OLIMPÍADAS RIO 2016
BASQUETE FEMININO
Brasil
desperdiça vantagem de 18 pontos e, após duas prorrogações, perde por
79 a 76. Turcas vão às quartas, e brasileiras saem da Rio 2016 sem
vencer nenhum jogo
Por Carol Fontes e Rodrigo Breves
Rio de Janeiro
(OBS.DO BLOG:
VEJA O VÍDEO CLICANDO
NO LINK DA FONTE NO FIM
DA MATÉRIA ABAIXO)
Na
despedida da seleção brasileira de basquete, Iziane e Adrianinha
pareciam estar jogando por todos os anos que defenderam a amarelinha. Ao
lado de Clarissa e Damiris, as veteranas se mostraram dispostas a dar a
volta por cima. O time comandado por Antonio Carlos Barbosa chegou a
abrir 18 pontos de diferença no primeiro tempo, contudo, desperdiçou a
vantagem e não fez valer o apoio da incansável torcida neste sábado, na
Arena da Juventude, em Deodoro. Mais constante na partida marcada por
reviravoltas, a Turquia mostrou equilíbrio emocional nos momentos
decisivos para vencer por 79 a 76 e avançar às quartas de final do
torneio. Foi o quinto revés de uma equipe que se preparou três meses em
Campinas, no interior paulista, e provou ter condições para vencer até
mesmo a poderosa Austrália, líder isolada do grupo A, mas pecou por
erros e se deixou levar pelo nervosismo quando foi submetida à pressão,
encerrando a campanha na Rio 2016 sem nenhuma vitória, em último lugar
da chave, com quatro pontos.
Clarissa e Lara Sanders em disputa acirrada
de bola no quinto e último jogo pela fase de
grupos (Foto: Divulgação/Fiba)
Adrianinha
foi uma peça-chave na armação das jogadas do Brasil e contribuiu com
seis pontos, três assistências e seis rebotes. A mais eficiente foi
Iziane, com 22 pontos, oito tocos, oito assistências e seis rebotes,
porém, deixou a desejar nos arremessos de três, acertando apenas dois em
sete tentativas. Clarissa teve mais um duplo-duplo (17 pontos e 12
rebotes), uma rotina da pivô no torneio, e Damiris teve outra boa
atuação, apesar do revés. Jogando como ala, a paulista de 23 anos também
anotou um duplo-duplo, 12 pontos e 11 rebotes, e deu cinco assistências
e cinco tocos. Érika também ajudou com 16 pontos e 11 rebotes, mas não
foi o suficiente para frear as adversárias. Do outro lado, o coletivo
foi o diferencial, com os pontos distribuídos por jogadoras como Isil
Alben (18), Nevriye Yilmaz (14) e Sebnem Nezahat Kimyacioglu (14),
destaques da forte liga turca.
Recordista com cinco
participações nos Jogos Olímpicos, ao lado das americanas Teresa Edwards
e Sue Bird, Adrianinha não imaginava a quinta derrota seguida para o
fim de uma carreira de quase 30 anos, 20 deles dedicados à seleção.
Medalhista de bronze em Atlanta 1996 e com quatro Mundiais nas costas, a
atleta de 37 anos saiu com os olhos marejados.
- A seleção
abriu muitas portas para mim. Participou diretamente da minha evolução
como atleta. Foram mais de 20 anos. Então foi uma coisa muito especial.
Fico triste de a gente sair desse jeito com cinco derrotas, mas acho que
fica a lição para as mais jovens, para a Confederação, para todo mundo
para ver que tem que ser mudado esse trabalho, para ver que ser feita
alguma coisa porque o basquete feminino não merece ficar desse jeito.
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Adrianinha se despediu da seleção brasileira
após a quinta derrota seguida na Olimpíada
(Foto: Divulgação/Fiba)
A primeira vez que Adrianinha se despediu da seleção foi em 5 de agosto de 2012,
após Londres 2012.
Um ano depois, a armadora voltou atrás a pedido do então
treinador Luiz Augusto Zanon.
Natural de Franca, a terra do basquete, ela ajudou a equipe a
conquistar a medalha de bronze na Copa América, no México, em 2013,
garantindo a terceira vaga para o Mundial da Turquia, em 2014. A decepção pela
eliminação para a França nas oitavas de final do Mundial
levou a jogadora a optar outra vez pela aposentadoria. Na época,
visivelmente emocionada, ela anunciou que a decisão era definitiva e
iria se dedicar ao trabalho com crianças dando aulas de basquete no
"Cestinhas do Futuro", vislumbrando o futuro como técnica. A paulista
mudou de ideia e retornou para ajudar a seleção na Rio 2016. A despedida
agora, segunda ela, está mais do que sacramentada. Na próxima temporada
da LBF, além de continuar como professora no projeto social, Adrianinha
será auxiliar técnica do América de Recife.
