A
exemplo do que ocorreu na última terça-feira e nos quatro primeiros
dias dos testes da pré-temporada, semana passada em Barcelona, o
resultado final do
segundo dia de treinos
da última série, realizado nesta quarta-feira, no mesmo Circuito da
Catalunha, foi pouco representativo da provável ordem de forças entre as
11 equipes da F1. Valtteri Bottas, por exemplo, com o FW38-Mercedes da
Williams, estabeleceu o primeiro tempo, 1min23s261, de pneus supermacios da Pirelli.
Valtteri Bottas lidera dia de testes da Fórmula
]1 em Barcelona, Espanha (Foto: Getty Images)
Mas
o que mais chamou a atenção nem foram a marca de Bottas e as 164
voltas, sempre em ritmo muito bom, completadas por Lewis Hamilton (73) e
Nico Rosberg (91), com o no mínimo confiável modelo W07 Hybrid da
Mercedes,
mas o proveitoso treino de quase todos os times. “Acumular
quilometragem é essencial nessa fase”, diz Pat Symonds, diretor técnico
da Williams. Bottas deu 108 voltas no exigente traçado de 4.655 metros,
sendo que o GP da Espanha, na mesma pista, tem 66 voltas.
Lewis Hamilton em ação nos de testes da
Fórmula 1 em Barcelona (Foto: Divulgação)
O
dinamarquês Kevin Magnussen, 126 voltas com o R16 da Renault. Com os
pneus supermacios também fez 1min23s933, terceiro. Sebastian Vettel, 151
voltas com a Ferrari SF16-H, 1min24s611, quarto, de pneus apenas
médios. Jenson Button, atestando a evolução do conjunto McLaren
MP4/31-Honda, depois da mudança conceitual da unidade motriz, percorreu
121 vezes o exigente traçado de Barcelona, com 1min25s183, quinto, pneus
macios.
A lista não para. Daniel Ricciardo completou 135 voltas
com o RB12-Tag Heuer (Renault) da RBR, tempo de 1min25s235, sexto, de
pneus médios. Carlos Sainz Júnior, 166 voltas com o STR11-Ferrari,
1min25s300, sétimo, médios também. E Sérgio Perez, 128 com o
VJM09-Mercedes da Force India, 1min25s593, oitavo, pneus macios.
Este
ano é o terceiro do regulamento que estreou em 2014, primeira temporada
da tecnologia híbrida. Tantos as escuderias como as quatro construtoras
das complexas unidades motrizes, Mercedes, Ferrari, Renault e Honda, já
desenvolverem bem seus projetos. A maior prova disso é a impressionante
quilometragem que acumulam desde o início dos testes, ratificada nesta
quarta-feira.
Além de demonstrar dispor do carro mais rápido,
apesar de seus tempos não aparecerem dentre os melhores quase nunca, a
Mercedes conseguiu um grau de confiabilidade, ao menos nos treinos, não
alcançado ainda na história da F1.
Carro “inquebrável”Nos
quatro dias de ensaios da semana passada e nos dois últimos, entre
Hamilton e Rosberg os alemães percorreram nada menos de 1.011 vezes o
Circuito da Catalunha, o que lhe dá 4.706,2 quilômetros de experiência.
Quase o dobro da Ferrari com Vettel e Kimi Raikkonen, 576 voltas,
2.681,2 quilômetros.
Ao contrário da semana passada, quando o
grupo coordenado por James Allison, diretor técnico da Ferrari, optou
por liberar Vettel e Raikkonen com pneus ultramacios para conhecer
algumas características do SF16-H, a Mercedes apenas ontem treinou com
os pneus macios. Nem mesmo recorreu aos supermacios e a novidade da
Pirelli este ano, os ultramacios. Com os macios Rosberg foi 0s207 mais
rápido que Bottas com os ultramacios.
