quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ouro histórico de Ricardo e Emanuel em Atenas completa 10 anos

Dupla foi a primeira do vôlei de praia masculino do Brasil a subir ao lugar mais alto do pódio em Olimpíadas. Para alcançar feito ficaram até "confinados" antes do torneio


Por João Pessoa

A dupla Ricardo e Emanuel comemora agora em agosto 10 anos da maior conquista de suas carreiras. Isto porque, foi no dia 25 de agosto de 2004 que a parceria era coroada com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas. Foi o dia em que o vôlei de praia masculino entrava para história ao subir pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio. Mas até vencer os espanhóis Bosma e Herreira na final, a parceria teve que enfrentar um caminho longo e árduo, como ficar "confinado" com toda a comissão técnica. Foram dois anos de preparação em João Pessoa e depois na Europa até chegar na Grécia. 

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)
Ricardo e Emanuel conquistavam o 
ouro em Atenas há 10 anos 
(Foto: Divulgação)

Os treinos de Ricardo e Emanuel aconteciam na Praia do Cabo Branco, na capital paraibana. Tinha todo o aparato em busca de alcançar o tão sonhado ouro. Além da comissão técnica (treinador, preparador físico e boleiros), eles recebiam também o suporte da doutora em ciência do desporto Joyce Stefanello. Ela era a responsável por mapear o comportamento dos atletas e assim melhorar seus respectivos desempenhos.

- Joyce conseguiu observar todos os pontos deles dentro de quadra. Ela mostrou como Ricardo e Emanuel correspondiam a cada trabalho. Aquilo me chamou a atenção, pois em 15 dias ela conseguiu identificar todos os pontos necessários que precisariam ser melhorados, o que ajudou bastante - disse o preparador físico da época Rossini Freire. 
 
Esse fator de preservação, de concentração, chegou a ser fundamental"
Gilmário Cajá, sobre confinamento em Portugal

Faltando apenas cinco meses para as Olimpíadas, o grupo decidiu deixar o clima da Paraíba para "fixar residência" na cidade de Espinho, em Portugal. No país, a turma "sumiu do mapa". Ficou sem ter contato nenhum com a torcida e a imprensa. Apenas os familiares e a Confederação Brasileira de Voleibol sabiam onde estavam Ricardo e Emanuel e toda a comissão técnica.

- Acho que isso nos ajudou no processo de ambientação, no processo de adaptação. Foi importante para sumir um pouco do cenário, do foco, da mídia. Esse fator de preservação, de concentração, foi fundamental - revelou o técnico Gilmário Cajá. 

Em Espinho, um fato preocupou a todos. Ricardo machucou o tornozelo direito em um treinamento faltando cerca de um mês para as Olimpíadas. Mas o apoio do fisioterapeuta paraibano Rodolfo Filho, que morava na cidade, foi fundamental na recuperação ágil do jogador.

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)Ricardo jogou as Olimpíadas com uma proteção no tornozelo direito (Foto: Divulgação)

- Foi uma contusão séria. Quase que rompi todos os ligamentos do tornozelo. Os ligamentos tiveram pequenas rachaduras, posso dizer assim. Mas foi parcial, não total. Toda atenção que tive de Rodolfo ajudou muito para que eu pudesse competir no alto nível, mesmo não estando 100% para jogar. Mas foi suficiente para brigar de igual para igual com outros times - comentou Ricardo, que retomou a parceria com Emanuel para a temporada 2014/15

Mesmo com esse problema, o grupo chegou bem preparado até Atenas. Ricardo e Emanuel estavam no Grupo A com adversários da Noruega, da Austrália e dos Estados Unidos. A outra dupla brasileira classificada estava no Grupo B: era Márcio e Benjamin.

- Acredito que um grande projeto tem que ter sacrifícios para ter resultado. Foi um planejamento perfeito. Os obstáculos que a gente passou para acreditar em um resultado maior. Trabalhamos bastante para isso - relembrou Emanuel.  


