Andrés no Leblon: 'Não poderia dizer não ao país'(Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Quinta-feira, 26 de janeiro de 2012, no Leblon, Zona Sul do Rio de
Janeiro. A entrevista com Andrés Sanches, novo diretor de seleções da
CBF, está marcada para as 10h30m (de Brasília). Só que às 9h50m, o
presidente licenciado do Corinthians chega para o café da manhã e logo
apressa o início da conversa.
- Vamos, vamos, vocês só têm 20 minutos. E eu tenho de ir embora logo porque tenho uma reunião na CBF – sentenciou o dirigente.
Com pressa e ar intimidador, ele pede à garçonete um café com leite e
uma porção de pães de queijo - o combo é devorado em menos de cinco
minutos. Alimentado, mas ainda impaciente com o relógio, Andrés inicia o
bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM. Ele é arisco, mas com um lado
folclórico.
Já virou marca registrada. Quem convive há mais tempo com o corintiano,
sabe do seu jeito rude. A conversa flui bem, mas muitas vezes o diretor
interrompe o entrevistador antes mesmo de a pergunta terminar. Em
outros casos, ele faz um exercício de adivinhação, dizendo saber a
pergunta e respondendo antes. Fica na defensiva, mas também sorri e faz
piadas.
Um dos nomes mais importantes do futebol brasileiro atualmente, Andrés
afirmou na entrevista ter muito menos poder do que as pessoas acham.
Esbravejou também contra quem acredita que ele é um escudo do presidente
da CBF, Ricardo Teixeira, mas se colocou à disposição para ser a voz da
entidade em entrevistas. E de quebra, deixou no ar que se Mano Menezes
não for bem nas Olimpíadas...
Minha relação com Mano é profissional. Ele nunca foi na minha casa e eu nunca fui na dele"
Andrés Sanches
Nos 40 minutos de bate-papo (o dobro do que ele queria no começo), o
ex-mandatário do Timão também falou da sua relação com os dirigentes de
outros clubes, diz não ter inimigos e afirmou, sem titubear, que tem boa
relação com aquele que muitos acham ser seu principal desafeto: Juvenal
Juvêncio, do São Paulo.
Por fim, convidado para uma sessão de fotos na praia do Leblon, o
paulista mostrou sua faceta piadista e se esquivou do fotógrafo:
- Você está ficando maluco. Não vou à praia de jeito nenhum. Você não
me conhece. Estou de calça jeans e camiseta pólo. Se aparecer assim por
lá, os cariocas vão dizer: “Olha lá aquele paulista idiota”.
Antes de ir embora, Sanches ainda fumou uns três, quatro cigarros,
enquanto conversava com Rodrigo Paiva, diretor de comunicações da CBF,
na calçada do Leblon. Depois, ao ver que seu motorista havia chegado, se
despediu da reportagem, com uma frase que já lhe é peculiar na maioria
das entrevistas:
- Tchau, tchau. Desculpem alguma coisa.
Vários momentos de Andrés: da presidência do Corinthians à CBF (Fotos: Alexandre Durão e arquivo)
Confira abaixo o bate-papo com Andrés Sanches:
GLOBOESPORTE.COM: Sua ascensão como dirigente foi rápida.
Conquistou bastante coisa em pouco tempo. Você acha que foi meteórica?
Você imaginava que seria assim?
ANDRÉS SANCHES: Acho que infelizmente o futebol faz a pessoa
ir ao céu ou ao inferno. Eu estou trabalhando pelo Corinthians desde
meus 18 anos, mais de 15 como diretor de categoria de base e depois me
torneio presidente. Lógico que sei o que fiz pelo Corinthians, entre
erros e acertos acho que acertei mais que errei. Pela relação que tenho
no futebol, por tudo que fiz, cheguei a este cargo, que estava extinto
na CBF há muito tempo. Vou procurar ajudar o máximo possível a Seleção e
o país e jamais poderia dizer não.
