Holandês se aposenta para dar início à carreira de treinador no Milan, da Itália
Por Fred Huber e Gustavo RotsteinRio de Janeiro
saiba mais
Chegou
ao fim a passagem de Seedorf pelo futebol brasileiro e pelo Botafogo. O
craque abriu mão dos últimos seis meses de contrato que restavam no
clube e da chance de disputar a Libertadores, o que seria seu primeiro
torneio internacional na América do Sul, para se aposentar aos 37 anos e
dar início à carreira de treinador no Milan, da Itália. Alvo antigo do
clube milanês, a investida sobre o holandês aumentou com a demissão do
técnico Massimiliano Allegri, que não resistiu à vexatória derrota para o
modesto Sassuolo, pelo Campeonato Italiano, no último domingo. O
convite pesou, e craque, sorridente e tranquilo, anunciou sua despedida
em entrevista coletiva nesta segunda-feira, no Engenhão.
lagrimas e gols
Relembre em imagens a trajetória
de Seedorf no Botafogo
o anúncio
Em entrevista coletiva, Seedorf revela
que deixará o Botafogo
reconhecimento
Seedorf agradece à torcida do Botafogo pelo carinho
-
Vou parar de jogar futebol depois de 22 anos. Foi uma noite difícil,
mas
estou satisfeito com o que fiz na minha carreira, no que fiz com o
Botafogo. Objetivo de voltar a sonhar, a entrar na Libertadores após 17
anos. Minha felicidade de poder ter deixado também em campo resultados
importantes. Carioca foi um começo. Não acabou mal. Conseguimos a vaga
na Libertadores que o clube merece, o grupo que estou deixando aqui
merece. Gostaria de agradecer a todos. Agradeço o projeto do Botafogo e
desejo o melhor. Que possa manter a autoestima, melhorar e manter o que a
gente construiu. Muitos times poderiam ser melhores tecnicamente que o
Botafogo, mas por
causa da nossa cabeça fizemos melhor. Vou seguir o Botafogo à distância.
Obrigado por essa convivência, muitas coisas positivas, agradeço ao
Rio, ao Brasil, a todos vocês que estão aqui e aos que não estão. Me
abraçaram
daquela forma. Estou feliz e satisfeito, não tenho arrependimento. Posso
me aposentar tranquilo. Poderia jogar muito mais, treinar mais. Ver a
garotada treinando me motivava. O Brasil, que me abraçou, não vou
esquecer nunca mais, acho que dei algo importante, que fiz isso e por
isso estou tranquilo para fechar - declarou.
Seedorf ainda vai
de helicóptero a Saquarema nesta tarde para abraçar os jogadores que
estão realizando a pré-temporada. O craque, porém, disse que o anúncio
não se trata de um adeus. Ele deixa em aberto a possibilidade de
reencontrar um dia não só o Botafogo, como o Brasil. E antes e partir
rumo à Itália, o holandês desejou sorte à Seleção na Copa do Mundo daqui
a cinco meses.
- Não é um adeus, vamos nos encontrar ainda. Essa experiência nesse um ano
e meio me fez crescer muito e me ajudará no meu próximo passo, que será
como treinador do Milan. Queria fechar de maneira elegante e correta.
Muito obrigado de novo a todos. Espero que o Brasil possa ter uma Copa
inesquecível e que a seleção brasileira possa honrar as cores. Obrigado.
Seedorf é homenageado pelo presidente
alvinegro com um quadro e a mensagem:
'Obrigado' (Foto: Gustavo Rotstein)
O
presidente alvinegro, Mauricio Assumpção, admitiu a perda de qualidade
técnica que o time terá sem o Seedorf e tratou de dizer que encontrar um
substituto será um desafio. Mas o comandante aposta no legado do
próprio holandês não só para atrair jogadores, como para evoluir as
categorias de base do clube.