01
AMULETO da sorte
Para trazer mais sorte nas partidas, o técnico Gilmário Cajá tinha um amuleto. Ele não largava um boneco em forma de jacaré. Em todos os momentos estava ali presente. Hoje, o "animal" foi repassado para outro amigo, que seguiu a carreira de treinador. Atualmente, Cajá é professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

Era muito engraçado"
Ricardo, sobre amuleto de Cajá
- Acho que o tempo que eu passei como treinador de vôlei de praia, eu me apegava muito a ele. E quando fui me afastando um pouquinho, via que outros companheiros meus precisava desse jacaré também. Então, doei meu amuleto - comenta Cajá levando a sério o assunto.

O baiano Ricardo também fala do caso do amuleto de Cajá. Mas ao contrário do amigo, ele fala em tom bom humorado, achando engraçado tudo aquilo:

- Aquele amuleto de Cajá acompanhou ele por muitos anos. Em todas as competições, ele levava aquele jacaré. Ficava apertando o brinquedo como se fosse uma forma de liberar o estresse. Era muito engraçado. Espero que tenha nos dado sorte de alguma forma - completou Ricardo. 

gilmário cajá, cajá, vôlei de praia (Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)
Cajá observa a nova geração do vôlei 
de praia (Foto: Lucas Barros / 
GloboEsporte.com/pb)


02
Fase de grupos e mata-mata
No primeiro jogo, a vitória foi em cima dos noruegueses Maaseide e Horrem por 2 sets a 1, parciais de 21/15, 19/21 e 15/10. Depois, ganharam dos australianos Schacht e Slack de 2 a 0 com um duplo 21/17. E mantiveram 100% de aproveitamento contra os americanos Holdren e Metzger também por 2 a 0 (21/17 e 21/10).

Classificados para as oitavas de final, Ricardo e Emanuel enfrentaram os noruegueses Kjemperud e Hoidalen. Mais uma vitória para a parceria, por 2 sets a 1. Os brasileiros ganharam no primeiro set por 21/15, mas acabaram perdendo no segundo de 19/21. No tie-break, o resultado terminou sendo um largo 15/6.

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)
Ricardo e Emanuel conseguiram vencer 
todos os jogos nas Olimpíadas de 
Atenas: sete no total 
(Foto: Divulgação)

Com este resultado, a ansiedade da dupla só aumentava. Restava apenas dois jogos até a sonhada decisão. Nas quartas de final, eles enfrentaram os irmãos suíços Martin e Paul Laciga, que tinham sido os responsáveis por eliminar Márcio e Benjamin. Mas foi um verdadeiro massacre. Os brasileiros largaram na frente e fecharam o primeiro set em 21/13. No segundo set, Ricardo e Emanuel conseguiram abrir 12 a 10. E cresceram o ritmo de jogo para encerrar a partida sem dificuldades: 21/16. Terminou 2 sets a 0. 

Na semifinal, Ricardo e Emanuel enfrentaram outros adversários da Suíça. Desta vez, Heuscher e Kobel. Esta foi considerada a partida mais complicada na avaliação da comissão técnica e dos jogadores. Rossini Freire e Gilmário Cajá destacam que o fator psicológico de Emanuel foi parte fundamental para chegar à decisão. 

rossini freire, preparador físico rossini freire (Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)Rossini Freire relembrou jogo disputado da semifinal contra os suíços Heuscher e Kobel
(Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)

A dupla brasileira conseguiu manter a postura e venceu o primeiro set por 21/14. No segundo set, aconteceu a derrota apertada de 19/21. O tie-break acabou se tornando o momento mais dramático do torneio.

- Perdíamos de 13 a 11 e foi pedido um tempo (técnico). Emanuel fez todos os procedimentos de concentração que devia fazer. Pediu a Ricardo para inverter o bloqueio e o paranaense foi para a rede. A gente virou uma bola e depois Emanuel fez dois bloqueios no jogador de entrada da Suíça. Ali a gente virou o jogo e ganhamos. Depois que passamos daquele sufoco, a gente ganhou a confiança necessária para o título - comentou Rossini. 


03
A grande FINAL
O sonho de ser campeão olímpico estava perto. A decisão para Ricardo e Emanuel começou na noite anterior, quando Cajá passou muito tempo conversando com eles.

