Em busca da vaga
no Mundial, Zé Roberto explica que seleção não terá tempo para conhecer a
história da cidade, berço da civilização Paracas
Por Thierry Gozzer
Direto de Ica, Peru
Japão, Cazaquistão, Porto Rico, Tailândia, Coreia do Sul, Inglaterra,
Itália, Suíça e agora Ica, no Peru. Em menos de dois anos, as meninas do
Brasil rodaram o mundo em busca de conquistas e sonhos. E, apesar de
terem o passaporte quase sem espaço, os jogos, treinos e viagens fazem
com que praticamente não tenham tempo de conhecer a cultura e a beleza
dos países que visitam. É assim também em Ica, cidade histórica no meio
do deserto peruano. Os oásis, a cultura dos povos Paracas (de 700 a.C a
200 d.C) e Inca (1200 a 1533), o artesanato, a culinária, nada disso vai
passar pelo roteiro de Sheilla & cia na semana de disputa do
Sul-Americano feminino de vôlei. E elas já estão acostumadas a isso.
- Eu não posso falar nada da cidade, porque só treinei e fui para o
hotel, não tive tempo de ver nada, de conhecer nada. Ainda não pude
passear em Ica e é bem possível que isso realmente não aconteça até o
dia de ir embora - explica Sheilla, que tem praticamente 11 anos de
seleção e já rodou o mundo com a camisa verde e amarela.
Oásis na Laguna de Huacachina, em Ica, no Peru (Foto: Thierry Gozzer)
No caminho de Lima até Ica, de ônibus, foram 4 horas de uma cansativa
viagem. As meninas passaram pela rodovia Panamerica, que corta o
litoral, ao lado da Cordilheira dos Andes, passando por praias,
desertos, dunas e vilas peruanas. Esse cenário talvez seja o máximo que
Fabi terá no Peru.
A prioridade é o vôlei, é jogar, é ganhar os jogos. Estamos aqui para trabalhar e não se divertir"
Thaisa
- Eu nem sabia que Ica existia. A gente passou de ônibus, chegando na
cidade e indo para os treinos, e você vê dunas no meio da cidade. É algo
muito louco, mas é um pedacinho da história que conhecemos.
Provavelmente é um lugar que eu nunca iria conhecer, mas o Sul-Americano
proporciona isso - explica a líbero do Brasil.
Para Zé Roberto, essa privação faz parte do sacríficio das meninas em
busca de recordes e conquistas que as deixarão marcadas pelo resto de
suas vidas.
- Isso faz parte. É da rotina delas já. Desde o início da preparação
elas sabem quais são as dificuldades que vão conviver, os sacrifícios
que vão fazer para continuar essa hegemonia da América do Sul e entre as
melhores seleções do mundo. Temos que chegar bem, nosso objetivo é
2016. Temos que lutar, treinar e trabalhar para chegar nas melhores
condições no Rio de Janeiro - garante Zé Roberto.
Cidade fundada por espanhóis
Ica completou 450 anos em 2013. A cidade foi fundada por espanhóis, por
Gerónimo Luis de Cabrera, como Vila de Valverde, em 1563, e depois
passou a se chamar Ica. Em 2005, no último censo, a população estava
estimada em 220 mil habitantes. A 300km de Lima, capital do Peru, a
cidade se destaca pela produção de vinho e Pisco, uma cachaça feita da
uva. A produção de frutas também é marca da cidade, que sofreu bastante
com o terremoto de 2007 do Peru, com 595 pessoas perdendo suas vidas.
Thaisa em ação no Sul-Americano em Ica, no Peru (Foto: Estephanie Jaime Valle)
As beleza naturais, porém, são inúmeras. A menos de 5km do Coliseo
Cerrado ficam as Dunas de Huacachina, um oásis no meio do deserto, com
restaurantes, passeios de bugre, sandboard e venda de artesanato local. A
uma hora de carro, encontra-se o sítio arqueológico de Paracas, junto à
praia, que guarda riquezas de uma das civilizações mais antigas do
Peru, como múmias e resquícios do período pré-colombiano, além das
linhas de Nazca, desenhos sulcados no solo que revelam imensas figuras
geométricas e animais, que só podem ser vistas a uma altura de 300
metros do solo.
O pouco que as meninas levarão para casa é o que veem do caminho do
hotel, logo na entrada da cidade, até o Coliseo Cerrado, ginásio do
Sul-Americano de vôlei, passando pelas dunas que Fabi citou. Com um
clima quente durante o dia e com o frio comum ao deserto à noite, elas
não terão tempo mais uma vez, assim como no Grand Prix, já que os jogos
são seguidos, sem folga.
- A gente nem reclama. Já sabe que essa é a nossa rotina. Às vezes,
quando sobra uma folguinha, a gente até sai, faz um passeio. Mas para
falar a verdade, em algumas situações isso nos deixa ainda mais
cansadas, então não é tão bom. A prioridade é o vôlei, é jogar, é
ganhar. Estamos nesses lugares para trabalhar e não para se divertir -
diz Thaisa.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/09/por-conquista-meninas-abrem-mao-de-cultura-milenar-de-ica-objetivo-e-2016.html