Presidente vira protagonista em apresentação e fala por mais de uma hora
Por Gustavo Serbonchini e Murilo Borges
São Paulo
A apresentação era de Paulo Autuori, até então personagem principal da
entrevista e de volta ao São Paulo oito anos após as conquistas da
Libertadores e do Mundial de Clubes. Mas, como tem virado costume no
Morumbi, quem chamou atenção foi Juvenal Juvêncio. Tal qual um artista
solo, o presidente tricolor assumiu o comando e, em mais de uma hora de
respostas aos jornalistas, falou muito, mas muito mais do que o novo
técnico.
De tanto falar, atirou para todos os lados. Não confirmou se Luis
Fabiano será ou não punido pela expulsão na derrota para o Bahia, na
quarta-feira passada. Rebateu as críticas da torcida. Exaltou a
qualidade de Paulo Autuori, assim como alertou para os grandiosos
salários pagos a técnicos no futebol brasileiro. E, como de costume, não
esqueceu o rival Corinthians.
Juvenal fala ao lado de Paulo Autuori (Foto: Evelson de Freitas/Agência Estado)
Ao ser questionado sobre as constantes trocas de comando no Morumbi
(seis técnicos e um interino desde a demissão de Muricy Ramalho, em
2009), Juvenal tirou um papel do bolso da camisa com os nomes de todos
os treinadores do Corinthians de 2003 para cá. Listou todos e, à sua
maneira, concluiu que o São Paulo não iniciou o processo de mudanças de
técnico.
Acompanhe os melhores momentos da entrevista do presidente do São Paulo.
Luis Fabiano
"Não sei (se será punido). Isso é com ele (apontando para o diretor de
futebol Adalberto Baptista, que anunciou que ainda não há uma decisão
sobre o assunto).
Técnicos do Corinthians
"Em 2003, o Geninho foi contratado pelo Corinthians e ficou nove meses.
Na sequência, o Júnior ficou dez dias. Técnico de futebol de time
grande. Juninho Fonseca, quatro meses. Ou três meses. Tite, dez meses.
Passarela, dez meses. Márcio Bittencourt, quatro meses. Antônio Lopes,
cinco meses. Ademar Braga, três meses. Geninho de novo, três meses.
Leão, nove meses. Carpegiani, cinco meses. Ze Augusto, um mês. Nelsinho,
três meses. Daí o Mano veio e ficou dois anos e meio. Adilson Batista,
que passou por aqui e foi muito criticado, três meses. Agora está o Tite
com o mesmo período que ficou o Muricy".
Críticas à gestão
"Por que seria problema administrativo? Gostaria de saber. Time mal,
diretoria mal? Será? Temos um empresário de alta gestão, um capitão de
indústria e eu, mais modesto. Pode perguntar para qualquer jogador se há
descontentamento com a diretoria. Presidente é igual com todos. Do
Rogério Ceni ao anônimo. Pode perguntar se o presidente pune quando tem
de punir. Se eles chamam o presidente para fazer palestra quando a coisa
não está boa. Se eles clamam pela presença do presidente aqui na Barra
Funda. Se a presidência faz com que o salário seja pago no dia. Se o
bicho é pago no vestiário. Se eles ficam no melhor hotel. Se o
transporte é 87% via aérea. Se o campo de treinamento, equipe técnica, a
fisiologia, o Reffis, o CT de Cotia, são bons. Onde estaria a gerência
negativa da administração? Temos de procurar o outro lado. Esse
presidente é passageiro e vai embora logo. Alguns ficarão satisfeitos. E
eu vou louvar esses poucos. Porque o mundo não é feito de iguais".
Mudanças no elenco
"O São Paulo reformulou a equipe em um ano e meio e foi pouco
registrado porque parece que não interessa. Todos, com exceção do
Rogério Ceni, foram mudados. E eu dizia que o problema não era técnico e
sim do plantel que estava mal. O plantel tinha cansado. No futebol tem o
estresse. Cansa músculo, cansa osso. Não parece, mas o atleta sente um
desconforto. Eu estou falando de estatística. A gente não gosta nem
desgosta de estatística. É uma informação matemática".
