Fofão foi demonstradora em um congresso da FIVB
na última semana (Foto: Arquivo pessoal)
Fofão está de volta ao Brasil. Ainda sem clube definido para a disputa da próxima Superliga, a única certeza que a levantadora tem é que a aposentadoria é uma realidade distante. Aos 41 anos, a campeã olímpica em 2008 acredita que ainda tem muito a contribuir com o vôlei do país.
- A cada ano que passa estou me sentindo melhor e, ao invés de pensar em parar, fico com mais vontade de jogar. Enquanto estiver me sentindo bem, vou continuar. Acho que tenho muita coisa para fazer ainda. Não falo com certeza por quanto tempo ainda jogo porque nem eu mesma sei dizer. Mas quando parar, vou parar mesmo e acabou. Na seleção todos achavam que eu voltaria, e até agora não voltei porque decidi mesmo que seria assim. Quando eu tomar uma decisão, vai ser a definitiva. Não quero ficar pensando e depois me arrepender.
A paulista, que na última semana participou pela primeira vez de um congresso da FIVB (Federação Internacional de Voleibol) na República Dominicana como demonstradora, conversou com o GLOBOESPORTE.COM sobre a falta de renovação em seu setor na seleção brasileira que, desde sua saída, ainda não tem uma titular absoluta. A jogadora também fez um balanço do ano que passou na Turquia sob o comando do técnico José Roberto Guimarães e disse que nunca pensou em ser treinadora. Confira a entrevista completa.
GLOBOESPORTE.COM: Como você avalia a temporada pelo Fenerbahçe? O que teve de melhor e pior nessa experiência?
Fofão no dia da assinatura de contrato com o time
de vôlei do turco Fenerbahçe (Foto: Divulgação )
A experiência foi boa. Foi minha primeira vez no voleibol de lá. Fiquei encatada com tudo, com a estrutura, em trabalhar com as jogadoras estrangeiras... Todos foram muito atenciosos comigo e ganhei muitas coisas boas. Ser reserva agora no final foi a parte mais complicada. Enquanto estávamos na Champions League eu jogava o tempo todo, mas a partir do momento em que jogamos só a liga turca o time teve muitos problemas de contusão das jogadoras turcas. Isso dificultou mais ainda para que tivesse o revezamento. A necessidade de atacantes foi maior do que uma levantadora. O Zé deu preferência para repor o ataque com as estrangeiras, e o time também contava com levantadora da seleção turca. Isso dificultou.
E como foi a sua relação com o Zé Roberto após tanto tempo sem trabalharem juntos em um clube?
A nossa relação foi tranquila. Estou em um estágio mais amadurecido e não levei tanta bronca, tanto puxão de orelha. Eu sabia o que tinha que fazer, e foi tranquilo. Convivência bastante foi bastante calma, estávamos há muito tempo sem trabalhar em clube.
Ao lado do marido, Fofão posa com o técnico que lhe deu o apelido pelo qual ficou mundialmente conhecida em festa de revéillon na Turquia (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
A condição de reserva no final da temporada foi determinante para a sua decisão de retornar ao Brasil?
Eu gostei muito de lá (da Turquia) e me aposentaria lá com a maior tranquilidade. É um lugar bom de viver. Mas esse ano ia reduzir mais ainda a cota de estrangeiras, com só duas em quadra, e ia ficar mais difícil. Sempre tive vontade de voltar a jogar no Brasil. Nunca tive nem vontade de sair, mas às vezes ficamos sem opção e acabamos tendo que fazer. O melhor lugar é a casa da gente.
Você já está com 41 anos. Já marcou data para se aposentar ou acha que ainda tem estrada pela frente?
Vou deixando acontecer, não tenho previsão. Um atleta não tem como pensar nisso. A cada ano que passa estou me sentindo melhor e, ao invés de pensar em parar, fico com mais vontade de jogar. Enquanto estiver me sentindo bem, vou continuar.
São Caetano foi a última equipe de Fofão na
Superliga feminina (Foto: Divulgação)
Seu nome tem sido especulado em diversas equipes da Superliga. Já tem alguma negociação encaminhada de fato?
Ainda vou sentar e conversar, mas ainda não tem nada certo. Agora é esperar e ver o que pode aparecer.
Você considera que o alto salário possa ser um entrave para disputar a Superliga?
Não me considero uma jogadora cara. Sou uma jogadora de sete pontos (de acordo com o ranking da CBV). Essas jogadoras tem um teto, uma média de salário, e estou no mesmo nível de qualquer jogadora de sete pontos. Se for olhar, todas têm o mesmo salário. Falam muita coisa que não é verdade e essa interferência, essas opiniões atrapalham minha conversa com alguns clubes. Nunca pedi nada que fosse absurdo em relação à realidade do Brasil. Jamais pediria algo absurdo.
Desde que você se aposentou da seleção brasileira, nenhuma levantadora se firmou. Acha que o setor sofre com uma carência na base? Falta oportunidade?
A oportunidade de se firmar elas estão tendo agora. Isso nunca aconteceu antes devido à falta de renovação, devido à seleção ter ficado tanto tempo com a mesma levantadora. Isso dificultou para que agora as atuais tivessem mais experiência, tivessem rodado mais. Tem que ter calma e paciência. A seleção tem jogadoras com muita experiência, e as levantadoras talvez não estejam no mesmo ritmo. Mas, jogando junto, disputando competições internacionais, vão ganhar experiência e a titular vai aparecer.
A Fernanda Venturini abandonou a aposentadoria e vai ser mais uma veterana na Superliga. Recebeu com surpresa essa notícia da volta dela às quadras?
Normal. Cada um tem sua opção. Se ela está com vontade tem que respeitar e torcer para que dê tudo certo.
Você não marca a sua aposentadoria justamente para evitar recuar da decisão?
Vôlei é algo de que eu gosto muito. Para deixar seleção foram quatro anos me preparando. Para deixar de jogar totalmente tenho que sentir muito que não dá. Acho que tenho muita coisa para fazer ainda. Não falo com certeza por quanto tempo ainda jogo porque nem eu mesma sei dizer. Mas quando parar, vou parar mesmo e acabou. Na seleção todos achavam que eu voltaria, e até agora não voltei porque decidi mesmo que seria assim. Quando eu tomar uma decisão, vai ser a definitiva. Não quero ficar pensando e depois me arrepender.
Fofão é carregada pelas companheiras após o ouro em Pequim: despedida em grande estilo (Foto: EFE)
Na última semana você participou de um congresso na República Dominicana como demonstradora. Já tinha tido uma vivência assim?
Recebi o convite da Federação Internacional (FIVB) e da confederação do país. Foi muito bacana. Fui como demonstradora e também falei um pouco da minha experiência. Foi uma troca muito boa e pude mostrar para pessoas de vários países porque já fui considerada a melhor levantadora do mundo. Para eles também foi uma alegria, viram que minha carreira era longa e vitoriosa.
Também tirou alguma lição dessa experiência?
Sempre aproveito em tudo que faço para aprender também. Ficaram na pressão falando para eu ser treinadora, mas nunca pensei nisso. Viram que eu tinha muita coisa para ensinar, para passar, muita vivência. Acho que aprendi muita coisa nesses dias, foram muito positivos.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2011/05/de-volta-ao-brasil-aos-41-fofao-tem-fome-de-bola-e-nem-pensa-em-parar.html