvante nos Jogos de Londres de 2012, Marcelinho
vestiu a camisa 4 da seleção brasileira de basquete 244 vezes nos
últimos 15 anos. Se faltaram títulos importantes, sobraram entrega,
dedicação e uma obsessão infinita pelas vitórias. Obsessão que o fez
desistir da aposentaria com a verde-amarela em 2008 para realizar o
sonho de disputar as Olimpíadas. Depois de três tentativas frustradas, o
ala do Flamengo finalmente conseguiu. A sonhada medalha não veio, mas
levar o Brasil de volta à principal competição esportiva do planeta após
16 anos e o reconhecimento do torcedor pela excelente campanha na
capital britânica foram suficientes para o jogador decidir passar o
bastão à nova geração e dizer adeus com 3.408 pontos anotados e o
sentimento do dever cumprido.
Ao longo de 15 anos, Marcelinho defendeu a seleção em 244 partidas e anotou 3.408 pontos (Foto: Reuters)
- Gostaria que minha despedida da seleção tivesse sido diferente. Com
uma conquista. Mas apesar da derrota nas quartas de final, um quinto
lugar em Olimpíadas não pode ser considerado um insucesso. Sinto orgulho
desses 15 anos que defendi a seleção. Tive altos e baixos com relação a
resultados, mas quem me conhece sabe que minha dedicação nunca foi
maior ou menor dentro de quadra, sempre dei o máximo que pude – afirmou.
Foi justamente com toda essa intensidade que Marcelinho se tornou o
único jogador brasileiro tricampeão dos Jogos Pan-Americanos. Se as
medalhas de ouro em Winnipeg-99, Santo Domingo-2003 e Rio de
Janeiro-2007, além da conquista da vaga olímpica para Londres, foram os
momentos mais marcantes do ala com a camisa 4 da seleção brasileira, a
derrota para a Argentina no Pré-Olímpico de Las Vegas, em 2007, doeu na
alma.
Me machucaria se ouvisse que sou amarelão de alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira de ser"
Marcelinho
Mais até do que com a fama de amarelão que, por vezes, ele foi obrigado
a conviver durante sua trajetória com a camisa verde-amarela. De
bandeja, Marcelinho entrega que até respeita a opinião dos críticos, mas
enterra qualquer tipo de preocupação com os comentários negativos,
segundo ele, sem fundamentos.
- Minha preocupação maior, se é que eu tenho essa preocupação, sempre
foi com as pessoas que me conhecem. Me machucaria se ouvisse isso de
alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha maneira
de ser. Aí sim eu me preocuparia e iria parar para pensar no assunto.
Competidor, como ele próprio se define, Marcelinho se considera um
obstinado pelas vitórias e reconhece que odeia a palavra perder. Talvez
por isso a ideia de entregar o jogo para a Espanha na fase de
classificação dos Jogos Olímpicos, que livraria o Brasil do tão temido
confronto diante dos “invencíveis” americanos nas semifinais, sequer foi
cogitada pelo grupo comandado por Magnano.
- É uma decisão muito fácil de ser tomada quando você entende a
grandeza de disputar as Olimpíadas. Depois de 16 anos longe da
competição e pelo que representa ganhar da Espanha, acho que não
tínhamos escolha e em momento algum nos arrependemos por termos vencido
aquele jogo - assegurou.
Marcelinho vibra com o tempo livre que terá para
curtir mais a família (Foto: Reprodução SporTV)
Ao mesmo tempo em que sentirá saudade da competição contra os melhores
do mundo e do ambiente amigável construído por ele nesses últimos 15
anos, Marcelinho comemora aliviado o tempo livre que ele terá daqui para
frente para curtir ao lado da esposa Renata, grávida de três meses, e
do filho Gustavo, de quatro anos.
Em pouco mais de trinta minutos de entrevista para o GLOBOESPORTE.COM, o
ala do Flamengo falou ainda que não pensa em ser técnico quando
pendurar a munhequeira, que jamais teve medo do fracasso e que acredita
na conquista de um medalha, quem sabe até a de ouro, nos Jogos de 2016,
no Rio de Janeiro.
Depois de perder os Pré-Olímpicos para os Jogos de Sydney,
Atenas e Pequim você ainda imaginava que conseguiria realizar o sonho de
disputar as Olimpíadas?
