A
dupla Ricardo e Emanuel comemora agora em agosto 10 anos da maior
conquista de suas carreiras. Isto porque, foi no dia 25 de agosto de
2004 que a parceria era coroada com a medalha de ouro nos Jogos
Olímpicos de Atenas. Foi o dia em que o vôlei de praia masculino entrava
para história ao subir pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio.
Mas até vencer os espanhóis Bosma e Herreira na final, a parceria teve
que enfrentar um caminho longo e árduo, como ficar "confinado" com toda a
comissão técnica. Foram dois anos de preparação em João Pessoa e depois
na Europa até chegar na Grécia.
Ricardo e Emanuel conquistavam o
ouro em Atenas há 10 anos
(Foto: Divulgação)
Os
treinos de Ricardo e Emanuel aconteciam na Praia do Cabo Branco, na
capital paraibana. Tinha todo o aparato em busca de alcançar o tão
sonhado ouro. Além da comissão técnica (treinador, preparador físico e
boleiros), eles recebiam também o suporte da doutora em ciência do
desporto Joyce Stefanello. Ela era a responsável por mapear o
comportamento dos atletas e assim melhorar seus respectivos desempenhos.
- Joyce conseguiu observar todos os pontos deles dentro de
quadra. Ela mostrou como Ricardo e Emanuel correspondiam a cada
trabalho. Aquilo me chamou a atenção, pois em 15 dias ela conseguiu
identificar todos os pontos necessários que precisariam ser melhorados, o
que ajudou bastante - disse o preparador físico da época Rossini
Freire.
Esse
fator de preservação, de concentração, chegou a ser fundamental"
Gilmário Cajá, sobre confinamento em Portugal
Faltando
apenas cinco meses para as Olimpíadas, o grupo decidiu deixar o clima
da Paraíba para "fixar residência" na cidade de Espinho, em Portugal. No
país, a turma "sumiu do mapa". Ficou sem ter contato nenhum com a
torcida e a imprensa. Apenas os familiares e a Confederação Brasileira
de Voleibol
sabiam onde estavam Ricardo e Emanuel e toda a comissão técnica.
- Acho que isso nos ajudou no processo de ambientação, no processo de adaptação. Foi
importante para sumir um pouco do cenário, do foco, da mídia. Esse
fator de preservação, de concentração, foi fundamental - revelou o técnico Gilmário Cajá.
Em Espinho, um fato preocupou a todos. Ricardo machucou o
tornozelo direito em um treinamento faltando cerca de um mês para as
Olimpíadas. Mas o apoio do fisioterapeuta paraibano Rodolfo Filho, que
morava na cidade, foi fundamental na recuperação ágil do jogador.
Ricardo jogou as Olimpíadas com uma proteção no tornozelo direito (Foto: Divulgação)
- Foi uma contusão
séria. Quase que rompi todos os ligamentos do tornozelo. Os
ligamentos tiveram pequenas rachaduras, posso dizer assim. Mas foi parcial, não total. Toda atenção que tive de Rodolfo
ajudou muito para que eu pudesse competir no alto nível, mesmo não
estando 100% para jogar. Mas foi suficiente para brigar de igual para
igual com outros times - comentou Ricardo, que retomou a parceria com Emanuel para a temporada 2014/15.
Mesmo
com esse problema, o grupo chegou bem preparado até Atenas. Ricardo e
Emanuel estavam no Grupo A com adversários da Noruega, da Austrália e
dos Estados Unidos. A outra dupla brasileira classificada estava no
Grupo B: era Márcio e Benjamin.
- Acredito que um grande
projeto tem que ter sacrifícios para ter resultado. Foi um
planejamento perfeito. Os obstáculos que a gente passou para
acreditar em um resultado maior. Trabalhamos bastante para isso - relembrou Emanuel.