- Estou tendo a
oportunidade de trabalhar em projetos sociais com
crianças. Pretendo aprender a estar do outro lado. Não é porque joguei
que eu sei ser técnico. Então estou me preparando para ver se tenho
potencial para ser assistente técnico ou técnico - revelou a armadora,
que prometeu realizar um jogo de despedida pelo América antes de
trabalhar do outro lado da quadra.
+ Veja como foi o lance a lance da partida
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Titular
absoluta da seleção, Iziane ficou três anos afastada e voltou como uma
das líderes de um grupo renovado. Quarta colocada na Olimpíadas de
Atenas 2004, a ala de 34 anos ficou fora de Pequim 2008 e Londres 2012
por atos de indisciplina e tinha na Rio 2016 a sua chance de redenção.
Mais madura, foi uma das mais constantes em um elenco desequilibrado
emocionalmente e sonhava com a medalha olímpica para se despedir em
grande estilo.
- Para mim, foi a realização de um sonho.
Lembro quando eu saí de casa aos 15 anos para tentar uma carreira
profissional, que eu disse que queria chegar na seleção brasileira e
disputar uma Olimpíada. Esse era meu grande sonho. E, graças a Deus,
consegui ir muito além disso. Então, para mim, estar na seleção
brasileira é um orgulho, defender milhões de brasileiros que
infelizmente não conseguem nos acompanhar tanto. Tiveram uma
oportunidade hoje numa Olimpíada em casa. Gostaria que tivessem
acompanhado mais nossa trajetória durante todos esse anos que eu servi à
seleção brasileira, mas a nossa realidade é essa. Fico muito feliz e
satisfeita de poder ter servido ao meu país durante todos esses anos que
estive presente na seleção brasileira - disse Iziane.
Iziane ganha abraço da mãe na arquibancada
no jogo do adeus (Foto: Divulgação/Fiba)
Campeã
brasileira pelo Sampaio Corrêa, a maranhense agora irá se dedicar ao
seu projeto social em São Luís, à carreira política e, é claro, ter o
descanso merecido.
- Pretendo trabalhar em tudo o que for
possível para ajudar fora das quadras o basquetebol feminino. Quero
continuar em São Luís trabalhando com as equipes de lá, ajudando da
melhor forma e principalmente incentivando essa criançada nova aí,
trabalhando com base, trabalhando com projeto social. Sou pré-candidata a
vereadora também e espero inserir essa filosofia do esporte um pouco na
nossa política pública. É muito importante. Tenho também o instituto, o
Instituto Iziane Castro que trabalha com escolinha de basquete. Então,
dessa forma, espero implementar filosofias que países desenvolvidos já
têm há muito tempo e que são vitoriosos na nossa sociedade, que a gente
precisa - contou a ala, que já se aposentou do clube.
O JOGO
O
jogo nem havia começado, e o desequilíbrio emocional das brasileiras
era evidente. Quando o hino nacional foi tocado, o choro de Damiris e
Érika, duas referências do time, preocupava. Em um jogo de vida ou morte
para a Turquia, Yilmaz comandou o ataque no início da partida e anotou
seis pontos para deixar as visitantes com folga no placar: 8 a 2. O toco
de Érika para afastar o perigo da armadora Isil Alben no garrafão
levantou a moral das brasileiras, que se recuperaram do abatimento pelas
derrotas recentes. Era o início de uma reação surpreendente. Clarissa
pontuou no contra-ataque, Damiris fez duas cestas seguidas, Adrianinha
acertou da linha dos três. O jogo encaixou e o Brasil deslanchou,
fechando a parcial por 15 a 8.
O bom momento da seleção
prevaleceu no segundo quarto. As bolas de três passaram a cair, seja com
Adrianinha, Joice ou Iziane, e a diferença chegou a 18 pontos.
Pressionadas, as turcas pouco produziam no ataque e tinham dificuldades
em furar a marcação verde e amarela. Cakir e Yilmaz ainda pontuaram
algumas vezes, mas não o suficiente para fazer frente ao Brasil. O
aproveitamento de 19% nas cestas de dois pontos era pífio, com quatro
acertos em 21 tentativas. Os chutes de três também não entravam para as
turcas, que marcaram em 33% das chances (4/12). O técnico Ekrem Memnum
estava irado na beira da quadra e gesticulava com as jogadoras no estilo
Bernardinho, mas nada adiantava. As brasileiras foram administrando a
vantagem e foram para o intervalo vencendo as rivais de forma
contundente: 36 a 20.
Lara
Sanders foi a cestinha da partida, com 23 pontos, em vitória
fundamental para classificação da Turquia (Foto: Divulgação/Fiba)
Era
a hora do ponto mais crítico do Brasil: o terceiro quarto. Se
dependesse dos primeiros tempos nos quatro jogos anteriores, a seleção
estaria garantida nas quartas. A bandeja de Clarissa no primeiro lance
do primeiro quarto deixou o time 18 pontos na frente outra vez (38 a
20). Iziane ainda mandou de longe para anotar mais três e incendiar a
torcida. Parecia que o time havia enfim encontrado o seu caminho.
