Navi... quem? O modesto Naviraiense, que nesta quarta recebe às 22h o
Paysandu no primeiro duelo pela segunda eliminatória da Copa do Brasil,
esteve no centro das atenções após
eliminar a Portuguesa na primeira fase, dentro do Canindé. Três anos atrás, o time já havia experimentado a fama e os holofotes, mas por outro motivo: a ruidosa
goleada de 10 a 0 sofrida para o Santos,
também na primeira fase da mesma competição. Para quem vive o dia a dia
do clube, aquela fatídica derrota na Vila Belmiro definitivamente faz
parte do passado.
- Somos a equipe que tirou a Portuguesa, não somos mais a equipe que
levou 10 a 0. Estamos em outro patamar - disse o técnico Paulo Rezende,
que estava no comando do Naviraiense em ambos os confrontos.
Lance entre Naviraiense e Itaporã, pela semifinal do estadual (Foto: Orisvaldo Sales/CEN)
Nas outras duas vezes que disputou a Copa do Brasil, o Naviraiense não
tinha sequer passado da fase inicial. Avançar à segunda etapa pode
representar um curto passo até mesmo para clubes pequenos. Só que o
feito inédito gerou tamanha euforia entre os torcedores em Naviraí que a
delegação
foi recebida com carreata
no dia seguinte à classificação. Até um caminhão do Corpo de Bombeiros
foi destacado para levar os jogadores pelas ruas da cidade. O grupo
preferiu não entrar no clima de euforia.
Paulo Rezende, técnico do Naviraiense
(Foto: Divulgação/CEN)
A torcida apaixonada, aliás, é um dos alicerces do sucesso do
Naviraiense, fundado há sete anos e único representante da cidade de 48
mil habitantes, situada na região sul de Mato Grosso do Sul. Para seguir
o time em suas andanças pelo país afora, tem torcedor que vende pizza e
rifa de cama box. É o que um grupo de torcedores pretende fazer para
garantir passagens aéreas até Belém, onde o
Naviraiense enfrentará o Paysandu na partida de volta da segunda fase, caso os paraenses não eliminem os sul-mato-grossenses em Naviraí.
Kerginaldo de Carvalho, líder da torcida CEN Loucura, conta que a
experiência deu certo para a viagem a São Paulo e espera que pelo menos
30 pessoas consigam arrecadar dinheiro suficiente para bancar a ida até o
Pará.
- Rifamos uma cama box e fretamos um ônibus levando 50 torcedores até
São Paulo. Agora, estamos negociando com empresas de turismo da cidade
para obter descontos. Por enquanto, cada pessoa terá de desembolsar R$
750. Já conseguimos outra cama box para rifar, mas também queremos fazer
pizza para vender entre amigos - afirmou Kerginaldo.
Torcedor sonha com Naviraiense no Mundial em 2025 (Foto: Ale Cabral / Futura Press)
São Paulo, Belém... O que fariam os torcedores caso o Naviraiense fosse
disputar o Mundial de Clubes no Japão? A ideia do cartaz fazendo alusão
ao projeto "Tóquio 2025", exibido nas arquibancadas do Canindé, foi bem
recebida pelo dirigente do clube de Naviraí.
- Achei graça, foi uma brincadeira. Mas nós podemos até levar a sério,
por que não? Claro que precisamos respeitar os adversários. O momento é
de pensar no jogo contra o Paysandu. Mas esse é um sonho que pode se
tornar realidade um dia - disse o presidente do clube, Diomedes Cerri.
O dirigente reconhece a força do apoio dos moradores.
- É um time modesto, mas orgulho do cidadão naviraiense. Salvas as
proporções, é como a Fiel para o Corinthians. O torcedor acompanha o
time em todo lugar que vai. Eles cobram os jogadores por desempenho,
aqui se respira futebol - contou o dirigente.
Em dia de jogo em Naviraí, prefeito fanático toca repilique na arquibancada
O Naviraiense é pouco conhecido nacionalmente, mas em nível regional
está entre as equipes mais fortes. Campeão sul-mato-grossense em 2009, o
time foi semifinalista em 2011 e vice em 2010, 2012 e 2013. Este ano,
perdeu as duas partidas da decisão para o Cene. Ao menos o time de
Naviraí já se garantiu na edição 2014 da Copa do Brasil.