Claro, por isso que continuei ali. Eu achava que estávamos bem próximos
de conquistar a vaga. No Pré-Olímpico de 1999 talvez a gente não
estivesse tão bem preparado e nos outros faltaram um pouco mais de
maturidade e de um trabalho mais bem feito. Os jogadores se apresentavam
cada um numa hora e isso fazia toda diferença. Em 2011 nós fizemos um
trabalho muito bom e conseguimos a vaga.
O que passou pela sua cabeça ao entrar no Estádio Olímpico lotado durante a cerimônia de abertura dos Jogos?
Tudo
isso. Toda a minha luta desde que cheguei à seleção. Todo jogador que
defende seu país tem como principal objetivo disputar as Olimpíadas. Eu
sabia que essa era minha última oportunidade. Já tinha visto outras
aberturas pela TV e quando entrei naquele estádio lotado fiquei bastante
emocionado. Passou um filme da minha carreira inteira, principalmente
na seleção e de quando comecei a jogar ainda garoto. Meu tio também
disputou as Olimpíadas e sempre me falava de como era especial estar
ali.
Foi o momento mais especial da minha vida. Jogar as Olimpíadas é o
ápice na carreira de qualquer atleta e no meu caso não foi diferente"
Marcelinho
Quando sua ficha realmente caiu que você estava nos Jogos de Londres?
Quando
eu entrei na vila. Na verdade, um pouco a cada momento. Mas no caminho
para a cerimônia de abertura foi a hora que percebi que estava fazendo
parte de toda aquela festa. Filmei tudo e fiz um vídeo de mais de uma
hora que vai ficar guardado para sempre. Foi o momento mais especial da
minha vida. Jogar as Olimpíadas é o ápice na carreira de qualquer atleta
e no meu caso não foi diferente
Qual o balanço que você faz sobre o desempenho da seleção em Londres?
Muito
positivo. Fizemos uma primeira fase excelente, mas tivemos pequenos
erros que custaram caro. Aquele jogo contra a Rússia, decidido na última
bola, por exemplo, pesou no final e mudou completamente nossa
trajetória nas Olimpíadas. Se a gente tivesse vencido os russos, a
partida contra a Espanha seria para definir o primeiro colocado do
grupo. Enfrentamos as principais equipes do mundo de igual para igual e
dos quatro semifinalistas só não jogamos contra os Estados Unidos.
Mostramos que o Brasil está de volta e hoje se coloca novamente entre os
grandes.
Ficar 16 anos sem participar das Olimpíadas pesou de alguma forma no jogo pelas quartas contra a Argentina?
Eu
não vejo dessa forma. Ninguém joga diferente porque está nos Jogos
Olímpicos, num Mundial ou no NBB. A intensidade com que encaramos um
jogo é a mesma em qualquer competição. Talvez o fato de a nossa seleção
ter ficado muito tempo fora fez com que a gente tenha entrado em quadra
com muito mais vontade do que as seleções que estavam sempre lá. As
vezes a vontade exagerada pode acabar atrapalhando alguma coisa. A
Argentina é uma equipe tarimbada, muito experiente e fez um grande jogo,
principalmente no primeiro tempo. Nós éramos a melhor defesa da
competição e só nos primeiros vinte minutos sofremos 46 pontos, o que
não aconteceu nem no amistoso contra os americanos. Foi um jogo que
tivemos bastante dificuldade.
Além de jogar mal, você concorda que o time não mostrou a mesma vibração que vinha apresentando no jogo contra a Argentina?
Acho
que não. Nas nossas conversas antes do jogo todo mundo estava muito
empolgado. Até pelo adversário ser a Argentina, que tinha nos vencido no
Mundial de 2010. A gente queria uma oportunidade de dar o troco e
mostrar que aquela era a nossa hora. Apatia não teve, o que aconteceu é
que a gente não estava encontrando uma saída dentro do jogo. Talvez por
isso a gente não tenha conseguido colocar para fora toda a vontade que
queríamos e pode ter ficado essa impressão.
Você já falou sobre o jogo contra a Rússia. Mas qual realmente foi o peso daquela derrota no estouro do cronômetro?
Falando
depois do ocorrido é mais fácil. Sabemos que se tivéssemos ganho aquele
jogo, teríamos terminado em primeiro ou terceiro e fugido de futuros
cruzamentos contra Argentina e Estados Unidos. Mas isso é o se. Pela
maneira que aconteceu, foi duro. Vencer a Rússia numa competição como as
Olimpíadas seria histórico. Acho até que inédito. No dia foi bem
difícil. Dormimos pouco naquela noite.