Para trazer mais sorte nas partidas, o técnico Gilmário Cajá tinha um amuleto. Ele
não largava um boneco em forma de jacaré. Em todos os momentos estava ali
presente. Hoje, o "animal" foi repassado para outro amigo, que seguiu a
carreira de treinador. Atualmente, Cajá é professor da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
Era muito engraçado"
Ricardo, sobre amuleto de Cajá
- Acho que o tempo que eu passei como treinador de vôlei de praia, eu me
apegava muito a ele. E quando fui me afastando um pouquinho, via que
outros companheiros meus precisava desse jacaré também. Então, doei meu
amuleto - comenta Cajá levando a sério o assunto.
O baiano Ricardo também fala do caso do amuleto de Cajá. Mas
ao contrário do amigo, ele fala em tom bom humorado, achando engraçado
tudo aquilo:
- Aquele amuleto de Cajá
acompanhou ele por muitos anos. Em todas as competições, ele
levava aquele jacaré. Ficava apertando o brinquedo como se fosse uma
forma de liberar o estresse. Era muito engraçado. Espero que tenha nos dado sorte de alguma
forma - completou Ricardo.
Cajá observa a nova geração do vôlei
de praia (Foto: Lucas Barros /
GloboEsporte.com/pb)
02
Fase de grupos e mata-mata
No
primeiro jogo, a vitória foi em cima dos noruegueses Maaseide e Horrem
por 2 sets a 1, parciais de 21/15, 19/21 e 15/10. Depois, ganharam dos
australianos Schacht e Slack de 2 a 0 com um duplo 21/17. E mantiveram
100% de aproveitamento contra os americanos Holdren e Metzger também por
2 a 0 (21/17 e 21/10).
Classificados para as oitavas de
final, Ricardo e Emanuel enfrentaram os noruegueses Kjemperud e
Hoidalen. Mais uma vitória para a parceria, por 2 sets a 1. Os
brasileiros ganharam no primeiro set por 21/15, mas acabaram perdendo no
segundo de 19/21. No tie-break, o resultado terminou sendo um largo
15/6.
Ricardo e Emanuel conseguiram vencer
todos os jogos nas Olimpíadas de
Atenas: sete no total
(Foto: Divulgação)
Com
este resultado, a ansiedade da dupla só aumentava. Restava apenas dois
jogos até a sonhada decisão. Nas quartas de final, eles enfrentaram os
irmãos suíços Martin e Paul Laciga, que tinham sido os responsáveis por
eliminar Márcio e Benjamin. Mas foi um verdadeiro massacre. Os
brasileiros largaram na frente e fecharam o primeiro set em 21/13. No
segundo set, Ricardo e Emanuel conseguiram abrir 12 a 10. E cresceram o
ritmo de jogo para encerrar a partida sem dificuldades: 21/16. Terminou 2
sets a 0.
Na semifinal, Ricardo e Emanuel enfrentaram outros adversários da Suíça.
Desta vez, Heuscher e Kobel. Esta foi considerada a partida mais
complicada na avaliação da comissão técnica e dos jogadores. Rossini
Freire e Gilmário Cajá destacam que o fator psicológico de Emanuel foi
parte fundamental para chegar à decisão.
Rossini Freire relembrou jogo disputado da semifinal contra os suíços Heuscher e Kobel
(Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)
A
dupla brasileira conseguiu manter a postura e venceu o primeiro set por
21/14. No segundo set, aconteceu a derrota apertada de 19/21. O
tie-break acabou se tornando o momento mais dramático do torneio.
-
Perdíamos de 13 a 11 e foi pedido um tempo
(técnico). Emanuel fez todos os procedimentos de concentração que devia
fazer. Pediu a Ricardo para inverter o bloqueio e o paranaense foi para a
rede. A gente virou
uma bola e depois Emanuel fez dois bloqueios no jogador de entrada da
Suíça.
Ali a gente virou o jogo e ganhamos. Depois que passamos daquele
sufoco, a gente ganhou a confiança necessária para o título - comentou
Rossini.
