Cristóvão
Borges chegou ao Fluminense, na tarde desta quinta-feira, decidido a
não perder tempo e com a sensação de um iniciante. Apresentado pelo vice
de futebol, Ricardo Tenório, como substituto de Renato Gaúcho, o
treinador, ex-Vasco e Bahia e que assinou contrato com o Tricolor até o
fim do ano, começou a trabalhar logo após coletiva realizada nas
Laranjeiras. Com as atenções iniciais voltadas ao jogo de volta contra o
Horizonte-CE, dia 10, a missão imediata é evitar uma eliminação na
primeira fase da Copa do Brasil.
Cristóvão
assume com a responsabilidade de dar padrão de jogo ao time, mas já sob
risco de queda na segunda competição mais importante do país. Pior:
chega sem o aval do presidente da patrocinadora do clube, Celso Barros,
que não queria a demissão de Renato. Embora em diversos momentos da
coletiva tenha se classificado como um iniciante, alguém que ainda está
aprendendo com profissionais mais gabaritados, demonstrou confiança na
possibilidade de mudar o quadro.
– É um desafio
grande pelo tamanho e pela qualidade do Fluminense. Mas o clube e o time
têm potencial para corresponder. Todos vocês falam que o time pode
muito mais, e eu acho que pode muito mais. Estou aqui, espero que possa
fazer isso acontecer. A vontade é grande, estou muito motivado para
isso. E sabendo da qualidade dos jogadores, o desafio me deixa muito
motivado. É um desafio, temos de tirar essa vantagem, o time tem
condições. Agora temos que tirar a vantagem. O time tem qualidade,
potencial e força.
novo técnico
Cristóvão fala sobre o desafio que terá
à frente do Flu
patrocinador
Novo técnico diz não se importar com
questões da diretoria
reforços
Para Cristóvão, elenco é de qualidade,
mas precisa de acertos
O
novo treinador tricolor falou diversas vezes em motivação, em superar
desafios. E eles não são poucos: um time em busca de recuperação, um
clube com os bastidores em ebulição, uma torcida em busca de respostas.
Cristóvão, no entanto, parece não se preocupar. Com seu jeito sereno,
arregaça as mangas e encara como um degrau a mais em sua carreira.
– Estou
ansioso, feliz, contente, com uma sensação de iniciante. É um grande
desafio, uma grande oportunidade, e farei de tudo para segurar bem.
Penso muito na minha carreira. Quando terminei o Brasileiro no Bahia,
aquilo me deu enorme contribuição. Foi um trabalho muito bom. Pensei,
sonhei dar um passo maior. Por isso esperei, e tive outras propostas.
Apareceu o Fluminense, compatível com o que desejava. Vou dar tudo para
dar certo.
Cristóvão Borges posa já com o
uniforme de treino do Fluminense
(Foto: Nelson Perez / Fluminense FC)
O acerto entre as partes foi rápido. Ocorreu na quarta-feira, mesmo dia em que
o Tricolor anunciou a saída de Renato. O presidente do clube, Peter Siemsen, e o vice de
futebol, Ricardo Tenório, fizeram valer a sua vontade de troca de comando
superando o desejo de Celso Barros, que desejava a
continuidade do trabalho mesmo após a eliminação no Carioca, na semifinal contra o
Vasco. A queda de braço, aliás, tornou a relação entre clube e Unimed-Rio
delicada. É a maior crise em 15 anos, e há chances de não renovação do contrato no fim de 2014, quando ocorrerá a avaliação do vínculo – em entrevista a uma rádio, o presidente da patrocinadora classificou como covarde a atitude de Siemsen.
Ao
contrário da apresentação de Renato, técnico que Celso Barros queria, o
presidente Peter Siemsen não esteve na chegada de Cristóvão Borges,
treinador bancado por ele. Sobre o conflito, Cristóvão ergueu a bandeira
branca. Torce pela união dos poderes para a recuperação do clube.
– O desejo é ver o Fluminense bem, ganhando. Vamos somar
forças para isso.
Trata-se de uma volta ao Tricolor. Agora, Cristóvão é treinador. A passagem como
jogador foi de sucesso. De 1979 a 1983: com 100 jogos, 26 gols e um título do
Carioca. O auge foi um golaço contra o Flamengo de Zico em clássico no Maracanã
no primeiro ano de clube. O agora treinador tentará repetir bons trabalhos feitos
em outras equipes, especialmente no Vasco.
