Goleiro diz que técnico Mano Menezes já
conhece seu trabalho e que boas atuações no QPR podem garantir retorno.
No futuro, objetivo é ser dirigente
Por Márcio Iannacca
Rio de Janeiro
Julio César em ação pelo QPR (Foto: Getty Images)
Não faz tanto tempo que Julio César está vivendo em Londres. Mas, ao
atender o celular, demonstrou que já arranha o idioma da terra da
rainha. Antes de dizer "alô", trocou algumas palavras com um
interlocutor que estava em sua casa. Contratado pelo Queens Park Rangers
após sete temporadas no Inter de Milão, o goleiro, de 33 anos, aceitou o
desafio de atuar em um clube de médio porte na Inglaterra para abrir
portas. Não apenas dentro de campo, mas também fora das quatro linhas. O
objetivo de vida do arqueiro é amplo, e o exemplo a ser seguido é
Leonardo, atual diretor esportivo do Paris Saint-Germain.
- Pode ser, pode ser, pode ser (seguir os passos de Leonardo). O fato
de falar o italiano, o português e, agora, o inglês, vai me dar várias
oportunidades depois que parar de jogar bola. Até mesmo no Queens Park
Rangers, fazendo com que esse projeto se torne realidade, eu posso ser
lembrado por eles (dirigentes) lá na frente - disse o arqueiro, que
assinou por quatro temporadas com o QPR.
Mas o objetivo mais próximo de Julio César é voltar à seleção
brasileira. Sem saber muito os motivos que levaram o técnico Mano
Menezes a deixar seu nome fora das últimas listas, o arqueiro prefere
pensar que não precisa mais ser testado ou observado por tudo o que já
fez com a amarelinha. Por toda a trajetória de conquistas usando a
camisa da equipe nacional. A expectativa é voltar a ser chamado nos
próximos compromissos do time, assim como ocorreu no passado com
Ronaldinho Gaúcho e Kaká.
- Pelo fato de já me conhecer como goleiro. Pelo fato de ter muitos
jogos pela Seleção. Acho que sou um jogador que não preciso mais ser
testado, observado. É o meu pensamento. A preocupação do Mano é ver o
Julio César jogando bem, tendo boas atuações, mantendo o
profissionalismo. O Mano gosta de jogador profissional dentro e fora de
campo
A adaptação à Inglaterra não foi problema. De acordo com Julio César,
os filhos Cauet, de 8 anos, e Giulia, de 5, não tiveram dificuldades com
o idioma. Estudaram em uma escola internacional na Itália durante a
passagem do goleiro pelo Inter de Milão. E é justamente a oportunidade
de falar fluentemente o inglês que também atraiu o arqueiro, que não
cansou de afirmar durante a entrevista que "pensa muito no futuro".
Neymar é o maior ídolo do futebol brasileiro. Está subindo de produção. É um craque"
Julio César
- Morar em Londres foi o primeiro motivo para aceitar o projeto. A
qualidade de vida maravilhosa e a oportunidade que estou dando para a
minha família de crescimento cultural, de vida, também foram importantes
na decisão. Até para mim mesmo. O QPR me apresentou um projeto bem
bacana, e a minha maior motivação é que esse projeto se torne realidade.
O fato de aprender o inglês, um outro idioma, também motiva. Seria mais
uma porta que estaria aberta. Foi mais pensando no meu futuro após o
futebol.
O goleiro pensa no futuro após pendurar as chuteiras. Mas, dentro de
campo, apesar da campanha ruim do Queens Park Rangers, Julio César tem
sido um dos destaques da equipe. Foi eleito o melhor da partida no
empate por 0 a 0 com a Chelsea, em sua estreia pelo QPR, e na derrota
por 1 a 0 para o Arsenal, na semana passada. Em nove rodadas, o time não
venceu ainda, empatou três, e ocupa a lanterna. Neste domingo, vai
encarar o Reading, às 11h30m (de Brasília), no Loftus Road, em Londres.
- A diretoria contratou 11 jogadores, e colocar 11 jogadores para
jogar, arrumando um time que se encaixe, leva tempo. Demora um pouco até
achar a identidade do time. Estamos no caminho certo, apesar de não
termos conquistado nenhuma vitória no Campeonato Inglês. Fizemos bons
jogos contra os times grandes e infelizmente o resultado não veio. Não
adianta jogar bem, porque no final o que conta é o resultado - disse o
arqueiro.
No bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, Julio César não fugiu das
perguntas. Falou de seleção brasileira, do sonho de jogar uma Copa do
Mundo, principalmente a do Brasil, em 2014, e da esperança de ver seu
nome nas próximas listas de Mano Menezes. O goleiro comentou ainda a
vontade de vencer com a camisa do Queens Park Rangers, relembrou das
cobranças após o Mundial da África do Sul e rasgou elogios ao atacante
Neymar, do Santos.
