Zé Roberto se diz calejado para cobranças (Foto: Fabio Menotti/Ag. Palmeiras/Divulgação)
Os
40 anos de idade não são um peso para Zé Roberto. Nas palavras do
principal reforço do Palmeiras até agora para 2015, os melhores momentos
da carreira foram vividos justamente depois dos 30. Foi nesse período
em que ele disputou uma Copa do Mundo, teve sua segunda passagem pelo
Bayern de Munique, abdicou das convocações para a Seleção, à época
também comandada por Dunga, e atuou duas vezes no Brasil, por Santos e
Grêmio.
Prova de que o tempo não é um incômodo é que Zé sequer
faz uma projeção de quando vai pendurar as chuteiras. Com o desafio de
ajudar na reconstrução do Palmeiras, ele assume a responsabilidade de
ser protagonista ao lado de Valdivia e revela os segredos da
longevidade.
De férias em São Sebastião, cidade do litoral
norte fortemente afetada pelas chuvas em São Paulo, ele não vai ficar
parado. O jogador receberá a ajuda de um preparador físico alemão que
trabalhou com ele no Bayern de Munique.
O veterano é a sexta
contratação do Palmeiras para 2015. Antes dele, o clube havia acertado
com o zagueiro Vitor Hugo e o volante Andrei Girotto, ambos do
América-MG, o também volante Amaral, do Goiás, o lateral-direito Lucas,
ex-Botafogo, e o atacante Leandro, da Chapecoense.
Confira a entrevista exclusiva com Zé Roberto:
O que você vai fazer nas férias para manter o condicionamento físico?
O
mesmo de sempre. Eu corro e faço musculação para me manter bem. Nada
com muita intensidade, porque a pré-temporada exige muito, mas para
chegar bem e não sofrer tanto.
Você tem a ajuda de alguém nessa preparação?
Tenho
um amigo alemão preparador físico que vem me acompanhar durante as
férias. É o Jürher. Ele vai vir (a São Sebastião) na próxima semana e
nesse período faremos exercícios funcionais, para lombar e abdômen. São
regiões que preciso manter fortalecidas. Me ajudam a evitar lesões e me
deixam equilibrado. Nos conhecemos na época em que trabalhamos juntos no
Bayern (de Munique), de 2007 a 2008. Quando eu saí ele também estava
saindo e começamos a fazer esse trabalho sempre nas férias. No Hamburgo,
no Catar e no Grêmio. Faço nas férias ou na primeira fase dos
campeonatos, quando não há duas partidas por semana.
Aos 40 anos, posso dizer com segurança que não sei quando vou parar. Normalmente há uma projeção, mas eu não tenho.
Zé Roberto
Então, ele é um dos segredos para a sua longevidade?
Com certeza. Me lembro que desde que comecei esse trabalho com ele a
cada ano que passa fico mais surpreendido com a minha
performance. Mantenho a parte aeróbica com corrida e fortalecimento
muscular. Procuro sempre ter uma academia perto de onde estou. Esses
requisitos são o segredo da minha longevidade. Nas férias sempre treino e
isso me ajudou a não ter lesões graves na carreira. Sempre cuidei do
meu corpo. Quando percebi que ele era o meu instrumento de trabalho,
passei a cuidar com alimentação e repouso, dormindo sempre de oito a
nove horas. Aos 40 anos, posso dizer com segurança que não sei quando
vou parar. Normalmente há uma projeção, mas eu não tenho.
Por que diz isso?
Com
33 anos voltei ao Brasil para jogar no Santos. Foram dez meses entre
2006 e 2007. Diziam que estava voltando com uma idade avançada.
Infelizmente faz parte da nossa cultura no Brasil dizer que acima dos 30
anos o jogador está velho. Voltei também quebrando um tabu. Parece que a
partir dos 30 anos passei a viver os melhores momentos da carreira. Fui
campeão Paulista, considerado o melhor jogador do campeonato e chegamos
a semifinal da Libertadores. No fim do ano recebi um prêmio como melhor
jogador da atualidade no Brasil. Depois o Dunga me convocou para a
Seleção e recebi uma proposta de dois anos para jogar no Bayern. Pedi
dispensa, porque seria muito jogar pela Seleção e na Europa. Optei por
não jogar mais pela Seleção e só pelo Bayern.
Zé Roberto disputa bola nas quartas de final da
Copa de 2006, contra a França
(Foto: Getty Images)
Você se arrepende dessa decisão?