"O clube e o time têm potencial para corresponder. Todos vocês falam que o
time pode muito mais. Estou aqui, espero que possa fazer isso
acontecer. Vontade é grande, muito motivado para isso."
Cristóvão Borges
Ele saiu do Cruz-Maltino ao pedir demissão em 10 de
setembro de 2012, após derrota por 4 a 0 para o Bahia pelo Brasileirão. Ficou
pouco mais de um ano no cargo. Assumiu o comando da equipe em 28 de agosto de
2011, quando Ricardo Gomes sofreu um AVC durante o clássico contra o Flamengo.
Desde então, saltou do posto de auxiliar para o de técnico titular. Dirigiu a
equipe em 78 partidas, com 41 vitórias,18 empates e 19 derrotas, um
aproveitamento de 60,2% dos pontos disputados. Foi vice do Nacional em 2011.
Caiu nas quartas da Libertadores. Ambos com resultados adversos para o
Corinthians.
Depois, passou um período sem trabalhar. Até assumir o
Bahia em 17 de maio de 2013 após a saída de Joel Santana, resultado de goleada de 7 a
1 para o Vitória na final do Baiano. Livrou a equipe do risco de rebaixamento
na Série A. Disputou 42 partidas. Conquistou 14 triunfos, 13 empates e 15
derrotas, aproveitamento de 43,6%.
diálogo
Cristóvão diz que ter sido jogador
facilita no trato com medalhões
parceria
Treinador deixa aberto o canal de
diálogo com o patrocinador
pressãoCristóvão diz que momento do
time não o preocupa
Confira a íntegra da entrevista:
Qual o tamanho do desafio? Alguns treinadores não conseguem
fazer este time, tido como muito bom, render. Como se prepara para a
decisão na Copa do Brasil?
O desafio é grande, pela qualidade e tamanho do Fluminense.
O clube e o time têm potencial e força para corresponder. De todos vocês, de todo
mundo que acompanha, ouço que o potencial é bom. Espero que consiga fazer
render. O time tem qualidade e força para isso.
Que tipo de pedido foi feito à direção? Reforços?
Já existia essa necessidade. O elenco tem qualidade, mas
precisa de alguns acertos. Já falamos, daremos continuidade.
A história no Fluminense. E preocupa o momento de crise?
Não me preocupa, não. Todo mundo que está a volta tem o mesmo
desejo: ver o Fluminense bem. Vamos somar forças. Foi com o Fluminense
que assinei o primeiro contrato como profissional. Vim como
amador. Me deu muitos ensinamentos. A minha passagem aqui teve momentos
marcantes. No segundo jogo, teve o Fla-Flu. Fiz um gol, um dos mais
bonitos da
minha carreira.
Cristóvão Borges em sua coletiva de apresentação (Foto: Fernando Cazaes / Photocamera)
Pretende buscar contato com a patrocinadora?
Estarei junto com todo mundo. O desejo de todos, como
falei antes, é o mesmo. Talvez por vias diferentes, mas o desejo é o mesmo. Não
tenho problema nenhum. Vamos nos juntar e correr atrás dos mesmos objetivos.
Juntos somos mais fortes
Passou lista de reforços?
Claro que opinei sobre isso, mas junto com todos que fazem
parte. Mas não posso falar nomes. Contratação tem várias maneiras de ser
concluída. A necessidade existe. Algumas, não muitas. O grupo é qualificado.
Pode mais.
Preocupa o fato de a Unimed não bancar mais contratações?
Não me preocupa. Acompanho
futebol, moro no Rio e, com as conversas que tive, tenho ideia do que acontece no Fluminense. Pelo o que
falamos, o que me foi passado foi positivo.
Fred e Walter podem jogar juntos?
Terei carinho por todos. A minha relação com os jogadores
sempre foi boa. Vou tratar todos da mesma forma. O Fred é muito importante. Se
o Felipão diz que precisa dele, imagina eu. Ele pesa, sim. Eles podem jogar juntos, sim. Vai depender da necessidade.
Do que a equipe precisa. Eles podem. Mas se vão jogar, nós vamos ver ainda
Qual o grande desafio?
Mudar o quadro. Houve a desclassificação no Carioca. Os
momentos recentes não foram bons. Vamos tentar transformá-los em bons momentos.
