Peter Siemsen e Mário Bittencourt têm relação tumultuada por problemas financeiros e crise dentro de campo, que determinou a saída do treinador das Laranjeiras
Lados opostos: Mário Bittencourt e Peter
Siemsen estão rompidos no Fluminense
(Foto: Nelson Perez / Fluminense FC)
A queda de uma só vez dos três principais nomes do futebol, definida por Peter, é um indício do que irá ser o dia a dia tricolor até a votação. Mesmo com a saída, Mário tentará ser presidente. Celso Barros, antigo patrocinador, também promete concorrer. Conselheiros da Flusócio, maior grupo político, tentam construir uma terceira via. E o futebol fica à margem da intensa disputa.
- Está caindo tudo nas Laranjeiras hoje (quinta-feira), até os quadros das paredes - resumiu uma pessoa ligada à diretoria.
E a movimentação promete continuar. Em busca de reposição, o Flu tenta Levir Culpi. O ex-treinador do Atlético-MG é o preferido de Peter para o cargo. Nos bastidores das Laranjeiras, há quem diga que os primeiros contatos começaram há mais de duas semanas. O presidente nega. Cuca, também com recente passagem pelo Galo, é uma alternativa. E Jorge Macedo, gerente executivo do Internacional, o alvo para ser o novo responsável pelo futebol tricolor.
Faixas em Brasília
Mário Bittencourt é abraçado por torcedor
em Brasília horas antes da derrota por 2 a
1 no Fla-Flu (Foto: Fred Huber)
Letras garrafais, letras da discórdia. Na passagem mais recente do Fluminense por Brasília, um pequeno grupo de torcedores exibiu duas faixas na porta do hotel que hospedou a delegação. Ambas endereçadas ao então vice de futebol do Tricolor, Mário Bittencourt. “São Mário...obrigado!!!” e “Mário para presidente”, diziam os textos. O dirigente, dispensado do cargo nesta quinta-feira, leu ambas e foi cumprimentar os autores. Um deles estava tão empolgado diante de Mário que, ao abraçá-lo, chegou a dar leves cabeçadas no então homem forte do principal departamento do clube. Uma dor de cabeça que não passou.
Peter Siemsen também estava na capital federal para o Fla-Flu e presenciou a cena. Ele, no entanto, não compartilha do desejo daqueles torcedores. As faixas foram assunto nas correntes políticas das Laranjeiras. Houve quem sugerisse a Peter que Mário impedisse os fãs de exibirem as faixas. O “conselho” chegou aos ouvidos de Mário, que alegou não ter qualquer contato prévio com aquela turma. Os dois fizeram lado a lado o trajeto da porta do hotel até o ônibus, e o mandatário tentou esconder o constrangimento. Não teve como.
Peter relacionou a saída de Mário ao desejo do dirigente de disputar a eleição presidencial do Tricolor, que será realizada em novembro deste ano (veja no vídeo acima). O mandatário justificou a decisão de exonerar o vice de futebol por este, no seu entendimento, confundir as atribuições do departamento com ambições políticas. Um desfecho previsível para uma relação marcada por altos e baixos.
- Política gera conflitos e debates em ano eleitoral. Com rede social, cada um faz a sua campanha. Estava cada vez mais claro que existia uma potencial candidatura e movimentos políticos, mas que não estão de acordo com o trabalho específico do futebol. Por isso, várias pessoas que já ocuparam esse cargo saíram antes do fim do mandato. Com a experiência que tive com outros, achei melhor mudar - disse Peter durante entrevista na quinta-feira.
Atritos entre Mário e Peter passaram a ser constantes no ano passado. Houve um momento em que o presidente chegou a esvaziar o vice de futebol. Foi assim, por exemplo, na apresentação de Eduardo Baptista. Virou queda de braço. A situação ainda piorou recentemente com os problemas financeiros do clube. Depois dos altos gastos no início do ano, os principais deles comandados pelo próprio Peter (como as contratações de Henrique e Richarlison), o presidente mandou fechar a torneira. Mais do que isso: pediu para Mário e para o diretor executivo Fernando Simone cortarem gastos no futebol e pressionava a dupla por isso.
O buraco no orçamento é de cerca de R$ 8 milhões. É preciso tirar jogadores jogadores considerados caros e pouco efetivos da folha ou então vender algum atleta - Marlon é a bola da vez. Peter chegou até a eleger dois atletas que deveriam sair. O orçamento de 2016, aliás, deverá ser o primeiro dos cinco anos de gestão do presidente a conter uma previsão de venda de jogador, algo subjetivo.
Queda de braço
Eduardo Baptista: 13 derrotas em 26 jogos e pressão insustentável (Foto: André Durão)
Em conversas informais e em entrevistas, Mário sempre ressaltou que a ideia era apostar no trabalho de longo prazo do treinador. Mas mudou de ideia após as últimas apresentações. O discurso desmotivado no vestiário após a derrota para o Botafogo contribuiu ainda mais para selar o destino no técnico. O vice tentou contato com o mandatário, mas não foi atendido. Com a informação que deveria ser exonerado do cargo no retorno ao Rio, decidiu, então, demitir Eduardo Baptista e fazer contato com Eduardo Uram, empresário do técnico Cuca.
Peter não estava fora de área ou com o aparelho celular descarregado. O presidente, que já havia decidido tirar o vice-presidente de futebol e afastar o diretor executivo, ficou no aguardo da medida que Bittencourt tomaria - ainda assim ele garante ter trocado mensagens com Mário e marcado uma reunião para a última quinta. O duelo ganhava um novo episódio ali. A nota oficial do clube não trazia a confirmação da saída de Eduardo, mas sim a do vice-presidente. Já Simone, a quem Peter se referiu com carinho na entrevista, foi afastado por 30 dias e retirado da pasta. Deve ser realocado para funções adminstrativas.
- Falei com o Mário por mensagem depois do jogo e combinamos de decidir hoje. O combinado era esse. Trocamos várias mensagens. Defini que a gente iria conversar pessoalmente no Rio após o desembarque da equipe. Essa era a forma adequada de enfrentar um momento difícil. Era como deveria acontecer. Eu iria comunicar a saída do Mário, do Simone e depois falaria com o Baptista, que estava em Campinas - disse Peter.
Fernando Simone e Mário Bittencourt:
dupla deixa o comando do futebol do
Fluminense (Foto: Richard Souza)
A possível candidatura de Mário Bittencourt não tem o apoio da Flusócio, principal grupo político do Fluminense que ajudou a eleger Peter duas vezes. Na visão de membros do grupo, Mário não se encaixa no perfil controlável desejado. O posto de candidato da situação está vago. O vice-presidente de Projetos Especiais, Pedro Antônio Ribeiro da Silva, também é figura neste jogo de xadrez. Pedro e Mário se estranharam em vários momentos, e o homem forte do CT tricolor, dono dos cheques que custeiam a obra, é contra a candidatura do advogado.
As dificuldades na relação entre Peter e Mário tornaram-se robustas principalmente por conta dos perfis dos dirigentes. A forma como Peter conduz o clube, com decisões intempestivas e constantes mudanças de ideias, encontrou resistência de Bittencourt, conhecido pela gestão ambiciosa e explosiva, muitas vezes além da conta e considerada por membros da diretoria e ex-dirigentes como uma estratégia equivocada. Criou-se o choque. Mas a relação não está acabada. Mário continua sendo o advogado do Fluminense e quer virar presidente.
FONTE:
http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2016/02/bastidores-demissao-de-baptista-expoe-racha-e-antecipa-eleicao-no-flu.html