Você tem noção da importância do cargo?
Tenho ciência da responsabilidade que eu tenho. Não caí de para-quedas,
não vim sem saber de nada. Eu sabia da responsabilidade, ainda mais por
ser uma Copa do Mundo no Brasil. A pressão, a cobrança, os olhos vão
estar mais voltados do que naturalmente já estão em uma Copa do Mundo.
Mas eu não poderia falar não para a CBF, muito menos para a nação
brasileira. Eu sei da minha capacidade, a CBF já tem um planejamento, eu
estou vendo o que acho que tem que mudar, mas acho que vai levar um
tempinho ainda e vamos fazer o melhor possível.
Vocês não acreditam, mas nós, eu e Juvenal, sempre fomos amigos. Somos amigos até hoje"
Andrés, sobre o presidente do São Paulo
A identificação com o Corinthians pode atrapalhar seu trabalho?
Não, senão não teria dirigente em clube nenhum, em confederação, em
federação. Muito menos jornalista... Todo mundo tem um time, uma paixão.
Se tem uma coisa neste país que 99% da população torce é por um time de
futebol. O jornalista é corintiano e escreve sobre o Palmeiras, o
jornalista é flamenguista e escreve sobre o Vasco. Isso a gente teria
que acabar. Não vejo nada demais. Vai depender da minha capacidade. Sou
corintiano, gosto do Corinthians. Mas não tem nada a ver.
Mas, por exemplo, na reta final do Brasileirão começaram a surgir...
(Interrompe) Dos ignorantes, dos hipócritas desse país.
Falavam que poderia haver favorecimento ao Corinthians. Isso te incomodou?
O que me incomoda são as insinuações que a imprensa faz. E que algumas
pessoas fora da imprensa também fazem. Você acha que eu conseguiria
fazer a armação que algumas pessoas escreveram e outras disseram para
deixar na última rodada com bola na trave, no sufoco? São coisas
ridículas. São coisas que nesse país são hipocrisia. O presidente da
federação paulista torce para o Palmeiras, então o Palmeiras vai ser
campeão todo ano? O presidente da CBF é flamenguista, todo mundo sabe,
então o Flamengo vai ganhar todo ano? O da catarinense é Figueirense, o
gaúcho torce pro Inter... Insinuam coisas por maldade ou hipocrisia.
Agora como diretor de seleções da CBF, você acha que terá que ser ainda mais político nessas relações?
Não, vou ser político não. Vou tomar aquilo que for o melhor para a
CBF, sempre pensando nos atletas e nos clubes, e eu tenho que agir
sempre o melhor possível para a CBF, respeitando todos os clubes e
principalmente os atletas.
Antes você defendia a ferro e
fogo o Corinthians, claro. Agora tendo um cargo nacional, a sua relação
com outros dirigentes têm que ser um pouco...
(Interrompe) Sempre foi boa! Eu recebi muito mais elogio que
críticas quando vim. São Paulo elogiou, Flamengo elogiou, Inter elogiou.
Todo mundo elogiou. O único que falou um pouco foi o Vasco, com o
Roberto, mas foi num momento, e depois já conversamos sobre isso, não
tem problema nenhum.
Juvenal e Andrés: troca de provocações pela imprensa (Foto: Montagem sobre foto da Ag. Estado)
O São Paulo falou o quê?
“Está de parabéns”. Vai falar o quê? Vocês não acreditam, mas nós, eu e Juvenal, sempre fomos amigos. Somos amigos até hoje.
Mas a imagem que vocês passam é que brigam muito pela imprensa.
É a imagem que vocês, imprensa, querem fazer. Eu não tenho problema nenhum com ele não.
Como
você disse, esse cargo de diretor de seleções estava sem dono há algum
tempo. Quando você foi convidado, o que foi passado para você? O que o
Ricardo Teixeira pediu? Em quem você se espelha?