Suposto veto de Leco a Muricy
"E vocês que falaram que o Leco (um dos vice-presidentes do clube)
vetou o Muricy. Não é verdade! Ele não tem poder de veto e não falou
nenhuma palavra sobre isso. Não vetou, não. E, se vetasse, não seria
ouvido (risos)."
Legado de Ney Franco
"Eu tenho grande respeito ao Ney como cidadão. Aqui não tem caça às
bruxas. Mas tinha de mudar o técnico. Disse aos atletas no nosso
auditório que eu entendo que o plantel tem mais competência do que
produz em campo. Se tem consciência de que o plantel produz menos do que
pode, alguma coisa está errada e nesse caso é o técnico. O jogador
cansa também".
Trocas constantes de técnico
"Se tivesse explicação matemática, você eliminaria o futebol porque
iria para a aritmética. O São Paulo trocou bastante de técnico. Não foi
pioneiro nisso. Você (repórter) não pesquisou as outras equipes para
saber quantos técnicos foram trocados. O São Paulo trocou a equipe e
estava indo bem. Chegamos à final do Paulista e tivemos expulsão. Na
Libertadores, também tivemos a peripécia com o Atlético-MG. E mantivemos
a Sul-Americana, que foi importante. Começamos bem o Nacional desse
ano, depois começamos a cair. Você (repórter) soma as partidas de outros
campeonatos. Estamos vivendo as peripécias do futebol. Quando ganhamos
três títulos do Brasileiro seguidos, essas indagações não apareceram. O
nosso esforço era no sentido de ter uma equipe competitiva com técnico
competente".
Contratação de técnico estrangeiro
"Eu gostaria muito de trazer para o São Paulo um técnico estrangeiro.
Mas é difícil. Até aprender a falar a língua, como o juiz apita, como é a
Federação, eu já perdi o campeonato. Até entender o jogador que é
manhoso e toma cartão... Até tudo isso, Inês é morta. Se eu faço
crítica, e faço ao técnico de modo geral, é possível que eu tenha de
apresentar alguma alternativa. Você não pode pregar só o apocalipse, tem
de enxergar o horizonte. O que procuramos é se ajustar a isso. O São
Paulo é importante e procura isso. Em determinado instante como esse, o
dirigente tem de ter uma postura altiva, corajosa e enfrentadora das
dificuldades. Estamos aqui para acertar com o Paulo. Quando o cidadão é
bom técnico, ele peca por outras coisas. Vocês sabem, eu não vou falar. É
difícil conciliar saber com qualidade. Não sei se o Paulo vai ter
êxito, mas ele conseguia. É sério, um profissional com conhecimento
específico sobre o produto que vai dirigir. Oxalá ele tenha isso".
Altos salários para técnicos de futebol
"Dizem que o Dorival ganhava 800 mil no Flamengo e foi para ganhar 300
no Vasco. O Eurico Miranda dizia que nós, paulistas, tínhamos o defeito
grave de pagar as coisas. Resolve primeiro e depois vê o que acontece,
ele dizia. Além disso, os clubes estão quebrando. Meu comprador da
Europa não compra mais. Compra da Ucrânia, da Rússia, Turquia, Grécia...
O futebol tradicional na Inglaterra, Espanha, Itália ou Japão não
compra mais. O futebol brasileiro, quando empresta jogador para um
clube, pedia para pagar metade do salário. Quando eles pagam, é só a
primeira prestação. É um fato. Tenho atletas nossos que foram
emprestados e recebemos só a primeira prestação. Você não tem onde
socorrer. O clube põe multas milionárias. Hoje fala até em cinco milhões
de multa. E isso é um contrassenso."
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/sao-paulo/noticia/2013/07/corinthians-criticas-e-leco-x-muricy-juvenal-ofusca-autuori-em-coletiva.html