Não,
porque meu tempo já tinha passado e a seleção precisava de uma
reformulação, iria dar oportunidade aos mais jovens. Percebi que meu
ciclo havia acabado, embora ainda tivesse muito futebol para dar a
Seleção. Tanto que fui convocado. Depois do Bayern fui para o Hamburgo,
joguei mais um ano no Catar e dois anos e meio no Grêmio, onde ganhei
outro prêmio como melhor lateral-esquerdo, aos 40 anos. Com uma
trajetória dessas é difícil falar quando eu vou parar. Essa fase dos 30
aos 40 anos foi a melhor da minha vida. E agora tenho um novo desafio:
jogar no Palmeiras, um clube grande. No fim do ano eu decido o que faço.
No Palmeiras você vai preferir jogar como lateral ou meia?
Como
o Oswaldo me conhece muito bem, apesar de não ter trabalhado com ele,
posso jogar nas duas. Não tenho dificuldades. A lateral exige mais,
porque precisa apoiar e marcar, mas não tenho preferência. Joguei em
várias posições: volante, segundo volante, meia de ligação... onde me
colocar eu jogo. Faço o que eu gosto, então estou feliz.
Zé Roberto se dispõe a jogar como lateral ou meia no Verdão (Foto: Carlos Augusto Ferrari)
Aos 40 anos, tem alguma meta de jogos para a temporada?
Quero
jogar o máximo possível. Claro que como o calendário do Brasil exige
muito não dá para jogar todas, porque tem viagem, Copa do Brasil,
Paulistão e Brasileiro. Às vezes, com a comissão técnica decidimos tirar
de um ou outro jogo, mas quero atuar sempre (
Nota da Redação: Zé Roberto fez 44 partidas em 2014, pelo Grêmio).
Na Alemanha você jogou em estádios modernos, e agora terá a oportunidade atuar na nova casa do Palmeiras. Conhece algo?
Não,
mas o que me passaram foi que ficou muito bonito e aconchegante para o
torcedor. Espero que traga alegria. Joguei na Allianz Arena, que não
chega a ter uma acústica com o estádio cheio que faça pressão no
adversário. A do Grêmio também, mas a do Palmeiras, mesmo sendo menor,
com capacidade para 45 mil pessoas, traz uma atmosfera diferente da dos
outros estádios. Essa é a minha percepção e acho que será um componente
importante para o nosso sucesso.
Aos 40, se me comparar com jogadores de 20 e poucos anos dá para juntar uns quatro para sair um
Zé Roberto, reforço do Verdão
Você se considera o melhor presente de natal para a torcida do Palmeiras?
Se
agregar tudo o que conversamos, com certeza. Encontrar um jogador que
chega agregando tudo isso no mercado será difícil, modéstia à parte. Mas
não me considero o principal reforço. Espero que cheguem outros. Pelo
que foi passado para mim vão chegar outros jogadores para o Palmeiras
ter um time competitivo. Estou indo jogar no Palmeiras porque é um clube
grande, mas só a grandeza não adianta. Precisa voltar a pensar grande,
para também alcançar os objetivos da temporada. Posso ver que voltou a
pensar grande, contratando um técnico como o Oswaldo, que tem muita
bagagem. Eles me mostraram um projeto interessante, com jogadores que
chegaram e que também devem chegar para nos ajudar a fazer o Palmeiras
voltar a ser grande da forma que é.
Nessa época de natal, há quem diga que você será o "bom velhinho" do Palmeiras. Concorda?
Não
gosto dessa expressão, porque falam de jogadores veteranos. Aos 40, se
me comparar com jogadores de 20 e poucos anos dá para juntar uns quarto
para sair um. O 40 é só um número. Não sinto o peso dele.
Você assume, ao lado do Valdivia, a responsabilidade de ser protagonista?
Sim,
com certeza. Responsabilidade e cobrança sempre existiu. No Palmeiras
não será diferente. No Santos, Grêmio, nos clubes grandes e na Seleção
foi assim também. Estou calejado. Chego para agregar junto com outros
que precisam e vão assumir essa responsabilidade, com a certeza de que
com mais reforços tudo vai dar certo.
Zé Roberto assinou com o Palmeiras até dezembro
de 2015 (Foto: Fabio Menotti/Ag.
Palmeiras/Divulgação)
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