Agradeço o projeto do Botafogo e desejo o melhor. Que possa manter a
autoestima, melhorar e manter o que a gente construiu. Muitos times
poderiam ser melhores tecnicamente que o Botafogo, mas por
causa da nossa cabeça fizemos melhor. Vou seguir o Botafogo à distância.
Obrigado por essa convivência, muitas coisas positivas, agradeço ao
Rio, ao Brasil
Seedorf, ex-meia e novo treinador do Milan
-
Vai ser difícil (achar um substituto). É um desafio que temos aqui.
Achar alguém que traga
tudo o que ele trouxe. Algumas contratações estão sendo feitas. A vinda
dele e a saída dele vão abrir as portas de um Botafogo para muito
jogador do quilate dele, embora seja difícil achar. O Botafogo se
credencia como um clube que tem condições de receber alguém assim, fica
fácil para o mercado internacional entender. Meu sócio-torcedor pulou
mais de 100%, isso é representativo.
Mas tenho de falar da chancela que
ele deu à base. Vi gerações surgirem e desaparecerem sem chancela. O
Botafogo pôde subir garotos com o Seedorf, convivendo com ele no dia a
dia. Esse é o ganho maior de todos. Não é a toa que hoje temos mais de
16 atletas da base no elenco. Essa foi a maior contribuição e vai se
perpetuar a outras gerações. O que é bem feito não é perdido - defendeu.
Logo no início da coletiva, Seedorf teve a palavra e fez
questão de agradecer alguns profissionais que, em sua avaliação, foram
determinantes para sua adaptação ao futebol e à cultura que envolve o esporte
no Brasil. Todos eles deixaram o Botafogo ao longo da última temporada ou ao
fim de 2013. No entanto, o holandês fez questão de dizer que respeitou a
decisão tomada pela diretoria.
Seedorf se mostrou tranquilo e sorridente em sua despedida da carreira de jogador (Foto: Reuters)
- Gostaria de agradecer algumas pessoas que foram muito
importantes, principalmente nos meus primeiros meses de Brasil. Primeiro o
Oswaldo (de Oliveira), com quem tive um relacionamento fantástico. Também o
Luis Alberto, auxiliar técnico, o Alex Evangelista, fisioterapeuta com quem trabalhei muito, e o Altamiro
(Bottino), fisiologista que ajudou a me adaptar. Foram relações importantes
nesse meu começo aqui. O Anderson Barros (ex-gerente de futebol) me ajudou a
entender o clube e o futebol brasileiro. Eles me colocaram em condições para ir
bem dentro de campo. Isso de eles terem saído é uma decisão do clube. Também
agradeço ao presidente por ido à Itália me convencer a vir para o Botafogo.
Bem-humorado
e transmitindo segurança ao ter tomado a decisão de antecipar a
aposentadoria para assumir o comando do Milan, Seedorf lembrou a partida
contra o Criciúma, pela última rodada do Brasileirão, como o momento
mais emocionante de sua trajetória pelo Botafogo. E deixou claro estar
certo de que ao migrar de uma sólida carreira nos gramados para outra
ainda incerta à beira dele, está certo de que deu um passo firme em
direção ao futuro.
- Gosto de trabalhar, de estar nesse mundo
do futebol, e acho que vou continuar
ajudando na minha missão de vida, que é ajudar a fazer um mundo
melhor, não mais como ator no campo, mas treinando esses atores, que são
modelos
para as crianças. É um passo natural. Um taça a mais ou a menos não vai
mudar minha
história. O legado deixado é o importante para mim. Isso foi fantástico,
bonito e
feliz por tudo que fiz. Ninguém sabe qual é o momento certo. Tem que ter
coragem pra seguir o coração. A cabeça pode tomar decisões erradas, mas
o
coração dificilmente erra.
