Filho do agente
Assis, Diego é tratado como joia desde muito cedo. Aos 19 anos, ele lida
com a pressão e diz que descarta um dia voltar ao Grêmio: 'Ouvi
abobrinhas'
Por GloboEsporte.comPorto Alegre
Ele
carrega o peso da fama desde muito cedo. Tem passagens por clubes do
quilate de Grêmio, Inter, Flamengo e Atlético-MG. Tudo isso aos 19 anos -
preço de levar adiante um sobrenome importante e ter um tio da dimensão
de Ronaldinho Gaúcho.
Filho do controverso empresário Assis, Diego agora usa a receita
oposta. Foge dos holofotes para um recomeço sem alarde nem pressa, mas
com muito trabalho no Cruzeiro-RS, time da sua Porto Alegre,
curiosamente xará do grande rival do Galo mineiro, no qual atua o
parente galático. Essa é a mais recente casa do projeto de craque que
trava batalha pessoal contra o peso e ainda precisa lutar para que o
passado polêmico de seus familiares com o Grêmio não o atrapalhe no Rio
Grande do Sul. Talvez seja essa a única mágoa de um garoto de sorriso
fácil, que não pensa em retornar ao Tricolor, mas fará de tudo pelo
sonho de atuar em alto nível, seja onde for. Ao falar sobre o futuro,
nem o Inter ele descarta (veja no vídeo uma amostra da habilidade do meia).
O
GloboEsporte.com acompanhou Diego em uma tarde cinzenta desta semana
num treino no Centro de Treinamentos no Lami. Treinar é o que mais ele
tem feito. O sobrinho do craque do Galo entrou em campo em apenas um
jogo no Campeonato Gaúcho de 2014, no último domingo, no empate em 2 a 2
com o São Luiz, sua estreia no profissional. Os motivos para a espera,
segundo o clube, são dois: a pouca idade e o processo de emagrecimento
pelo qual passa o garoto que se diz um meia de armação, central ou pelos
lados, com vocação para garçom.
Diego Assis, sobrinho de Ronaldinho, no
Cruzeiro-RS (Foto: Paula Menezes/
GloboEsporte.com)
Diego
voltou ao Rio Grande do Sul, após passagem pela base do Atlético-MG,
acima do peso. Sua condição física foi prejudicada por causa de duas
cirurgias para retirada de cistos nas costas. A recuperação exigiu,
inclusive, que ele passasse dias deitado na cama. Desde dezembro, quando
foi apresentado no time gaúcho, o jovem faz um trabalho de
recondicionamento. Uma nutricionista foi contratada especialmente para
cuidar de sua dieta.
- Foi difícil. Muito puxado, eu sentia
bastante dor, sentia a falta de ritmo. Minha dieta não tem mistério. É
baseada em arroz, feijão, salada e carne. Quando como massa, não como
arroz.
Espero estar na condição ideal até o período da Copa do Mundo -
afirmou Diego.
O Diego é muito mais parecido com o tio do que com o pai, seu problema é só o peso mesmo
Luiz Antonio Zaluar, técnico
Apesar
dos quilos que ainda tem a perder, o meia é elogiado pela comissão
técnica do Cruzeiro-RS. Essa é a primeira vez que o filho de Roberto de
Assis Moreira trabalha integrado ao grupo profissional. A intenção,
portanto, é lapidar o garoto. Pelo planejamento, Diego será titular no
estadual júnior, que começou nesta quarta-feira.
No Gauchão, a
próxima oportunidade pode ser diante do Inter, no sábado. O clube
enfrentará o Colorado pelas quartas de final da competição. Como a fase é
eliminatória, o treinador Luiz Antonio Zaluar deve utilizá-lo apenas no
decorrer da partida.
- Estamos sendo muito criteriosos. Ele
tem ficado no banco, mas foi preservado pela sequência de jogos do
Cruzeiro, todos duríssimos, não teve nenhum jogo mais tranquilo. Só
tenho elogios ao Diego. Vejo ele totalmente focado, humilde, quer
trabalhar, ajuda os outros meninos, todo mundo do profissional adora o
Diego. E ele é muito mais parecido com o tio do que com o pai, que usava
mais velocidade. O Diego cadencia mais a partida, tem uma excelente
bola parada e o lançamento. O problema é físico mesmo, o sobrepeso,
nunca foi problema técnico - esclarece o treinador.
'abobrinhas' de gremistas
Com
o histórico de pai e tio, o destino de Diego, de 1,72m não poderia ser
outro que não o futebol. A vontade de ser jogador, porém, partiu dele.