Eu não me espelho em ninguém e me espelho em todos. Eu fui presidente
de um clube. Então, eu sei o que é um diretor de seleções. É como um
vice-presidente de futebol de um clube. Só que hoje é a Seleção
Braisleira. Vou tentar ter o melhor relacionamento possível com todos e
tentar ver a melhor maneira para a CBF sem prejudicar ninguém.
Meu maior erro foi ser presidente do Corinthians. Tornar-se público nesse país é um preço muito caro"
Andrés
Nas últimas Olimpíadas a CBF teve problemas para liberar jogadores de clubes europeus. Você que fará esse contato com os clubes?
Eu e a comissão técnica. Estamos trabalhando, mas ainda não sabemos se
vamos convocar jogadores com mais de 23 anos. Sobre os sub-23, vamos ter
que conversar. Estamos fazendo o planejamento.
No Corinthians, todos tratam a Libertadores como obsessão. Em relação às Olimpíadas, é assim também na Seleção?
Infelizmente, ou felizmente, pela cobrança que se tem nesse país sobre
futebol, qualquer Seleção que for jogar, da sub-12 a sub-50, é obrigação
ganhar. Amistoso, Olimpíadas, Copa do Mundo... Tudo que o Brasil
entrar, infelizmente, a obrigação e a cobrança é para ganhar. Nesse
país, ser vice, ser terceiro colocado não vale nada. Isso está errado.
Até que ponto é a sua autonomia na CBF?
A CBF tem um presidente. É presidencialista. É óbvio que os problemas
do dia a dia eu resolvo. Mas se for uma coisa muito mais séria, é óbvio
que eu vou consultar o presidente da entidade. Isso você não tenha
dúvida, eu sei da minha posição. Se eu tiver que mudar o treinador um
dia, é óbvio que eu vou falar “presidente, acho bom por isso, por isso e
por isso”. É presidencialista, concordem ou não. E eu estou abaixo do
presidente. Vamos trocar ideia e conversar. Quando você vai mudar alguma
coisa da estrutura, do planejamento da CBF, a logística, a imprensa,
tudo vai ser conversado. A CBF já tem um planejamento, concordem ou não.
Eu vi, a CBF tem um planejamento e é muito bem feito. É ir se adaptando
para ir entrando nesse negócio.
Mano e Andrés no Corinthians: dirigente diz que
não indicou técnico à Seleção (Foto: Gustavo Tilio)
A sua relação com o Mano, desde o Corinthians, pode ajudar?
Minha relação com o Mano é profissional. Ele nunca foi na minha casa e eu nunca fui na dele.
Então, a sua relação profissional com o Mano pode ajudar?
Acho que ele é um treinador competente. Tem erros e acertos, como todos
têm, mas algumas coisas com o tempo vamos ver o que vamos fazer para
ser melhor para todos. Lógico que facilita.
Mas o fato de vocês se conhecerem pode facilitar sua adaptação ao cargo...
(Interrompe) Ao
cargo já estou adaptado, eu vim de cinco anos como presidente de clube,
não tem mais tanto segredo. Mas é óbvio que eu conhecer o trabalho dele
facilita, eu sei os defeitos e as virtudes. E vamos tentar fazer o
melhor possível para a Seleção.
Você sempre reclamou
bastante do desgaste que era no Corinthians, pois você sempre tinha que
resolver não só o futebol, como outros problemas do clube. Esse cargo
vai te dar mais tranquilidade para você poder fazer o trabalho que você
sabe? E por não ter o desgaste da competição.
Num clube tem mil problemas por dia. Nas seleções, vão ter cem. Só que
os das seleções são muito maiores que os do clube. A proporção é muito
maior. São 250 milhões de pessoas vendo a sua seleção jogar. E ainda tem
mais 2 bilhões fora do Brasil que querem ver a Seleção jogar.
Obviamente, a responsabilidade é muito grande.
Copa de 2014 é uma coisa. Olimpíada é outra"
Andrés, sobre o futuro de Mano
O fato de não ter a pressão diária da competição...