Torcida lota Virotão
A folha salarial do elenco e da comissão técnica do Naviraiense gira em
torno de R$ 100 mil e está na média dos demais rivais estaduais. Além
do departamento profissional, o clube mantém cerca de 300 crianças e
jovens em atividade nas categorias de base. O estádio Virotão,
administrado pela prefeitura, tem capacidade nominal para 4 mil
torcedores, mas laudos técnicos liberam a entrada de até 2 mil pessoas
nas arquibancadas. Nos oito jogos que disputou em casa pelo
Sul-Mato-Grossense, a média de público foi de 1,1 mil torcedores - uma
das mais elevadas dentre os clubes da Série A estadual. Os jogos das
quartas, semifinal e final tiveram lotação máxima.
Estádio Virotão, com capacidade nominal de 4 mil torcedores (Foto: Divulgação/CEN)
O apoio maciço do torcedor ao Clube Esportivo Naviraiense (CEN) nos
dias atuais tem origens no fim da década de 1980, quando outro clube,
quase homônimo, fazia relativo sucesso nas divisões inferiores: a
Sociedade Esportiva Naviraiense (SEN). O diretor de patrimônio do CEN,
Rubens Sampaio, conhecido como Pardal, vivenciou como torcedor do SEN
jogos de casa cheia pela segundona estadual. Ele acabou sendo personagem
de um duelo crucial contra o Gianinni, de Costa Rica, valendo vaga na
final de 1987. O causo é lembrado na cidade até hoje.
Pardal conta que soltou sucuri no meio da torcida (Foto: Orisvaldo Sales/CEN)
- O SEN tinha perdido o primeiro jogo fora de casa e precisava ganhar
bem para ir à final e subir para a primeira divisão. Eu tinha ido pescar
naquele dia e acabei arrastando uma sucuri com a rede. Quando cheguei
ao estádio, estava superlotado e ninguém queria deixar eu entrar. Então
fui até o carro, peguei a sucuri e soltei no meio do povo. Muita gente
saiu correndo, aí consegui sentar. Ainda deixei a sucuri no vestiário
dos árbitros, para evitar que eles nos roubassem - lembrou.
Pardal garante que nunca mais levou cobras ao estádio. Sucuris à parte,
o SEN perdeu aquela partida por 1 a 0 e viu adiado o sonho de entrar
para a elite estadual. A promoção surgiu na temporada seguinte, mas o
projeto do futebol local perdurou até meados dos anos de 1990, quando o
clube deixou as atividades profissionais.
Torcedor fanático vira prefeito da cidade
Quem também teve vínculos com o SEN e hoje torce para o CEN é o
prefeito de Naviraí, Léo Matos, eleito no ano passado. Antes de qualquer
conversa sobre futebol, ele faz questão de frisar:
- Não sou um prefeito que virou torcedor. Sou um fanático pelo Naviraiense que virou prefeito.
Fanático que virou prefeito, Léo toca repilique na arquibancada (Foto: Orisvaldo Sales/CEN)
Hoje com 37 anos, Léo Matos conta que participou das categorias de base
do SEN, no fim dos anos de 1980, e que ajudou a fundar a torcida
organizada CEN Loucura em 2006. Mesmo como chefe do poder executivo
municipal, Léo garante que consegue conciliar as duas rotinas.
- Viajei com os torcedores a São Paulo para o jogo contra a Portuguesa,
e de lá fui para Brasília, onde tinha compromissos como prefeito. Em
domingo de jogo em Naviraí, sou eu que toco o repilique na arquibancada.
Tem gente na oposição que me critica por isso, mas não dou atenção
porque o Naviraiense é hoje o maior orgulho da nossa cidade - contou
Léo, dirigente que resume bem o clima da cidade quando o assunto é
futebol.
Jogadores do Naviraiense comemoram gol marcado em partida do estadual (Foto: Divulgação/Site oficial)
Veja vídeos do Globo Esporte MS
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/ms/futebol/times/naviraiense/noticia/2013/05/brasil-afora-naviraiense-apaga-10-0-do-santos-e-sonha-com-toquio-2025.html