Aos 5 anos, o meia já vestia a camisa do Grêmio - mesmo time que lançou
Ronaldinho ao profissional. Ficou no Estádio Olímpico inclusive depois
de R10 ter protagonizado a conturbada ida ao Paris Saint-Germain, em
2001, que acabou nos tribunais. A maneira como a transferência ocorreu,
com a assinatura "às escondidas" de um pré-contrato com o PSG,
transformou a relação de idolatria da torcida em hostilidade. A situação
acabou por respingar no sobrinho:
- Ouvia muita "abobrinha"
dos torcedores. Às vezes, nos jogos, eles gritavam. Já ouvi na rua
também, justamente por ser parecido com o meu pai e eles me
reconhecerem. Mas não tem por que se estressar. Acho que esse é um clube
para o qual eu não voltaria, por causa dessas situações.
Diego
no Flamengo, no Galo, no Inter e no
Cruzeiro-RS. À esquerda, ainda
criança
com Assis e o atual jogador do Grêmio
Guilherme Biteco. À
direita, crescido,
com o tio Ronaldinho e novamente ao
lado de Assis
(Foto: Editoria de Arte)
Em 2006, Diego trocou o Grêmio
pelo maior rival, o Inter. Permaneceu no Colorado por cinco anos. Em
seu currículo, entram também Flamengo (2012) e Atlético-MG, em que
esteve na época das cirurgias e até decidir acertar o contrato com o
Cruzeiro-RS. Coincidência ou não, a trajetória é praticamente a mesma de
seu tio ilustre no Brasil. As únicas exceções são o Inter e o time em
que está agora.
Ouvia
muita 'abobrinha' dos torcedores (do Grêmio). Às vezes, nos jogos, eles
gritavam. Já ouvi na rua também, justamente por ser parecido com meu
pai"
Diego Assis, meia
Os dois
nunca chegaram a treinar juntos. Mas a figura de Ronaldinho é presente
na vida de Diego. A distância e os compromissos de R10 não permitem
contato diário. A relação, porém, é de parceria.
- Não sei
explicar por que passei pelos mesmos clubes que ele. É uma coincidência.
No Flamengo, eu fiquei pouco tempo. Aconteceram aqueles problemas (do
R10) com a diretoria, então eu saí também. No Atlético-MG, fui muito bem
tratado. Uma estrutura incrível. Lá, a gente se falava todos os dias.
Mas nunca cheguei a treinar com ele. Quando trabalhei com o elenco
principal, eram os reservas - lembra.
Mais uma curiosidade:
após o Galo, o meia veste a camisa do Cruzeiro. Não exatamente o rival,
mas um clube homônimo, pequeno, de Porto Alegre e que, em breve, se
mudará para uma nova arena em Cachoeirinha, cidade próxima. O que
interessa, no entanto, é que o nome é o mesmo.
Motivo de corneta por
parte de Ronaldinho?
- Não, não. Ele apenas desejou boa sorte. É porque o pai dele jogou aqui, então tem todo um histórico, um carinho.
assis segue de perto e admite pressão
Se
há um ponto que não falta na carreira de Diego é o incentivo da
família. Em meio ao treino do Cruzeiro-RS, surge um espectador especial.
O pai, Roberto, conhecido como Assis, desce de um luxuoso carro preto
para assistir ao trabalho da equipe. Troca conversas com o técnico,
entre um telefonema e outro. Os compromissos do empresário não permitem
que a prática se repita de maneira constante. Mas ele afirma se
esforçar.
- Não venho sempre, porque eu viajo muito, né. É meu filho, então tento sempre estar por perto - resume.
Roberto de Assis Moreira acompanha o filho no
treino (Foto: Paula Menezes/GloboEsporte.com)
Entrar em forma é complicado. Mas ele já deu a resposta. Evoluiu muito"
Assis, pai
A
comparação com pai e o tio é inevitável. Diego teve de aprender a lidar
com as expectativas sobre sua carreira desde pequeno. O assunto já
chegou a incomodar, admite. Aos poucos, porém, aprendeu a blindar a
questão. Assis é consciente da responsabilidade que o filho carrega.
Ressalta, no entanto, que nunca o pressionou para ser atleta.
A
questão do peso de Diego é minimizada pelo ex-jogador, campeão da Copa
do Brasil com o Grêmio em 1989. Com a recuperação pós-cirurgia, o pai
está confiante de que o meia encontrará seu caminho no futebol.
-
Ele está fazendo a história dele no esporte. No futebol, a motivação é
muito importante. A gente tem que ter cuidado, existe toda uma pressão.
Tem que querer. O Diego passou por um ano difícil (2013), entrar em
forma é complicado. Mas ele já deu resposta. Já evoluiu muito.
Diego
renovará o contrato para a disputa do estadual júnior. É o momento de
despontar na carreira, mostrar seu valor e despertar novamente o
interesse dos grandes clubes brasileiros, sem a influência do pomposo
sobrenome. Preferências? Tem algumas. O atual time do tio e...
- Voltaria para o Inter, porque tenho muitos amigos lá e fui muito bem tratado.
Se
traçará o mesmo caminho de sucesso do grande astro da família, a saber
no futuro. Afinal, o desempenho do jovem dentro de campo ainda é pouco
conhecido. A certeza é de que incentivo e conselhos de quem entende do
assunto não faltarão a Diego.
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