(Interrompe, irritado) Mas
tem jogos, todo mês praticamente. E tem convocação, 15 dias antes do
jogo, que todo mundo reclama se convocou esse ou convocou aquele. “Levou
o Joãozinho, mas não levou o Pedro”... Tudo isso é cobrança, tudo isso é
problema, tudo isso é desgaste, tudo isso é canseira... Os problemas
são menores no dia, mas muito maiores na repercussão.
Você disse que teve muitos erros e acertos no Corinthians. Qual foi seu maior erro?
Meu maior erro foi ser presidente do Corinthians. Tornar-se público
nesse país é um preço muito caro. Infelizmente a exposição que se põe na
mídia... O cara está passando na esquina, está me vendo e me julgando
sem saber quem eu sou. Pelo que você escreve, principalmente. Isso,
neste país, é muito difícil. Mas ninguém me obrigou a ser, eu fui, acho
que fui bem. Ninguém me obrigou a ser diretor de seleções, foi um
convite, eu poderia dizer sim ou não. Eu aceitei, sei da exposição que
eu vou ter, dos problemas que vou ter, sei dos pepinos que virão.
O que você considera a maior injustiça que fizeram com você?
Não só comigo, com toda pessoa que é pública nesse país. São as
insinuações. Vocês falam, insinuam, que a pessoa é isso ou aquilo há 20
anos. Eu acredito na Justiça desse país ainda. Você não pode ficar todo
dia insinuando na imprensa que um cara é isso ou aquilo.
Ao
mesmo tempo, Andrés, você se tornou uma pessoa popular. Principalmente
com o corintiano, você é uma celebridade. Tira foto, dá autógrafo...
(Interrompe) Toma pedrada também.
Sim, mas bem menos que o antecessor (Alberto Dualib).
Foi menos porque o resultado dentro de campo e administrativamente foi bom. O futebol é resultado.
Ricardo Teixeira escolheu Andrés para ser o diretor de seleções da CBF (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Mas por que você acha que atingiu esse nível de popularidade?
Primeiro porque eu vim de arquibancada, eu sou torcedor comum. Só por
esse motivo já há uma identificação maior. E fora isso foi por todo o
trabalho que eu fiz no Corinthians, não vou ser hipócrita de achar que
foi porque eu sou bonito. Foi pelo trabalho que foi feito, os
resultados, tudo isso ajuda a ter popularidade, a ter um respeito
maior... Até quando você erra, dão um entendimento maior. A pessoa tem
mais paciência quando você erra por tudo que você fez. Tudo isso me
ajudou bastante.
Quando você era do Corinthians, as pessoas te cobravam nas ruas. E agora, como diretor de seleções, o que te pedem?
Já estão cobrando. “Tem que melhorar o time”, “tem que ganhar”, “tem
jogador que não tem que ir”. Digo que 99% da população brasileira tem um
time de futebol. E nós temos 200 milhões de treinadores. E 100 milhões
de presidentes, uns 200 milhões de diretores. Cada um tem sua ideia. A
CBF tem seu planejamento. Lógico que todo planejamento não é eterno,
você pode mudar algumas coisas no caminho. Mas temos um planejamento e
temos que segui-lo. Mesmo com algumas coisas que não estão dando certo
no momento. Se você tem a certeza que está no caminho certo, tem que
escolher o caminho.
O resultado na Olimpíada pode mudar esse planejamento para 2014?
Não... Copa de 2014 é uma coisa. Olimpíada é outra.
O estádio está orçado em até R$ 820 milhões. Acabou. E não vai passar disso"
Andrés, sobre valor do estádio do Corinthians
Mas é o mesmo treinador...
Sim, mas o planejamento é totalmente diferente.
Então, a princípio, ganhando ou perdendo a Olimpíada o planejamento com o Mano segue?