- Primeiro de tudo foram palavras de motivação. Depois falou das estratégias de jogo. E dicas sobre a equipe adversária - lembrou o treinador.

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)
Ricardo disputa bola com Bosma em 
Atenas (Foto: Divulgação)

Os adversários eram os espanhóis Bosma e Herrera. E o pedido do técnico Cajá para chegar muito forte surtiu efeito. Ricardo e Emanuel passaram como um rolo compressor pelos adversários.

Os brasileiros conseguiram abrir três pontos de vantagem no primeiro set em um ataque de Ricardo (5/2). Mas o espanhóis tentaram reagir e conseguiram encostar no placar (6/5). Depois, Herrera errou algumas vezes e a vantagem voltou a ficar maior (10/7). Ricardo e Emanuel passaram a administrar o resultado e depois de poucos erros fecharam em 21/16. 
No segundo set, a intensidade de jogo cresceu. Emanuel acertou pontos de saque e Ricardo se transformou na "máquina de bloqueio" que ele passou a ser conhecido. Conseguiram abrir uma vantagem larga (14/6). E fecharam a partida em 21/15 em 42 minutos de jogo. O sonho do ouro em Atenas foi concretizado depois de sete vitórias e apenas três sets perdidos durante o torneio. 

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)
Emanuel defende a bola de "peixinho" 
(Foto: Divulgação)


04
SONHO DOURADO
A medalha de ouro em Atenas foi o ápice do vôlei de praia masculino. Era um resultado inédito. O paranaense Emanuel enfatiza:

- Não é todo dia que um atleta pode ter a chance de ser campeão olímpico. É o máximo que um atleta pode pensar em qualquer modalidade. É o ápice da carreira. É o que realmente faz um atleta se tornar diferenciado - comenta Emanuel. 

Já Ricardo destaca que o ouro sempre foi o objetivo principal da carreira. Aquele momento de Atenas tornou-se ainda mais importante para ele porque o atleta vinha de uma prata em Sidney, quando "bateu na trave" ao lado de Zé Marco.

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)Ricardo vibra com o ouro em Atenas (Foto: Divulgação)

- Foi um momento muito importante para minha carreira. Foi o momento que brindou nossa preparação. Fui prata em Sydney 2000, mas em Atenas foi uma preparação totalmente diferente. Passamos por um verdadeiro amadurecimento para conquistar o objetivo. Foi um momento muito especial. Não só para mim, mas para toda a equipe. 

O preparador físico Rossini Freire comparou a conquista com o nascimento da filha. Ele considera o feito como o "êxtase da carreira profissional e um dos momentos mais felizes da vida".

- Ter convivido com aqueles dois atletas, dois ícones do esporte nacional, duas pessoas altamente dedicadas, não tem coisa melhor. Trabalhar com pessoas como Emanuel e Ricardo acaba facilitando tudo. Trabalhar na formação e na construção de uma medalha de ouro é algo inesquecível.

ricardo e emanuel, ricardo/emanuel, atenas, atenas 2004 (Foto: Divulgação)
Ricardo e Emanuel entraram para história 
do vôlei de praia masculino do Brasil 
 após conquistar o primeiro ouro da 
história (Foto: Divulgação)

Para Cajá, a sensação de soltar o grito de campeão em Atenas foi sentida poucas vezes na vida. Um momento único. E que agora, falar sobre a conquista na Grécia depois de 10 anos ainda emociona.

- Uma vida toda sonhando com isso. De uma importância imensurável. Foi ótimo. Mas passou. Está guardado para o resto das nossas vidas ser campeão olímpico juntamente com um grupo. Foi um trabalho de uma comissão técnica toda - concluiu Cajá.

Primeiro treino de Ricardo e Emanuel (Foto: Carol Fontes)
Mais experientes, Ricardo e Emanuel 
retomam parceria para a temporada 
2014/15 (Foto: Carol Fontes)


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/pb/noticia/2014/08/ouro-historico-de-ricardo-e-emanuel-em-atenas-completa-10-anos.html

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