Rotina de vitórias: Juliana (E) e Larissa festejam
mais um ouro no Circuito Mundial (Foto: FIVB)
Salvador, quinta-feira, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. A melhor dupla
de vôlei de praia do mundo, Juliana e Larissa, chega à capital baiana de
todos os santos e orixás, onde vai começar para valer o ano olímpico.
Depois de participarem da
vitória no Desafio 4x4 contra os Estados Unidos, elas encaram a abertura do Circuito Brasileiro, a primeira competição oficial de 2012, a partir desta sexta-feira.
Hexacampeãs do Circuito Mundial, pentacampeãs do Circuito Brasileiro,
bicampeãs pan-americanas, campeãs mundiais. Apesar de tantas conquistas
juntas, Juliana e Larissa ainda estão em débito uma com a outra: falta o
tão sonhado ouro olímpico. Falta as duas participarem juntas dos Jogos,
o que ainda não aconteceu em sete anos de parceria.
Na única oportunidade, Juliana machucou o joelho direito a menos de
dois meses de Pequim-2008, e Larissa disputou a competição com Ana
Paula. Ficaram longe do pódio, caíram nas quartas de final. Quatro anos
depois, elas querem que o roteiro da história seja bem diferente. Vale
até pedir a proteção de Iemanjá, a Rainha do Mar
.
- No réveillon, peguei uma rosa que alguém já tinha oferecido a ela,
mas o mar trouxe de volta à areia, e joguei de novo. Vale, não vale? -
perguntou Juliana.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Juliana e Larissa falam sobre o
relacionamento nem sempre tranquilo entre as duas, a expectativa pelo
inédito ouro olímpico, lesões e, claro, sobre as mudanças nos critérios
da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para definir as duplas
classificadas para Londres. Confira:
Com a classificação
olímpica garantida, como está o planejamento de competições até os
Jogos? Vocês pretendem ir a todas as etapas dos circuitos Brasileiro e
Mundial até Londres?
Juliana: Vamos fazer tudo como sempre fizemos. Vamos
jogar para ganhar ritmo, retomar a confiança. Não adianta treinar,
treinar e não jogar.
Larissa: Vamos jogar a etapa da Áustria apenas 15 dias antes dos Jogos de Londres.
O ano de 2012 é o mais importante da carreira de vocês?
Juliana: Sim, porque todos os outros já passaram e
porque sempre que começa uma nova temporada é um novo desafio. Só que
agora vamos fazer tudo com mais vontade ainda.
Observada por Juliana, Larissa se esforça para não deixar a bola cair na Suíça (Foto: divulgação / FIVB
)
Na abertura do Circuito Mundial de 2011, em Brasília, ficou claro que o clima entre vocês não era dos melhores,
mas vocês garantiram que isso não iria interferir nos resultados em
quadra. E realmente não interferiu, vocês ganharam tudo no ano passado.
Qual o segredo da dupla para manter o foco nas vitórias, mesmo quando a
relação entre vocês não é das melhores?
Larissa: Vários fatores contribuem para isso. O tempo
que estamos juntas dá confiança e não pensamos no que passou. Somos como
máquinas mesmo, não temos tempo para lembrar do que ficou para trás.
Juliana: Tenho um amigo flamenguista que me disse: 'O
Pet cruzou para o Edílson fazer o gol de cabeça e o Flamengo foi
campeão. E eles não se falavam'. Como a gente consegue separar os lados
pessoal e profissional, não sei dizer. Por mais que uma faça coisas que a
outra condene, estamos sempre lado a lado. O que nos motiva é a vontade
de vencer.
(Juliana refere-se ao segundo gol do Flamengo na vitória
sobre o Vasco por 3 a 1, que valeu o tricampeonato estadual ao
Rubro-Negro em 2001).
Só falta o ouro olímpico para o currículo de vocês. Como vocês
lidam com a proximidade dos Jogos de Londres-2012? Com naturalidade,
ansiedade ou nervosismo?
Larissa está me devendo esse ouro e eu a ela."
Juliana
Juliana: Nem sei. Em tantos anos de parceria, ganhamos
tudo, mas nunca jogamos uma Olimpíada juntas. Isso é inacreditável. O
que posso dizer é que vou entrar em quadra trincando os dentes, com olho
de tigre. A Larissa está me devendo esse ouro e eu a ela.
Vocês temem que a história vitoriosa de vocês fique manchada caso não conquistem o ouro olímpico?