Apáticas na parcial anterior, as turcas despertaram, lideradas por Lara
Sanders e Birsel Vardali. Yilmaz também contribuía de tempos em tempos
e, aos poucos, se recuperavam. Com a pontaria afiada, Damiris fazia o
que podia para frear as adversárias, mas elas estavam determinadas e se
aproveitavam de erros e espaços na defesa brasileira para marcar. Um
passe errado de Iziane parou nas mãos de Isil, que não desperdiçou a
chance e botou para dentro. A armadora turca ainda converteu o lance
livre no fim, e a equipe foi para o último quarto na cola das donas da
casa: 47 a 41.
E o que o que parecia improvável,
principalmente em um jogo que estava nas mãos das brasileiras, com 18
pontos na frente, aconteceu. Muito habilidosa, Isil armou boas jogadas e
serviu Yilmaz e Sanders, que deixaram tudo igual: 48 a 48. Iziane
partiu para o tudo ou nada, sofreu falta e converteu os dois lances
livres, recuperando a liderança. Não nem deu nem tempo de comemorar.
Kimyacioglu acertou duas cestas de três pontos consecutivas, e Isil
infiltrou para anotar mais dois, fazendo a Turquia abrir sete pontos a
3m44s do encerramento: 57 a 50. Clarissa chamou a responsabilidade,
pontuou duas vezes e encostou (59 a 54) em um fim dramático. Apesar do
quadro, havia uma luz no fim do túnel. Empurradas pela torcida, as
brasileiras lutaram e Érika colocou fogo na disputa ao empatar por 60 a
60 nos últimos 47s. O nervosismo passou a imperar nos dois lados. No
estouro do cronômetro, Joice jogou a bola do outro lado da quadra, ela
bateu no aro e foi para fora, levando a definição para a prorrogação.
Em
um fim de jogo proibido para cardíacos e o público como sexto jogador,
vaiando as turcas e apoiando as brasileiras de forma incansável, o
Brasil assumiu a dianteira na raça e habilidade de Clarissa. Lara
Sanders tentou responder à altura, mas Damiris voltou a fazer diferença.
Em outra atuação impecável - assim como em todas as derrotas na
competição -, a paulista de Ferraz ampliou para 66 a 63. Érika também
pontuou, e Isil diminuiu no minuto final. As turcas não esmoreceram e
alcançaram mais um empate (70 a 70).
Isil foi a pedra no sapato do Brasil. Além de
armar boas jogadas, ela estava com a
pontaria calibrada (Foto: Divulgação/Fiba)
Na
linha dos três, Saziye Ivegin teve a chance de acabar com o jogo,
porém, a bola bateu no aro e foi para fora, forçando uma nova
prorrogação. Isil foi uma pedra no sapato das brasileiras na reta final.
Sem errar o lance livre, a armadora converteu duas cestas
importantíssimas para a Turquia e levou o time para a virada: 77 a 74.
Iziane ainda encostou com uma bandeja, e Barbosa pediu tempo para
organizar a estratégia dos últimos 26s. Quando viu Sanders avançar para o
garrafão, Iziane partiu para cima da rival e deu quase um golpe de
ippon. A turca não se deixou abalar pelo nervosismo e converteu o lance
para selar a vitória por 79 a 76.
austrália vence e termina em 1º
Liz Cambage, gigante de 2,03m, cresce e faz cesta na vitória da Austrália (Foto: Divulgação/Fiba)
No
último encontro com as bielorrussas, no Mundial da Turquia, em
2014, as australianas provaram a sua supremacia sobre as europeias com
uma vitória elástica por 87 a 45. Em busca do sexto pódio seguido nos
Jogos Olímpicos, as Opals não se abalaram ao ver as adversárias abrirem
13 pontos de diferença a 4m30s para o fim do terceiro quarto. Usaram a
experiência a seu favor e reverteram o quadro ao superar as europeias
por 22 a 7 no último quarto, vencendo por 74 a 66.
Belarus
cometeu uma série de erros e acertou três de 16 tentativas para três
pontos. Do outro lado, a gigante Liz Cambage fez a diferença ao anotar
17 pontos na etapa derradeira. Katie Rae Ebzery e Cayla George, com nove
cada uma, vieram do banco e também contribuíram para a virada. Com a
vitória, a Austrália terminou a fase preliminar na liderança isolada do
grupo A. As adversárias se despediram dos Jogos com quatro derrotas e
apenas um triunfo (sobre o Brasil).
No último jogo deste sábado, o Japão, sensação do torneio,
principalmente após as vitórias heroicas sobre Belarus e Brasil, mede
forças com a França, atual vice-campeã olímpica. Com ambas as equipes
classificadas para a próxima fase, estava em jogo o segundo lugar do
grupo A.
Australianas avançaram às quartas de final da
Olimpíada de forma invicta (Foto: Divulgação/Fiba)
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