Marcelinho afirma que o Brasil jamais pensou em
entregar o jogo para a Espanha (Foto: EFE)
O Magnano disse em Londres que o time dele jamais iria entrar
em quadra para perder. Em algum momento vocês cogitaram a possibilidade
de entregar o jogo para a Espanha?Não. É lógico que
aconteceram várias brincadeiras em relação a isso, mas sempre pensamos
em ganhar o jogo. Depois de 16 anos longe dos Jogos Olímpicos e pelo que
representa ganhar da Espanha, medalha de prata nas duas últimas
Olimpíadas, eu acho que não tínhamos escolha.
E os espanhóis, entregaram o jogo?É muito difícil
perceber isso dentro de quadra. Eu prefiro acreditar que foi mérito
nosso vencer o jogo. Prefiro não acreditar que uma seleção com o
gabarito que tem a Espanha, finalista de duas Olimpíadas, tivesse a
mediocridade de fazer isso. Mas se eles fizeram, só eles podem
responder. É uma decisão muito fácil de ser tomada quando você entende a
grandeza de disputar as Olimpíadas, e em momento algum nós nos
arrependemos por termos vencido a partida.
Em algum momento o grupo que conquistou a vaga no Pré-Olímpico
se mostrou contrário as convocações de Nenê, Leandrinho e Anderson
Varejão?
De maneira nenhuma. Esse questionamento sempre foi
feito apenas pela imprensa. Da parte do grupo, nunca existiu qualquer
tipo de problema com a convocação deles. São três grandes jogadores que
acrescentaram e nos ajudaram bastante nas Olimpíadas. O ambiente na
seleção sempre foi o melhor possível.
O Brasil tem um grande time e voltou a ser respeitado no
cenário mundial. O que falta para voltarmos a ser protagonista em uma
competição?
Protagonista a gente já é. Em todos os
comentários que ouvimos antes e durante as Olimpíadas sempre se falava
no Brasil. Isso mostra que nosso trabalho foi muito bem feito e o
Magnano é o maior responsável por isso. Desde que ele chegou nossa
mentalidade mudou. A seleção brasileira hoje é muito mais competitiva e
falta pouco para a gente ganhar um Mundial ou as Olimpíadas. Não estamos
muito longe disso.
Você acha que o Rubén Magnano mudou o basquete brasileiro?
Acho.
Ele mudou nossa maneira de jogar e a forma com que encaramos o jogo,
valorizando muito mais a posse de bola e nossa defesa, que foi nossa
maior arma durante as Olimpíadas. Espero que isso sirva de exemplo para
outros treinadores.
Se alguém que me vê treinar, que joga comigo ou que entende minha
maneira de ser me chamar de amarelão, aí sim eu vou me preocupar e parar
para pensar. "
Marcelinho
Você é um dos jogadores que mais vezes defendeu o Brasil, um
dos únicos que jamais recusou uma convocação e mesmo assim algumas
pessoas insistem em achar que você amarela com a camisa da seleção. Isso
te machuca muito?
Não, me machucaria se eu ouvisse isso de
alguém que me conhece. Depois da conquista que tivemos no Pré-Olímpico,
quando tive uma atuaçãodestacada no jogo decisivo contra a República
Dominicana, até ouvi uma coisa ou outra sobre meu desempenho por parte
de jornalistas e blogueiros, já que hoje em dia todo mundo se sente no
direito de fazer comentários pela internet até mesmo sem se identificar.
Mas minha preocupação maior, se é que eu tenho essa preocupação, sempre
foi com as pessoas que me conhecem. Se alguém que me vê treinar, que
joga comigo ou que entende minha maneira de ser me chamar de amarelão
algum dia, aí sim eu vou me preocupar e parar para pensar. Mas quando é
uma coisa sem o menor fundamento ou simplesmente uma opinião, eu
respeito porque é assim que funciona. Quando você representa seu país
durante tanto tempo, vão existir pessoas a seu favor e outras contra.
Coincidentemente, como fui o protagonista da seleção no longo período em
que Brasil ficou sem disputar as Olimpíadas, é natural que tenha mais
gente que fale mal de mim do que bem. Eu encaro isso com naturalidade,
até porque as pessoas que me criticaram lá atrás foram as mesmas que me
elogiaram quando conseguimos a classificação para Londres.