O planejamento é da CBF, que o Mano está em um contexto, que eu estou
em um contexto. Eu não sei se daqui a um ano eu ainda vou ser diretor de
seleções. O planejamento que tem na CBF não é o Mano, eu... É o
presidente, que tem um mandato até 2015, então ele realmente está
fincado nisso. Os outros têm que seguir nesse planejamento melhorando
aquilo que pode melhorar, mudando aquilo que se acha que tem que mudar.
Você pode ou quer ser presidente da CBF um dia?
Eu já disse que não trabalhei nunca para ser diretor de seleções, muito
menos para ser presidente da CBF. Eu acho que tem muita gente na minha
frente e não trabalho com essa hipótese. Vou falar o que falei na época:
“Quero sair do Corinthians e ir embora para a minha casa”. Hoje falam
que eu sou mentiroso, que eu falei que ia embora para casa e assumi a
Seleção. Se eu te falar agora que eu não vou ser presidente da CBF, se
eu quero ser, se eu não quero ser, que um dia eu vou ser... eu não sei.
Eu não trabalho com essa hipótese. Acho que tem gente na minha frente,
falo isso com o coração aberto, com sinceridade.
Quem, por exemplo?
Não vou falar o nome, mas acho que tem gente na minha frente. Você
mesmo falou que eu tive uma ascensão em quatro, cinco anos... Tem gente
que teve uma ascensão muito grande há 20 anos. Cada um tem sua etapa.
Você diz que gosta de futebol, que é torcedor de arquibancada. Como dirigente, pensa em dar palpite nas escalações ou se segura?
Não. Acho que quem tem que convocar, desconvocar e fazer é o treinador.
O que eu posso fazer se achar que ele errou três, quatro, cinco vezes é
trocar de treinador. Mas quem decide tudo é o técnico, não me meto em
nada disso. Nunca me meti em clube e muito menos vou me meter em
seleção.
Andrés vibra com Tite a conquista do Brasileirão de2011 pelo Timão (Foto: Marcos Ribolli)
Alguns veículos da imprensa publicam que você influencia nas
decisões do Ricardo Teixeira, como na escolha do Mano Menezes para
técnico. O que tem de lenda e o que tem de verdade?
Tudo lenda. Me dão um poder que eu não tenho. Já falei uma vez e vou
repetir: nunca falei com o presidente Ricardo Teixeira sobre treinador.
Nunca, nem na Copa, nem depois da Copa. Quando ele decidiu que seria o
Mano, ele me ligou e perguntou se eu tinha algo contra ou a favor. É que
nem o negócio do estádio. Eu nunca falei com o presidente sobre estádio
durante a Copa do Mundo. Mas eu falo isso 500 mil vezes e ninguém
acredita. Você vai escrever amanhã: “O Andrés falou isso, mas se diz
isso”. É insuportável.
Em uma matéria da revista “Época”
há uma declaração sua dizendo que o preço do estádio em Itaquera chegará
a R$ 1 bilhão. Em seguida, o Corinthians soltou uma nota desmentindo a
informação. O que aconteceu?
Eu me expressei mal. O jornalista não escreveu mentira. Vocês sabem que
eu não sei falar o português corretamente. Às vezes a pessoa não tem o
contato diário que alguns têm comigo, que sabem que quando troco alguma
palavra já entendem o que quero dizer. Eu disse que “queriam que o
estádio custasse mais de R$ 1 bilhão”. Mas não falei “queriam”. Falei
“dizem que nós falamos que vai custar mais de R$ 1 bilhão”. Não
desmenti, eu corrigi. O estádio está orçado em até R$ 820 milhões.
Acabou. E não vai passar disso. Em alguns meses o próximo presidente vai
abrir as contas do estádio.
A construção do estádio é a sua maior conquista como dirigente?
Não. Minha maior conquista foi apoiar a mudança no estatuto para não
ter reeleição. Acho que em clube, quanto menos reeleição melhor.