Já nesta quarta-feira,
Hamilton usou pela primeira vez os macios e fez 1min23s622, segundo
tempo, diante de 1mn23s022 de Rosberg ontem. O atual bicampeão, piloto
três vezes campeão do mundo, disse sobre esses pneus algo semelhante ao
que Felipe Nasr, da Sauber, que hoje apenas assistiu ao companheiro,
Marcus Ericsson, treinar, havia dito na semana passada. “Eles induzem
reações diferentes no carro. São diferentes dos de 2015.”
E a
Sauber, lembrou Nasr, tinha a referência do carro de 2015 com os pneus
de 2015 e agora com os deste ano. Hamilton falou nesta quarta-feira: “Eu
não me senti à vontade com eles. Preferiria manter os de 2015”. Pelo
que Nasr explicou, o carro ficou menos estável, tanto que o conhecimento
adquirido em como melhor explorá-los, desenvolvido na semana passada
com o monoposto velho, foi transferido para o modelo de 2016, pela
primeira vez na pista ontem, com o próprio Nasr.
Ponta de esperançaPensando
no espetáculo, a F1 torce para que Hamilton tenha mais dificuldades em
se adaptar aos novos pneus macios que Rosberg. O inglês é um piloto mais
completo que o alemão, conforme seus títulos atestam, mas se ele for
mais sensível às reações dos novos pneus, não são apenas os médios, mas
todos, o confronto entre os companheiros de Mercedes poderá ser mais
disputado. Na hipótese de a escuderia alemã contar com um carro mais
veloz e resistente que a concorrência, provável, essa competição interna
entre Hamilton e Rosberg pode fazer a graça maior do campeonato.
A
menor adaptação de Hamilton aos pneus macios pode, no entanto, ser algo
localizado e específico para as condições do teste em Barcelona, ou
mesmo desta quarta-feira. É pouco provável que um piloto do seu talento
permita que essa “perda” de performance se estenda por toda a temporada.
Nunca é demais lembrar, porém, que Rosberg claramente trouxe para este
ano a gana demonstrada no fim do último Mundial, quando não deu chances a
Hamilton e venceu as três provas de encerramento, México, Brasil e
Emirados Árabes Unidos.
Lewis Hamilton e Nico Rosberg: dobradinha
da Mercedes no grid de largada do Japão
(Foto: Getty Images)
A
Ferrari foi conservadora no segundo dia de treinos da segunda série.
Nesta quarta-feira Vettel manteve-se o tempo todo os pneus médios. Deu
séries seguidas de voltas, simulando um GP, mas com tempos um pouco
piores que os registrados por Rosberg num long run, no mesmo horário. O
alemão completou 6 voltas em 1min27s e 4 em 1min28s. Já Vettel foi quase
um segundo, na média, mais lento, por volta. Não é um dado conclusivo.
Como Vettel permaneceu, na mesma série, mais tempo na pista, 8 voltas, é
provável que estivesse um pouco mais pesado.
Sebastian Vettel nos testes da Fórmula 1 em
Barcelona (Foto: Divulgação)
Agora,
os dois estavam com pneus médios e ao mesmo tempo simulavam um segmento
de GP. Esse dado somado aos outros de características parecidas nos
dias anteriores começam a formar o desenho do que esperar da luta entre
ambos, Mercedes e Ferrari. Nesta quarta-feira o W07 Hybrid mais uma vez
sugeriu estar mais rápido em condição de corrida que o SF16-H. E ontem,
Raikkonen, com os médios, obteve 1min24s836, enquanto Rosberg, com os
macios, 1min23s022.
A diferença de desempenho que os pneus
macios, do piloto da Mercedes, permite em relação ao médio, usado pelo
da Ferrari, não é de 1 segundo e 814 milésimos como foi registrado. Essa
diferença é menor. Na média, deverá ficar na casa de 1 segundo. Esse
dado vai ao encontro do que emergiu no último dia de treinos da semana
passada, em Barcelona, e tido como certo para muita gente no paddock:
neste instante, o que não quer dizer que necessariamente será assim
quando o campeonato começar, dia 20 na Austrália, o modelo W07 Hybrid dá
mostra de ser, na volta lançada, cerca de 8 décimos de segundo mais
rápido.