- Neymar é o maior ídolo do futebol brasileiro. Está subindo de produção. É um craque.
Julio Cesar em imagens no Fla, Inter, Seleção e QPR (Foto: Montagem sobre foto da Getty Images)
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o goleiro:
GLOBOESPORTE.COM: Como está a adaptação a Londres?
JULIO CÉSAR: A minha adaptação está ótima. Estou super feliz
de morar em Londres. Minha família está bem. Meus filhos já falavam
inglês por terem estudado na Itália (morou por sete anos no país) em uma
escola internacional. Não estamos tendo problema de adaptação. No meu
caso, só a língua mesmo. Falo bem pouco inglês. Vou começar a estudar
ainda. Estou naquele período de mudança, de comprar móveis. Dia livre é
para resolver essas coisas. Agora, por exemplo, o cara está aqui
resolvendo internet, telefone... Instalando essas coisas.
E dentro de campo? O futebol inglês é muito diferente do italiano?
O
futebol é um pouco menos técnico. Muita bola na área, muita bola alta,
pelo fato de os jogadores serem altos. Falo isso dos times menores
daqui. Os times maiores têm suas qualidades, é claro.
O Manchester United é um namoro antigo. Com o Arsenal, nessa última
janela, nós chegamos a conversar e eles ficaram felizes com a minha
possível ida. No fim, não deu certo e fui para o QPR"
Julio César
O holandês Van der Sar tem uma história de sucesso na
Inglaterra. Do Fulham, ele foi para o Manchester United e se tornou um
dos goleiros mais respeitados do mundo. Pensa em seguir caminho parecido
com o dele? Sair de um clube menor para uma das potências da Premier
League.
O Manchester United é um namoro antigo. Com o
Arsenal, nessa última janela, nós chegamos a conversar e eles ficaram
felizes com a minha possível ida. No fim, não deu certo e fui para o
QPR. Estou vivendo um momento especial no futebol inglês. Quando você
começa a fazer um bom trabalho, os grandes (clubes) aparecem em cima de
você. Mas, ao mesmo tempo, eu vim para cá pelo fato de ter tido um
projeto que eu quero que se torne realidade. Pode ser que amanhã o QPR
se torne um Manchester City, um Chelsea... Há uns anos, não se ouvia
muito falar desses times. Os investidores chegaram, investiram... O
City, no ano passado, ganhou o campeonato e poucos falavam nisso. É dia
após dia. Quero continuar tendo boas atuações. Trabalhar para ver o meu
time vencer. Se chegarem propostas da Inglaterra ou de fora, seria uma
coisa muito legal para mim.
A federação inglesa (FA) assinalou um gol contra seu pelo
Campeonato Inglês. A forma como o assunto foi abordado no Brasil te
incomodou?
Deram o gol para mim? Então eu fiz um gol na
minha carreira (risos). Fico triste como enfatizam a situação. A
manchete é “Julio César faz gol contra”... Poderia ser abordado de outra
forma. Podiam colocar que dei azar e a bola entrou. Parece que eu
chutei a bola contra o meu próprio gol. Foi um lance de azar.
Acredita que as notícias vinculadas ao seu nome têm uma repercussão maior?
Quando
você ganha muito, a cobrança aumenta. Isso é normal. Cada vez que
atinge um degrau acima do que você está, a responsabilidade também
cresce. Eu me sinto bem hoje. Estou feliz com os jogos que estou
fazendo. Outro dia disseram que eu não estava feliz na Inglaterra e isso
não é verdade. Estou muito feliz com as minhas atuações, com o momento
que estou vivendo no clube, tenho feito bons jogos, ajudando naquilo que
está sendo possível. Mas, o resultado não está sendo positivo. Mas fiz a
escolha correta ao acertar com o QPR.
Por que acha que isso acontece?
Pelo fato de ter
feito um bom trabalho, por ter vencido tanto, por ter chegado tão longe,
pelo respeito internacional ser grande. O meu nome é respeitado no
futebol europeu, no futebol mundial. Por isso, as coisas têm uma
dimensão um pouco maior do que com os outros. Isso acontece com qualquer
jogador que atua em clube grande. Todo atleta que atinge um nível alto
passa por isso. Não acontece apenas comigo.
Julio
César em ação durante treino da seleção brasileira - última convocação
do arqueiro do Queens Park Rangers foi para amistoso contra a Alemanha,
em Stuttgart, em agosto de 2011 (Foto: Mowa Press)
Nesse curto período que atuou pelo QPR, você já enfrentou o
Chelsea e foi destaque. Quais dicas pode dar ao Corinthians, que pode
encarar os Blues no Mundial de Clubes?