Tudo lenda. Me dão um poder que eu não tenho"
Andrés, sobre interferência no futebol brasileiro
O fato de você ter entrado no lugar de um presidente totalmente desgastado ajudou você a ter um caminho mais fácil?
Eu acho o Dualib o maior vencedor dentro do Corinthians, como vocês
escrevem e falam. O que aconteceu é que peguei a seis jogos de cair para
Série B. Dei minha responsabilidade. No futebol quando você está no
fundo do poço aparecem poucas pessoas para te ajudar. Quando você está
por cima vem o mundo. Isso ajudou a tomar as decisões dentro do clube,
muito mais rápido e muito mais forte do que se o time estivesse bem.
O que ser chefe da delegação na Copa ajudou a entender melhor a Seleção Brasileira?
É óbvio que ajudou. Você pega uma Copa do Mundo, com toda estrutura.
Parte de imprensa, logística, pressão dos atletas, da comissão técnica.
Aprendi muito. Foram 40 dias da minha vida no meio do futebol que mais
eu vi e aprendi.
O que pode citar de exemplo do que viu na Copa e não quer que repita?
Tem um monte de coisa errada que não pode se repetir, como tem também
um monte de coisa boa que precisa se repetir. Tem de achar um meio
termo. Não está tudo errado porque perdemos, como não estaria tudo certo
se ganhássemos. Estamos todos nesse planejamento, cada dia vai
corrigir. Não existe perfeição. O dia que existir está todo mundo morto.
Há
uma ilustração sua ao lado do ex-presidente Lula na arquibancada em uma
das imagens do projeto do estádio do Corinthians. É assim que você se
vê na abertura da Copa?
Eu não vou estar na arquibancada se eu for diretor até lá. Eu tenho
minha responsabilidade. Se conseguir chegar até a Copa do Mundo vou
estar cheio de problemas tentando resolver e ajudar.
Lula e Andrés aparecem em ilustração do futuro estádio do Corinthians (Foto: Divulgação)
Parecia que era um sonho seu reproduzido ali. Você que pediu a ilustração?
Amigo, eu levei duas semanas para entender que era eu e o Lula (risos).
Foi uma montagem que fizeram. Isso é coisa de corintiano.
Você saiu recentemente da presidência, mas os atuais dirigentes ainda o contatam. Acha que isso vai durar muito?
Já diminuiu bastante. Logicamente que no primeiro mês vou ajudar. Passo tudo que tem de passar. Não tenho nada com isso não.
Se o Mário Gobbi vencer as eleições, ele não vai querer você ao lado?
Ele vai querer a administração dele. Quando você senta na cadeira, você quer fazer o seu.
O grande problema da Seleção é faltar competitividade. O emocional é outro"
Andrés, sobre a ausência nas eliminatórias
Mas você não acha que em um momento de insegurança ele pode recorrer a você?
Pode recorrer como a Patrícia (Amorim, presidente do Flamengo) já
recorreu, como o (Roberto) Dinamite (presidente do Vasco). São ideias
que trocamos como esportistas. Obviamente que trocamos ideias.
Muitos presidentes de outros clubes te ligam?
Conversamos bastante. Vocês não acreditam, mas eu me dou bem com todos
os presidentes. Vamos marcar um dia uma entrevista eu e Juvenal juntos.
Não tem problema nenhum.
Do que você mais gosta de viver no Rio?
É uma cidade turística, linda, uma das mais bonitas do mundo. Tenho
filho carioca. Adoro praia, apesar de ser branquinho. Além do
entendimento do povo carioca, a alegria maior. Indepentemente disso, sou
brasileiro.
Os cariocas te provocam nas ruas?
Sempre fui sempre muito respeitado. Até o dia que tomei a vaia... (NR:
na Festa do Brasileirão de 2010, conquistado pelo Fluminense, Andrés foi
vaiado no Theatro Municipal).
Precisamos de mais “Andrés Sanches” no futebol?