Fugiu a lógicaCuriosamente nesta
quarta-feira o resultado não corroborou a tese. Mas há o atenuante de
Hamilton não ter gostado do comportamento do W07 Hybrid com os pneus
macios. Ele registrou 1min23s622, enquanto Vettel, com os médios,
1min24s611. Pelo raciocínio de parte importante dos profissionais da F1,
com os macios Vettel deveria obter, hoje, algo como 1min23s6, mesma
marca da Hamilton. Esse resultado evidencia que há muitos fatores que
interferem na definição dos tempos e os raciocínios lineares muitas
vezes, pelo menos para voltas lançadas, não levam todos em conta.
Mas
como pilotos e engenheiros, de escuderias adversárias, afirmam que a
Mercedes está na frente, não há como contestar. Seu universo de análise é
bem mais completo que o da imprensa e dos fãs.
Daniel
Ricciardo, da RBR, afirmou esperar do seu time algo semelhante ao
verificado no fim de 2015 nas primeiras corridas do calendário.
“Deveremos estar próximos da Williams e provavelmente Force India. A
questão é saber quanto Mercedes e Ferrari vão estar na frente".
Daniel Ricciardo, da RBR, nos testes da F1
em Barcelona (Foto: Divulgação)
Quem
gosta de F1 deve ter gostado de ver Button permanecer na pista o tempo
todo, completar nesta quarta-feira 121 voltas, exatamente o que o
conjunto McLaren-Honda não fez em 2015. Apesar do avanço da
confiabilidade do equipamento, Button disse que será preciso explorar
bem os dois dias finais de testes, amanhã com Fernando Alonso e depois,
sexta-feira, com ele, a fim de o grupo coordenado por Peter Prodromou
encontrar um bom acerto para o chassi, “o que ainda não fizemos,
trabalhos com outros objetivos, fazer as coisas funcionarem”.
De
qualquer forma, a McLaren encontrou o caminho. Há, agora, perspectiva de
crescimento, o que, no ano passado, em nenhum momento foi o caso. Eric
Boullier, diretor da equipe, destacou existir, agora, diálogo com o novo
diretor da Honda, Yusuke Hasegawa. Não falou, mas claramente está
implícito não ter sido o caso com Yasuhisa Arai. Button elogiou a nova
versão da unidade motriz japonesa. “Grande salto.”
A vez dos brasileirosNesta
quinta será o penúltimo dia de testes da pré-temporada. Os dois
brasileiros vão para a pista, Felipe Massa com o modelo FW38-Mercedes da
Williams e Felipe Nasr com o C35-Ferrari da Sauber. Massa ainda terá a
sexta-feira para trabalhar. Já Nasr, depois do teste de amanhã, só
acelera o novo carro dia 18 de março, no primeiro treino livre do
Circuito Albert Park, em Melbourne.
É de se esperar, portanto,
que a Sauber opte em algum momento pelos pneus supermacios, para Nasr e a
própria escuderia terem uma noção de como o carro se comporta com pneus
de maior aderência. Já Massa poderá fazê-lo no último dia. Amanhã e
depois essa estratégia deverá ser repetida por todos os times, exceto a
Mercedes que, se não mudar de ideia, não sairá dos médios e macios.
Felipe Nasr e Felipe Massa no paddock do
GP da Hungria 2015 (Foto: EFE)
Ericsson,
que hoje acelerou o C35 da Sauber, e só completou 55 voltas, com
1mins27s487, o 11º, de pneus macios, teve discurso semelhante ao de
Nasr, ontem: “O carro gera mais pressão aerodinâmica, freia com maior
estabilidade, é mais veloz nas curvas, melhor que anterior em todas as
áreas”.
É bom que seja mesmo assim, pois será difícil para a
Sauber, ao que parece, manter o mesmo ritmo de Force India e STR,
aumentando, dessa forma, o desafio de marcar pontos. A boa notícia é que
o C35 sugere ser um monoposto equilibrado e com grande margem de
desenvolvimento. Nasr torce para a Sauber poder explorar seu potencial.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/03/licao-do-dia-show-de-resistencia-dos-carros-nesta-quarta-feira-em-barcelona.html