Linha-dura no tema, técnico tem histórico de punições a jogadores por quilos em excesso. Último preparador físico diz que atacante precisa se conscientizar
Walter é o principal alvo de Walter (Foto: Fernando Vasconcelos / Globoesporte.com)
Apesar de dizer que exige que o atacante melhore a forma, Renato Gaúcho mostrou paciência e ciência de que a tarefa não será fácil. Logo ele que ao longo da carreira como técnico sempre pegou pesado com seus comandados. Entre 2007 e 2008, no Vasco, o ex-atacante condenou a forma física do volante Júnior, a quem chamou de “redondinho”, e do atacante chileno Maurício Pinilla. Em 2008, Baiano, Odvan e até Edmundo apresentaram variação do peso e foram obrigados a emagrecer. A questão era simples: perder calorias ou perder dinheiro.
- Eles têm até sexta-feira, é o prazo. Depois disso, vamos
cobrar R$ 300 por dia para cada quilo acima do peso – frisou o treinador na
época.
Dois anos se passaram, Renato assumiu o Grêmio e inflacionou
a punição para quilos a mais. No Tricolor gaúcho, a “caixinha”, como os atletas
chamam os valores arrecadados com multas internas, subiu para R$ 500 por quilo
em excesso. Na época, o meia Douglas,
hoje no Corinthians, teve de desembolsar R$ 2 mil. O saldo era doado ao
Instituto Geração Tricolor (IGT), entidade de auxílio a funcionários do clube e
a jovens das categorias de base.
Walter e o peso: luta
constante
Para parentes e amigos do Coque, favela do Recife em que
nasceu e foi criado, ele é Quico. Entre os torcedores do Goiás, virou Tufão.
Apelidos nunca foram um problema para Walter, mas o mais recente deles tira o
atacante do sério. O sorriso, que já é raro, desaparece por completo do rosto
quando é chamado de gordinho. Não que ele não reconheça que esteja acima do
peso, pelo contrário, mas sente-se ofendido. Fica magoado mesmo.
O Fluminense espera Walter acima do peso depois das férias.
No Goiás, ele, que tem 1,76m de altura, chegou a pesar 93 quilos, o menor peso
em dois anos de clube. Em agosto do ano passado, o jogador dizia que estava com
93 quilos – o Goiás não confirma - e que precisava perder pelo menos mais
quatro. Suava a camisa para queimar calorias e sofria para evitar as
guloseimas.
- Eu comia muita bolacha recheada, bebia refrigerante. Isso é o principal,
que eu tomo muito. É difícil cortar. Antes, tomava duas ou três latinhas. Estou
tentando cortar. Comer eu não como muito. Mas é mais besteira. Antes comia um
pacote de bolacha em um minuto, dois minutos. Hoje, eu como três e guardo o
resto do pacote. A latinha de refrigerante é uma só – disse na ocasião.
Para controlá-lo, o preparador físico do Goiás, Robson
Gomes, chegou a liberar uma latinha de refrigerante para o atacante depois de
vitórias do Esmeraldino. O técnico Enderson Moreira, hoje no Grêmio, também
aplicava punições financeiras ao jogador. Ao longo da temporada, a fartura de
gols sempre esteve acompanhada do excesso de quilos.
- Foi espetacular tudo que aconteceu conosco. Chegamos num ponto que considerávamos perto do ideal. Nunca foi o ideal. A gente torce para que no Fluminense chegue tão próximo. A gente tinha como ideal, até porque entramos em contato com outros profissionais que trabalharam com ele, que atingisse o peso do Internacional, na casa de 90 quilos, para que ele não perdesse a capacidade de força, que é uma característica dele – disse Robson.
De acordo com o preparador, Enderson Moreira teve papel fundamental na conscientização de Walter. Além disso, o jogador foi abraçado pelo clube, pelos torcedores e se motivava ao ver o resultado do emagrecimento estampado nas páginas dos jornais após boas partidas e gols.
- Durante esses dois anos, a gente sentiu que em determinados momentos ele estava dentro do que projetávamos como evolução. Um fator primordial foi a presença do Enderson, ele tem um respeito muito grande pelo Enderson, talvez tenha sido o único técnico que entendia que mesmo acima do peso o Walter dava uma resposta que talvez outros atletas não fizessem. Procurei mostrar que no primeiro ano ele enfrentou atletas de Série B. E na segunda temporada seriam de Série A, teria que ter um cuidado maior, dedicação maior, justamente porque a gente sabia que ele ia ter mais dificuldades. Mesmo acima do peso conseguiu dar uma resposta muito boa. Tem a seu favor o organismo que trabalha acima do peso. Ele sempre percorria de três a quatro quilômetros em treinos de finalização, treinos táticos, e complementávamos com mais dois ou três de corrida para que ele fizesse pelo menos seis diários. Uma pena que sofreu a lesão (muscular, na reta final da temporada). Depois da lesão, não conseguiu voltar ao peso próximo do ideal.
Alterações de humor também faziam parte da rotina de Walter no Goiás, principalmente nos trabalhos de recuperação pós-jogos. Robson é muito querido por Walter, e o preparador físico é incentivador e torcedor do atacante
- Ele é um jogador, ele não entendeu a carreira ainda como atleta. A partir do momento que entender, vai estar na lista do Felipão com certeza. Ele tem que entender isso para saber aproveitar o talento que Papai do Céu deu para ele.
Por ora, o Fluminense prefere minimizar o tema. Quer esperar que Walter chegue, passe por exames médicos, avaliações físicas e seja apresentado. Depois, Renato e sua equipe terão uma reunião com o jogador para traçar metas. O jogador terá de andar na linha, e a cobrança do treinador começou antes mesmo da contratação. Em 28 de dezembro, durante partida beneficente de Zico no Maracanã, Renato conversou com Walter e estabeleceu suas condições para que o atacante acertasse com o Tricolor.
Renato tem passado de ex-gordinho
Apesar de não ter lá muita paciência com os gordinhos que encontra pelo caminho, Renato já teve um passado de excesso de peso. Em 2008, quando estava no Vasco, o treinador foi entregue pelo então gerente de futebol do clube, Carlos Alberto Lancetta, que fora seu preparador físico no Flamengo em 1987.
- Se vocês pegarem as matérias que existem nos jornais, o Renato tinha uma dificuldade muito grande. Quando cheguei ao Flamengo, ele tinha excesso de peso e fez um trabalho físico. Se vocês recordarem a Copa União de 87, o Renato foi um show, em 88 também. Tudo isso porque cobrávamos dele. Na época tínhamos esse problema e ele fez um trabalho específico. Por isso, ele sabe mais do que ninguém que só teve aquele rendimento porque melhorou fisicamente – contou Lancetta na época.
* Colaborou o estagiário Thiago Benevenutte
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2014/01/vigilante-do-peso-walter-e-o-novo-alvo-da-lista-de-renato-gaucho.htm
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