Larissa: Não. Nossa dupla é bastante vitoriosa. Já
mostramos do que somos capazes. Depois da contusão da Juliana (pouco
antes de Pequim-2008), conquistamos muitas coisas em 2009, 2010 e em
2011 nem se fala. Se o ouro não vier, não será uma frustração nem uma
mancha na nossa carreira.
No início do ano olímpico, a FIVB mudou o critério para definir
as duplas classificadas para Londres. Agora serão as confederações que
vão indicar seus representantes. O que vocês acharam dessa mudança de
regras?
Juliana: Acho que a CBV vai ser sensata na definição
das duplas. Afinal, a entidade também quer que o Brasil conquiste uma
medalha de ouro. Como era antes (pela colocação no ranking mundial), é
justo pelo esforço feito ao longo da temporada. Mas, das duas maneiras, o
desempenho do atleta é o que vai credenciá-lo para disputar os Jogos.
Será levado em conta sempre o critério de convocar aqueles atletas que
estão com bons resultados e com condições de representar bem o país.
Agora a CBV pode definir previamente um possível substituto em caso de
lesão e já começar a treiná-lo junto, mantendo-o em
stand by.Larissa:
Tenho certeza que haverá sensatez na convocação dos atletas mais bem
ranqueados. A CBV vai conversar com os técnicos para evitar injustiças.
Até pelo que houve conosco em 2008 (contusão de Juliana), entendo essa
mudança. É uma forma de a confederação se proteger. Com a nova regra,
eles podem definir antes quem será o substituto de um atleta lesionado,
ou se haverá condição de esperá-lo ou não. Não é qualquer jogadora que
pode disputar uma Olimpíada. Haverá um critério técnico, já que o atleta
tem que ter um número de etapas disputadas no Circuito Mundial. Uma
dupla que joga junta há muito tempo tem mais chances de conquistar
medalha do que uma formada às pressas. Essa mudança é uma maneira de
proteger a vaga do Brasil nas Olimpíadas.
Juliana tentou de tudo em 20
08, até treinar com proteção na perna (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Como vocês veem o futuro da dupla depois de Londres-2012, com ou sem o ouro?
Juliana: Vamos pensar em 2012, que acabou de começar.
Ainda não existe 2013 para a gente, você está querendo demais. O futuro
da dupla não depende deste ouro
.
Vamos fazer um exercício de futurologia ainda maior. Vocês já sonham com o ouro olímpico no Brasil, em 2016?
Juliana: Quem sabe encerrar a carreira como campeãs
olímpicas dentro do nosso país. Passaria um mês sem dormir. Mas, repito,
isso está muito longe ainda. Vamos pensar em 2012.
Larissa: A gente teve uma experiência muito legal no
Pan de 2007, com as pessoas gritando o nosso nome quando vencemos a
final. O ouro em 2016 seria uma emoção muito grande, nem sei como
reagiria, teremos que nos preparar para tudo isso. E a torcida será o
terceiro jogador.
As contusões fizeram parte de momentos marcantes da dupla.
Vocês se conheceram em 2001, mas só conseguiram estrear juntas em 2004,
por causa de lesões das duas. Em 2008, aconteceu a lesão de Juliana
antes de Pequim. Com sinceridade: com os Jogos de Londres se
aproximando, vocês têm receio que uma nova lesão aconteça com uma de
vocês?
Quando a gente entrar no avião a caminho de Londres, vai ser um alívio"
Larissa
Juliana: Não tem como você prever uma lesão. Por mais
que você se cuide, treine menos, se poupe, não tem jeito. O movimento
que eu fiz e me machuquei em 2008 é o mesmo que já fiz milhões de vezes
na minha vida. Tinha que ser. No último Réveillon, fiz todas as
simpatias que você possa imaginar para que tudo corra bem esse ano.
Peguei uma rosa que alguém já tinha oferecido a Iemanjá, mas o mar
trouxe de volta à areia, e joguei de novo. Vale, não vale?
Larissa: Só estou pensando nisso agora, porque você
está me perguntando. Nem me lembro mais do que aconteceu. Talvez quando
chegar mais perto dos Jogos, venha alguma lembrança de 2008. Quando a
gente entrar no avião a caminho de Londres, vai ser um alívio. Quando
chegarmos lá, vamos jogar por 2008 e 2012.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2012/02/sob-bencaos-de-iemanja-juliana-e-larissa-iniciam-ano-olimpico-na-bahia.html