Sou péssimo para dar dicas. Não gosto muito. O que eu posso dizer é
que, como brasileiro e por ter vencido em 2010 com o Inter de Milão,
desejo toda a sorte do mundo ao Corinthians. Sei que essa competição no
Brasil é almejada por todos. É vista de maneira mais importante até que a
Libertadores. Na Europa, a Liga dos Campeões é o top. Os brasileiros
que jogam fora ficam embasbacados como o futebol europeu não dá muito
importância para esse tipo de competição, como é o Mundial. Quando eles
chegam, claro que querem ganhar. Mas não é prioridade. Se perder, não
vai ficar aquele sentimento ruim. No Brasil, quando se perde, o pessoal
costuma pensar: “Quando vamos chegar lá de novo?”. O caminho é difícil. É
preciso ir bem no Brasileirão, vencer a Libertadores... É um trajeto
longo. Desejo toda sorte ao Corinthians no fim do ano e que eles
consigam comemorar como eu comemorei.
Falando em Inter de Milão, ficou chateado com a maneira como saiu do clube?
Fiquei incomodado pela forma como foi. Conversei com o presidente e
ficou tudo bem. O mais importante é que saí de lá e deixei uma porta
aberta.
Meu sonho é ganhar a Copa do Mundo e eu vou brigar por isso"
Julio César
Copa de 2014? É o seu norte na carreira?
Meu sonho é
ganhar a Copa do Mundo e eu vou brigar por isso. Tenho que manter o que
estou fazendo no QPR. O treinador da Seleção não vai ver se o time está
ganhando ou não, mas vai ver o desempenho do goleiro dele. Se o goleiro
está tendo boas atuações ou não, se está vivendo um bom momento.
Aconteceu algo para o Mano deixar de te convocar? O que acha?
Pelo
fato de já me conhecer como goleiro. Pelo fato de ter muitos jogos pela
Seleção. Acho que sou um jogador que não preciso ser mais testado,
observado. É o meu pensamento. A preocupação do Mano é ver o Julio César
jogando bem, tendo boas atuações, mantendo o profissionalismo. O Mano
gosta de jogador profissional dentro e fora de campo. (NR: a última
convocação de Julio César foi para o amistoso contra a Alemanha, em
Stuttgart, em agosto de 2011. No confronto, o time canarinho foi
derrotado por 3 a 2).
O grupo já está fechando na sua opinião?
O Mano
está num período em que ainda não tem o grupo todo certo. Tem alguns
nomes, mas ainda está no processo de montar o elenco. O que dificulta
também é o fato de não ter eliminatórias. Dificulta um pouco a criação
de uma identidade da Seleção. Ter ficado fora das eliminatórias
atrapalha um pouco.
Estipulou um prazo para voltar à Seleção?
Não tenho
prazo. Estou naquele momento em que estou pensando no meu clube, em ter
boas atuações. Seleção é conseqüência do que o jogador faz no clube. Se
for convocado, vou ficar feliz porque eu quero voltar. Todo jogador
gosta de jogar pela Seleção, eu amo jogar pela Seleção. Tenho essa
situação de querer voltar, é o único título que me falta (Copa do
Mundo). E seria uma chance única de ganhar uma Copa disputada no Brasil.
Vou ficar aguardando. Se rolar, vai ser ótimo. Mas, se não rolar, não
será o fim do mundo. Penso muito no meu futuro, depois da Copa de 2014,
tem muita coisa para acontecer. Mas quero muito estar na Copa.
Julio César chora após a eliminação da Seleção da Copa do Mundo de 2010 (Foto: Reuters)
Aquele lance com o Felipe Melo na Copa do Mundo de 2010 que
ocasionou o gol de empate da Holanda - a Seleção foi eliminada nas
quartas de final do torneio após derrota por 2 a 1 - ainda mexe com
você?
Temos que tirar algo positivo dessas situações que acontecem em nossas
vidas. Tive força para dar a volta por cima. Foi um momento triste para
mim, para a Seleção. O torcedor estava confiante, o grupo tinha vencido a
Copa das Confederações, tinha sido primeiro nas eliminatórias... Todos
estavam confiantes. Voltando para o gol, aquela foi uma situação que me
deixou triste. A Seleção poderia ter chegado à final, poderia ter
disputado o título. Mas o gol não foi determinante para a nossa
eliminação. A Holanda empatou e nós não soubemos lidar com o gol de
empate. Ficamos desconcentrados. Foi um lance achado pela Holanda. Não
foi um gol que eles mereceram. Eu e Felipe Melo fomos na bola, ninguém
achou nada e acabou entrando. Nem a Holanda esperava. Eles ficaram
surpresos pelo lado positivo e nós, pelo negativo. Foi um lance tão
banal que a Seleção não soube se comportar em campo com o gol sofrido.
Ficamos assustados dentro do jogo porque o time estava muito bem na
partida.
Voltaria a atuar no Brasil?
Sim, um dia. Mas não sabemos o dia de aman
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-ingles/noticia/2012/11/com-bagagem-na-selecao-julio-cesar-mira-2014-nao-preciso-ser-testado.html