sexta-feira, 21 de março de 2014

Água gelada, furos e 'serpentina' preparam grama da abertura da Copa

Com grama inédita no Brasil e comum em locais muito frios, Arena Corinthians usa sistema de R$ 1,5 milhão para fazer a bola rolar no jogo entre Brasil e Croácia

Por São Paulo


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A Arena Corinthians preocupa a Fifa. Palco da abertura da Copa do Mundo, o estádio sofreu o baque do acidente com parte da cobertura, que atrasou a obra em novembro, e agora vive o impasse das estruturas provisórias, cuja conta ninguém quer pagar. Em meio a tudo isso, o gramado que vai receber Neymar, Oscar, Modric e companhia, no dia 12 de junho, é cuidado com uma equipe de plantonistas diários, uma parafernália bastante cara e toda atenção a um tipo de plantio inédito no Brasil.   

Pode se chamar de "ryegrass", "lollium perene" ou, simplesmente, "grama de inverno". Ela já é usada em estádios das regiões sul e sudeste do país, mas apenas sobre a "bermuda", tipo de grama tradicional do Brasil, e nas épocas mais frias do ano. No estádio do Corinthians, será o único tipo implantado e vai perdurar pelo ano todo. O ineditismo exige uma série de precauções para que nada dê errado na Copa, inclusive uma drenagem a vácuo, já utilizada em outros estádios, mas que se adapta melhor a esse tipo de gramado. 
  
gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti) 
Tapete: gramado da Arena Corinthians vai 
receber Neymar, Oscar, Fred e companhia 
(Foto: Alexandre Lozetti)

 Se quiser fazer jogo hoje, dá pra fazer
André Amaral, engenheiro agrônomo

Pedro Reis é o engenheiro agrônomo que passa de seis a oito horas diárias supervisionando absolutamente tudo que diz respeito à grama da arena. Rogério e Fábio trabalham em sua equipe. No dia em que a seleção brasileira entrar em campo para abrir o Mundial, a temperatura da grama vai precisar estar entre 15 e 21 graus, sua altura de 22 a 25 milímetros e as listras em tons de verde alternados, entre outras exigências da Fifa. 

Para isso, um sistema de refrigeração de equipamentos enormes, que custou cerca de R$ 1,5 milhão, é ligado todos os dias. Ele fica sob o gramado e, curiosamente, não vai funcionar na Copa.

Por quê?  
- Ele foi projetado para épocas mais quentes. Agora, por exemplo, ele está mantendo a temperatura do gramado uns dez graus abaixo da temperatura do ambiente. Antes, já chegou a estar 39 graus. Você vê a grama morrer nos seus olhos. Mas a ideia é que, de maio a setembro, com temperaturas mais amenas, ele nem seja utilizado. Essa é a época em que a grama atinge seu auge - explicou Reis, da World Sports.   

máquina trabalhando no gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti) 
Funcionário opera máquina que faz furos para o 
tratamento do gramado da Arena Corinthians 
(Foto: Alexandre Lozetti)
 
Esse sistema faz circular água e ar gelados por meio de dutos chamados de "serpentinas", por baixo do gramado. Oito sensores espalhados pelo campo fornecem, em tempo real, sua temperatura, umidade e salinidade. Na manhã desta quarta-feira, durante visita da reportagem, eram 18 graus, em média.
  
 A reunião de água e calor é um prato cheio para doença
Pedro Reis, engenheiro agrônomo

 Mesmo no inverno, é provável que o ar seja lançado (a uma velocidade de 150km/h) na grama da Arena Corinthians.  
 
- Isso faz com que haja uma troca de ar entre o solo e a atmosfera. Ajuda, inclusive, no combate às doenças - disse André Amaral, outro engenheiro agrônomo da empresa contratada para implantar o gramado no local.   

As tais "doenças" também causam dores de cabeça. É como os especialistas chamam o aparecimento de fungos. A grama de inverno é mais suscetível a eles, já que se trata de um piso típico de climas mais frios sendo utilizado no Brasil.  
 
Pedro Reis explicando o painel do gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti) 
Pedro Reis explica como funciona o painel de 
controle do gramado da Arena Corinthians 
(Foto: Alexandre Lozetti)

De um dia pro outro pode aparecer uma mancha gigante e o visual é importante
Pedro Reis, engenheiro agrônomo

 A equipe "concentrada" no estádio revisa diariamente o campo com olhos de lince. Enquanto caminhava, Pedro Reis localizou um pequeno tufo de grama em coloração diferente. A grande preocupação em atacar as doenças logo no início também está com o visual. 
 
- A reunião de água e calor é um prato cheio para doença, mas se ela aparece numa lavoura, por exemplo, você aplica o remédio. Aqui, se não tomarmos medidas preventivas, de um dia pro outro pode aparecer uma mancha gigante e o visual é importante. 
  
São duas justificativas para a escolha da grama de inverno. Uma diz respeito à grande área sombreada do campo de jogo. Os agrônomos afirmam que esse tipo de piso precisa de menos luz. Mesmo assim, outro aparelho bem grandioso está pronto para ser utilizado. É o sistema de iluminação artificial, que usará energia elétrica.  
 
Refrigeração Gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti) 
Primeiro mundo: sistema de refrigeração do 
gramado da Arena Corinthians 
(Foto: Alexandre Lozetti)
 
A outra razão, entretanto, é a que mais interessa à seleção brasileira. Comum na Europa, a ryegrass permite um jogo mais veloz, bonito. A bola rola melhor. Ao menos é o que garante Pedro Reis. Nas próximas semanas, inclusive, ele vai viajar ao Velho Continente para aprender com quem está acostumado a usar a grama de inverno como lidar com os dias anteriores e posteriores aos jogos. 
  
Painel da temperatura do gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti)Painel de temperatura do gramado do estádio(Foto: Alexandre Lozetti)
 
A grande área, por exemplo, tem atualmente alguns pequenos buracos, oriundos do treino do Corinthians no último sábado. Nada preocupante em longo prazo, mas os engenheiros sabem que o intervalo entre as partidas da Copa do Mundo será pequeno. Até por isso, eles comemoram a intenção de Andrés Sanchez de levar a equipe para fazer atividades no estádio duas vezes por semana.
  
- Será bom para ver como o gramado se porta - disse Amaral, que também garante seu bom estado para a partida entre Corinthians e Flamengo, marcada para inaugurar em jogos oficiais a Arena Corinthians no dia 27 de abril. 
  - Se quiser fazer jogo hoje, dá pra fazer.   

Tudo é tão novo que ainda falta experiência no manejo. Uma máquina que custa R$ 250 mil, por exemplo, demorou a funcionar, mas passeou por todo o gramado. Ela faz furos na superfície e será usada após cada partida da Copa para causar uma sensação de maior maciez aos jogadores.
O contrato da World Sports com o Corinthians vai somente até a competição da Fifa, mas é possível que a falta de experiência do clube com a grama de inverno prorrogue o compromisso. 

No total, já foram gastos mais de R$ 2 milhões. A manutenção mensal será de cerca de R$ 90 mil.

visão de cima do gramado da Arena Corinthians (Foto: Alexandre Lozetti) 
Visão geral do gramado da Arena Corinthians: 
estádio ainda não está pronto para Copa do 
Mundo (Alexandre Lozetti)


FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2014/03/agua-gelada-furos-e-serpentina-preparam-grama-da-abertura-da-copa.html

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