Você já havia anunciado sua despedida da seleção após o Pré-Olímpico de 2008. O que o fez voltar atrás?
Acabei
repensando essa decisão depois das minhas boas atuações aqui no Brasil.
Sempre me baseio muito no meu rendimento e como eu vinha jogando bem no
Flamengo e pela seleção, achei que não era a hora de sair. A chegada do
Magnano também serviu como um incentivo a mais para voltar atrás e
continuar. Acho que valeu a pena, pois tive boas atuações no Mundial e
no Pré-Olímpico que nos classificou para Londres.
Ao aceitar uma nova convocação você temeu que a seleção fracassasse no Pré-Olímpico e ficasse fora das Olimpíadas mais uma vez?
Nunca
tive medo do fracasso e jamais pensei que não iria conseguir das outras
vezes. Sempre que acaba um campeonato você faz uma autocrítica para
tentar entender o que aconteceu e o que poderia ter sido feito
diferente. Muitas vezes eu encontrei respostas para essas perguntas, mas
desta vez eu acho que não encontraria. Fizemos tudo que tinha que ser
feito da maneira correta. Todo mundo se apresentou no dia marcado sem
qualquer tipo de vaidade e tínhamos uma direção muito qualificada e
sensata. Todos estavam na mesma batida e comprometidos desde o
Pré-Olímpico. Fico feliz por ter voltado atrás naquela decisão de 2008 e
ter feito parte deste grupo.
Scola comemora a vitória sobre o Brasil no último jogo de Marcelinho pela seleção (Foto: Agência Reuters)
Quando o jogo contra a Argentina acabou você parou para pensar que aquele seria seu último jogo pela seleção?Sim,
e gostaria que tivesse sido diferente. Com uma conquista. Mas apesar da
derrota nas quartas de final, se fizermos uma análise com a cabeça
fria, um quinto lugar em Olimpíadas não pode ser considerado um
insucesso. Principalmente pela maneira com que a gente encarou as
melhores seleções do mundo e pelo nível de atuações que apresentamos em
Londres. Isso tem que ser levado em conta. Me orgulho desses 15 anos que
defendi a seleção. Tive altos e baixos com relação a resultados, mas
quem me conhece sabe que minha dedicação nunca foi maior ou menor dentro
de quadra, sempre dei o máximo que pude.
É difícil tomar a decisão de não jogar mais pela seleção?
É,
pois acho que é meu dever defender meu país. Mas sempre vou analisar o
lado positivo. Sempre fui assim com relação a tudo. Uma das coisas que
me doía mais quando estava defendendo a seleção era ficar longe da minha
família. Principalmente do meu filho. A minha esposa entende, curte
demais e sempre pode me encontrar nas competições, como aconteceu no
Pré-Olímpico do ano passado. Hoje o Gustavo não entende isso, mas quando
ele crescer a gente vai ter essa conversa e ele vai se orgulhar de
saber que o pai dele lutou tanto para disputar as Olimpíadas e
conseguiu. Por isso eu prefiro pensar só no tempo que vou ter para
curtir eles durante um mês inteiro sem pensar em mais nada, coisa que eu
não consegui fazer nos últimos 15 anos.
O que você mais vai sentir falta?
Da competição, de
jogar com os melhores do mundo e provar a todo instante que merecia
estar ali. Além do ambiente e das amizades que fiz nesses quinze anos. A
gente vive intensamente aqueles dois meses e meio que estamos juntos e
foi uma relação na qual eu consegui fazer grandes amizades. Até brinco
com eles que eu quero levar o Gustavo para acompanhar alguns treinos e
espero que eles me recebam com carinho (risos).
Qual o momento mais marcante e o mais frustrante com a camisa da seleção?
O
mais marcante foi o jogo contra a República Dominicana no Pré-Olímpico
de 2011 quando conseguimos a vaga para Londres. Eu ainda não tinha
certeza de que disputaria as Olimpíadas, já que o Magnano poderia optar
por outro jogador, mas ali eu senti um orgulho muito grande por ter
feito parte do grupo que conseguiu classificar o Brasil para as
Olimpíadas depois de 16 anos. Tudo o que busquei durante a minha
carreira, eu conquistei ali. O mais frustrante foi a derrota para a
Argentina no Pré-Olímpico de 2007, em Las Vegas, que nos deixou fora dos
Jogos de Pequim. Aquela derrota doeu bastante porque nós estávamos
preparados para disputar as Olimpíadas.