Estou confiante. Qualquer treinador que chegar aqui ficará animado. Vejo muitas
possibilidades, e pelas conversas que tive, pelo o que senti, todos têm a
vontade de mudar. Todos estão incomodados com a atual situação.
Proposta do Oriente Médio?
Eu penso a minha carreira e tenho a necessidade de
permanecer no Brasil. Preciso solidificar a minha carreira. Não foi a primeira
oportunidade que tive para vir. Me sinto bem, em casa. As outras vezes não
aconteceram, mas não vem à tona. Isso fica para trás
Qual o motivo para toda a confiança?
Não tenho a pretensão e nem quero me comparar a outros
treinadores. Em relação a eles, sou aprendiz. Procuro me informar e estudar. Estou
confiante. Aceitei o desafio pelo potencial que vejo. Estou aqui. Aceitei. Estou
feliz.
Teve contato com os jogadores?
Ainda não. Vou falar com eles logo depois. Cheguei muito
cedo, ainda não os vi
Sente-se pressionado pelas recentes trocas de treinador?
Nada. Olho para a frente, espero que seja coincidência. Que não
aconteça comigo. Espero que eu possa desenvolver o meu trabalho
Renato foi criticado por não fazer coletivos...
Farei o que fiz nos clubes pelos quais eu passei. Vou
procurar repetir. Foi bem aceito. Espero que eles entendam e aceitem. Isso acontecendo,
as chances de darem certo aumentam
Você é top no Brasil?
Não. Sou iniciante. Esses citados são referências. Eu observo,
aprendo. Procuro enriquecer o meu trabalho. Me interesso muito em aprender
São 15 dias até o Brasileirão
Vamos aproveitar da melhor maneira possível. A primeira
tarefa é o Horizonte. Depois, o Brasileiro. Queremos tirar a vantagem. Temos
condições e vamos nos preparar muito bem
Quais os projetos de mudanças no clube?
Não se pode chegar com nada pré-estabelecido. Não posso
impor nada. Tenho de conhecer o meu grupo, mas sou adversário há três anos, conheço
bem. Vejo só de jogar contra. Vou analisar isso, ver de qual maneira podemos
ser eficientes, estudar o elenco e fazer render na plenitude
Como será hoje?
Estou ansioso, sensação de iniciante. É um grande desafio. Grande
oportunidade. Farei de tudo para encerrar bem
Sonhava com isso?
Claro. Quando terminei no Bahia, sabia que aquilo teria boa contribuição
e valorização da carreira. Sonhei em dar um passo maior. Tive paciência e
esperei. Surgiram outras oportunidades, mas esperei. E agora aconteceu o que
eu queria
Pode reeditar a dupla com o Ricardo Gomes? Ele como executivo?
Sempre. O futebol precisa do Ricardo. Uma pessoa com a inteligência
e a capacidade dele. O futebol precisa. Não sei nada sobre isso. Se tiver a oportunidade,
adoraria
A realidade atual lhe deixa pressionado?
Foi ontem mesmo o primeiro contato. Após o anúncio da saída
do Renato, me ligaram. Estou acostumado com a pressão. Se chega em time que
ganha, tem de manter. Isso não é fácil, nem simples. O mesmo acontece no
contrário. Isso é assim. Estou acostumado. O alento é ter a chance de responder
isso de forma positiva
Fluminense tem obrigação de avançar na Copa do Brasil?
O Fluminense tem que passar porque participa de campeonato para
ser campeão. Nós queremos ganhar a Copa do Brasil, então temos que passar. Ainda
mais pelo resultado, o Horizonte tem uma vantagem que precisamos tirar. O Fluminense
joga para ganhar, participa para ganhar, time de ponta, de alto investimento.
Tem compromisso com vitória, com título, tem que passar.
Renato optava por três volantes e deixava Conca sobrecarregado. Qual o esquema que pretende adotar?
Se o Renato fazia assim, tinha razões para
isso. Aquilo que
imagina ele acredita e faz. O que vou precisar é olhar. O Fluminense é
um time
de muita técnica, muita qualidade, tem uma essência ofensiva. No futebol
nós buscamos equilíbrio. Não podemos perder essa característica, desde
que não
ofereça facilidade aos adversários. É essa a busca, a procura, vendo a
característica de jogadores que nós temos.
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