Um só é suficiente. Procuro ser o mais sincero possível.
Nós acompanhamos bastante as obras no estádio em Itaquera e vimos o orgulho dos operários...
(Interrompe e diz que já sabe a pergunta) A partir do momento que a
obra é privada, do Corinthians, o relacionamento é totalmente
diferente. O governador não pode ir todos os dias. Eu vou a hora que
quiser ir. Obviamente que o funcionário tem uma relação muito maior.
Escolhemos o máximo de corintianos possível. Há o orgulho de fazer uma
obra importante para o país.
Você acha que vou me sujeitar a ser escudo de alguém? Eu posso querer ser, mas me sujeitar não "
Andrés
Mas o que eu ia perguntar é se você tem ideia de colocar os operários no jogo de inauguração, antes da Copa do Mundo.
Os operários estão indo a todos os jogos do Corinthians. Está sendo
feito um sorteio. Mas é óbvio que os funcionários vão estar no jogo
inaugural. É uma questão humanitária. Qualquer pessoa com o mínimo de
sensibilidade.
O Rosenberg (Luís Paulo Rosenberg, diretor de marketing do Corinthians) quer um jogo do clube contra a Seleção Brasileira.
Ele não conversou comigo. Eu, como novo diretor de seleções. Mas eu não sou a favor de jogos de seleção contra clubes.
Quero perguntar uma coisa que não é do seu cargo...
Então não pergunta.
Mas como cidadão, você tem sua opinião.
Qual a diferença do diretor para o cidadão?
O que eu gostaria de saber é sua opinião sobre como o Brasil está se envolvendo com a Copa?
Não é que eu não queria comentar. O planejamento está feito. Vai ser
aperfeiçoado. O grande problema da Seleção é faltar competitividade. O
emocional é outro. O brasileiro ainda não se envolveu totalmente com a
Copa. Mesmo aquele que for contra tem de pensar no legado que vai
deixar. Temos de brigar e lutar pelo legado. Falta tudo, governantes,
cidadão.E ainda não estamos em clima de Copa do Mundo.
Andrés abraça Ronaldo no dia da despedida do
Fenômeno dos gramados (Foto: Marcos Ribolli)
Algums perguntas curtas. Qual o maior jogador que já viu?
Ronaldo.
O melhor jogo?
Brasil x Itália de 1982. Estava no quartel. Servia o exército.
Maior tristeza no futebol?
Em 1999, perder a Libertadores para o Palmeiras.
Maior que o rebaixamento?
Do rebaixamento não gosto nem de lembrar.
Maior alegria?
É ver o futebol mais bonito que tem. O que os governantes não entendem é
que o maior meio de comunicação com a população é o futebol. Não sabem
usar isso. Campanhas contra câncer de mama, pela doação de sangue. Temos
de envolver isso muito mais no futebol.
Que jogador gostaria de ter visto no Corinthians?
Ronaldo com 20. E o Romário, que foi uma falha que o Corinthians teve. É um jogador também formidável.
Seria o que se não fosse Corinthians.
Corinthians. Acima de tudo, brasileiro.
Seu cargo vai ficar superdimensionado por que o Ricardo Teixeira fala pouco com a imprensa?
As pessoas insinuam que o presidente está fazendo isso para se
proteger. Não existe isso. Todo mundo sabia. O presidente está
consciente. Não fui colocado para ser usado, muito menos o Ronaldo
(membro do Comitê Organizador da Copa de 2014). Você acha que vou me
sujeitar a ser escudo de alguém? Eu posso querer ser, mas me sujeitar
não. Eu sei o tamanho daquilo que tenho. Cada um com a sua
responsabilidade. Foi tratado e foi falado isso. Muitas vezes. Eu sou um
cara que procuro ser o mais justo e o mais coração possível. O crime
são as insinuações. Nunca deixei de responder, de dar entrevista.
'Acima de tudo, brasileiro', diz Andrés no Rio (Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
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