Marcelinho posa ao lado de Anderson Varejão e
Huertas (Foto: Danielle Rocha/GE.COM)
De todas as pessoas que você trabalhou na seleção, tem alguma mais importante?É
difícil dizer, têm algumas. O Marcelinho Huertas é um cara que eu me
dou super bem. Eu convivi pouco com o Valtinho na seleção, mas é um
grande parceiro que fiz quando jogamos no Uberlândia e um não saía da
casa do outro. Tem o Thiago (Spliter), o Anderson, o Guilherme, o Alex,
muita gente...
Você teve problema com algum companheiro ou treinador ao longo desses anos?
Não,
e isso é uma das coisas que mais me orgulho nesses 15 anos. É claro que
existiram algumas situações difíceis ao longo desse período, mas um
grupo também se constrói em momentos assim. Não se forma uma seleção só
com tapinha nas costas e vamos lá.
Ficou faltando alguma coisa?Não, aconteceu tudo que tinha que acontecer.
Você acha que conseguiria chegar bem nos Jogos do Rio 2016?Não no nível que se joga basquete hoje em dia no mundo.
E no Mundial de 2014?Acho muito difícil. Restam dois anos, é muita coisa, ainda mais na minha idade. Eu chegaria lá com 39 anos.
Você acredita que o Brasil vai chegar ao Rio em 2016 brigando pela medalha de ouro?Acho.
Os Estados Unidos sempre serão os favoritos e em quatro anos esse
cenário não vai mudar. Mas a distância está cada vez menor e o número de
seleções competitivas que estão chegando para brigar com eles está
aumentando. Acho que Brasil e Espanha lideram esse grupo. A Grécia, por
exemplo, é a quarta colocada no ranking da FIBA e ficou fora dos Jogos
de Londres. A Lituânia perdeu para a Nigéria, mas quase venceu os
americanos. Já a Argentina eu não vejo com uma geração tão forte assim
para 2016.
Sou um competidor. Eu não quero perder de jeito nenhum quando estou dentro da quadra"
Marcelinho
Depois de realizar o sonho de disputar as Olimpíadas, você já pensou em aposentadoria?Já,
até porque todo atleta tem que se preparar para esse momento. Eu tenho
mais três anos de contrato com o Flamengo e minha ideia é encerrar a
carreira aqui. Mas eu me baseio muito no meu rendimento e minha alegria
de jogar vem daí. Só quero poder continuar jogando bem e ajudando meu
time a vencer. Quando eu não conseguir mais fazer isso é hora de parar.
E você já pensou no que vai fazer quando isso acontecer?
Tem
tanta coisa para fazer, mas acho que vai ser alguma coisa ligada ao
basquete. Técnico é o que eu menos penso. Sinceramente não me vejo como
treinador, mas quem sabe. Acho que tenho mais perfil para ser um olheiro
fora das quadras, um observador de novos talentos.
Como você se definiria dentro de quadra?Sou um
competidor. Eu não quero perder de jeito nenhum quando estou dentro da
quadra. Quero ganhar sempre e tenho a consciência do que é preciso fazer
para chegar lá dentro em condições de vencer. Sempre me dediquei ao
máximo nos treinamentos e nunca deixo de treinar por causa de dor. Só
quando não tem jeito. Felizmente eu tive poucas lesões na carreira.
Você tentou entrar na NBA duas vezes. Ficou alguma frustração por não ter conseguido?Não,
eu teria ficado frustrado se não tivesse tentado. São muitas coisas que
te levam a jogar lá. Se não deu certo nas duas vezes que tentei, uma no
Portland e outra no Cleveland, é porque não era para ser. Tenho muito
orgulho por tudo que fiz na minha carreira e espero conquistar mais
coisas.]
Quem será o sucessor do Marcelinho?De
características de jogo, o Matheus Dalla, do Limeira. É um jogador que
tem um arremesso rápido e muita personalidade. Mas acho que hoje quem
estaria mais preparado para me substituir na seleção é o Benite, que já
tem mais experiência.
Ao
lado das três medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, a prata
conquistada no Pré-Olímpico de Mar Del Plata, em 2011, foi a maior
conquista de Marcelinho pela seleção (Foto: Luna Vale/SporTV.com)
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