Do anúncio da contratação até a confirmação do fim da trajetória de
Seedorf no Botafogo foram 564 dias, 81 jogos e 24 gols. O camisa 10
ajudou o clube na conquista do Carioca de 2013, quando foi eleito o
melhor jogador da competição, e na conquista da vaga para a Libertadores
de 2014 após 17 anos longe do torneio. A chegada foi apoteótica, no
aeroporto lotado. A apresentação, no Engenhão, também emocionou os
torcedores. A chegada do ídolo, além da qualidade técnica, serviu para
elevar a autoestima dos alvinegros.
No Brasil, o novo técnico do Milan fez curso de treinador com os jovens do Nova Iguaçu (Foto: Divulgação/NIFC)
Como em todo casamento, na relação de Seedorf com o
Bota houve momentos de turbulência. O camisa 10 ficou bastante chateado
com ao episódio em que torcedores foram ao aeroporto hostilizar os
atletas e atirar ovos no ônibus após uma derrota para o Internacional.
Outra coisa que incomodava o holandês eram os contantes atrasos de
salários do elenco. O perfil participativo e as cobranças durante
treinos e jogos por vezes criaram algumas rusgas, por exemplo, com
Dória, Gilberto, Jefferson e Antônio Carlos.
Diante da má receptividade, ele ficou mais calado. O
grupo percebeu e pediu a volta do "pai chato", já que consideravam que o
meia conseguia fazer com que os companheiros produzissem mais. No
início deste ano, a notícia de que Oswaldo de Oliveira não renovaria
contrato também desapontou Seedorf, que sempre disse ter uma relação
especial com o comandante.
Um craque emotivo e com talento musical
Neste
um ano e meio no Brasil, Seedorf mostrou um lado bastante emotivo e
chorou algumas vezes. A primeira vez, no entanto, não foi de alegria. Em
uma partida do Brasileiro de 2012, contra o Atlético-GO, no Engenhão,
vencida por 4 a 0 pelo Botafogo. O holandês fez um dos gols, mas
machucou a coxa ainda no primeiro tempo e deixou o gramado lentamente,
com lágrimas nos olhos, enquanto era aplaudido pela torcida alvinegra.
O segundo choro do holandês foi um somatório de
emoções. Ele fez três gols (pela primeira vez na carreira) na vitória
sobre o Macaé e ainda tinha recente em sua memória a lembrança da perda
de sua avó, que havia morrido dias antes no Suriname. Talvez o choro
mais inesquecível para os botafoguenses foi o do dia da conquista do
Carioca. Seedorf, o mesmo que já ganhou quatro vezes a Liga dos
Campeões, derramou lágrimas para celebrar mais um triunfo na carreira.
Os momentos marcantes de
Seedorf durante pouco mais
de um ano e meio de Botafogo
(Foto: editoria de arte)
Na última partida que fez pelo Bota, na vitória
sobre o Criciúma, no Maracanã, como se já imaginasse que não vestiria
mais a camisa alvinegra, ele também se emocionou bastante ao ser
aplaudido pela torcida. Na saída de campo, disse que estava com o
sentimento de dever cumprido.
A música também foi parte importante na vida de
Seedorf no Brasil. O craque conseguiu influenciar o vestiário do Bota
com seu gosto musical, especialmente pelo reggae. Foi a canção "One
Love" do cantor jamaicano Bob Marley que se tornou símbolo da conquista
do Carioca. Na comemoração do título, na sede lotada de General
Severiano, o craque soltou a voz e foi acompanhado pelos torcedores.
O Rio de Janeiro perde um "quase carioca".
Frequentador da cidade mesmo antes de se transferir para o Botafogo, até
porque é casado com a brasileira Luviana, o holandês adorava pegar sua
bicicleta e dar uma volta pela orla. Colocava um boné, fone nos ouvidos e
seguia sem quase ser incomodado nas ruas.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/
botafogo/noticia/2014/01/seedorf-anuncia-
aposentadoria-estou-satisfeito-com-o-que-
fiz-na-carreira.html