O
sonho de ser campeão olímpico estava perto. A decisão para Ricardo e
Emanuel começou na noite anterior, quando Cajá passou muito tempo
conversando com eles.
- Primeiro
de tudo foram palavras de motivação. Depois falou das estratégias de jogo. E dicas
sobre a equipe adversária - lembrou o treinador.
Ricardo disputa bola com Bosma em
Atenas (Foto: Divulgação)
Os
adversários eram os espanhóis Bosma e Herrera. E o pedido do técnico
Cajá para chegar muito forte surtiu efeito. Ricardo e Emanuel passaram
como um rolo compressor pelos adversários.
Os brasileiros
conseguiram abrir três pontos de vantagem no primeiro set em um ataque
de Ricardo (5/2). Mas o espanhóis tentaram reagir e conseguiram encostar
no placar (6/5). Depois, Herrera errou algumas vezes e a vantagem
voltou a ficar maior (10/7). Ricardo e Emanuel passaram a administrar o
resultado e depois de poucos erros fecharam em 21/16.
No
segundo set, a intensidade de jogo cresceu. Emanuel acertou pontos de
saque e Ricardo se transformou na "máquina de bloqueio" que ele passou a
ser conhecido. Conseguiram abrir uma vantagem larga (14/6). E fecharam a
partida em 21/15 em 42 minutos de jogo. O sonho do ouro em Atenas foi
concretizado depois de sete vitórias e apenas três sets perdidos durante
o torneio.
Emanuel defende a bola de "peixinho"
(Foto: Divulgação)
A medalha de ouro em Atenas foi o ápice do vôlei de praia masculino. Era um resultado inédito. O paranaense Emanuel enfatiza:
- Não é todo dia que um atleta pode ter a chance de ser campeão olímpico. É o máximo que um
atleta pode pensar em qualquer modalidade. É o ápice
da carreira. É o que realmente faz um atleta
se tornar diferenciado - comenta Emanuel.
Já Ricardo destaca
que o ouro sempre foi o objetivo principal da carreira. Aquele momento
de Atenas tornou-se ainda mais importante para ele porque o atleta vinha
de uma prata em Sidney, quando "bateu na trave" ao lado de Zé Marco.
Ricardo vibra com o ouro em Atenas (Foto: Divulgação)
-
Foi um momento muito
importante para minha carreira. Foi o momento que brindou nossa
preparação. Fui prata em Sydney 2000, mas em Atenas foi uma
preparação totalmente diferente. Passamos por um verdadeiro
amadurecimento para conquistar o objetivo. Foi um momento muito
especial. Não só
para mim, mas para toda a equipe.
O preparador físico Rossini
Freire comparou a conquista com o nascimento da filha. Ele considera o
feito como o "êxtase da carreira profissional e um dos momentos mais
felizes da vida".
- Ter convivido com aqueles dois atletas,
dois ícones do esporte nacional, duas pessoas altamente dedicadas, não
tem coisa melhor. Trabalhar com pessoas como Emanuel e Ricardo acaba
facilitando tudo. Trabalhar na formação e na construção de uma medalha
de ouro é algo inesquecível.
Ricardo
e Emanuel entraram para história
do vôlei de praia masculino do Brasil
após conquistar o primeiro ouro da
história (Foto: Divulgação)
Para
Cajá, a sensação de soltar o grito de campeão em Atenas foi sentida
poucas vezes na vida. Um momento único. E que agora, falar sobre a
conquista na Grécia depois de 10 anos ainda emociona.
- Uma vida toda sonhando com isso. De uma importância imensurável.
Foi ótimo. Mas passou. Está guardado para o resto das nossas vidas ser
campeão olímpico juntamente com um grupo. Foi um trabalho de uma
comissão técnica toda - concluiu Cajá.
Mais experientes, Ricardo e Emanuel
retomam parceria para a temporada
2014/15 (Foto: Carol Fontes)
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/pb/noticia/2014/08/ouro-historico-de-ricardo-e-emanuel-em-atenas-completa-10-anos.html